31 de julho de 2015

Superação - minha vivência




Por
Carlos Frederico March
(Freddy)








Lendo os comentários variados do post “Superação” de meu irmão Paulo, o “Riva” deste blog, vieram-me à lembrança vivências pessoais relacionadas com o tema.

O maior exemplo de superação com o qual tive contato direto foi o de minha mãe, que se viu às portas da cegueira com cerca de 39 anos, dois filhos pequenos pra criar (eu com 6 e Paulo com 4). O prognóstico se concretizou com rapidez. Apesar de criteriosamente operada em Campinas, seu destino foi cruel: com 45 anos o último vislumbre de luz se foi.

Ela era uma pessoa dinâmica e independente, chefe de seção no IAPI (mulher chefiando na década de 50 era raro). A expectativa de se tornar inválida quase a fez desistir de viver mas um psiquiatra a lembrou justo dos 2 filhos pequenos e ela, com a ajuda inestimável de nosso pai, decidiu-se por encarar. Sobreviveu, superou a cegueira com garra e determinação. Envolveu todos à sua volta em sua luta, mas isso é outra história.

Sua segunda superação se deu em 1982, quando nosso pai, que para ela era seu “olho virtual”, faleceu e ela ficou simplesmente só. Nossa participação como filhos era comparativamente pequena, ambos tínhamos esposa e crianças. Esse outro drama de superação só terminou em 2008 com seu falecimento aos 89 anos.

Elogiando o empenho de Rodrigo em completar a maratona, feito digno de nosso respeito e admiração, e também sem querer chegar ao exagero de me comparar à minha mãe em sua luta, ocorreu-me relatar minha própria superação, uma vivência de grande impacto em minha vida.  

ANTES

No início de 1968, eu era um sujeito simplório. Gordo, “quatro-olho”, CDF, pacato, assim ia levando a vida. Adiava ao máximo a chegada da maturidade, quando as pessoas em geral falavam de grandes responsabilidades. Preferia estender minha infância ao máximo, com meus balões, cafifas, jogos, conversa fiada... Era como se minha vida fosse durar 100 anos. E eu só tinha 17, que beleza!

Entre as coisas que fazia, uma delas era estudar piano clássico na Escola Fluminense de Música, dirigida por D. Alice Amarante. Fazia-o mais para satisfazer minha mãe que, dentre as metas que se impusera (e aos demais) como motor da família, achava que eu deveria ser concertista.

Isso era um tremendo saco, teria de estudar coisa de 4 horas por dia de piano para manter a forma, mas só estudava 1, mesmo assim obrigado. Contudo, gostava de tocar - e muito! Não gostava era da perspectiva futura. Minha meta profissional era ser engenheiro eletricista e não pianista de carreira, como minha mãe queria e forçava.

Lembro-me do justificado horror de meu professor de piano, Aurélio, quando me via chegar nas aulas com os dedos cortados de cerol ou com as pontas calejadas e verdes do zinabre das cordas de aço dos toscos violões que usávamos para tocar Beatles e Jovem Guarda! Teve um dia que pensei que o pobre homem fosse ter um ataque apoplético, tal sua revolta ao me ver.

Dizem os esotéricos que minha mente influenciou o acidente. Em janeiro daquele ano de 1968 cheguei a fantasiar deixar o dedo numa porta batendo para quebrá-lo e não ter de comparecer a uma audição - aquela coisa terrível a que os alunos são obrigados quando em conservatório. Sempre achei audição um massacre emocional para quem não gostava - e eu não gostava. 

Toquei no malfadado evento a Polonaise Militar de Chopin sob intensa pressão de minha mãe - a quem eu não tinha coragem de confessar minha insatisfação. Em 4 de março fiz a prova final para tirar o diploma técnico de pianista. Dali para a frente, seriam mais 2 anos para obter o diploma integral. Já havia até comprado as partituras a estudar.  Não durou mais que 2 semanas...

O ACIDENTE

Em 16 de março de 1968, por conta de uma estúpida brincadeira entre irmãos, esbarrei numa porta de vidro ao perseguir Riva no quintal de casa e cortei minha mão direita. Foram-se 11 tendões, 2 nervos e uma artéria. Não passei da porta e tinha sangue no meio da cozinha.

Quem me levou de carro até o Hospital Antonio Pedro em nosso Simca Chambord foi Riva, que tinha 15 anos mas sabia dirigir. No banco de trás, meu pai tentava manter um torniquete em meu braço para estancar o sangue e eu murmurava  “Meu piano... Meu piano...”

Quase perdemos nosso cão (Boy), que perseguiu o carro em alta velocidade e não conseguiu achar o caminho de volta. Riva o achou à noite, perambulando sem rumo longe de casa.

Uma operação de 4 horas e meia no Hospital Santa Cruz, realizada pelo Dr. Paulo César Schott tendo como auxiliar o Dr. Sérgio Vianna, reduziu o corte, religando 10 tendões. 45 dias depois, no início de maio, uma segunda operação de 4 horas e meia tentou religar os 2 nervos. A artéria ulnar não foi religada, ou não funcionou o reparo - fiquei sabendo décadas depois.

COMEÇANDO A ENCARAR

Eu ainda não disse, mas era o ano de meu pré-vestibular para engenharia. As aulas no Instituto Gay-Lussac, para onde havia me transferido vindo do Liceu Nilo Peçanha, já haviam começado no início de março. Perdi pouco mais de uma semana de aula com a primeira operação e mais outra com a segunda.

Eu sou, ou era, destro. O resultado das 2 operações em sequência foi que do meio de março até meados de junho fiquei com a mão direita engessada. Quem estudou naquela época sabe qual era o ritmo de um pré-vestibular. Passei a assistir as aulas e fazer toscos rabiscos nas apostilas com a mão esquerda. Por sorte minha, as provas eram tipo teste, de modo que fazer “x” nas respostas era fácil com a mão esquerda. Mas tinha Descritiva...

Algumas aulas me foram copiadas sem que eu pedisse por um anjo em forma de colega, Lúcia Maria Mendes Simões. Ajudou-me bastante a guardar anotações de algumas matérias onde muita coisa era dita em aula, fora das apostilas, e eu não conseguia escrever.

Aos poucos fui aprendendo a ser canhoto. Para estudar em casa, a solução foi bastante simples: passei a escrever em quadro negro com giz, pois era muito mais fácil escrever em quadro que em caderno com a mão esquerda.  

Como já disse acima, o gesso da primeira operação foi tirado para fazer a segunda e só 45 dias depois eu me vi livre dele em definitivo. Entretanto o braço havia ficado confinado desde março, de modo que sua aparência era simplesmente trágica. As carnes ficaram inchadas e as cicatrizes afundadas, entremeadas de dezenas de pontos, formando grotescos sulcos. A munheca estava torta, por ter sido mantida dobrada para facilitar a união dos tendões. Eu tinha a aparência de um aleijado.

Lembro que, sozinho no terraço de minha casa, chorei olhando aquele membro retorcido e disforme.  Era-me difícil acreditar que voltaria ao normal.

SUPERANDO

Então começou minha luta, com o pré-vestibular à toda. Tinha de dormir amarrado numa cadeira porque o braço não podia descair, para que o afluxo de sangue não prejudicasse os pontos internos. Tinha de andar com a mão pra cima, presa na tipóia com o pulso na altura do ombro esquerdo.

Tive de aprender algumas coisas simplórias, como me limpar no banheiro, escovar os dentes, comer, escrever, me vestir, tudo usando apenas a mão esquerda com a direita no alto 24h, engessada.

Claro que todos à minha volta me ajudaram. Por exemplo cortavam carne pra mim nas refeições. No início papai me ajudava a tomar banho com o braço direito pro alto e envolto em plástico, na maioria das vezes em banheira.  Tinha carona pra ir e voltar ao colégio.

Não comentei ainda, mas aquela droga doía! Passei meses tomando analgésicos até que passei a me acostumar com a dor. O ápice foi uma consulta em dentista que, como praxe, mete o motor até onde a gente agüenta. Lá pelas tantas ele parou perplexo, pois eu não reclamava. Então eu expliquei a ele da resistência à dor adquirida e ele respirou aliviado, comentando: “- Achei que o nervo estava morto!”

A escola relevou minhas ausências nas provas de descritiva até julho, quando fiz uma valendo por todo o semestre. A mão direita, já sem o gesso mas essencialmente inerte, apenas ajudava a apoiar esquadro e régua, o resto a mão esquerda tinha de fazer sozinha.

A fisioterapia intensiva que passei a fazer numa clínica mostrou que a sensibilidade da mão avançaria 1cm por mês a partir do corte no punho e  passei a contar o tempo que restava para chegar à ponta dos dedos, mas houve problemas. Apenas um dos nervos regenerou e resultou em movimentos reduzidos.

Para resumir a progressão, consegui pegar num lápis/caneta mais ou menos em setembro, pois a mão estava absolutamente sem força ainda. Minhas primeiras notas ao piano se deram no final de outubro, com grande esforço pela fraqueza, alguma dor e pela dificuldade provocada pelo nervo que não regenerou.

A essa altura eu já me transformara em pequeno gênio. Aprendera a fazer contas de cabeça, minha memória desenvolveu de maneira extraordinária. Antes que chegasse ao final das toscas anotações canhotas, já sabia as respostas dos cálculos. Aprendi a estimar grandezas e resolvia questões de física e de geometria muitas vezes sem usar a progressão das fórmulas, apenas por intuição.

Quando chegou o vestibular, em princípio de janeiro/69, eu já conseguia escrever novamente com a  mão direita, meio fraco é verdade, mas não mais precisava ser canhoto. Só a prova de Descritiva do vestibular é que foi feita com a esquerda, usando a direita só para segurar régua, esquadro e compasso. Eu ainda confiava mais na esquerda.

ACOSTUMANDO

Passei no vestibular. Aos poucos a mão foi melhorando e fui me acostumando com as limitações. Na PUC só tive alguma dificuldade no curso de desenho a mão livre, como era cobrada a Descritiva no 1º período do ciclo básico.

Meus pais sofreram mais que eu, pois para eles o médico (a maioria deles insensível quanto aos sentimentos do próximo) dizia que eu tinha poucas chances de voltar a ter movimentos e sensibilidade. Para mim todos diziam que a cura dependia de minha persistência nos exercícios fisioterápicos.

Sem muita maldade nem desconfianças, acreditei. Passei a viver 24 horas alongando os tendões da mão direita com a esquerda. Conversando, assistindo aula, vendo TV, ouvindo som, o tempo todo eu ficava alongando, alongando... Virou uma segunda natureza.

Em relação aos tendões, essa persistência deu resultado. A parte neurológica dependeu de sorte e dos exercícios de choque que forçavam os nervos a reagir. Repetindo, um dos dois não correspondeu e é fonte de problemas até hoje. Não consigo unir os dedos com a mão espalmada, há uma área insensível no dorso e perdi o discernimento para coisas pequenas.

Por exemplo, às vezes é um tormento bater foto. A ponta do dedo indicador não acha o botão de disparo e não raro perco o instantâneo por causa disso. Preciso olhar para o botão, colocar o dedo em cima e então voltar ao visor para compor a foto. Às vezes ele escapa de novo e perco mais tempo. As máquinas em sua maioria esmagadora prevêem o uso do indicador direito para clicar. Os smartphones vieram para resolver isso (rs rs).

Voltei a tocar piano! Contudo, a falta do tal movimento de junção de dedos me impede de tocar acordes complexos. Além disso, peças muito velozes e cansativas me causam cãibra na mão, porque a perda de irrigação sanguínea pela artéria que não foi ligada se faz sentir.

Ainda toco algumas peças clássicas, remanescentes do tempo em que eu estudava a sério. Faço-o com algumas adaptações de partitura, seguindo recomendações de um jovem professor de piano que me deu aulas durante poucos meses em 1982:
“- Jamais deixe de tocar por causa das limitações. Adapte os acordes, simplifique trechos e cadências, invente, mas toque!”

É como faço. No mais, a maioria de meu repertório atual é de peças populares que adapto às limitações existentes. Voltei a gostar do piano, sem a pressão de ter de ser concertista.

Violão é mais fácil, pois os acordes são feitos com a esquerda. Mesmo assim, não consigo segurar uma palheta de guitarra por longo tempo, ela me foge dos dedos sem que eu perceba. Passei então a privilegiar cordas de nylon, praticando o chamado violão dedilhado. Pra mim é mais fácil.

Enfim, sou canhoto para um monte de coisas hoje em dia, como por exemplo para pegar pequenos objetos em caixas ou bolsos, escovar dentes, limpar-me. Dependendo da tarefa que estiver executando, um observador ocasional pode decidir que eu sou canhoto.

CONCLUINDO

Confesso que passei por uma fase de revolta, lá mesmo em 1968. Achei que minha vida trilharia um caminho de exceção, diferente dos demais mortais, perfeitas e saudáveis criaturas.

O maior trauma a superar, aquilo que mexeu lá dentro de mim,  foi que meu braço, àquela época ainda bastante deformado (melhorou com o tempo), aumentou a timidez que eu já tinha frente ao sexo oposto. Pegou-me em plena juventude. Não bastasse achar-me gordo e desajeitado, usar óculos (o que na época ainda era esquisito), ainda tinha aquelas imensas cicatrizes a piorar minha auto-estima.

Então - isso percebi décadas à frente - passei a usar, intuitivamente, a teoria de que devemos aproveitar as crises como oportunidades de melhoria, encarando os novos desafios com as armas reduzidas com que passamos repentinamente a dispor. Tinha acabado de descobrir que o dia de hoje não garante o de amanhã, havia que fazer algo.

Mudei o comportamento, que era de pasmaceira frente ao cotidiano para uma maior atenção ao que realmente me importava. Minha mãe, coitada, declarou que “havia perdido um filho”. Sim, de certa maneira parei de estar ao lado dela no dia-a-dia, como era costumeiro de minha parte, para então começar a cuidar de meus próprios interesses. Minha real adolescência começara! Tardou mas veio.

O tempo, afinal, se encarregou de me demonstrar que mazelas e limitações  não fizeram grande diferença no que realmente importa para sermos felizes. Trabalhei, diverti-me, tive altos e baixos como todo mundo, com grandes e pequenas superações de menor monta no cotidiano.

Casei-me e assim estou há 38 anos. Nem minha esposa nem minhas filhas jamais fizeram comentários acerca da aparência de meu braço direito. 

Talvez porque haja outras coisas mais importantes a considerar do que cicatrizes num braço.

Um de meus pianos eletrônicos - Yamaha DGX630


Nota do editor: o post "Superação" citado no primeiro parágrafo é encontrável em 




30 de julho de 2015

Me engana que eu gosto...

Minha caixa de entrada de mensagens, classificadas pelo próprio gmail como Spam, vez ou outra me oferece oportunidades únicas. Mas as vezes também encontro ameaças. Ou, pelo menos, notícias preocupantes.

Vamos a alguns exemplos, colhidos ao longo desta semana.

Fui informado pelo  Ministério Público Federal que sou alvo de um procedimento investigatório e que deveria, com urgência comparecer à sede da Procuradoria Regional da República.


Eis a íntegra do comunicado:



PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO N.º 20150833981M. 

Intimacao de n. 7753892. O MINISTERIO PUBLICO FEDERAL no desempenho de suas atribuicoes institucionais com fundamento nos artigos 229 e 241 inciso VI da constituicao Federal e artigo 61 inciso VII da lei complementar n 676 de 28 de Maio de 1998 INTIMA Vossa Senhoria a comparecer nessa procuradoria Regional da Republica ---

Data do comparecimento 31/07/2015 (Sexta feira) as 9:00 AM
:INTIMAÇÃO ID:
-
Atualizado.
: PROCESSO Nº :
-
: PRECENÇA IT :
-

Como o dia 31 já é amanhã preciso colocar o relógio para despertar. Isso se eu conseguir dormir.

Muito surpreso e feliz, sou informado que minha compra de um Samsung Galaxi S6 Dourado e Desbloqueado  32GB e 4G Android 5.0 Tela 5.1” Octa-Core Câmera 16MP será entregue até o próximo dia 6 de agosto.

Não vejo a hora de receber esta mercadoria, que não conheço mas tenho enorme curiosidade de conhecer.  Que será isso deus do céu!
O único Galaxy que conheci, de nome, era um carro grande da década de 1970.

Caro Comprador,

conforme requisitado, estamos enviando em anexo a Nota Fiscal Referente ao pedido do
contrato 288003422 / 322540002015071125 Samsung Galaxy S6 Dourado Desbloqueado 32GB 4G 
Android 5.0 Tela 5.1" Octa-Core Câmera 16MP prazo de entrega até 06/08/2015.

Caso não seja possível efetuar o pagamento, favor entrar em contato conosco
através do telefone 0800-724-2705.


Atenciosamente,


Global Serviços em Telecomunicação.


Esta mensagem refere-se à Global Serviços em Telecomunicação - Nota Fiscal emitida pelo prestador de serviços:


Razão Social: Global Serviços em Telecomunicação S.A.

E-mail: 
l-adm-nfe@globalservicos.com.br
CCM:3.477.364-7
CNPJ: 08.816.067/0001-00

Outra boa notícia é que pintou uma grana em minha conta. E eu iria ficar sem saber se não fosse bisbilhoteiro e abrisse a pasta de Spam na qual encontrei esta ótima notícia. Acho que vou processar o Gmail (rsrsrs).

O gás acabou e o feijão, segundo minha mulher, só dá para mais um dia. Este dinheiro chega em boa hora. Preciso saber quem foi a alma caridosa que fez o TED. Ah! Sim agora verifico que foi a Regis.

Arquivo(s) em Anexo(s) 


Banco Itaú - Comprovante de Pagamento TED C – outra titularidade 
Dados da conta debitada: 

Nome: REGIS IMP RODOVIARIOS LTDA ME 

Agência: 1653 Conta corrente: 41211 - 2 

Valor da TED: 2.985,66 

Autenticação: 484C5BFCF7J574EFCF3872C5EF57422562GFU4836DE 

TED solicitada em 23/07/2015 às 08:05:17h via


Valeu, Regis! Mas ainda faltam 6 parcelas do mesmo valor. Lembra?

Cadê Pai Santana?


O personagem mais importante na história do Vasco da Gama, nos últimos  sessenta anos, foi Eduardo Santana,  ex-boxeador, massagista e pai de santo, desde 1953, quando chegou ao Gigante da Colina.


Bellini dava o sangue pelo Vasco
Com seus trabalhos espirituais fez mais pelo Vasco do que qualquer dirigente vivo ou morto. Ou qualquer atleta, incluídos os sete convocados para a seleção nacional que disputou a Copa de 1950. Ou outros mais recentes ídolos do clube, como Romário, Bellini, Sabará, Edmundo e alguns outros mais.

Popularizou-se no período de 1970 até início deste século como Pai Santana, exatamente por sua atuação como Pai de Santo. Sempre acendia velas no vestiário pedindo para que seu clube fosse o vencedor no jogo.

Na foto em seguida está agachado, à esquerda, numa equipe que ainda dava para torcer.


Trabalhou no clube até 2006, e logo depois de seu afastamento foi vítima de um acidente vascular encefálico. Faleceu de pneumonia.

Faz parte do rol de ídolos do clube como pode ser constatado em

No Vasco substituiu outro famoso e igualmente folclórico massagista, também da seleção brasileira, chamado Mário Américo. Apelidado de pombo correio, porque tinha também como missão transmitir  ao goleiro as instruções do técnico. Ele corria até atrás da baliza e dava o recado. Ou quando entrava em campo para socorrer algum jogador contundido.

Na foto abaixo, na qual aparecem ídolos  como Ademir, Barbosa, Chico, Augusto,  e outros, Mario Américo esta de pé, à esquerda.



O presidente do Vasco, em entrevista recente disse que não há hipótese  do Vasco ser rebaixado para a segunda divisão.

Só acredito se ele invocar o espírito vascaíno de Pai Santana, a fim de que, do além, tenhamos proteção.


Dentro do gramado, competindo, como se viu ontem diante do Corinthians, dificilmente escaparemos.




Nota do editor: não teremos, os vascaínos, oportunidade de ver outras equipes tão sólidas e competitivas como as que aparecem nas fotos (via Google). Até porque o futebol mudou muito e o rítmo de jogo, a cadência, agora é outra. R.I.P Pai Santana.


29 de julho de 2015

MEDIAÇÃO


Esta palavra está na moda no Judiciário. Já era utilizada, parcimoniosamente, mas com a entrada em vigor, no próximo ano, do novo Código de Processo Civil, que terá a mediação como alvo preferencial dos conflitos, o vocábulo ganha força e notoriedade.

Antes de mais nada tentarei explicar aos mais leigos e ignorantes da matéria do que eu, o que vem a ser um Código de Processo Civil.

É um conjunto de normas que disciplinam a atuação das partes, juízes dos diferentes graus de jurisdição, serventuários em geral e advogados, quando em juízo, via processos judiciais.

Disciplina desde o acesso até a decisão final e irrecorrível.

As principais fontes do direito são a Constituição Federal  e as leis ordinárias.  Magistrados e doutrinadores referem-se, por vezes, à lei substantiva, e do outro lado da moeda, à lei adjetiva. Exemplificativamente o Código Civil seria uma lei substantiva e o Código de Processo Civil seria a lei adjetiva.

Simplificada e objetivamente: o Código Civil estabelece direitos e obrigações; o Código de Processo Civil disciplina a maneira de exerce-los.

Claro que outras normas estabelecidas em outras leis não codificadas são exigíveis pelo rito estabelecido no CPC (sigla do Código de Processo Civil). Por exemplo a chamada lei do inquilinato. Na hipótese de conflitos entre locadores e locatários, para decidir judicialmente o procedimento está fixado, grosso modo, no CPC.

O Código de Processo Civil em vigor data de janeiro de 1973. Durante estes  mais de 40 anos, foi inúmeras vezes remendado, alterado, mas sem obediência a uma sistematização  e sem levar em conta os fatores sociais e econômicos que se modificaram no período.

Muitos atribuem a morosidade do judiciário para decidir ao fato de existirem muitos recursos previstos no CPC. É meia verdade, acreditem em mim. Esta seria uma pequena parte do problema maior: o homem.

Esperam os mais otimistas que o novo código privilegiando a mediação (a solução consensual dos conflitos), provocará a celeridade desejada na prestação jurisdicional.

Perdão, no jargão forense a “prestação jurisdicional” é a apreciação do caso pelo juiz e a decisão por ele adotada. 

Não estudei o suficiente o novo texto, que entrará em vigor em 180 dias contados da data em que foi sancionada a lei, ou seja, 29 de junho de 2015.

Mas duvido e faço pouco que irá resolver os problemas do judiciário enquanto o bicho homem não melhorar se é que tem melhoria possível.

Quem acredita aí, levanta a mão! Solução pacífica de discordâncias? Nem aqui no blog (rsrsrs).

Notas do editor:
1)       nem todos os direitos derivam de leis. Os usos e costumes, a jurisprudência mansa, pacífica e iterativa, e de certo modo até mesmo a doutrina pode dar sustentação a direitos.
2)       As audiências de conciliação são prevista no CPC há anos. Os juízes as degradaram, reduzindo-as à menor expressão, quando deixaram de presidi-las, delegando as funções para “conciliadores do juízo”, que são estudantes de direito e advogados despreparados. Só resultam positivas quando as partes realmente querem o acordo. Nunca acontecem por intervenção do conciliador.
3) No próximo ano teremos conciliadores, mediadores e câmaras de mediação.  Mas os conflitos continuarão a depender de sentenças porque ninguém transige.
4) Refiro-me ao âmbito do direito civil, porque na área trabalhista, que não conheço, é mais palatável a solução amigável, negociada.
5) Não confundir mediação e conciliação com arbitragem. A arbitragem ou juízo arbitral tem norma legal regulamentadora. Havia lei antiga, agora recentemente modifica.



28 de julho de 2015

SUPERAÇÃO



Por
RIVA (apud)
Rodrigo March



Este domingo dia 26 foi uma data muito especial. Aniversário do nosso caçula (30 anos), e o primogênito foi para sua 1ª maratona full, 42 km, ou seja, passou a ser um maratonista.
Nunca tínhamos assistido ao vivo, in loco, uma chegada de maratona. Meus caros, é muita emoção. As cenas de euforia e emoção pela superação que presenciamos foram impressionantes. Nunca tínhamos assistido algo dessa natureza, não imaginávamos que era assim, cada um com sua história, cada um com suas vitórias pessoais e de equipe.
O ambiente é de festa total. Muita gente mesmo, famílias inteiras com crianças, cães, música ao vivo, centenas de barracas coloridas das equipes, barracas VIPs para clientes dos patrocinadores.


Para estacionar, planejamos um estacionamento na Marquês de Abrantes (Flamengo) – uma caminhada de uns 15 minutos, tranqüila.
Estou encaminhando o relato do meu primogênito ... ninguém mais credenciado a tentar explicar o significado de uma jornada dessas, pela 1ª vez em sua vida.
Para vocês terem uma dimensão do esforço dos não profissionais, um maratonista profissional faz o percurso em aproximadamente 2 horas. Rodrigo fez em 5 horas, um tempo excelente para a 1ª vez. No pórtico de chegada, vocês não imaginam a festa que é realizada para esse grupo que chega entre 4 e 5 horas de corrida. Dos 26.000 que largaram, mais de 15.000 chegam nesse tempo.
Correr e trotar por 5 horas ininterruptas !!! Leiam seu texto, emocionante.

Fui para a guerra e venci – Rodrigo March

Já comecei um post assim, mas não posso deixar de fazê-lo novamente. Obrigado, Tarso. Amigo que fiz e companheiro deste blog, deixou de concluir sua prova em um bom tempo para me acompanhar e garantir que eu completasse os 42km. Não teria conseguido sem ele e Jesus, colega de equipe que também nos acompanhou.

Minha corrida foi de total superação. Há 15 dias, vinha convivendo e tentando tratar uma dor no joelho após o longão de 34km. Na quinta, antes da prova, fui testá-lo em um treino leve com o Tarso e a Isa, e senti que a coisa estava feia. Corri direto para uma clínica de ortopedia e fiz ressonância no mesmo dia. Um amigo médico conseguiu antecipar o resultado por telefone, que confirmou minha lesão, estava com edema no joelho, a três dias da largada.

Decidi fazer uma infiltração, primeiro por mim mesmo, que me impus esse desafio e treinei tanto; segundo, por todos que acompanharam a minha saga de disciplina nos treinos. Era uma ocasião especial. Se fosse a segunda maratona, acho que não correria lesionado.

No caminho para o início, no Recreio, assistimos a um vídeo, na van, que minha mulher, Fernanda Freitas, preparou, com ajuda do Rossy, nosso treinador, que colheu depoimentos de familiares aos corredores da equipe. Além desse incentivo, havia meus pais na chegada, pela primeira vez. Corri com as iniciais deles (Paulo e Isa) escritas a caneta em cada pé. Eles também escreveram uma mensagem de apoio que levei comigo para os momentos críticos, assim como a Fernanda e o meu enteado João Guilherme. Foram lidas após os kms 20 e 30, não lembro em qual km exatamente.

Dada a largada, logo começou o meu tormento mental e físico. O joelho infiltrado começou a se manifestar, quando achei que ficaria anestesiado, ao menos em boa parte da prova. Pensei em desistir nesses primeiros quilômetros. Como poderia suportar aquela dor por 42km? Mas lembrei de tudo que estava em jogo e das pessoas que acreditaram em mim. Então, insisti.

Ao completar 10km, percebi que dividir a prova em quatro trechos de 10km seria uma boa estratégia para o cérebro. Na Praia da Reserva, ainda no Recreio, havia pequenos trechos de paralelepípedo na transição do asfalto, que maltratavam o meu joelho. Mentalizei que a dor era passageira, como havia visto em um vídeo na noite anterior, compartilhado pelo Everton, treinador da equipe.

Passei a pisar de um jeito que tornasse a dor menos insuportável, o que me causou uma bolha debaixo do pé e outra dor, no glúteo, ambas do mesmo lado. Aos 15km, incrivelmente a dor no joelho adormeceu até a subida do Elevado do Joá, quando o piso inclinado das curvas a trouxe de volta. E foi assim até o fim. Quem já teve lesão na banda iliotibial sabe como é.

Na Avenida Niemeyer, mais uma subida. Cheguei a caminhar por um breve pedaço, breve mesmo, porque logo percebi que era pior para a dor e seria ainda mais difícil retomar. A essa altura, liguei o som para me dar um gás. Tarso e Jesus seguiam mais à frente um pouco, mas sem me perder de vista.

Depois que passei por Leblon e Ipanema, veio a parte mais crítica para mim: Copacabana. Ali, o tempo ficou mais abafado e o cheiro de gordura dos quiosques era forte, péssimo para quem controlou também o enjoo por toda a prova. Seguindo as dicas que li, não mirei a orla para não ver o Leme distante e abalar o psicológico. Olhava para o chão ou para os prédios à minha esquerda.

Resistindo às dores
No km 37, meu enteado João Guilherme me encontrou com Fernanda. Tarso e Jesus, então, aceleraram e eu segui com João me puxando, bastante emocionado pelo encontro. Dali em diante, os poucos incentivos de desconhecidos ao longo do trajeto aumentaram e cresceu a sensação de término de prova.

O autor (de boné) com João Guilherme ao lado
Quase na chegada no Aterro, Rossy me encontrou para me puxar também, mas pedi que não acelerasse, pois não conseguiria administrar. Na reta final, ele e João Guilherme tiveram que me deixar e Isabelle me levou nos últimos metros.

Avistei meus pais do lado direito, onde também estavam Fernanda e Pilar, uma amiga nossa. Levantei os braços, me emocionei pelo encontro mais uma vez, mas não desabei no choro como achei que desabaria, muito provavelmente pela dor que me incomodava e que carreguei por 42km.


Rodrigo acenando na chegada

Paulo e Isa, à direita, pais de Rodrigo

Quando a corrida vira algo sério em nossas vidas, amigos e familiares gostam de te apresentar como maratonista. E eu sempre tinha que explicar que não era bem assim. Havia uma distância muito grande. Agora, estou à vontade com o cartão de visita...rs

O autor cruza alinha e comemora
Fui para a guerra e voltei, literalmente.

Tarso, amigo, quando é a próxima? Você escolhe!



Nota do editor: Riva (Paulo March), pai do Rodrigo, enviou o texto que extraiu do blog do filho maratonista.

27 de julho de 2015

Jogos Pan-Americanos 2015 – Toronto – Canadá

A festa/solenidade  de abertura foi chinfrim. E a de encerramento, ontem, foi chatíssima. Boring, boring,  boring.

A organização não foi perfeita, com algumas deficiências bem claras. Não havia imagens disponíveis relativas a todas as competições (as emissoras de TV lamentaram muito, e nós também), algumas transmissões foram de nível amadorístico (esportes sem tradição no Canadá), algumas falhas de planejamento e controle durante disputas, enfim não merece nota 10. Sobretudo em se tratando de um país de primeiro mundo.

O nível das arbitragens foi fraco, mas aí o problema não é somente do organizador. Entretanto, a falta de recursos tecnológicos para corrigir falhas de arbitragem foi problema canadense. Por exemplo o desafio (challenge) no voleibol, amplamente utilizado, não havia no ginásio das finais masculina e feminina. Uma vergonha.


Tocou ou não  no bloqueio?

Mas nas quadras, tatames, piscinas, estádios e pistas o Canadá foi muito bem, fez bonito. O mais representativo foi a vitória do basquete feminino sobre a seleção dos USA,  o que nunca havia ocorrido antes, e valeu o lugar mais alto do pódio, com o hino executado.

E o segundo lugar no resultado geral foi muito digno. Respeitável e elogiável.

O Brasil conquistou menos medalhas de ouro  (que são as que importam, afinal), do que na edição passada em Guadalajara, no México, quando conquistamos 48 douradas. Agora foram 41.

Estamos regredindo. No Rio de Janeiro, em 2007, ganhamos 52 medalhas de ouro. Em, 2011, em Guadalajara, 48 e agora em Toronto 41. Na próximo Pan-Americano, pelo andar da carruagem não chegaremos às 40.

E se no Pan foi assim, imagina nas Olimpíadas com as potências esportivas europeias e asiáticas competindo.

No quadro geral ficamos na terceira posição, atrás de USA e Canadá, mas na frente de Cuba. Cuba que, diga-se de passagem, também vem piorando seu desempenho.

Basquete, campeão
Boas surpresas foram o basquete masculino e o handebol tanto o masculino quanto o feminino. No atletismo desempenho muito fraco. Tirante um ouro nos 5.000 feminino, nada muito relevante conseguimos, porque a medalha de bronze nos 4X100 para homens deveu-se à sorte.

E o voleibol masculino perdeu incrivelmente, de virada, para a Argentina, que parecia morta no quarto set, quando colocamos cinco pontos de frente e permitimos a reação. Era para liquidarmos em 3X1, mas faltou equilíbrio emocional.

Futebol feminino, campeão
No futebol as mulheres foram bem e conquistaram o ouro. Mas os marmanjos do sub-22,  que integram  equipes profissionais, até no exterior, foram eliminados pelo Uruguai, perdendo por 2X1 (lembrei de 1950).

Quem ainda disser, ou mesmo pensar, que temos o melhor futebol do mundo, ou é um imbecil, ou nada entende do esporte, ou está à soldo da CBF.

No mundial sub-20 perdemos a final; na recente Copa América perdemos vergonhosamente, e agora no Pan ficamos com o bronze e lamba. Ainda assim parindo um ouriço para ganhar do "poderosíssimo" Panamá na prorrogação. Pode isso?

Luan e Bressan
Esse Panamá é aquele país que jamais disputou uma copa e deu canseira na fase classificatória quando, perdendo por 3X0, chegou ao empate e quase vira sobre o Brasil com a zaga formada por Alan e Bressan, que jogam em timecos do Rio. Não falo dos clubes, e sim de suas equipes atuais.

Em resumo, se já estava um pouco preocupado com a figura que faríamos nas Olimpíadas, aqui no Rio de Janeiro, agora tenho a certeza que até esqueceremos o vexame dos 7X1.

Espero que economicamente seja interessante para a cidade  e quanto ao aparelhamento urbano deixe-nos algum saldo positivo, porque os pódios nossos atletas verão de longe.

Se queimar minha língua (ou as pontas dos dedos aqui utilizadas), ficarei feliz.