26 de fevereiro de 2017

Lasciate ogne speranza voi ch’intrate

Continuamos escavando e ainda não chegamos ao fundo do poço, a julgar pelo que diariamente ouvimos e lemos.

Chegaremos, e falta muito pouco, ao “point of no return”.



Não conseguiremos voltar à superfície segura, habitável, civilizada, com nossas próprias forças.

A degradação dos costumes, a falência das instituições políticas, a corrupção - uma endemia nos governos de todos os níveis: federal, estaduais e municipais – são fatores que parecem não ter fim.

O Judiciário se aviltando, já na vala comum onde os outros dois poderes da República se degradaram desde há muito e  estão em estado de decomposição.

A política, no Brasil, fede e muito. Em outros países a podridão é a mesma?  Isto é consolo? Reconforta? NÃO!

Um Dante tupiniquim bem que poderia parafrasear o grande poeta e pensador florentino e mandar colocar em nossas maternidades uma faixa com um alerta para os nascituros: Lasciate ogne speranza  voi ch’intrate.



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Eduardo VIII renunciou ao trono por amor, ou feitiço, segundo alguns.  Wallis Simpson o teria enfeitiçado.

Eduardo e Wallis na Austria em 1935
Bem, pelo menos não ficou somente no desejo e na promessa de Ricardo III que teria trocado o reino por um cavalo. Eduardo VIII trocou por uma mulher.

Mas a comparação que pretendo fazer não é entre Ricardo III e Eduardo VIII, e sim entre  este e Janio Quadros.

Janio renunciou à presidência e anos mais tarde foi prefeito de São Paulo. Diga-se um bom prefeito. Sou testemunha ocular porque vivia na cidade naquele período.

Eduardo III, já não mais como rei, e sim com o titulo de Duque de Windsor, foi governar as Bahamas, pertencente a commonwealth.

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Esta não é a primeira vez que comparo monarcas entre eles, aqui no caso Eduardo VIII e Ricardo III, como blogueiro amador, insipiente e incipiente já me aventurei numa comparação entre Henrique VIII e Pedro I.

Está em

Perdão amigos. Faltam inspiração e tempo, e sobram vaidade e teimosia em manter um blog mesmo na evidência do despreparo cultural e da falta de domínio dos recursos virtuais. 

25 de fevereiro de 2017

CARNAVAL 2017

Você está convidado para nosso grito no carnaval.

Muito mais importante do que "O Grito" óleo sobre tela de Edvard Munch, ícone do expressionismo.

Uma das 4 da série
Mais contestador do que "Um grito parado no ar", peça do Gianfrancesco Guarnieri, dos anos 1970, que em linguagem metafórica discutia problemas sociais.


Menos misterioso do que o filme "O Grito",  do início deste século XXI, ambientado no Japão.


Nosso grito, a plenos pulmões, é: FORA!!!

Fora políticos corruptos, fora salafrários das mais variadas estirpes, fora os vendilhões do templo e exploradores da crença dos menos favorecidos, fora canalhas, biltres e assemelhados, fora concessionárias ineficientes, fora empresas publicas partidarizadas, fora malandros e valentões do futebol, fora os donos da verdade, fora os salvadores da pátria, fora pichadores, fora contestadores que querem 15 minutos de fama, em solenidades, fora o black bloc, movimento composto de vândalos, covardes anônimos ... (acrescente o que entender conveniente).

Um dia sairemos do discurso, das intenções, das ideias, recorrentes nas crises mais sérias, e iniciaremos uma mudança cultural a partir das raízes.

Onde eu estiver, aqui ou no além, estarei aplaudindo.

23 de fevereiro de 2017

Isso eu não faria

Não importa quanto dinheiro eu tivesse. Mesmo somadas as fortunas dos grandes magnatas, bilionários, em dólares, do presente e do passado, como Rockefeller, Getty, Onassis, Gates, e outros, eu construiria ou compararia uma casa como esta que está à venda em Bel Air, Los Angeles, nos EUA.

Aristóteles Onassis
Jean Paul Getty
John D. Rockefeller










O preço dela, anunciado, é de US$ 250 milhões. São 3.530 metros quadrados de área construída, e mais 1.580 metros de área livre, com vários deques.

Resumidamente, pois nem vem ao caso, informo que a casa tem duas suítes máster, dez outras para convidados, 21 banheiros, três cozinhas gourmet, cinco bares, um SPA, cinema com 40 lugares, pista de boliche e muito mais, inclusive uma imensa garagem.

Ora, quem tem muito dinheiro e não tem que “bater cartão” ou dar expediente em escritório, tem mais é que ser cidadão do mundo, sem residência fixa. Quando muito uma pequena, mas confortável, morada em cada continente.

Existem tantos lugares, cidades, vilas, condados, no mundo, com paisagens de diferentes características e relíquias históricas que precisam e devem ser admiradas, que é preciso ser um globe-trotter e não dono de uma mansão, quase um hotel de luxo, onde seriam recebidos amigos e parentes.

Há um programa, exibido pelo canal 34 da Sky, que se chama “O mundo visto de cima”, que nos oferece, com dados históricos e geográficos, visão de vários países, ou regiões específicas de cada um deles, que é de nos encher os olhos. Lugares admiráveis, com hábitos, costumes e tradições milenares, e relíquias arquitetônicas e arqueológicas de diferentes períodos da civilização.

Noutro dia, um dos lugares focados foi a Ilha Menorca (uma das ilhas Baleares), pertencente à Espanha. Já ouvira referências à ilha Maiorca, assim como a Ibiza, outros balneários espanhóis, mas Menorca nem sabia que existia.

A cor da água é indescritível, em Menorca

Pequena praia em Menorca

Monumento de pedra - idade do bronze - Menorca

Talatide dalt, em Menorca, semelhante a Stonehenge
Stonehenge, na Inglaterra

Ibiza, Espanha

Maiorca, Espanha

E, no entanto, Menorca é um dos milhares de lugares, mundo afora, que é um pecado a gente morrer sem ver de perto.

Mas ostentando uma mansão do porte desta colocada à venda, o sujeito fica recluso (tem tudo em casa) e deixa de aproveitar o mundo. Só gasta dinheiro com a manutenção.

Bem, minha situação é bem pior. Ter que conhecer a maior parte do mundo pela TV. O pouco que viajei é insignificante, um grão de areia,  em face do que gostaria e conhecer in loco. Mas se tivesse muita grana ...



Notas do autor: 
1)rota arqueológica e cultural de Menorca, uma pequena ilha, rica em história. Imaginem em todo o planeta, o quanto deixamos de conhecer e admirar.
http://www.talaiacultura.com/es/index.php

2) Outras propriedades à venda, para quem gosta de ostentação e de esbanjar dinheiro.
http://www.mansionglobal.com/dubai?mod=mansiongl_topmarket_outbrain_Dec

22 de fevereiro de 2017

Ruy, jurista, político, escritor, jornalista ...

Ruy Barbosa
Ruy ou Rui? A Wikipédia registra Ruy.(https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruy_Barbosa)

O texto completo é encontrável no link abaixo. Se você gosta mesmo de leitura, de boa leitura, que enriquece nossa alma e nossa cultura, não deve deixar de ler. Se já conhece releia porque é atualíssimo.
Aqui vai um pequeno trecho do discurso proferido por Ruy Barbosa, na solenidade de formatura da turma de 1920, na Faculdade de Direito de São Paulo.



"Oração aos moços" é uma obra importante da literatura brasileira.

Vejam seu pensamento sobre a magistratura.





"Ora, senhores bacharelandos, pesai bem que vos ides consagrar à lei, num país onde a lei absolutamente não exprime o consentimento da maioria, onde são as minorias, as oligarquias mais acanhadas, mais impopulares e menos respeitáveis, as que põem, e dispõem, as que mandam, e desmandam em tudo; a saber: num país, onde, verdadeiramente, não há lei, não há moral, política ou juridicamente falando.

Considerai, pois, nas dificuldades, em que se vão enlear os que professam a missão de sustentáculos e auxiliares da lei, seus mestres e executores.

É verdade que a execução corrige, ou atenua, muitas vezes, a legislação de má nota. Mas, no Brasil, a lei se deslegítima, anula e torna inexistente, não só pela bastardia da origem, senão ainda pelos horrores da aplicação.

Ora, dizia S. Paulo que boa é a lei, onde se executa legitimamente. Bona est lex, si quis ea legitime utatur. Quereria dizer: Boa é a lei quando executada com retidão. Isto é: boa será, em havendo no executor a virtude, que no legislador não havia. Porque só a moderação, a inteireza e a eqüidade, no aplicar das más leis, as poderiam, em certa medida, escoimar da impureza, dureza e maldade, que encerrarem. Ou, mais lisa e claramente, se bem o entendo, pretenderia significar o apóstolo das gentes que mais vale a lei má, quando inexecutada, ou mal executada (para o bem), que a boa lei sofismada e não observada (contra ele).

Que extraordinário, que imensurável, que, por assim dizer, estupendo e sobre-humano, logo, não será, em tais condições, o papel da justiça! Maior que o da própria legislação. Porque, se dignos são os juizes, como parte suprema, que constituem, no executar das leis, em sendo justas, lhes manterão eles a sua justiça, e, injustas, lhes poderão moderar, se não, até, no seu tanto, corrigir a injustiça.

De nada aproveitam leis, bem se sabe, não existindo quem as ampare contra os abusos; e o amparo sobre todos essencial é o de uma justiça tão alta no seu poder, quanto na sua missão. "Aí temos as leis", dizia o Florentino. "Mas quem lhes há de ter mão? Ninguém".

"Le leggi son, ma chi pon mano ad esse? Nullo".

Entre nós não seria lícito responder assim tão em absoluto à interrogação do poeta. Na constituição brasileira, a mão que ele não via na sua república e em sua época, a mão sustentadora das leis, aí a temos, hoje, criada, e tão grande, que nada lhe iguala a majestade, nada lhe rivaliza o poder. Entre as leis, é a justiça quem decide, fulminando aquelas, quando com esta colidirem.

Soberania tamanha só nas federações de molde norte-americano cabe ao poder judiciário, subordinado aos outros poderes nas demais formas de governo, mas, nesta, superior a todos.

Dessas democracias, pois, o eixo é a justiça, eixo não abstrato, não supositício, não meramente moral, mas de uma realidade profunda, e tão seriamente implantado no mecanismo do regímen, tão praticamente embebido através de todas as suas peças, que, falseando ele ao seu mister, todo o sistema cairá em paralisia, desordem e subversão. Os poderes constitucionais entrarão em conflitos insolúveis, as franquias constitucionais ruirão por terra, e da organização constitucional, do seu caráter, das suas funções, de suas garantias apenas restarão destroços.

Eis o de que nos há de preservar a justiça brasileira, se a deixarem sobreviver, ainda que agredida, oscilante e mal segura, aos outros elementos constitutivos da república, no meio das ruínas, em que mal se conservam ligeiros traços da sua verdade.

Ora, senhores, esse poder eminencialmente necessário, vital e salvador, tem os dois braços, nos quais agüenta a lei, em duas instituições: a magistratura e a advocacia, tão velhas como a sociedade humana, mas elevadas ao cem-dobro, na vida constitucional do Brasil, pela estupenda importância, que o novo regímen veio dar à justiça.

Meus amigos, é para colaborardes em dar existência a essas duas instituições que hoje saís daqui habilitados. Magistrados ou advogados sereis. São duas carreiras quase sagradas, inseparáveis uma da outra, e, tanto uma como a outra, imensas nas dificuldades, responsabilidades e utilidades.

Se cada um de vós meter bem a mão na consciência, certo que tremerá da perspectiva. O tremer próprio é dos que se defrontam com as grandes vocações, e são talhados para as desempenhar. O tremer, mas não o descorçoar. O tremer, mas não o renunciar. O tremer, com o ousar. O tremer, com o empreender. O tremer, com o confiar. Confiai, senhores. Ousai. Reagi. E haveis de ser bem sucedidos. Deus, pátria, e trabalho. Metei no regaço essas três fés, esses três amores, esses três signos santos. E segui, com o coração puro. Não hajais medo a que a sorte vos ludibrie. Mais pode que os seus azares a constância, a coragem e a virtude.

Idealismo? Não: experiência da vida. Não há forças, que mais a senhoreiem, do que essas. Experimentai-o, como eu o tenho experimentado. Poderá ser que resigneis certas situações, como eu as tenho resignado. Mas meramente para variar de posto, e, em vos sentindo incapazes de uns, buscar outros, onde vos venha ao encontro o dever, que a Providência vos havia reservado.

Encarai, jovens colegas meus, nessas duas estradas, que se vos patenteiam. Tomai a que vos indicarem vossos pressentimentos, gostos e explorações, no campo dessas nobres disciplinas, com que lida a ciência das leis e a distribuição da justiça. Abraçai a que vos sentirdes indicada pelo conhecimento de vós mesmos. Mas não primeiro que hajais buscado na experiência de outrem um pouco da que vos é mister, e que ainda não tendes, para eleger a melhor derrota, entre as duas que se oferecem à carta de idoneidade, hoje obtida.

Pelo que me toca, escassamente avalio até onde, nisso, vos poderia eu ser útil. Muito vi em cinqüenta anos. Mas o que constitui a experiência, consiste menos no ver, que no saber observar. Observar com clareza, com desinteresse, com seleção. Observar, deduzindo, induzindo, e generalizando, com pausa, com critério com desconfiança. Observar, apurando, contrasteando, e guardando.

Que espécie de observador seja eu, não vo-lo poderia dizer. Mas, seguro, ou não, no averiguar e discernir, - de uma qualidade, ao menos, me posso abonar a mim mesmo: a de exato e consciencioso no expender e narrar.

Como me dilataria, porém, numa ou noutra coisa, quando tão longamente, aqui, já me tenho excedido em abusar de vós e de mim mesmo?

Não recontarei, pois, senhores, a minha experiência, e muito menos tentarei explaná-la. Cingir-me-ei, estritamente, a falar-vos como falaria e mim próprio, se vós estivésseis em mim, sabendo o que tenho experimentado, e eu me achasse em vós, tendo que resolver essa escolha.

Todo pai é conselheiro natural. Todos os pais aconselham, se bem que nem todos possam jurar pelo valor dos seus conselhos. Os meus serão os a que me julgo obrigado, na situação em que momentaneamente estou, pelo vosso arbítrio, de pai espiritual dos meus afilhados em letras, nesta solenidade.

E à magistratura que vos ides votar?

Elegeis, então, a mais eminente das profissões, a que um homem se pode entregar neste mundo. Essa elevação me impressiona seriamente; de modo que não sei se a comoção me não atalhará o juízo, ou tolherá o discurso. Mas não se dirá que, em boa vontade, fiquei aquém dos meus deveres.

Serão, talvez, meras vulgaridades, tão singelas, quão sabidas, mas ande o senso comum, a moral e o direito, associando-se à experiência, lhe nobilitam os ditames. Vulgaridades, que qualquer outro orador se avantajaria em esmaltar de melhor linguagem, mas que, na ocasião, a mim tocam, e no meu ensoado vernáculo hão de ser ditas. Baste, porém, que s~ digam com isenção, com firmeza, com lealdade; e assim hão de ser ditas, hoje, desta nobre tribuna.

Moços, se vos ides medir com o direito e o crime na cadeira de juizes, começai, esquadrinhando as exigências aparentemente menos altas dos vossos cargos, e proponde-vos caprichar nelas com dobrado rigor; porque, para sermos fiéis no muito, o devemos ser no pouco.

Qui fidelis est in minimoet in majori fidel estet qui in modico iniquus estet in majori iniquus est".

Ponho exemplo, senhores. Nada se leva em menos conta, na judicatura, a uma boa fé de ofício que o vezo de tardança nos despachos e sentenças. Os códigos se cansam debalde em o punir. Mas a geral habitualidade e a conivência geral o entretêm, inocentam e universalizam. Destarte se incrementa e demanda ele em proporções incalculáveis, chegando ascausas a contar a idade por lustras, ou décadas, em vez  de anos.

Mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta. Porque a dilação ilegal nas mãos do julgador contraria o direito escrito das partes, e, assim, as lesa no patrimônio, honra e liberdade. Os juizes tardinheiros são culpados, que a lassidão comum vai tolerando. Mas sua culpa tresdobra com a terrível agravante de que o lesado não tem meio de reagir contra o delinqüente poderoso, em cujas mãos jaz a sorte do litígio pendente.

Não sejais, pois, desses magistrados, nas mãos de quem os autos penam como as almas do purgatório, ou arrastam sonos esquecidos como as preguiças do mato.

Não vos pareçais com esses outros juizes, que, com tabuleta de escrupulosos, imaginam em risco a sua boa fama, se não evitarem o contato dos pleiteantes, recebendo-os com má sombra, em lugar de os ouvir a todos com desprevenção, doçura e serenidade.

Não imiteis os que, em se lhes oferecendo o mais leve pretexto, a si mesmos põem suspeições rebuscadas, para esquivar responsabilidades, que seria do seu dever arrostar sem quebra de ânimo ou de confiança no prestígio dos seus cargos.

Não sigais os que argumentam com o grave das acusações, para se armarem de suspeita e execração contra os acusados; como se, pelo contrário, quanto mais odiosa a acusação, não houvesse o juiz de se precaver mais contra os acusadores, e menos perder de vista a presunção de inocência, comum a todos os réus enquanto não liquidada a prova e reconhecido o delito.

Não acompanheis os que, no pretório, ou no júri, se convertem de julgadores em verdugos, torturando o réu com severidades inoportunas, descabidas, ou indecentes; como se todos os acusados não tivessem direito à proteção dos seus juizes, e a lei processual, em todo o mundo civilizado, não houvesse por sagrado o homem, sobre quem recai acusação ainda inverificada.

Não estejais com os que agravam o rigor das leis, para se acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há nada menos nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente obtida em prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais.

Não julgueis por considerações de pessoas, ou pelas do valor das quantias litigadas, negando as somas, que se pleiteiam, em razão da sua grandeza, ou escolhendo, entre as partes na lide, segundo a situação social delas, seu poderio, opulência e conspicuidade. Porque quanto mais armados estão de tais armas os poderosos, mais inclinados é de recear que sejam à extorsão contra os menos ajudados da fortuna; e, por outro lado, quanto maiores são os valores demandados e maior, portanto, a lesão argüida, mais grave iniqüidade será negar a reparação, que se demanda.

Não vos mistureis com os togados, que contraíram a doença de achar sempre razão ao Estado, ao Governo, à Fazenda; por onde os condecora o povo com o título de "fazendeiros". Essa presunção de terem, de ordinário, razão contra o resto do mundo, nenhuma lei a reconhece à Fazenda, ao Governo, ou ao Estado.

Antes, se admissível fosse aí qualquer presunção, havia de ser em sentido contrário; pois essas entidades são as mais irresponsáveis, as que mais abundam em meios de corromper, as que exercem as perseguições, administrativas, políticas e policiais, as que, demitindo funcionários indemissíveìs, rasgando contratos solenes, consumando lesões de toda a ordem (por não serem os perpetradores de tais atentados os que os pagam), acumulam, continuamente, sobre o tesoiro público terríveis responsabilidades.

No Brasil, durante o Império, os liberais tinham por artigo do seu programa cercear os privilégios, já espantosos, da Fazenda Nacional. Pasmoso é que eles, sob a República, se cem-dobrem ainda, conculcando-se, até, a Constituição, em pontos de alto melindre, para assegurar ao Fisco esta situação monstruosa, e que ainda haja quem, sobre todas essas conquistas, lhe queira granjear a de um lugar de predileções e vantagens na consciência judiciária, no foro íntimo de cada magistrado.

Magistrados futuros, não vos deixeis contagiar de contágio tão maligno. Não negueis jamais ao Erário, à Administração, à União, os seus direitos. São tão invioláveis, como quaisquer outros. Mas o direito dos mais miseráveis dos homens, o direito do mendigo, do escravo, do criminoso, não é menos sagrado, perante a justiça, que o do mais alto dos poderes. Antes, com os mais miseráveis é que a justiça deve ser mais atenta, e redobrar de escrúpulo; porque são os mais mal defendidos, os que suscitam menos interesse, e os contra cujo direito conspiram a inferioridade na condição com a míngua nos recursos.

Preservai, juizes de amanhã., preservai vossas almas juvenis desses baixos e abomináveis sofismas. A ninguém importa mais do que à magistratura fugir do medo, esquivar humilhações, e não conhecer cobardia. Todo o bom magistrado tem muito de heróico em si mesmo, na pureza imaculada e na plácida rigidez, que a nada se dobre, e de nada se tema, senão da outra justiça, assente, cá embaixo, na consciência das nações, e culminante, lá em cima, no juízo divino.

Não tergiverseis com as vossas responsabilidades, por mais atribulações que vos imponham, e mais perigos a que vos exponham. Nem receeis soberanias da terra: nem a do povo, nem a do poder. O povo é uma torrente, que rara vez se não deixa conter pelas ações magnânimas. A intrepidez do juiz, como a bravura do soldado, o arrebatam, e fascinam. Os governos investem contra a justiça, provocam e desrespeitam a tribunais; mas, por mais que lhes espumem contra as sentenças, quando justas, não terão, por muito tempo, a cabeça erguida em ameaça ou desobediência diante dos magistrados, que os enfrentem com dignidade e firmeza.

Os presidentes de certas repúblicas são, às vezes, mais intolerantes com os magistrados, quando lhes resistem, como devem, do que os antigos monarcas absolutos. Mas, se os chefes das democracias de tal jaez se esquecem do seu lugar, até o extremo de se haverem, quando lhes pica o orgulho, com os juizes vitalícios e inamovíveis de hoje, coma se haveriam com ou ouvidores e desembargadores d'El-Rei Nosso Senhor, frágeis instrumentos nas mãos de déspotas coroados, - cumpre aos amesquinhados pela jactância dessas rebeldias ter em mente que, instituindo-os em guardas da Constituição contra os legisladores e da lei contra os governos, esses pactos de liberdade não os revestiram de prerrogativas ultramajestáticas, senão para que a sua autoridade não torça às exigências de nenhuma potestade humana.

Os tiranos e bárbaros antigos tinham, por vezes, mais compreensão real da justiça que os civilizados e democratas de hoje. Haja vista a história, que nos conta um pregador do século XVII.

"A todo o que faz pessoa de juiz, ou ministro", dizia o orador sacro, "manda Deus que não considere na parte a razão de príncipe poderoso, ou de pobre desvalido, senão só a razão do seu próximo...Bem praticou esta virtude Canuto, rei dos Vândalos, que, mandando justiçar uma quadrilha de salteadores, e pondo um deles embargos de que era parente d'El-Rei, respondeu: Se provar ser nosso parente, razão é que lhe façam a forca mais alta".

Bom é que os bárbaros tivessem deixado lições tão inesperadas às nossas democracias. Bem poderia ser que, barbarizando-se com esses modelos, antepusessem elas, enfim, a justiça ao parentesco, e nos livrassem da peste das parentelas, em matérias de governo.

Como vedes, senhores, para me não chamarem a mim revolucionário, ando a catar minha literatura de hoje nos livros religiosos.

Outro ponto dos maiores na educação do magistrado: corar menos de ter errado que de se não emendar. Melhor será que a sentença não erre. Mas, se cair em erro, o pior é que se não corrija. E, se o próprio autor do erro o remeditar, tanto melhor; porque tanto mais cresce, com a confissão, em crédito de justo, o magistrado, e tanto mais se soleniza a reparação dada ao ofendido.

Muitas vezes, ainda, teria eu de vos dizer: Não façais, não façais. Mas já é tempo de caçar as velas ao discurso. Pouco agora vos direi.

Não anteponhais o draconianismo à eqüidade. Dados a tão cruel mania, ganharíeis, com razão, conceito de maus, e não de retos.

Não cultiveis sistemas, extravagâncias e singularidades. Por esse meio lucraríeis a néscia reputação de originais; mas nunca a de sábios, doutos, ou conscienciosos.

Não militeis em partidos, dando à política o que deveis à imparcialidade. Dessa maneira venderíeis as almas e famas ao demônio da ambição, da intriga e da servidão às paixões mais detestáveis.

Não cortejeis a popularidade. Não transijais com as conveniências. Não tenhais negócios em secretarias. Não delibereis por conselheiros, ou assessores. Não deis votos de solidariedade com outros, quem quer que sejam. Fazendo aos colegas toda a honra, que lhes deverdes, prestai-lhes o crédito, a que sua dignidade houver direito; mas não tanto que delibereis  de os ouvir, em matéria onde a confiança não substitua a inspeção direta. Não prescindais, em suma, do conhecimento próprio, sempre que a prova terminante vos esteja ao alcance da vista, e se ofereça à verificação imediata do tribunal.

Por derradeiro, amigos de minha alma, por derradeiro, a última, a melhor lição da minha experiência. De quanto no mundo tenho visto, o resumo se abrange nestas cinco palavras:

Não há justiça, onde não haja Deus.

Quereríeis que vo-lo demonstrasse? Mas seria perder tempo, se já não encontrastes a demonstração no espetáculo atual da terra, na catástrofe da humanidade. O gênero humano afundiu-se na matéria, e no oceano violento da matéria flutuam, hoje, os destroços da civilização meio destruída. Esse fatal excídio está clamando por Deus. Quando ele tornar a nós, as nações abandonarão a guerra, e a paz, então, assomará entre elas, a paz das leis e da justiça, que o mundo ainda não tem, porque ainda não crê.

A justiça humana cabe, nessa regeneração, papel essencial. Assim o saiba ela honrar. Trabalhai por isso os que abraçardes essa carreira, com a influência da altíssima dignidade que do seu exercício recebereis.

Dela vos falei, da sua grandeza e dos seus deveres, com a incompetência de quem não a tem exercido. Não tive a honra de ser magistrado. Advogado sou, há cinqüenta anos, e, já agora, morrerei advogado.

E, entretanto, da advocacia no Brasil, da minha profissão, do que nela, em experiência, acumulei, praticando-a, que me não será dado agora tratar. A extensão já demasiadíssimadeste colóquio em  desalinho não me consentiriaria acréscimo tamanho. Mas que perdereis, com tal omissão? Nada.

Na missão do advogado também se desenvolve uma espécie de magistratura. As duas se entrelaçam, diversas nas funções, mas idênticas no objeto e na resultante; a justiça. Com o advogado, justiça militante. Justiça imperante, no magistrado.

Legalidade e liberdade são as tábuas da vocação do advogado. Nelas se encerra, para ele, a síntese de todos os mandamentos. Não desertar a justiça, nem cortejá-la. Não lhe f altar com a fidelidade, nem lhe recusar o conselho. Não transfugir da legalidade para a violência, nem trocar a ordem pela anarquia. Não antepor os poderosos aos desvalidos, nem recusar patrocínio a estes contra aqueles. Não servir sem independência à justiça, nem quebrar da verdade ante o poder. Não colaborar em perseguições ou atentados, nem pleitear pela iniqüidade ou imoralidade. Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem à das perigosas, quando justas. Onde for apurável um grão, que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o consolo do amparo judicial. Não proceder, nas consultas, senão com a imparcialidade real do juiz nas sentenças. Não fazer da banca balcão, ou da ciência mercatura. Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade. Amar a pátria, estremecer o próximo, guardar fé em Deus, na verdade e no bem.

Senhores, devo acabar. Quando, há cinqüenta anos, saía eu daqui, na velha Paulicéia, solitária e brumosa, como hoje saís da transfigurada metrópole do máximo Estado brasileiro, bem outros eram este país e todo o mundo ocidental.

O Brasil acabava de varrer do seu território a invasão paraguaia, e, na América do Norte, poucos anos antes, a guerra civil limpara da grande república o cativeiro negro, cuja agonia esteve a pique de a soçobrar despedaçada. Eram dois prenúncios de uma alvorada, que doirava os cimos do mundo cristão, anunciando futuras vitórias da liberdade.

Mas, ao mesmo tempo, a invasão germânica alagava terras de França, deixando-a violada, transpassada no coração e cruelmente mutilada, aos olhos secos e indiferentes das outras potências e mais nações européias, grandes ou pequenas.

Ninguém percebeu que se estavam semeando o cativeiro e a subversão do mundo. Daí a menos de cinqüenta anos, aquela atroz exacerbação do egoísmo político envolvia culpados e inocentes numa série de convulsões, tal, que acreditaríeis haver-se despejado o inferno entre as nações da terra, dando ao inaudito fenômeno humano proporções quase capazes de representar, na sua espantosa imensidade, um cataclismo cósmico. Parecia estar-se desmanchando e aniquilando o mundo. Mas era a eterna justiça que se mostrava. Era o velho continente que principiava e expiar a velha política, desalmada, mercantil e cínica, dos NapoleõesMetternichs e Bismarcks, num ciclone de abominações inenarráveis, que bem depressa abrangeria, como abrangeu, na zona das suas tremendas comoções, os outros continentes, e deixaria revolvido o orbe inteiro em tormentas catastróficas, só Deus sabe por quantas gerações além dos nossos dias.

Briareu do inexorável mercantilismo que explorava a humanidade, o colosso do egoísmo universal, que, durante um século, assistira impassível à entronização dos cálculos dos governos sobre os direitos dos povos, o reinado ímpio da ambição e da força rolava, e se desfazia, num desmoronamento pavoroso, levando por aí a rojo impérios e dinastias, reis, domínios, constituições e tratados. Mas a medonha intervenção dos poderes tenebrosos do nosso destino mal estava começada. Ninguém poderia conjeturar ainda como e quando acabará.

Neste canto da terra, o Brasil "da hegemonia sul-americana", entreluzida com a guerra do Paraguai, não cultivava tais veleidades, ainda bem que, hoje, de todo em todo extintas Mas encetara uma era de aspirações jurídicas e revoluções incruentas. Em 1888 aboliu a propriedade servil. Em 1889 baniu a coroa, e organizou a república. Em 1907 entrou, pela porta de Haia, ao concerto das nações. Em 1917 alistou-se na aliança da civilização, para empenhar a sua responsabilidade e as suas forças navais na guerra das guerras, em socorro do direito das gentes, cujo código ajudara a organizar na Segunda Conferência da Paz.

Mas, de súbito, agora, um movimento desvairado parece estar-nos levando, empuxados de uma corrente submarina, a um recuo inexplicável. Diríeis que o Brasil de 1921 tendesse, hoje, a repudiar o Brasil de 1917. Por quê? Porque a nossa política nos descurou dos interesses, e, ante isso, delirando em acesso de frívolo despeito, iríamos desmentir a excelsa tradição, tão gloriosa, quão inteligente e fecunda?

Não; senhores, não seria possível. Na resolução de 1917 o Brasil ascendeu à elevação mais alta de toda a nossa história. Não descerá.

Amigos meus, não. Compromissos daquela natureza, daquele alcance, daquela dignidade não se revogam. Não convertamos uma questão de futuro em questão de relance. Não transformemos uma questão de previdência em questão de cobiça. Não reduzamos uma imensa questão de princípios a vil questão de interesses. Não demos de barato a essência eterna da justiça por uma rasteira desavença de mercadores. Não barganhemos o nosso porvir a troco de um mesquinho prato de lentilhas. Não arrastemos o Brasil ao escândalo de se dar em espetáculo à terra toda como a mais fútil das nações, nação que, à distância de quatro anos, se desdissesse de um dos mais memoráveis atos de sua vida, trocasse de idéias, variasse de afeições, mudasse de caráter, e se renegasse a si mesma.

Ó, senhores, não, não e não! Paladinos, ainda ontem, do direito e da liberdade, não vamos agora mostrar os punhos contraídos aos irmãos, com que comungávamos, há pouco, nessa verdadeira cruzada. Não percamos, assim, o equilíbrio da dignidade, por amor de uma pendência de estreito caráter comercial, ainda mal liquidada, sobre a qual as explicações dadas à nação pelos seus agentes, até esta data, são inconsistentes e furta-cores. Não culpemos o estrangeiro das nossas decepções políticas no exterior, antes de averiguarmos se os culpados não se achariam aqui mesmo, entre os a quem se depara, nestas cegas agitações de ódio a outros povos, a diversão mais oportuna dos nossos erros e misérias intestinas.

O Brasil, em 1917, plantou a sua bandeira entre as da civilização nos mares da Europa. Daí não se retrocede facilmente, sem quebra da seriedade e do decoro, se não dos próprios interesses. Mais cuidado tivéssemos, em tempo, com os nossos, nos conselhos da paz, se neles quiséssemos brilhar melhor do que brilhamos nos atos da guerra, e acabar sem contratempos ou dissabores.

Agora, o que a política e a honra nos indicam, é outra coisa. Não busquemos o caminho de volta à situação colonial. Guardemo-nos das proteções internacionais. Acautelemos-nos das invasões econômicos. Vigiemo-nos das potências absorventes e das raças expansionistas. Não nos temamos tanto dos grandes impérios já saciados, quanto dos ansiosos por se fazerem tais à custa dos povos indefesos e mal governados. Tenhamos sentido nos ventos, que sopram de certos quadrantes do céu. O Brasil é a mais cobiçável das presas; e, oferecida, como está, incauta, ingênua, inerme, a todas as ambições, tem, de sobejo, com que fartar duas ou três das mais formidáveis.

Mas o que lhe importa, é que dê começo a governar-se a si mesmo; porquanto nenhum dos árbitros da paz e da guerra leva em conta uma nacionalidade adormecida e anemizadana tutela  perpétua do governos, que não escolhe. Um povo dependente no seu próprio território e nele mesmo sujeito ao domínio de senhores não pode almejar seriamente, nem seriamente manter a sua independência para com o estrangeiro.

Eia, senhores! Mocidade viril! Inteligência brasileira! Nobre nação explorada! Brasil de ontem e amanhã! Dai-nos o de hoje, que nos falta.

Mãos à obra da reivindicação de nossa perdida autonomia; mãos à obra da nossa reconstituição interior; mãos à obra de reconciliarmos a vida nacional com as instituições nacionais; mãos à obra de substituir pela verdade o simulacro político da nossa existência entre as nações. Trabalhai por essa que há de ser a salvação nossa. Mas não buscando salvadores. Ainda vos podereis salvar a vós mesmos. Não é sonho, meus amigos; bem sinto eu, nas pulsações do sangue, essa ressurreição ansiada. Oxalá não se me fechem os olhos, antes de lhe ver os primeiros indícios no horizonte. Assim o queira Deus.


Nota do autor:
"Le leggi son, ma chi pon mano ad esse? Nullo."
A Divina Comédia, Dante Alighieri - Purgatório - Canto XVI 


Dante Alighieri


21 de fevereiro de 2017

Salvador e Maiorca

Não existem pontos de contato entre a cidade de Salvador e a Ilha de Maiorca, a maior das Baleares, pertencente à Espanha.

Bem, se eu tivesse mesmo interesse em fazer um paralelo, encontraria alguns, tênues que fossem.

Todavia, aqui só me interessa explicar porque lembrei de Salvador assistindo ao programa “O mundo visto de cima”, num dos canais Globosat, neste último domingo.

No bem realizado programa, do qual fiquei fã, o local visitado era a Ilha de Maiorca.

Ao mostrar sua geografia, praias, arquitetura, monumentos, catedral, vilas particulares, a hora tantas mostrou um mosteiro, bastante grande, com a informação de que atualmente abriga peregrinos e turistas nos alojamentos  que eram  utilizados pelos religiosos.

Monastértio Lluc - Maiorca
Neste ponto, ato contínuo lembrei de Salvador porque alternativamente foi num convento que me hospedei na capital baiana, na década de 1970.

Refiro-me ao Convento de São Francisco. Local bonito, agradável, silencioso. Sobre este ponto foi a maior recomendação quando nos apresentamos na recepção.

Igreja e convento de São Francisco

Vista parcial do páteo interno
Acomodações humildes, extremamente limpas e com cheiro de limpeza. Mobiliário rústico e roupas de cama e banho feitas de tecido de algodão que bem poderiam ser utilizados em sacos de farinha.

O café da manhã, incluído no preço da diária, era frugal. Leite, pão, manteiga e café. Sem trocadilho, bem franciscano o dejejum.

O preço muito abaixo do praticado nos hotéis nos quais teria coragem de me hospedar, e $$$$$ para pagar.

Essa viagem a Salvador foi meio que no improviso. Morando e trabalhando em São Paulo, seriam minhas primeiras férias. Acabara de comprar um novo automóvel zero. Uma Brasília.

Sai de São Paulo, com mulher e filhos em direção a Niterói. Fomos para a casa de minha mãe. Telefonei para um amigo e perguntei se ele e sua mulher topariam ir até Salvador, numa viagem pela estrada litorânea, numa Brasília.

Pelos meus cálculos, teria que fazer em Salvador a revisão dos 10.000 Km.

Ele topou, pediu um dia para se organizar e combinamos a viagem, sem qualquer planejamento, reservas, estas coisas básicas.

Meu filho mais velho ficou em Niterói, com minha mãe e partimos em direção a Cachoeiro de Itapemirim-ES,  onde deixei o caçula com os avós maternos.

Pernoitamos lá e na manhã seguinte logo cedo fomos em direção à Bahia. Na hora do almoço estávamos em São Mateus ou Linhares, norte do Espírito Santo, já não lembro, onde almoçamos.

À noitinha chegamos a Eunápolis. Hospedamo-nos em um motel, levados por um menino-guia que encontramos na cidade e saímos para jantar ainda conduzidos pelo menino, que nos levou a uma churrascaria.

As fotos ilustram trechos da viagem. Nelas aparecem o blogueiro, sua mulher e o casal de amigos, companheiros de viagem. As fotos, além de antigas, foram tiradas com câmera simples, sem maiores recursos, e por amadores.

Há um álbum só com fotos da viagem.
Trechos da estrada e cidades visitadas pelo caminho.

No dia seguinte chegamos a Salvador, sem reserva em hotel e, cá para nós, com pouca grana para gastar. A ideia era ficarmos cinco dias, almoçando, jantando e passeando na cidade e arredores.

No posto de gasolina, em Brotas, bairro da cidade, o frentista, o qual consultamos sobre hospedagem, nos sugeriu tentar o Convento de São Francisco. E alertou: digam que foram amigos que lá se hospedaram que recomendaram. E provem que são casados.

Fiquei no carro e meu amigo, com a mulher dele, foi até a entrada do convento negociar nossa estadia. Demorou uma eternidade para voltar, mas com um sorriso disse ter convencido a freira.

Avisou sobre as regras, falou da simplicidade das instalações, mas estava tudo acertado. Foi assim que me hospedei em uma instalação religiosa.

As fotos nos mostram e também aspectos internos do convento, inclusive a arara no braço de blogueiro.



Tiramos dezenas de fotos no convento e na cidade de Salvador. De todos os pontos turísticos mais conhecidos. Do farol, do Mercado Modelo, da casa de Jorge Amado, Itapuã, elevador Lacerda, e da lagoa de Abaeté. E não deixamos de ir à feira de Água dos Meninos.

Comemos quase todos os pratos típicos, nos restaurantes "Maria de São Pedro" e "Camafeu de Oxossi" no Mercado Modelo. E também nos tabuleiros das baianas, acarajés e abarás. Comi um acarajé feito com siri catado que até hoje sonho com ele.

Em Maiorca e muitas outras cidades, na Europa, é possível se hospedar em antigos mosteiros, conventos e até igrejas, adaptados para hotéis e pousadas. E no Vale do Loire até em castelo medieval. Talvez outros locais também, mas o Vale do Loire eu conheço. Região linda, encantadora. Mas será tema de outro post. 

Não vou incluir Maiorca em meus planos de viagem, por várias razões: a lista já contempla muitos outros lugares preferenciais; não tenho mais dinheiro para viajar com frequência, na minha idade longas distâncias são cansativas na classe econômica, o que me remete ao item anterior, não ter dinheiro.

Mas é sem dúvida um lugar a ser visitado, se você tem recursos financeiros. Nunca mais voltei a Salvador, mas guardo na memória a gentileza e hospitalidade do povo, o sabor da culinária e as belezas naturais.