26 de novembro de 2010

Melhores do ano

Não acredito que ainda venha a ser surpreendido com um novo bom filme até o final do ano.

Acho que já posso elaborar minha lista dos melhores, neste ano fraco de lançamentos, para meu gosto pessoal. Quase toda as produções são de 2009. Mas chegaram às locadoras este ano.

Fico com “O Segredo dos Seus Olhos” (El Secreto de Sus Ojos), de Juan Jose Campanella, como dos melhores não só deste ano, mas dos últimos anos. Gostei muito.

Como não poderia deixar de ser, Woody Allen realizou um bom filme, repetindo-se, mas em alto nível. Falo de “Tudo Pode dar Certo” (Whatever Works). Desta feita assina o roteiro e dirige.

“Bastardos Inglórios” (Inglourious Basterds), chegou precedido de comentários elogiosos da crítica, mas não me agradou tanto.

Gostei de “A Jovem Rainha Vitória” (The Young Victoria), pelo simples fato de gostar das coisas ligadas a história da Inglaterra, pais onde eu moraria, seu eu tivesse desde cedo me planejado para isso.

Duas comédias românticas bem interessantes salvaram o gênero que muito me agrada. Refiro-me a “Cartas para Julieta” ( Letters to Juliet”), que tem como locações as regiões do Veneto e da Toscana. Nem poderia deixar de ser, pois a história do Bill Shakespeare aconteceu em Verona. Há referências à obra do poeta inglês.

A outra comédia bem interessante é “A Riviera não é aqui” (Bienvenue Chez Lês Ch’atis), que além de bom roteiro, tem uma linda fotografia.

E a lista fica por aqui. Notem que não falei dos nacionais que bombaram este ano. Não assisti nenhum deles. Logo, não tenho opinião.

24 de novembro de 2010

Ser ou estar

No outro dia escrevi sobre ser, na política, de direita ou de esquerda.

Lembrei, até, de uma frase do Gal. Golbery, numa entrevista nas páginas amarelas, de VEJA, quando ele disse que no Brasil ninguém é de esquerda, estão na esquerda.

Pois muito bem. Lembram do Paulo Francis? Jornalista polêmico e respeitado, na juventude foi militante de esquerda. Anos mais tarde, já consagrado, correspondente em New York, apaixonou-se pela cidade de tal sorte que ousou afirmar que se um dia o mundo fosse acabar, não haveria lugar mais interessante para acompanhar o desfecho. Mais ainda, sem abandonar, filosoficamente, o interesse pela melhoria de vida dos mais humildes, certa feita disse que continuava empenhado e interessado na causa dos desvalidos, desde que pudesse mante-los à distância. O seja, luto pela causa deles, mas os quero à distância.

Lembra quem? João Figueiredo, ex-presidente, que disse que o povo fedia.

O fato é que o Francis, ao descobrir alguns prazeres da vida, migrou para o lado que os oferecia.

Agora vem o Caetano Veloso e afirma em sua coluna dominical que: "Mas os Estados Unidos ainda são o país mais hospitaleiro para quem queira pensar, experimentar, pesquisar. Basta ter isso em mente – nem precisa lembrar Gershwin – para entender que o antiamericanismo é prova de fraqueza de espírito."

O fato é o seguinte, o que é bom, para o bem e para o mal, é oferecido pelo regime de economia de mercado, pela livre iniciativa, pela plena liberdade de expressão ( o Franklin Martins, não aprendeu ainda)

Voltando as coisas boas, e mudança de pinião, lembro de um certo presidente, que depois de provar um Romanée Conti, abandonou seu discurso de campanha e adotou política arquitetada pelos socialistas liberais.

De igual sorte o Mao Tse Tung, não era tão leal aos seus princípios de igualdade. Ou era apenas na aparência do traje, aquela espécie de uniforme usado pelos chineses , mas que bem de perto era fácil distinguir uma boa diferença: o dele era de seda.

Toda esta digressão é a propósito de algumas celebridades e intelectuais (?) que emprestaram seus prestígios apoiando a candidata Dilma.

A opinião é do Vargas Llosa, em Veja, “... omissis... ser esquerdista garante regalias. A esquerda fracassou em tudo, menos no controle da cultura. Isso foi possível porque a direita é muito ignorante e também por não ter se preocupado em utilizar a cultura ideologicamente, politicamente. A esquerda sim. Como resultado muitos intelectuais e artistas , inclusive aqueles que não militam na esquerda, jamais se atrevem a criticá-la”

Digo eu, eles bebem whisky escocês, têm propriedades (casas, apartamentos), carros importados, aplicações financeiras, trocam a ideologia por indenizações e pensões (né!? Ziraldo) e desfrutam de outras benesses do regime capitalista. Claro. Ninguém é de ferro.

Faz-me rir.

22 de novembro de 2010

Comentando o noticiário

Eu dizer aqui neste veículo, como disse, que os banqueiros - e por extensão o mercado financeiro - não queria o Serra eleito, não tem peso e nem volume, zero de ressonância. Mas quando é o Merval Pereira, n’O Globo, muita gente reflete, vasculha o passado e se dá conta que o Henrique Meirelles é uma dádiva para o mundo financeiro, nacional e internacional. Afinal, como na anedota, o escorpião não vai contra sua própria natureza. Ele um dia foi e mantém a alma de banqueiro.

                                                                                      - X –

Inspiradíssimo, como sempre, o Veríssimo, narra um fictício (mas verossímil) diálogo entre a rainha Elizabeth e seu marido Philip. Ela comemora o noivado de seu neto William com a (bonitinha) Kate e diz que só não morreu para não dar a oportunidade da Camilla (baranga) virar rainha da Inglaterra.
Bonitinha e baranga são por minha conta.

                                                                                       - X –

O Elio Gaspari, por sua vez, reproduz trecho de um discurso do presidente Lula, que chega a ser hilariante, porque fica muito claro que não foi ele que escreveu e que jamais diria o que disse daquela maneira. Vejam que perola: “Hoje é o déficit de legitimidade dos mecanismos de governança global que sobressai”.
Caso típico de ghost-writer que foi além das sandálias, como o sapateiro da famosa frase: "ne, sutor, ultra crepidam" - sapateiro, não vá além da sandália, do pintor Apeles.

                                                                                       - X –

Levei muitos anos para ter em mãos um preservativo. Nem falar a palavra designadora - camisinha - era possível no seio da família. Usar uma levou muito tempo, mas, afinal, eu sou do século passado.

Pior é a situação da Igreja. Somente agora, em 2010, pela primeira vez na história o Papa admite seu uso em situações especiais.

Eu tinha uma desculpa.

                                                                                        - X –

Fiquei envergonhado com a abstenção do Brasil, na condenação, pela ONU, do apedrejamento no Irã.

18 de novembro de 2010

Mico

Segundo o Aurélio, a palavra mico desígna uma espécie de primatas. Quando, porém, utilizamos a expressão “pagar mico”, no sentido popular (gíria) tem a significação de colocar-se em situação embaraçosa ou vexatória.

Já paguei alguns micos na minha vida, uns mais vexatórios. Outros mais engraçados.

Hoje lembrei de um, ocorrido em São Paulo, quando lá morei há já lá se vão 30 anos.

E lembrei porque ouvi um CD do Billy Eckstine, band leader e cantor de grande prestígio no passado.

A historia foi assim: estava há pouco tempo em São Paulo, que era o Eldorado para jovens executivos, nos anos 1960/1970. Là estavam as grandes empresas e, por conta disto, as melhores oportunidades de emprego.

Antes de mim, o amigo Castelar, profissional do ramo publicitário, já havia mudado de mala e cuia para aquela cidade.

Quando cheguei, ele se desdobrou em facilitar minha adaptação naquela selva de concreto que não tinha sol, nem calor, tampouco humano.

Um dia ele telefona e convida para um chope ao final da tarde, pois ele estaria recepcionando um amigo, com quem trabalhara numa agência de publicidade no Rio de Janeiro, e que estava na cidade a serviço. Disse que eu gostaria muito do Alvinho, que era uma pessoa culta e espirituosa, boa conversa em suma.Para mim seria um prato cheio, pelo isolamento em que vivia. No horário aprazado cheguei ao bar, na Rua Frei Caneca, sugerido pelo Castelar.

- Carrano, este é o Alvinho de quem falei. - Alvinho, o Carrano é meu amigo de longa data e curtimos basicamente as mesmas coisas. Feitas as apresentações, a conversa começou a fluir regada à chopes.

Estávamos fazendo uma sessão “horta da Luzia”, não sobre o que a Luzia perdeu na horta, que todos sabem o que foi, mas da horta da Luzia mesmo, expressão cunhada pelo Ivan Lessa no saudoso O Pasquim, dando-lhe a conotação de memória. E a Horta da Luzia virou sinônimo daquele lugar onde guardamos lembranças insuspeitas, como os comerciais do rádio, músicas marcantes, filmes inesquecíveis. Aqui mesmo neste blog, revirei a horta da luzia, lembrando do programa O Estudante em Foco e das pessoas que o produziam, em especial Esther Maria Lucio Bittencourt.

Voltando a São Paulo e a nossa conversa no bar.

Eu queria fazer alusão a uma música, gravada pelo Billy Eckstine e cadê que a memória funcionava. Não lembrei o nome.

Atalhando a história, corto para as despedidas. E acabou que tanto eu quanto o Alvinho iríamos para a mesma direção. Ele hospedado na Rua das Palmeiras e eu na Avenida São João (morei em hotel por 13 meses, perto da chamada boca do lixo).

E nada de eu lembrar o nome da música. - Prazer em te conhecer. - Meu também. – A gente se esbarra por aí. – Certo!

Estou no banho e subitamente me veio à memória o nome da tal música.

Vou à lista telefônica em busca do número do hotel em que ele estava hospedado, que na época eu sabia (agora já esqueci).

Peço uma linha, no meu hotel, e faço a ligação. Atendida a chamada, digo que queria falar com Alvaro, funcionário da Norton Publicidade lá hospedado. Um breve silêncio e a telefonista informa: não temos nenhum hóspede com este nome. Como não – digo eu – acabei de deixa-lo aí na portaria. Ele é tratado por Alvinho - Um momento, por favor. Outra breve espera e a confimação: não tem nenhum Alvaro, ou mesmo Alvinho, hospedado, mas da Norton tem uma pessoa de nome Carlos Eduardo. Ocorreu- me perguntar ao tal Carlos Eduardo, que certamente conhecia o Alvinho, como falar com ele. Passe, por favor, este Carlos Eduardo, pedi. Ele atende e eu me apresento: meu nome é Jorge Carrano e até uma hora atrás estava com o Alvinho. Agora queria falar com ele e não o estou localizando. Poderia me ajudar? A resposta veio rápida: - Claro, eu sou o alvinho.

A explicação era a seguinte. Ele era muito branco pois não ia à praia. Naquela época, prevalecia a máxima: intelectual não vai à praia, intelectual bebe.

Como era muito branco, ganhou o apelido de Alvinho. E eu paguei meu mico. Bem, a música era Ebb Tide, gravada por muita gente, mas eu gostava da versão com o Billy.

17 de novembro de 2010

Volta ao passado, ainda

Coincidências recentes levaram-me ao passado. Deu-se que, além do relógio da Pêndula Fluminense, em São Lourenço, que já contei, fui contratado pela Síndica de um prédio comercial, no centro de Niterói, para assessorar na atualização e adequação da Convenção deles, à legislação mais recente.

E no primeiro encontro com a administração condominial, deparei-me com o Upiraci Ribeiro, que é membro do Conselho Fiscal do tal condomínio. Há anos não nos encontrávamos. Na segunda reunião de trabalho lá no condomínio, o Upiraci levou duas fotos de nossa formatura* (conclusão do curso ginasial), tiradas na porta da Catedral de São João Batista, em Niterói. E lá estávamos todos, uma turma grande, de 40 pessoas, inclusive o Ney, referido no último post.


O Upiraci quis fazer comigo o jogo de identificar e lembrar o nome dos fotografados. Matei 80%.

Fiquei sabendo pelo Upiraci que também o Ney, além dele próprio, formou-se em Direito. Os advogados somos uma praga. Procriamos como ratos, sem maiores insinuações. (risos por favor)

Fiquei surpreso, porque na minha cabeça o Ney seria diplomata. Quando o confundiam, achando que fosse bichinha, era porque ele tinha educação esmerada. Culto e elegante no trajar e nos modos, tinha tudo para ser um embaixador. E tocava piano, como comentei.

Embora estudasse o piano clássico, vez por outra se aventurava no popular. Em conseqüência disto, resolvemos formar um conjunto musical. O Doraly (também na foto citada) me emprestou um bongô e lá fui eu para o primeiro ensaio. Decidimos começar ensaiando um prefixo. A discussão não tomou muito tempo: a opção foi por um sucesso da época, uma música caribenha chamada Cerejeira Rosa, que permitiria boa presença do bongô.

O conjunto não fez sucesso, e antes pelo contrário foi um fracasso de crítica (da mãe do Ney, que não o queria tocando aquela vulgaridade) e de público, pois jamais nos exibimos além das fronteiras da casa dele.

Estou falando do ano de 1954, quando concluí o curso ginasial, e a foto na porta da igreja foi tirada no dia da missa. Acreditem, havia festa de formatura e, além da missa, havia um baile. E que baile. Com a orquestra do Waldyr Calmon (é preciso ter, no mínimo, 50 anos, para saber de quem se trata) , realizado no amplo salão da Associação Comercial, no Rio de Janeiro.

Tive que aprender a dançar valsa. Perto do final do ano, começaram os ensaios, na casa do Doraly (morava no início da Rua Visconde Uruguai, quase esquina com a São Diogo) E treinávamos (eu e ele) com a irmã dele e com uma manincure vizinha. A manicure era uma jambete de corpo bem desenhado (e quente) e, tanto eu quanto ele queríamos treinar com ela, por razões óbvias. Nem ele e nem eu poderíamos arrochar a irmã. Não vou desenvolver este episódio, porque o objetivo era só falar do baile de formatura de ginásio. Hoje, não existe mais o curso ginasial e não se fazem mais bailes como antigamente.

* na conclusão do curso ginasial, tinha entrega de diploma, missa e baile. Que tempos, hein!?

15 de novembro de 2010

Volta ao passado

A finalidade do relógio é mesmo registrar a passagem de tempo. Mas este a que irei me referir, que encontrei na parede externa de uma das edificações que abrigam um restaurante e um toilette, no Parque das Águas, em São Lourença – MG, marcava mais do que horas.

É um relógio comum. Redondo, com uns 30cm. de diâmetro. Ele registra mais de meio século de minha vida. Explico.

O que me atraiu no dito relógio, além, claro, de verificar quantas horas, foi o que está escrito em seu mostrador: Pêndula Fluminense.

Trata-se de uma joalheria/relojoaria localizada na Rua Cel. Gomes Machado, no centro de Niterói. O dono, ou um dos, nos anos 1950, era pai de meu colega de colégio, chamado Ney Teixeira Gonçalves.

O Ney era uma figura ímpar. Sempre com cara de limpo, em qualquer circunstância, muito educado e elegante (roupas boas) e... tocava piano. Naquela época, um rapaz tocar piano, para nós outros, cafajestes, moleques, era um sinal de boiolice (não, naquele tempo era viadagem mesmo). Menino jogava bola e pulava carniça. Mulher tocava acordeom ou piano.

Então, à sorrelfa, murmurava-se que o Ney poderia ser bicha. Como eu o conhecia um pouco melhor, rechaçava a maledicência. Abro aqui um parêntesis, para dizer que na verdade o Ney era pegador. Num grupo que passei a freqüentar, levado por ele, algum tempo depois, as meninas davam mole para ele. Já que dei um pequeno pulo no tempo, dou outro adiantando que um pouco mais tarde, íamos juntos namorar, meninas diferentes, óbvio, mais que moravam em, com perdão da má palavra... São Gonçalo. Ele já tinha automóvel.

Minha namorada era a Maria Luiza Tinoco, um doce de criatura, filha do Turíbio Tinoco, que editava o jornal A Comarca, naquela cidade. Ela assinava a coluna social e promoveu minha introdução no meio social gonçalense.

Certa feita, e isto jamais esqueci, ao me despedir dela, num sábado, por volta das 21:30h, ela comentou meio triste: passo horas diante do espelho , para me enfeitar e você fica comigo uma hora e vai embora. Nosso namoro era sério e, aos sábados, era bom cair na gandaia com meninas mais, por assim dizer, liberais.

Mas, voltando ao Ney e a época em que estudávamos juntos, os sinais exteriores de riqueza, que faziam dele alguém diferenciado em relação a maioria de nós, eram: tinha piano, morava em casa térrea de bom padrão, com uma garagem onde jogávamos ping-pong e vestia-se bem. Chegou a me emprestar um blazer, certo dia, para eu poder ir a festa de debutante da irmã do Roberto Durão.

Os jogos de ping-pong terminaram quando o Senna ( José Carlos) “cantou” a prima doNey que passava uma temporada na casa dele. Criou-se um impasse diplomático e os jogos terminaram.

Vejam o que a simples visão de um relógio, em são Lourenço, no início deste ano, provocou na minha memória afetiva. Ele me fez voltar no tempo mais de meio século.

Depois conto mais, para que meu filho, e meu futuro biógrafo , tenha material de pesquisa.

14 de novembro de 2010

Direita e esquerda

Estou rotulado como sendo de direita porque votei declaradamente no José Serra. Rio muito com os meus botões. Somente pessoas desinformadas, ou ingênuas, poderiam acreditar que o Serra representa a direita e o capitalismo selvagem (que coisa mais démodé).

Alguém, em sã consciência, sendo bem informado e acompanhando, mesmo à distância, a trajetória política do Serra, desde os tempos da UNE, acha que com ele na presidência os bancos teriam ganhado tanto dinheiro, como ganharam com o Henrique Meirelles no BC, com a benção do presidente Lula, que manteve a política econômica do Fernando Henrique?

Redução dos juros, para incentivar o consumo, aumentar o nível de investimentos e, por consequência, gerar empregos foi, desde sempre, idéia fixa do Serra. Por isso, no fundo, os banqueiros não o queriam na presidência. Nem nesta e nem na outra eleição.

O homem que, ministro da saúde, foi alvo da ira da poderosa indústria farmacêutica, pela quebra de patentes de medicamentos contra a AIDS e, pior, embora não tenha sido o mentor dos produtos genéricos, foi quem teve a coragem de pegar na unha e implantar o programa, desafiando, de novo, o poder internacional da indústria de medicamentos, é conservador de direita?
Gente, eu estava do lado de lá do balcão. Era diretor de um laboratório, que embora de pequeno porte, dava-me assento nas reuniões do Sindicato patronal. Por isso sei; ele - Serra - era odiado pelo menos por este segmento da indústria. Posso falar porque vi e ouvi. Eu era, então, por dever funcional e um pouco de convicção, contra os genéricos*. Mudei de idéia quando mudei de lado do balcão, passando a consumidor, apenas.

Quando ficou inevitável, os laboratórios, mesmo os multinacionais, adotaram a estratégia vencedora que é: se não consegue vencer o inimigo, alie-se a eles; e passaram a fabricar genéricos.

Não vou ficar aqui e agora fazendo apologia do Serra, até porque ele não é o homem que eu escolheria para governar o país, se me coubesse a tarefa. E achei medíocre sua campanha.

Neste último pleito, parte da juventude aplaudia o surrado discurso do Plínio de Arruda Sampaio, comunista de carteirinha, figura patética que ainda fala em : suspensão do pagamento da dívida externa e auditoria nas contas. O Plínio não sabe que o país pagou TODA a divida, no governo Lula, e agora tem dinheiro no FMI (aquele mesmo órgão que os estudantes queríamos fora!) . Coitado do Plínio e coitados dos estudantes de agora, tão alienados.

No quartel, na época o 3º Regimento de Infantaria (foi extinto), em São Gonçalo, sob o comando do Sargento, eu marchava no compasso: direita, esquerda, direita, esquerda...

A imagem é pobre, mas assim como no quartel, um passo com a direita e outro com a esquerda é que nos leva ao objetivo (ideal, meta, goal). Países como Peru e Chile, para ficar aqui por perto, comprovam isto. Guardadas as devidas proporções (território, população e riquezas), estão com índices de desenvolvimento (mesmo sociais) melhores do que os nossos.

Se eu sair de casa para ir ao escritório, e tomar sempre à direita, sempre que a alternativa se oferecer, o máximo que conseguirei será dar a volta no quarteirão, e voltar ao ponto de partida.

Assim é na política, à direita e à esquerda, o caminho vai sendo construído e podemos encontrar melhores opções e soluções. Desde que o objetivo do poder não seja o poder, se é que me entendem.

Aos que acham que pretendo ficar em cima do muro, respondo que estarei agarrado ao Aristóteles e sua filosofia de que no meio está a verdade e a luz.

No Brasil ninguém é de esquerda**, no dizer do Gen. Golbery. As pessoas estão na esquerda.

Quando ouço dizerem ou leio que o arquiteto Niemeyer, o escritor e compositor Chico Buarque ou o cartunista Ziraldo, por exemplo, são comunistas, não posso deixar de lembrar do pintor Salvador Dalí, que perpetrou a seguinte definitiva frase a propósito do posicionamento ideológico de Pablo Picasso: pintor como eu, gênio como eu, catalão como eu, e comunista... como eu não sou.

Estive “na esquerda’ e posso voltar, mas nunca fui e nunca serei um vândalo que destrói estufas de pesquisas genéticas (anos de trabalho) ou joga o trator sobre plantações.

Nunca fui, ao tempo de estudante, embora engajado em alguns movimentos (pacíficos), um arruaceiro, bandido, travestido de estudante, como alguns “profissionais”, que com os rostos encobertos e picaretas nas mãos, depredam patrimônio público, como na Universidade de Brasília.

Também desaprovo esses movimentos sindicais truculentos, que nada conquistam de efetivo, e discordo igualmente de uma facção da Igreja, que fez opção pela pobreza e não pelos pobres.

Assim, transitei com independência de idéias e valores, pela direita e pela esquerda.

Encerro com o seguinte comentário, a guisa de ilustração: estive, quando estudante, em um evento no Teatro Municipal de Niterói, que era a favor do movimento castrista em Cuba. Era, então, contrário ao regime de Batista, e hoje sou contra Fidel. O que o povo cubano ganhou com a troca?



*eu concordava que era um absurdo os grandes laboratórios investirem milhões de dólares contratando os melhores cientistas, alguns com prêmio Nobel, para desenvolverem produtos, cujas pesquisas levavam anos, para depois empresários oportunistas, com baixo investimento em suas empresas, poderem fabricar os mesmos medicamentos. Era favorável a patente, ao direito exclusivo de fabricação, até que pudessem ser amortizados os investimentos feitos pelos grandes laboratórios que desenvolveram os medicamentos.


** Logo depois do Golbery fazer este comentário, numa entrevista nas páginas amarelas de Veja, o min. Eduardo Portela cunhou a frase que repercutiu bastante, de que ele não era ministro, estava ministro. Ou seja, parafraseou o Golbery, sem dar a este o devido crédito.




13 de novembro de 2010

Carta aberta para Esther

E não é que graças ao fantástico meio que é a internet, consegui localizar a ex-parceira Esther Lucio Bittencourt.

Muito pouco sei, entretanto, ainda, sobre suas atividades nestes últimos cinquenta anos ou mais. O pouco que consegui descobrir, foi graças ao e-mail da sua (her) amiga e sócia Ana Laura Diniz, conforme comentário ao post do dia 4 de novembro último.

Mais que depressa visitei os blogs e a website informados - http://primeirafonte.blogspot.com e http://porcaseparafusos.blogbrasil.com/ , na busca de mais detalhes sobre Esther.

Permito-me algumas deduções e obviedades. Confirmando a vocação e o talento já demonstrados quando ainda estudante secundarista, tornou-se jornalista: brilhante e atuante, como é fácil constatar nas visitas aos blogs supracitados.

Poeta já era, desde sempre. Se mais não falo sobre poesia é porque me faltam sensibilidade e cultura literária.

Parece ter estado comprometida com movimentos a favor do fim do regime ditatorial militar. Casou. Reside em Caxambu.

Foi ou é amiga de amigos e colegas meus, sem que soubéssemos: Jourdan Amora, Ricardo Augusto dos Anjos, Hermes Santos ( na verdade Florihermes) e outros.

Cara Esther, enquanto aguardo suas notícias, envio-lhe esta carta aberta. Não alimento grandes expectativas, pois como os orientais já definiram sabiamente, não é possível entrar duas vezes no mesmo rio.

Também exerci atividades estudantis, tendo sido presidente, por dois mandatos, do Grêmio do Liceu Nilo Peçanha e diretor da FESN – Federação dos Estudantes Secundários de Niterói ( logo depois do Jourdan), também por dois períodos. Participei de um grupo teatral incipiente e insipiente, que se reunia na casa do oftalmologista Paulo Pimentel, sob inspiração do poeta e, então, diretor da Biblioteca Pública do Estado - Geir Campos. O grupo tinha como alvo politizar os trabalhadores, via teatro experimental.

No governo Roberto Silveira, pai, saudoso político, diversamente do inexpressivo filho Jorge Roberto, participei de alguns movimentos: campanha pelos passes estudantis, pela meia-entrada nos cinemas (fizemos muita fila boba) e em especial, pela ocupação, que resultou na encampação do Colégio Jairo Malafaya (época dos tubarões do ensino).

Não tive problemas com os militares, eis que dois anos antes do 31 de março de 64, porque conheci a mulher com quem viria me casar, abandonei todas as atividades políticas, nas quais estava mais ou menos engajado, arranjei emprego, passei a estudar mais um pouco, fiz vestibular, casei, formei-me e vieram os filhos.

Tonei-me um pacato, anônimo e conformado cidadão, com raros e improdutivos momentos de inconformismo, manifestados aqui e ali, sem maiores consequências.

Dos nossos parceiros Eugenio Lamy, Alódio Santos e Oswaldo Szertock, nada sei, senão que o primeiro – Eugenio, é médico psiquiatra e o Oswaldo formou-se em odontologia.

Nossas crônicas eram escritas, o mais das vezes, pelo Lamy. Lembro de uma em especial, sobre a morte de um negrinho (naquela época podia-se falar de negrinho sem cair na idiotice do politicamente incorreto), que era vendedor de amendoim e morreu atropelado tendo nas maõs a lata com o brazeiro.

É isso aí.

9 de novembro de 2010

Alhos e bugalhos

Faz tempo, escrevi aqui no blog, sobre meu horror às missas cantadas e com acompanhamento instrumental (até bateria). Vejo, com alegria, que mesmo no clero existem restrições. Don Álamo, bispo auxiliar, recomendou aos fiéis para não baterem palmas durante a eucaristia, pois “é um gesto que dispersa e distrai das finalidades da missa, transformando orantes em uma massa de torcedores”.

Viva Don Álamo, que não conheço, mas de quem me tornei admirador.

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No outro dia citei o Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) e seu ‘Fetival de besteiras que assola o país’. Pois muito bem. Fico estarrecido com uma decisão, que reputo idiota, de um fulano qualquer, do MinC, que proibiu Monteiro Lobato nas escolas. Essa coisa de enxergar racismo em tudo está beirando o patético. Autoridade faz mal a saúde. Mexe com a cabeça de imbecís.

Não tenho a menor dúvida que esta decisão esdrúxula seria incluída pelo Stanislaw em seu festival. Com prêmio e menção especiais.
                                                                                - X –

Minha neta – Juliana – irá se apresentar, nos próximos dias 13 e 14 de dezembro, às 20 horas, numa montagem, com versão juvenil, da peça “O fantasma da ópera”. O Teatro será o Papel Crepon, na Rua Mariz e Barros. Ingressos na bilheteria.. Quem aplaudir mais, ganha um autógrafo. Eu estarei julgando.



- X –

8 de novembro de 2010

Qualidade e preço

Todos sabemos que o que é bom custa caro. Mas entendo que, acima de um certo patamar de qualidade e preço, não existe uma relação justificável, palpável, defensável.

Exemplos. Já tive gravatas de seda. Na década de 1970, jovem executivo em ascensão eu as usava. Na esteira da moda então em vigor, elas eram largas e permitiam um laço que ficava muito elegante e charmoso. Embora existissem padronagens lindas, sempre preferi as estampas clássicas, ou seja, listas ou bolinhas.

Bem, como tive e usei durante algum tempo as gravatas de seda, posso afirmar, por experiência, que elas são infinitamente melhores do que as feitas de outros tecidos.

Por esta razão, são mais caras, aqui e no exterior.

Agora, pagar R$ 600,00, numa Ermenegildo Zegna, eu não pago, mesmo que pudesse. Não há o que justifique. Outras grifes oferecem peças, também em seda, de boa qualidade, que permitem laços elegantes, a preços civilizados.

O mesmo ocorre com vinhos. A partir de certo preço, não há justificativa. Não falo com mesma autoridade com que falei de gravatas, pois minha experiência neste terreno é mais modesta, mas convenhamos que pagar R$ 400.000,00 numa garrafa de Château Lafite Rothschild, safra 1869*, é uma extravagância fora de todos os padrões de bom senso e realidade.

A diferença de preço entre o citado vinho e um, digamos, Romanée Conti, para ficar num outro bom vinho, fica bem clara e distinta na hora da degustação de um e outro?. Ou seja, seu olfato e papilas mensuram a diferença que está representada nos preços? Não sei e nunca saberei, mas duvido.


* leilão da Sotheby’s, em Hong Kong

4 de novembro de 2010

Peocesso eleitoral - parte final

O título acima bem que poderia e deferia ser “festival de besteiras que assolou o país”, com a devida licença do saudoso Sergio Porto.*

O que presenciamos foi um festival de absurdos, bizarrices, agressões e baixarias, protagonizadas por ninguém menos do que o presidente da república e seus ministros, ministros do Supremo Tribunal Federal, candidatos, institutos de pesquisa e mídia.

O presidente da república abdicou de vez de governar (???) para se torrnar garoto-propaganda da candidata oficial. Ninguém pode tirar da presidente seu direito de ter uma preferência. O que não faz sentido é se transformar num cabo eleitoral vulgar, que em desprezo a liturgia do cargo, troca farpas com correligionários do candidato da oposição. Utilizando-se descaradamente da máquina governamental, colocou ministros nos palanques da candidata Dilma e fez até mesmo uso abusivo de recursos de empresas estatais (partidarizadas) que veicularam, ad nauseam, muita propaganda oficial, travestida de institucional.

O governo parou, porque o chefe da nação e seus ministros formaram um séquito acompanhando a candidata oficial em seu périplo pelo país.

Nunca na história deste país, um presidente se engajou tanto, de corpo e alma, para eleger seu sucessor.

No Supremo Tribunal Federal, o que aconteceu foi de uma bizarrice sem limites. Julgando a aplicação da lei batizada de ficha limpa, que exclui a possibilidade de registro de candidatura de pessoas com vida pregressa condenável, ou seja, condenados pela prática de crimes ou que tenham renunciado a seus mandatos para escapar da cassação, os senhores ministros divergiram em discurso jurídico e formação ideológica e foram incapaz de uma decisão; por duas vezes, em dois processos distintos, deu empate no julgamento. Isto certamente pode acontecer, na hipótese, como no caso atual, de haver um número par de ministros. Mas deveria haver uma regra clara e de aplicação compulsória, para o desempate. E o visto, ao vivo, numa sessão transmitida pela TV, é que não houve consenso nem na decisão sobre a regra a ser aplicada para desempate.


E ouvimos pérolas do seguinte gênero: nem mesmo o clamor popular nos permite passar por cima do devido processo legal.

Ora, o clamor popular era no sentido de que corruptos, fraudadores ou criminososem geral condenados, os ficha suja, não pudessem disputar eleições. Desde já.

Este era o espírito da alei, a chamada mens legis, que deve ser o parâmetro único para a hermenêutica.


Mas os senhores ministros, seja por consciência (livre formação de juízo), ou de maneira tendenciosa, através de filigranas jurídicas, e encantados com os fócos de luzes sobre suas figuras no plenário, sabendo-se alvo dos olhares de milhões de brasileiros, conseguiram complicar uma coisa simples que era: nós, o povo, não queremos rorizes e renans. E desde já, não daqui a dois anos. Simples assim.

Por sua vez, por escolha equivocada de metodologia, por falha na interpretação de dados ou por tendenciosa opção, erraram bastante em suas previsões. No primeiro turno e na boca de urna do segundo turno. Margens muito largas nas previsões, tendem a ajudar quem está na frente. É psicológico.

Tivemos o cacareco da século, uma figura grotesca de nome artístico Tiririca, que se elegeu com mais de um milhão de sufrágios.

Quem perdeu as eleições? Fácil a resposta, foi o Brasil. Serra era o mais preparado dos dois candidatos, embora tenha feito uma campanha de baixo nível, acompanhando, equivocada e desnecessariamente, o padrão imposto pala equipe da candidata do governo.

Torcer contra a DIlma, para que seu governo não seja bem-sucedido, seria de uma cretinice sem tamanho. Seria, mal comparando, o mesmo que torcer contra a seleção brasisleira, porque o técnico não convocou um jogadaor de sua preferência.

Mas continuo achando que o Serra seria melhor para o país.



* om o pseudômino de Stanislaw Ponte Preta, o brilhante jornalista/escritor e mulherólogo, publicava em colunas de alguns jornais o FEBEAPÁ, que viria a ser o Festival de Besteiras que Assola o País.