ARANZEL

Antes que um Anônimo qualquer faça a piada de que aqui neste blog não tem gerenciamento. Que esse espaço é uma esculhambação, faço-o eu.

Realmente por vezes o blog se assemelha a "casa da mãe joana". Já notaram os comentários? Nem sempre têm relação com o post. Em geral descambam para futebol ou  política.

Mas o que pode o manager fazer? Ruim com estes pitaqueiros pior sem eles. Haveria um total silêncio, um mutismo de abadia.

Observem que no blog não se faz humor refinado. Como sal e açúcar, refinados, são nocivos à saúde, penso que o humor refinado pode ter contraindicações. 

Quando comentei que estou ficando velho, meu filho disse que eu já nasci velho. Por ser quadrado, ortodoxo, conservador, careta e outros adjetivos aplicáveis a espécie.

Não é bem assim, também sou antiquado, saudosista...

Agora estou me lembrando de um personagem que muito me divertia. O saudoso Ivan Lessa, nos tempos do Pasquim, criou sob o pseudônimo de Edelsio Tavares, a figura do jornalista ao qual competia responder as cartas do leitores.

Algumas das cartas eram facilmente identificáveis como ficcionais, criadas com o intuito de permitir repostas jocosas.

Ele reclamava, por vezes, de leitores que tinham o privilégio de ler o jornal e ainda quererem dar opinião. Achava leitor um ser estranho (vide nota do editor) rsrsrs.

Cacilda! Aquele era um bom jornal. Os colaboradores e  editores eram, quase todos, de muito bom nível. Embora eu fosse favorável ao governo militar, por aversão as ideologias marxistas, leninistas, stalinistas, gramscistas, trotskystas ou quaisquer outras teorias que se anteponham ao capitalismo, não deixava de comprar meu exemplar antes que se esgotasse nas bancas (o que aconteceu algumas vezes).

Claro que com o tempo acabei por me decepcionar com os Ziraldos, perdendo por ele o respeito, porque misturou ideologia com ganhos. As indenizações nojentas comprometeram algumas biografias.

Mas um jornal que tinha Millôr Fernandes, Paulo Francis e o supramencionado Ivan Lessa, entre outros do naipe do Jaguar, só podia ser bom. Mesmo que nem sempre as ideias defendidas combinassem com as nossas.

O Francis, há mais de vinte anos, denunciou os subornos da Petrobrás, o que lhe custou um processo milionário e, dizem, também a vida.
(http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/vinganca-de-francis-contra-petrobras.html)


Os debates travados pelas páginas do hebdomadário entre Francis (de New York) e Lessa (de London) eram deliciosos de ler e revelavam facetas das culturas americana e britânica.

Assim como eram didáticos e ricos em teorias do Direito, os debates entre Heleno Fragoso e Evandro Lins e Silva, através da imprensa. 

Recordo sobretudo das teses esposadas, por um e outro, sobre a possibilidade jurídica de haver coautoria no crime de infanticídio.

Desculpe leigos e ignorantes (no sentido de desconhecimento) da matéria. Mas o Direito, em tese, doutrina, é uma ciência apaixonante. Pena que existam juízes e desembargadores para atrapalhar (rsrsrs).

Nota do editor: algumas frases do Ivan Lessa para quem não conheceu o escritor e sua obra:

- "Sincretismo religioso é quando um padre não passa debaixo de uma escada".

- "Todo brasileiro vivo é uma espécie de milagre"

- "O leitor não tem que escrever, tem que ler".

- "Baiano não nasce, estreia"