30 de novembro de 2019

As voltas que o mundo dá


"A Lusitana" é uma empresa transportadora. Especializada em mudanças. Tem (ou tinha) como slogan "O mundo gira e a Lusitana roda".

Com efeito o mundo dá muitas voltas. Confiram nestas duas histórias abaixo, extraídas da vida real:

Primeira história:
Há muitos anos Al Capone dominava a cidade de Chicago-EUA, e a maioria dos  crimes como homicídios, contrabando, bebidas, drogas e prostituição, tinha a sua participação. Capone tinha um advogado apelidado de "Easy Edie", que por seu notório saber jurídico e alto envolvimento com a banda podre da polícia, mantinha o seu cliente bem distante da prisão.O advogado ganhava muito e tinha uma mansão tão grande que ocupava um quarteirão inteiro numa das ruas principais de Chicago. Possuía uma grande fortuna e mostrava pouca preocupação com as atrocidades cometidas por Al Capone. No entanto "Easy Edie" tinha um filho que amava muito e apesar do seu envolvimento com o crime organizado tentou lhe ensinar o que era certo e o que era errado. Queria que seu filho se tornasse um homem de bem, melhor do que ele. Apesar de toda a riqueza ele não podia transmitir ao filho um nome honrado e um bom exemplo.Um dia "Easy" chegou a uma difícil decisão. Tentou corrigir as injustiças que tinha praticado em favor do seu cliente. Decidiu que iria às autoridades, e contaria tudo o que sabia sobre Al Capone e sua quadrilha. Com essa atitude limparia o seu nome manchado e ofereceria ao filho, um bom exemplo. E assim procedeu.Dias após foi metralhado e morto pela quadrilha de Al Capone. A polícia recolheu em seus bolsos um rosário, um crucifixo, uma medalha religiosa e um poema, recortado de uma revista e transcrito abaixo:
"O relógio da vida recebe corda uma vez e nenhum homem tem o poder de decidir quando os ponteiros pararão, se mais cedo ou mais tarde. Agora é o único tempo que você possui. Viva, ame e trabalhe com vontade e honestidade . Não ponha nenhuma esperança no tempo, pois o relógio pode parar a qualquer momento"

Segunda história:           
A Segunda Guerra Mundial produziu muitos heróis. Um deles foi o Cmt Butch O' Hare. Ele era um piloto de caça operando no porta-aviões Lexington, no Pacífico Sul.

Edward (Butch) O'Hare
Um dia a sua esquadrilha foi enviada para uma missão. Quando já estava voando, notou pelo medidor de combustível que alguém tinha esquecido de encher os tanques. Ele não teria condições de cumprir a missão, e comunicou ao chefe da esquadrilha, recebendo de imediato ordem para voltar para o porta-aviões, e assim procedeu. Quase chegando ao seu destino, observou que uma esquadrilha de aviões japoneses se aproximava do navio para afundá-lo. E que não teria tempo de avisar a sua esquadrilha para ajudá-lo. E sozinho O'Hare investiu contra os caças japoneses. Após intensa batalha conseguiu afugentá-los. Tudo foi documentado pela máquina fotográfica do seu avião. Ao chegar no porta-aviões comunicou de imediato o que ocorrera, ao Comandante do navio. Isso ocorreu no dia 20 de fevereiro de 1942. Por essa ação recebeu a Medalha Congressional de Honra, a mais alta condecoração de bravura na Guerra.No ano seguinte morreu em combate aéreo, aos 29 anos de idade. A cidade de Chicago homenageou um dos seus principais heróis, colocando o seu nome no mais importante aeroporto da cidade: Aeroporto Butch O' Hara.

Epílogo: O que tem a ver a primeira história com a segunda ? Tudo a ver: Butch O' Hare era o filho de Easy Eddie.


Nota: confira a história na Wikipédia.
https://en.wikipedia.org/wiki/Edward_O%27Hare

29 de novembro de 2019

BLEQUE FRAIDEI






Foi importada depois do ralouim.





Aguardem a chegada do tanquesguivingui.





Esta última data comemorativa é ansiosamente aguardada por certa comunidade chegada a entrar no peru.



Na bleque fraidei compramos pela metade do dobro, o que poderia ser comprado com pagamento parcelado, com entrega em casa, sem custo de frete.

Como o brasileiro deturpa tudo, a black friday é apregoada e adotada durante todo o  mês de novembro. E é capaz de ultrapassar aparecendo um Papai Noel indo aproveitar a promoção black friday de uma loja de departamentos.

Recebo no smartphone, dia 16, mensagem da Drogaria Pacheco informando que começou a black friday na cadeia de lojas. O Makro inventou o aquecendo a black friday, antecipando a promoção. As Casas Bahia também estão antecipando as promoções. Até  a Globo embarcou nesta e inventou a semana: black segunda, black  terça, black  quarta, black quinta e black friday, para produtos anunciados no canal. Assim mesmo misturando os idiomas.

Se observarem, algumas universidades particulares, operadoras de telefonia celular, igrejas, restaurantes, cinemas, clínicas médicas, embarcaram nesta fajutice da sexta-feira negra. Faça sua operação de catarata aproveitando as vantagens da black friday nesta semana. UAU! 

Nem o futebol ficou de fora. O Premier está concedendo desconto para uma assinatura por três meses. Parece que o Metrô, no Rio, também desembarcou na Black Friday. Será que as casas de massagem entraram no clima?

Acaba de entrar mensagem anunciando "Cheirinho bom de black: desodorante Nívea aerosol 150 ml." Acho que o anunciante acredita que a simples menção de black vai me levar correndo até a drogaria.

Mas o pior, pior mesmo, é a loja de departamentos anunciar que vai antecipar para quarta-feira  a black friday. Acabou o horário  de verão, agora antecipamos os dias da semana.

Durma-se com um barulhos deste. 

O Santander foi mais correto, quer dizer, melhorou o discurso criando a black week. Uma rede de supermercados prorrogará a black friday, ou seja, teremos uma próxima semana de sexta-feiras.

A "Americanas" concebeu a red friday ... ou seja, podemos aguardar a blue friday, a yellow friday e por aí vai.

A famiglia também entrou no embalo. E nada ganho com isso:
https://www.carrano.com.br/

De minha parte prefiro a sexta-feira como dia de cerveja e da perereca beber de canudinho.

Depois querem acabar com a imagem de que criamos a black fraude. Ah! , esses marqueteiros.

28 de novembro de 2019

Não fiquei feliz, mas foi justo


A cliente, nos prolegômenos que antecedem invariavelmente  a consulta propriamente dita, ao invés de comentar o tempo, meio estranho para um final de novembro, optou por me perguntar se estava feliz com o título do Flamengo.

Diante de meu seco e lacônico não, argumentou que deveria estar pela conquista de um brasileiro. Acho um pouco pobre o argumento, mas para não ficar indelicado, ponderei que não ficara feliz para achara justa a vitória e o título resultante.

Com efeito seria estupidez não admitir que o Flamengo montou um bom elenco e vem jogando um fetebol vistoso e competitivo.

Como venho de longe, percorrendo uma longa estrada, já tive oportunidade ver o Flamengo com bons times, igualmente vitoriosos, como aquele tricampeão carioca (1953/54/55).


O time tinha uma linha média composta por Jadir, Dequinha e Jordan. E no maio campo o talentoso Rubens, chamado pela galera de  Dr. Rubis.

Em 1981 o rubro-negro conquistou o título mundial de clubes, com um time que tinha seu ponto alto no meio campo, com Andrade, Adílio e Zico. Mas tinha dois bons laterais: Junior e Leandro.


No elenco atual, cheio de jogadores de nível de seleção, meu destaque seria o jogador Bruno Enrique, que reúne velocidade, imposição corporal, boa estatura e alguma habilidade.

É quase um Cristiano Ronaldo tupiniquim.

26 de novembro de 2019

Uma levou tudo, a outra devolveu tudo

As mulheres jamais serão compreendidas, isso é incontestável. E imprevisíveis também.

Numa separação, coisa sempre dolorida, de muitas perdas para os envolvidos, tudo pode acontecer.

Mas mágoas, rancores, vinganças, malquereres, lamúrias e humilhações sempre fazem parte do espólio que restou.

Palavra de advogado. Já os poetas têm visões românticas e até de viés humorístico.

Chico Buarque e Adelino Moreira, dois consagrados letristas, narram separações nas quais o retrato, o sorriso e o amor desapareceram com o rompimento da vida em comum. 

A Rita

Chico Buarque

A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
E o que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de são Francisco
E um bom disco de Noel

A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão

Esta levou tudo.
Ouçam clicando sobre a imagem abaixo:




Esta outra a seguir devolveu tudo.
Ouçam clicando sobre a imagem abaixo.

Devolvi

Autor: Adelino Moreira

Injterprete: Nubia Lafayette

Devolvi o cordão e a medalha de ouro,
E tudo que ele me presenteou
Devolvi suas cartas amorosas,
E as juras mentirosas,
Com que ele me enganou.
Devolvi a aliança e também seu retrato
Para não ver seu sorriso
no silencio do meu quarto.
Nada quis guardar como lembrança,
Prá não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo
Só não pude devolver
A saudade cruciante
Que amargura meu viver.

Devolvi a aliança e também seu retrato.
Para não ver seu sorriso
No silencio do meu quarto.
Nada quis guardar como lembrança.
Para não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo,
Sá não pude devolver,
A saudade cruciante,
Que amargura meu viver.......






24 de novembro de 2019

NITERÓI 446 anos


Dos meus 79 anos de vida, 76 passei em Niterói.

Nasci no Andaraí, do outro lado da baia, mas quando tinha 3 anos meus pais se mudaram para Niterói.

Bem, cabem ressalvas. Houve pequenos interregnos nestes 76 anos, pois durante sete deles residi em São Paulo (capital e Ribeirão Preto). E dois em São José de Imbassai, aqui perto em Maricá.

Mas aqui residi durante a segunda infância, adolescência e primeira fase adulta.

Conheci a cidade sem ponte ligando-a ao Rio de Janeiro que por sinal, quando nasci em 1940, era a Capital Federal.

Vi e usei, cheio de cautelas, o trampolim na Praia de Icaraí. Andei de bonde e trolleybus. Conheci a Praça Martim Afonso como na foto abaixo.

Até 1973 a praça se chamava Martim Afonso. Foi naquele ano, salvo engano, nas comemorações do IV Centenário, que o praça passou a se chamar Arariboia. E ganhou a estátua do índio.

Ali estavam o terminal das barcas, como até hoje, mas também dos bondes.

Melhor do que minhas já desgastadas memórias, vale assistir ao vídeo abaixo, com atuais e antigas imagens da "Cidade Sorriso".


Este outro vídeo, mais antigo, também é bem representativo das coisas e fatos da cidade.







22 de novembro de 2019

EUFORIA x JÁ GANHOU !





Por
RIVA






                          EUFORIA x JÁ GANHOU !
(escrevo antes da grande final da Libertadores da América)

Respiro futebol desde criança, Copa de 58 em diante. Cresci numa família com torcedores de vários clubes, mais tarde amigos e colegas também torcedores diversos, até do Bangu, que na época sempre tinha um bom time. As brincadeiras e gozações raramente ultrapassavam as arquibancadas dos estádios de futebol, polarização e ódio não faziam parte das torcidas de futebol.

Só que “evoluíram” para “torcidas organizadas” bancadas pelos próprios clubes, e daí em diante chegamos ao HOJE, onde não se pode levar a família a qualquer estádio ou até barzinho pra assistir seu time jogar. Pancadaria antes e depois e até assassinatos de torcedores.

Hoje vou chamar Aquele Time do Mal de Flamengo. O que assistimos ontem no embarque dos jogadores para Lima foi um total absurdo em termos de segurança pública. Não dá para imaginar que as autoridades não soubessem que aquilo ia acontecer.



Ainda bem que nada de grave ocorreu (que eu saiba), mas o despreparo contra uma multidão apaixonada e eufórica não pode ser controlado.

Os jogadores deveriam ter sido transportados de helicópteros para o aeroporto – que se encontrasse outro meio de fazer a despedida deles da sua torcida.

Um dos meus filhos é Flamengo apaixonado. Não sei para quem vou torcer na final, só na hora do jogo meu coração vai sinalizar isso. Por trás dessa rivalidade toda existe um Brasil x Argentina.

Mas meu foco mesmo no post é o tal do “já ganhou”.


Copa do Mundo 1950

Meu pai me falou como foi isso na final do mundial de 50 no Maracanã. Com o meu FLU em 2008 era somente euforia, não havia o “já ganhou” porque tínhamos perdido feio o primeiro jogo das finais da Libertadores em Quito por 4x2. Então era muita esperança misturada com euforia, e foi uma linda festa naquele maldito 2 de julho de 2008.


Libertadores 2008

Sofri mesmo, mas muito mesmo, foi com o “já ganhou” quando perdemos para a Itália na Copa de 82.

Filhos fantasiados, timaço do Telê em campo jogando muito, e o que aconteceu …. o time só sabia jogar atacando, e não precisava nem da vitória.

Mas atacou, atacou, e levou 3 gols de contra ataque em falhas ridículas da defesa. Acabou tudo ali … foi simplesmente inacreditável o que aconteceu. Perdemos !!

Vejo semelhança nesse jogo do Flamengo na sábado.

Esse time só sabe atacar, e será contra argentinos cascudos, campeões de 2018 da mesma Libertadores, com uma baita tradição em conquistas continentais. Só o Boca Juniors acho que já levou 7 campeonatos.

Espero que o tal do “Mister”, o Jesus, saiba controlar o time nesse aspecto, bem como o emocional de 3 esquentadinhos do seu elenco, porque argentino passa a mão na bunda, dá dedada, dá porrada, é final !!

Quem viver verá!
E que domingo, as autoridades tenham sabedoria pra controlar a chegada da delegação do Flamengo no Rio de Janeiro – independente de resultado, porque essa torcida vai abraçar o time de qualquer maneira.

21 de novembro de 2019

Passei 15 dias em São Paulo


Sem sair de Niterói.


A imagem diz tudo. Cadê o céu azul? Cadê a bela vista da cidade do Rio de Janeiro, que temos o privilégio de contemplar durante a caminhada no calçadão?

Nos últimos 15 dias a clima por aqui esteve igual ao de São Paulo. As 4  estações num mesmo dia.


A chuva foi intensa em alguns momentos e mais fininha, tipo garoa, em outros, com intervalos pontuais de um sol de mentirinha.

Cinza ficou minha alma. Como o céu. E isto já dura 15 dias, ou mais.

Lembro que em meu primeiro ano em São Paulo, os paulistanos comemoravam o verão, que para alegria geral, naquele ano, caíra num final de semana.

Nos clubes, Pinheiro ou Paulistano, pedindo licença e se esgueirando entre os frequentadores você conseguia chegar à borda da piscina e molhar o dedo.

Sim, o sol por lá é coisa rara, embora a garoa de fim de tarde, que ocorria, irremediavelmente, em minha primeira temporada paulistana, também já não fosse uma realidade em meu segundo degredo voluntário (em busca do ouro).

Mas o tema aqui e agora é Niterói nublado,  chuvoso, temperatura baixa, ventos de moderados passando a mais forte,  mar revolto.

Isto há intermináveis 15 dias, ou mais ...quem aguenta?


O pior, para culminar, é que peguei uma gripe, ou resfriado, ou uma virose, destas que duram 3 dias e deixam uma tosse residual muito inconveniente.

19 de novembro de 2019

Quem faltou?



Aqui chegamos. Para onde vamos?

Assim como fiz com outros parentes e amigos que me distinguiram acompanhando este blog, e até colaborando com postagens, ao longo destes 10 anos de existência, convidei o primo Rick Carrano para escrever uma matéria, de tema livre, para a maratona de textos especiais comemorativos do aniversário.

Ele aceitou o convite, respondeu afirmativamente e, para minha alegria, propôs um mote interessantíssimo: "como era o mundo há 10 anos, quando criado o blog, e como está agora decorridos estes anos".

Vejam sua (his) resposta ao meu e-mail:

RICARDO CARRANO

11 de out. de 2019 20:48



para Jorge
Primo Jorge,
Muito obrigado e seu convite esta’ aceito. E’ um hona.
Tenho que pensar um pouco, no que vou te enviar, mas
Pode contar comigo.
Acho por agora que vou escrever algo sobre como eu e o mundo era em 2009
E agrora em 2019.
Um abracao, felicidades e ate’ breve.
Sent from Mail for Windows 10

Caramba!, pensei com meus botões,  que trabalho de fôlego ele se propõe. Mas que ideia fantástica.

Com efeito o mundo mudou e não farei juízo de valor, deixando ao alvedrio de cada um fazer seu julgamento.

Em 2009 não tinha VAR e o futebol era uma paixão, minha inclusive. Não fizera, ainda, o AVC, de triste lembrança, inobstante as poucas sequelas contornáveis. Já era um  agnóstico não praticante, e agora sou convicto. Não tínhamos perdido de 7X1 para ninguém; esta nódoa não será removida nem com o hexa que perseguimos.

Nem vou comentar o PT no poder quando do nascimento do blog, e agora fora do poder.

Enfim não tenho ideia de quais seriam os aspectos que o primo iria abordar, mas certamente fatos e nomes não faltariam para ilustrar as mudanças havidas nos 10 últimos anos - 2009/2019.

Foi uma pena o Rick ter desistido, ou esquecido, ou se arrependido de ter assumido o compromisso.

Acessando o link a seguir, você ficará sabendo como e quando o primo Ricardo Wagner aportou aqui neste espaço virtual.

https://jorgecarrano.blogspot.com/2011/04/primo-distante.html


NOTA: Imagem obtida via Google ilustra uma das mudanças ocorridas no período abordado.

16 de novembro de 2019

Saint Bent's Fields forever

Por
Esther Lúcio Bittencourt



Foto ilustrativa:  Julio Piñon.


Saint Bent's Fields forever

não há parque das águas
central park, nada.
dona hermínia tem razão
tudo brilha no campo 
de são bento. tem mercado
na esquina, cine são bento
ruelas escondidas, botequim,
conversa, criança que faz birra
igreja para pecar e ser perdoado
bolinhas de ficos que espoucam
sob o andar de minha avó
algodão doce, pipoca caramelada, 
café, parar nos respingos
da fonte, cruzar um rio
e no lago jogar migalhas 
para peixes, patos, ir no coreto
para ver pinturas ou encontrar
e a igreja com hera que cobre
os muros, ortodoxa creio
cantar " eu vim passando pela
rua dos ingleses...." tem correio
padaria com doces transparentes
se não me engano uma livraria
na esquina pisar os seixos
do caminho chiando no caminhar
um perfume joaninhas louva a deus
lavadeiras um céu azul marinho
caramelo nas árvores na moita
um beijo consentido viajar na
gangorra subir ao limite da vida
rarefeito ar  intensa terra lavada
de sal salsugem metal submerso
trazer na mão cheiro de inseto
e servio tulio, saitn bent's fields forever.


Esther Maria Duarte Lucio Bittencourt, poeta, jornalista, violinista, membro da Academia Caxambuense de Letras, vários livros publicados.

14 de novembro de 2019

Deixei morrer sem nem mesmo tentar


Parece haver uma versão que fala em "quando os sonhos se tornam esperanças perdidas". Gosto mais. Comparem. Pincei via Google, os versos abaixo:

"E quantos sonhos se tornam esperanças perdidas

Que alguém deixou morrer sem nem mesmo tentar."

O que deixei morrer, sem tentar, parafraseando o astronauta, para mim foi uma pequena perda, mas enorme para a humanidade. Desisti de escrever um romance, com princípio, meio e fim.

Fiquei no terreno das intenções. Pensei nos personagens, em algumas interações, imaginei um par de situações sociais que mereceriam abordagem critica (para o bem e para o mal), e localizei o meio ambiente, o núcleo geográfico pra a trama: seria um condomínio. 

Não um condomínio edilício, tipo classe média, mas um condomínio horizontal, com belas e luxuosas casas, e toda uma infraestrutura de lazer como pier, quadras de tênis e até, talvez, um mini-campo de golfe. Coisa de ricos.

E aí estaria o cerne da convivência, porque rico pode ter origem no berço, de família tradicional aristocrática, mas pode ser um novo rico, quem sabe traficante internacional, ou jogador de futebol que construiu fama e fortuna, ou um empreendedor que construiu um império societário com ramificações em vários segmentos de negócios.

Bem, como diria, sobre o refinamento e gostos? Será que o pagode tão ao gosto de jogadores de futebol, por exemplo, iria contrariar o morador de família de quatrocentos anos, eventualmente com título de nobreza, conforme os Scarpa e os Matarazzo?

Aquele batuque, e não faço juízo de valor, inclusive porque sou eu mesmo admirador do Zeca Pagodinho, do Dudu Nobre, só para citar alguns, cairia bem nos ouvidos do homem de negócios (lícitos) que pretendia desfrutar de um final de semana tranquilo, em paz com a família e com amigos de gosto igualmente mais sofisticados?

E o traficante, descoberta a sua origem e em especial a de sua fortuna, seria abem acolhido neste meio? Difícil prognosticar porque traficantes internacionais costumam ter amigos influentes nos poderes da República. Somente quando os personagens ganhassem vida própria é que eu iria saber o rumo destas relações suspeitas, perigosas, espúrias.

Meu filho caçula, a quem confidenciei a intenção, me incentivou. Ele mesmo tem livro publicado.

Não contei a ninguém, mas a ideia do núcleo social que tem como denominador comum apenas o dinheiro, sem outros valores éticos, morais, de status familiar, surgiu há muitos anos quando num evento promovido pelo Grupo Matarazzo no clube Harmonia de Tênis, em São Paulo, tido e havido como fechado, elitista, alguém contou na roda de convidados em que estava, que o Silvio Santos, já então empresário e dono de canal de TV bem-sucedido, não fora admitido no quadro social porque não teria berço, por causa de sua origem modesta, de camelô.

Jamais soube se a versão era verdadeira ou falsa; o que importa para mim é que se havia esta lenda é porque algo bem próximo poderia ocorrer na vida real.

Dois condomínios que embora distantes do padrão daquele que elegi para ambientar meu livro, abrigam a classe média alta, passaram recentemente por situações incômodas.

Num deles reside o presidente da República, mas também um miliciano suspeito de ter assassinado a vereadora Marielle.

Outro, aqui em Pendotiba, na cidade de Niterói, uma das casas serve de locação apara vídeos pornôs.

É notória a prática das bolas pretas para barrar candidatos a sócios em clube elitizado no Rio de Janeiro.

Refinamento, bom gosto, sofisticação não se compra em loja de departamento. O dinheiro poderia ajudar a construir um verniz, uma couraça para encobrir a falta e elegância no trajar e no comportamento social.

Mas e o gosto literário, conhecer os grandes clássicos; a capacidade de se emocionar diante de uma tela de um mestre do renascimento, ou do movimento impressionista; reconhecer a arte numa bailarina virtuosa do balé, ou da prima-dama de um elenco de ópera? 

Bem, claro que você estão livres ... por enquanto. Porque se esta ideia abortei, outra poderá estar em gestação.


12 de novembro de 2019

Saborizado artificialmente


Você compra, conscientemente, ou seja, sabendo, que um determinado sorvete é saborizado artificialmente? Mas não sabendo é capaz até de enaltecer  a presença do morango no sorvete.

Olha qui. Um quilo de carne de segunda pode custar entre R$ 15,00 e R$ 18,00, não pode? Mas o quilo da salsicha, feita com - sabidamente - carne de segunda pode custar um terço deste valor o quilo. Como pode ser? Mas compramos a salsicha porque não sabemos com ela é feita.


Você é capaz de comprar gato por lebre, como no ditado popular ou, na vida real, comer espetinho de gato? Sim, é! Isto porque o que os olhos não veem o coração não sente.

Assim era e deveria continuar sendo no futebol.

A inteligência artificial, tida e havida nos dias atuais como passo gigante não me entusiasma, se planejada para todos os fins. Exemplo? Ficar fora do alcance e controle do homem. Algorítimo ... 

Afinal a falibilidade é ou não inerente ao homem?

Há muitos anos, mais precisamente em 1963, numa mesa-redonda sobre futebol, chamada, salvo engano, de "Grande resenha Facit", Nelson Rodrigues decretou que o video-tape era burro.

Fico imaginando nosso maior dramaturgo, apaixonado comentarista de futebol, tendo que suportar o tal do VAR.

Num determinado jogo foi suscitada a dúvida do impedimento, o VAR confirmou a irregularidade do gol, após quase cinco minutos de verificação das imagens, com recursos ultra super tecnológicas.

Exibidas as imagens oficiais, do tal do VAR, verificamos que havia uma diferença desprezível que colocava o jogador em posição ilegal. O chamado, se me permitem a vulgaridade do termo, pentelésimo de milímetro de diferença.

Condenar o árbitro auxiliar (bandeirinha) por não assinalar seria um julgamento injusto. Era impossível determinar que o ombro estivesse a míseros milímetros a frente da cabeça do defensor adversário, acompanhando a jogada desde o nascedouro, ou seja, o penúltimo toque na bola, em velocidade real.

Mas pergunto. Você acha que foi feita justiça? Que a torcida comemorar, como aconteceu, a anulação do gol, e a adversária cujo time marcara o gol ficar frustrada e ter que engolir o grito de gol? O momento do gol e  o momento em que uma máquina valida o gol, tornaram o futebol mais justo? 

E a emoção onde entra nesta história? O gol era antológico para quem o marcara, iria para suas lembranças inesquecíveis e também dos torcedores de seu clube. Afinal ele se superara e contrariando sua falta de arte realizara uma jogada de pura genialidade.

A torcida já gritara e já esgotara seus rojões. Já desfraldara as bandeiras. E aí? Vai virar meme no dia seguinte.

O zagueiro que falhara na jogada, estando mal posicionado e não se antecipando, terá sua falha ignorada, passará desapercebida. Por milímetros desprezíveis. Três virgula noventa e nove por cento é mais significativo do que quatro por cento? É mais preciso para que finalidade?

Se fosse uma nota de corte para reprovação, eliminar quem conseguiu 3,99% é mais legal, é mais justo, do que arredondar e considerar  o candidato aprovado? Um centésimo pode alterar, para o bem e para o mal a vida de alguém. 

Uma calculadora poderá, ou não, fazer o arredondamento? Deve trabalhar com quantas casas decimais?

De minha parte acho que o futebol perdeu em humanidade e não ganha, necessariamente, em legalidade. Por que? Simples; a localização da linha virtual do impedimento é colocada na máquina por um humano e nem sempre ele é fiel a realidade dos fatos.

Um frame para a frente colocaria o atacante em posição legal porque a passada do defensor era maior e na hora do passe ele - atacante -  estaria atrás da linha.

Sou e continuarei crítico desta modernidade que em nada contribui para a emoção e prazer do futebol.

Viva a pelada, o futebol de várzea, sem impedimento e muitas veze sem juiz.

Em lance interpretativo continuará havendo "injustiças".


Notas:
Pentelhésimo 
https://www.dicionarioinformal.com.br/pentelh%C3%A9simo/

O videotape é burro (Nelson Rodrigues)
https://jornalggn.com.br/noticia/nelson-rodrigues-o-video-tape-e-burro/

Frame : fotograma, quadro, em imagens.

9 de novembro de 2019

Inclusão: um direito de todos




Por
Alessandra Tappes







                Professora educadora, Neuropsicopedagoga, Especialista em Comportamento Aplicado, Especialista em Intervenção Precoce, Assistente Terapêutica.



Novamente fui convidada pelo manager do blog a matar a saudade de escrever nesse conceituado espaço. Como recusar um convite tão especial?

Mas primeiro preciso explicar o porquê trago aqui um texto técnico.

Estou ausente há dois anos em função da minha formação acadêmica, mergulhada em estudos o que me faz abrir mão dos meus hobbys: a escrita e o artesanato. (Lamentavelmente)

Essa convocação me motivou a trazer um texto voltado para meus estudos como forma de compartilhar a dura realidade dos bastidores da inclusão escolar.


Inclusão: um direito de todos.  
Mais do que um direito, uma conquista está causando pane na rede educacional.

O direito da criança autista ser inserida em educação regular está tirando o sono da rede de ensino. Como incluir sem excluir? Uma grande questão.

Estamos sofrendo um choque de conflitos sobre as normas estendidas da lei, que exige um profissional gabaritado para dar assistência as crianças atípicas. Mas tropeçamos com pouquíssimos profissionais com esse crivo, uma vez que para ser mediador precisa ter no mínimo especialização no assunto.

Existem duas questões bastante relevantes sobre o trabalho do mediador. A primeira se refere a formação. Segundo a  LDB – Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, Art. 59, inciso III: “professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns são indicados para atender a inclusão, porém diante da observação da prática da mediação escolar, profissionais da área da saúde e educação estão atuando como mediadores, principalmente da área da fonoaudiologia, psicologia, pedagogia, psicomotricidade e psicopedagogia por terem em sua formação um currículo mais próximo a compreensão do desenvolvimento infantil em sua totalidade para melhor entender os desvios no desenvolvimento global”.

A segunda questão: o salário. Rara a escola que consegue reconhecer que para se ter um profissional com tanta habilitação, é necessário um salário a altura. Afinal, o horário estabelecido por lei é de 20h semanais, o que permite ao profissional atuar profissionalmente seja clínico seja educacional.

Agora, um fator muito importante é a ineficácia das escolas tanto da rede privada como pública. Além de não levarem a risca a contratação de profissionais qualificados, não existe conscientização quanto a inclusão, conscientização essa junto ao corpo docente, discente e grupo de apoio escolar. Ter uma sala de recurso é uma condição necessária as escolas e não a única! Para se garantir uma boa inclusão, é preciso entender todo o processo, buscar novos recursos, reciclar ideias, preparar funcionários.

Recentemente passou a vigorar em nosso ordenamento jurídico a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno de Espectro Autista, consagrada pela Lei nº 12.764, a qual dispõe que os autistas passem a ser considerados oficialmente pessoas com deficiência. Ao enquadrar o autista na condição de deficiente, esse terá direito a todas as políticas de inclusão. O direito a educação sem dúvidas é uma batalha travada há muito tempo por pais que lutam pela inclusão desses menores em escolas regulares.
As escolas regulares públicas e privadas são obrigadas a fornecer acompanhamento especializado para alunos com TEA em casos de comprovada necessidade e, já adianto, não poderão cobrar mais por isso! A instituição de ensino não pode criar obstáculos para a inclusão do autista, do contrário seria a responsável por gerar desigualdades.

O Ministério da Educação já emitiu nota técnica (nº 24/2013) dispondo que as escolas privadas deverão efetuar a matrícula do estudante com transtorno do espectro autista no ensino regular e garantir o atendimento às necessidades educacionais específicas. O valor desse atendimento integrará planilha de custos da instituição de ensino, não cabendo o repasse de despesas decorrentes da educação especial à família do estudante. Da mesma forma, por óbvio, não será possível a inserção de cláusula contratual eximindo a instituição das suas obrigações.

Em uma de minhas passagens pela rede particular, fui contratada pela escola, que exigiu a apresentação de credenciais que garantisse a competência para o cargo. A minha qualificação era inquestionável, mas a escola não conseguiu adequar aos custos para o pagamento cabível  ao cargo. Foi no momento em que atendi uma criança de 8 anos, grau moderado/severo de autismo, com outras cormobidades (as cito aqui pois as mesmas são requisitos primordiais para um bom tratamento) e que infelizmente não é assistida da forma correta pela escola. Repito que nenhuma escola no Rio de Janeiro está preparada para manter crianças atípicas. Infelizmente estamos longe de sermos excelência em autismo...

Só para frisar, todo o material que pesquiso e toda minha formação, vem de fora. Não temos no Brasil know-how e todo conhecimento é baseado em estudos elaborados no exterior.

Curiosos sim, formadores de ponta somente Europa e os EUA. Por isso a ineficácia e ineficiência dos profissionais,  da rede educacional e consequentemente do cumprimento da lei de inclusão.


Notas do blogueiro:
1. Alessandra Pereira Tappes, é paulista nascida na cidade de Santos, de onde tem orgulho e saudade.
É graduada em Português/Literatura, mas o sonho de infância de ser professora, transformou-se no desejo de ajudar crianças com déficit cognitivo.
Para tanto pós graduou-se em Neuropsicopedagogia - voltada para educação inclusiva -  e  continua em processo de conclusão de cursos sobre Autismo, terapia sistêmica e psicopedagogia clínica e institucional.

2. Foi difícil convencer Alessandra a voltar a este espaço, que ocupou, para nossa alegria, algumas vezes no passado, com seus textos carregados de romantismo sem pieguice.