9 de outubro de 2015

FAMÍLIA 5

A diferença de idade  entre minha mãe e seu sobrinho mais velho era de 9 anos. De sorte que quando ela contava  11/12 o menino tinha 2/3 anos de idade. E a criança ainda precisava de uma babá, mormente nos anos  1930.

Em razão disso minha mãe ao sair da escola ia direto para a casa da irmã mais velha para ajudar a cuidar do menino, seu sobrinho.

Além de brincar com a criança, dava-lhe banho, trocava sua roupa e dava comida na boca. O sobrinho era como que uma boneca que tinha vida. No caso um boneco. Chamava-se Jorge.

O blogueiro com o primo mais velho - Jorge - década de 1940
Desta relação resultou que Edith, minha mãe, encasquetou que se viesse a ter um filho ele se chamaria Jorge. Quando casou e engravidou sugeriu que se nascesse menino (não havia como identificar o sexo, só palpites  – formato da barriga, chutava ou não, estas coisas) ele teria o nome de Jorge.

Nenhuma objeção de meu pai, até porque ele era devoto do santo.

Não esperei mais dois dias para vir ao mundo exatamente da data da comemoração de  São Jorge (23 de abril); assim, no dia 21, pelas mãos de minha avó Ana veio a luz o escriba destas mal traçadas linhas.

Era um lindo domingo de sol.

Assim como eu, também minhas irmãs, primos e vizinhos nasceram pelas mãos de minha avó, reconhecida e respeitada parteira do bairro do Andaraí.

Lembram do samba de Nei Lopes, gravado pelo Zeca Pagodinho?
"No empo em que Don-Don jogava no Andaraí.
Nossa vida era mais simples de viver
Não tinha tanto misere, nem tinha tanto ti ti ti
No tempo que Don-Don jogava no Andaraí
................ etc ......................................................."

Abro um parêntesis para tirar um sarro. No campeonato Carioca de 1923, o Flamengo foi vítima do Andarai ... e do Vasco. Vejam:
Fui Jorge, e certamente Jorginho por algum tempo. E na família ainda é assim.  Mas quando ingressei no Colégio Plinio Leite, onde cursei o primário, não demorou muito para que eu virasse Carrano, isto porque éramos dois “Jorge” na sala e a professora, Dona Consuelo, resolveu nos diferenciar passando a nos tratar pelos sobrenomes. O outro era Rodino.

Desde de então, normalmente, sou tratado pelo sobrenome, nas atividades profissionais, na faculdade, no exército, no Liceu, etc.

Algumas pessoas inclusive desconhecem meu nome de batismo. Há alguns anos recebi um cartão natalino de um amigo, endereçado para José Carrano.

Respondi como mandava a etiqueta, agradecendo e retribuindo os votos, mas me permiti, ao final, um chiste: “Só não pode me chamar de Zé”. Quando nos encontramos, dias depois, ele perguntou o porquê daquela observação.  Quando expliquei que meu nome não era José, ele fez “hãn!”.

Nós nos conhecíamos há anos.

Notas do editor:
1) Na foto, ao fundo, o Morro da Penha, e um trecho do terreno defronte a casa em que morávamos, que era um misto de quaradouro e campo de pelada.

2) Ouçam "No tempo de Don Don", com Zeca Pagodinho, em 
https://www.youtube.com/watch?v=iC9GLODzwqo

3) Aqui termino, nesta fase, histórias da família. 

5 comentários:

Ana Maria disse...

Permita-me discordar. Nossa avó não era parteira. Uma senhora de nome Mariquinhas, fazia este excelente trabalho pelo bairro.
Creio que detenho maiores conhecimentos no que se refere a vida de vovó Ana, visto que, sendo menina, passava todo meu tempo livre em conversas com ele.
Aliás, não só com ela, mas com a avó e tio paternos

Riva Dentinho March Barrosão disse...

Prezado amigo, leio seus posts sobre a sua FAMÍLIA, muito legais. Adorei ler todos.

Gostaria de ter o que comentar, mas é uma coisa muito pessoal. Admiro o fato de terem esses registros todos, não é fácil e creio, poucos os tem. Eu por exemplo não os tenho, pelo menos com essa riqueza e profundidade de detalhes.

Subimos para Friburgo. Aqui já temos no momento 18º e já abri os trabalhos etílicos. Uma sabiá pôs 3 ovinhos na nossa jardineira ... novo futuros moradores, pelo menos das redondezas.

E vamos jiboiar por 3 dias. Um super feriadão para vcs. Aproveitem os FoodTrucks do Campo de São Bento !



Jorge Carrano disse...

Sim, é fato, havia uma senhora Mariquinhas, que foi quem assistiu nossa avó, nos nascimentos de suas filhas mais novas.

E foi com quem ela (Ana) aprendeu o, digamos, ofício de parteira.

Quando nascemos, senhora Mariquinhas, já idosa eventualmente acompanhava os partos, mas não interferia. Por vezes não tinha como sair de casa.

Os relatos sobre meu nascimento ouvi repetidas vezes de meu pai. Contava que estava muito preocupado que os sinais acontecessem de madrugada, como acontece muitas vezes, e ele não estivesse disponível para algumas providências. Ele trabalhava a noite, como linotipista, na Imprensa Oficial, assim como aconteceu naquele sábado, véspera de meu nascimento.

Só que o parto ocorreu às 9:45 horas do domingo e ele já havia chegado em casa.

Vovó foi quem assistiu a filha e foi quem primeiro me deu um tapinha na bunda (rsrsrs).

Anos depois, já crescidinho, levei outros como reprimenda, desferidos por nossos pais.

Jorge Carrano disse...

Aproveitem bem, Riva e Isa.
Na semana passada estive aí na Serra (Teresópolis). Efetivamente é muito aprazível e o clima mais civilizado (pelo menos à noite).

Riva disse...

Registramos 13º às 5h da manhã de hoje. Impressionante o clima aqui.

Fomos dar nossa tradicional caminhada no interior do belo Country Clube da cidade, e depois almoçamos onde onde onde ?

Na Pensão da Mariquinha ! O único lugar do planeta que faz uma comida como a da minha avó Carolina. Feijão, arroz, bifinhos batidos acebolados, fritas, canjiquinha, abobrinha refogada, couve com alho, bolinhos de batata baroa, de aipim, pasteizinhos de boi ralado, e pudim de tapioca de sobremesa.

Fizemos marmita para o jantar ..... e o cheiro está vindo da cozinha !! rsss

Lá fora as sabiás estão alvoroçadas com nossa presença, devido ao ninho que fizeram em nossa jardineira. Fazer o que ....

E agora aquela jiboiada vespertina. FLUi.

PS : aquela ratazana safada ainda está nos representando no Congresso ?