30 de setembro de 2010

Última festa... continuação

Gente do céu! Meu primeiro título eleitoral tinha foto e, no verso, espaço para que, com rubrica do presidente da seção eleitoral, ficasse comprovado meu comparecimento.

Havia espaço para 12 comparecimentos às urnas.

Ou seja, com um único documento, no caso o título eleitoral, matavam-se todos os coelhos perseguidos.

Agora discute-se a obrigatoriedade de apresentação de dois documentos, porque o título não tem foto que permita identificação. E recebe-se um pedacinho de papel, fácil de perder, como comprovante de votação.

E esta discussão vai parar no STF e parar o STF. Fruto de casualismo de um cabeça oca qualquer, que resolveu legislar sobre uma coisa que funcionava bem.

Ora, votava-se, ultimamente, a partir do título sem foto, apenas com um documento de identidade (não era necessário o título). Bastava, óbvio, que o nome do eleitor estivesse na listagem do TRE. P’ra que mexer neste troço?

É evidente que o PT é contra a exibição de dois documentos. Os eleitores do partido, em grande parte, não têm dois documentos. Ou não os levarão, por falta de informação.

A nova lei tem um ano, e foi sancionada pelo presidente Lula. Como ele não lê o que assina, ficou sem saber e, logo, se dar conta do prejuízo, eventual, para seu partido.

Agora correm atrás, no Supremo Tribunal Federal, de uma decisão que elimine a necessidade de dois documentos. E irão conseguir, a julgar pela votação até ontem (sete a zero).

Ainda bem que esta será, provavelmente, a última festa democrática a qual compareço. Só voltarei se houver forte razão. E vou desta vez por duas razões básicas: a uma porque tenho um candidato no qual quero votar, porque confio no seu preparo para o cargo. Chama-se José Serra. E a duas, porque não sendo obrigatório, irei espontaneamente exercer meu DIREITO. E não, cumprir uma obrigação.

Minha última festa da democracia e seus preparativos

No campo dos preparativos, de lamentar a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal, com relação a aplicabilidade, já a partir destas eleições, da norma legal popularmente chamada de lei da ficha-suja.

Caramba! Dar empate na interpretação da lei, que tem origem e sustentação num forte apelo popular, é uma coisa inexplicável.

Corrijo-me de imediato. Tem explicação sim. Talvez mais de uma.

Uma, seriam os vínculos partidários e de interesses pessoais em jogo. Afinal os senhores ministros são nomeados pelo presidente da república. Muitos dos candidatos que seriam impedidos de disputar o pleito, pertencem a partidos da base aliada do governo. Não acredito em isenção.

A outra razão, fica mais explícita quando se analisa a votação de ontem, sobre a obrigatoriedade de apresentação de dois documentos, sendo um de identidade, quando do momento de comparecer às urnas.

Sabem qual é? Exibicionismo. Desde que as sessões plenárias passaram a ser transmitidas ao vivo e a cores, alguns ministros utilizam o plenário como palco para solos de juridiquês e processualística.

Pense bem: estava sete a zero, num total de dez votos possíveis, e o ministro Gilmar Mendes pediu vista dos autos. É um direito que lhe cabe, sem dúvida. Mas, na prática, o que ele espera? Mudar os votos de alguns dos ministros que já se manifestaram? Com que tão sólidos e inovadores argumentos? Acho que ele andou assistindo a reapresentação do filme “Doze homens e uma sentença” (recomendo o filme).

Pode ser que, inobstante a derrota iminente, não queira votar contra seus princípios e consciência. Será?

Como este intróito ficou muito cumprido, volto ao tema mais tarde, em outro post.

28 de setembro de 2010

Rotina

Nada tenho contra a rotina. Antes pelo contrário. A rotina tem suas vantagens.

Querem um exemplo? Cortar o cabelo. Se este ato é praticado no mesmo salão e com o mesmo barbeiro, você não terá que responder às indefectíveis perguntas: "o pé o senhor quer reto ou disfarçado? Com que máquina o senhor quer que apare, um ou dois? Acerto o bigode? E as sobrancelhas?"

No mesmo salão, com o mesmo profissional, você só responde a estas perguntas uma vez. Depois é só sentar e relaxar, ou ler seu jornal em paz. E não sai do salão aborrecido, porque ele cortou mais curto do que deveria e o penteado não dá acerto.

Quando trabalhei em São Paulo, no bairro do Belenzinho (podem rir à vontade), comia diariamente num mesmo restaurante, sentando na mesma mesa, atendido pelo mesmo garçom, com inúmeras vantagens: ele não me aconselhava a provar a dobradinha e já sabia que meu bife vinha diretamente do abatedouro, com o sangue escorrendo.

Vejamos o que originou minha rotina. Iniciaria com os ensinamentos recebidos de meus pais, na infância. Nesta fonte, estariam alguns hábitos, tais como lavar as mãos antes das refeições e escovar os dentes pela manhã e antes de dormir, pelo menos.

São da mesma origem, os hábitos de conferir, antes de sair de casa, se levo comigo tudo que possa precisar. Lembro de minha mãe, antes de eu sair para escola, perguntando, diariamente: “pegou a caderneta, está levando a merenda, tem lenço limpo”, e coisas do gênero. E emendava, “São Jorge te acompanhe”.

Em função disto, faço uma checagem diária, antes de sair, algumas vezes auxiliado por minha mulher: óculos, chaves de casa e do escritório, celular, algum trocado etc.

E nunca esqueço de pedir a São Jorge que me acompanhe.

É óbvio que a rotina extremada é desaconselhável, pois não permite novas experiências que poderiam ser benéficas e, bem no extremo, é risível.

Exemplo clássico disto, é o que ocorria com um amigo, que tinha dia e hora pré-estabelecidos para transar com a esposa. Por inconfidência da mulher dele, que contou para a Wanda (minha mulher), fiquei sabendo que ele programava, informando a mulher: sexta-feira, às 21:30h vamos para a cama? Se é mentira é da mulher pois, Wanda não inventaria uma história desta.

O resumo da ópera é o seguinte: mantenha os hábitos básicos, mas experimente, ouse, surpreenda.

24 de setembro de 2010

Perfil do Luis Fernando Veríssimo

Luis Fernando Veríssimo, nascido na cidade do Crato, no Ceará, seis casamentos desfeitos, torcedor fanático do Grêmio, prefere um bom funk, ao enfadonho jazz.

Por isso, ao invés de saxofone, por exemplo, prefere tocar bumbo. Seu sonho é sair na bateria da Mangueira.

Sofre quando tem que ir a Paris, porque os doces de lá são piores do que os da padaria da esquina.

Não sabe como alguém da Globo teve a infeliz idéia de colocar a Patrícia Poeta apresentando o Fantástico. Que foi que viram nela?

Este (ou estes) Veríssimo (s), cujo perfil tracei acima de forma sintética, vive (m) fazendo circular na Internet textos apócrifos, tentando ludibriar os incautos.

E tem gente que acredita e põe para circular, enviando para os amigos como se estivessem sendo originais e lhes prestando um favor.

Leitores ávidos e assíduos do próprio não nos deixamos enganar, porque por mais bem escritos e contenham pitadas de fina ironia, aqueles textos estarão sempre muito baixo da qualidade dos que são realmente da lavra do filho de Érico.



19 de setembro de 2010

Salada mista

Comerciais

Atualmente estão sendo veiculados dois comerciais extremamente criativos. Bem bolados e bem executados.

Num deles, da cerveja Heineken, temos um casal recepcionando três casais amigos, no que parece ser a open house do novo apartamento. Na primeira cena, a anfitriã esta mostrando o apartamento às amigas, indicando os cômodos, até que chegam diante da porta do closet. Abrindo a porta, o que se vê é um amplo ambiente, repleto de roupas, calçados, bolsas e acessórios femimininos. A reação das visitantes, assim como da dona da casa, é imediata: gritinhos de surpresa e risos de satisfação. Logo em seguida, ainda durante as comemorações das mulheres, ouve-se uma gritaria dos homens. Muda a cena e eles estão entrando no closet do anfitrião, também muito amplo, que está lotado, para alegria geral, de muita cerveja em todas as prateleiras, que são refrigeradas a julgar pelo vapor liberado. Também eles estão se confraternizando, seja pela surpresa seja pelo conteúdo: muita cerveja gelada.
Sensacional.

No outro, das sandálias Havaianas, vemos uma fila diante de uma casa de espetáculos. Os dois primeiros da fila estão calçando as sandálias de dedo, tipo havainas. Focalizado, o Segurança alerta em alta voz que aqueles que estejam de havainas não poderão entrar. Protesto geral, principalmente dos dois primeiros da fila, que alegam sempre frequentarem o local usando as sandálias. Então o Segurança esclarece: voces podem entrar, quem não pode é aquele lá de havaianas. Então, do meio da fila, sai um sujeito vestido com o traje típico do Havaí, com colar de flores no pescoço e aquela indefectível saia de palha.
Muito bom.

Técnicos de futebol

Existem dois técnicos de futebol que se destacam muito dos demais, em todo o mundo: um é o José Mourinho, português, que vem obtendo êxitos nos diferentes países onde tem trabalhado, com equipes com pouca tradição de conquistas nacionais e internacionais, e tem vencido constantemente na última década. Foi assim com o Futebol Clube do Porto, de Portugal, que levou à conquista da Taça dos Campeões Europeus. Foi assim na Inglaterra, onde levou o Chelsea ao inédito bicampeonato da Premier Ligue. Deixando a Inglaterra, foi para a Itália onde levou a Internazionale di Milano, também, à conquista da Copa Européia, que é, de longe, a mais disputada competição entre equipes de futebol do mundo. Agora está na Espanha (Real Madrid) onde certamente também conquistará títulos.

O outro competentíssimo treinador é o francês Arsène Wenger, que está há 14 anos a frente do Arsenal, da Inglaterra. Embora tenha conquistado, na década, com os gunners, dois títulos da Primeira Divisão, seu trabalho se destaca pela qualidade do futebol com que a equipe sempre se apresenta. É o futebol mais vistoso praticado no mundo. Tirante o Barcelona, que tem conseguido brilho eventual, o Arsenal é disparado o futebol mais bonito de se ver. Esta minha opinião é também a de muitos jogadores e outros técnicos que reconhecem o trabalho do Wenger.

Dois estilos diferentes: o do Mourinho é o do futebol competitivo; o do Wenger é o do futebol arte.
Admiro ambos.

Eleições

O Claudio Paiva, ótimo profissional do humor, área onde transita como cartunista, chargista e cronista, com texto irônico e mordaz de muito boa qualidade, em sua página dominical na Revista O Globo, fez uma charge onde aparece uma casa de pernas para o ar. Tudo revolto, como se por ali tivesse passado um furacão violento. Em meio às ruínas, muitas bandeiras do PT e cartazes com a Dilma. Um gaiato vai ao que poderia ser um orelhão, mas que tem apenas um grande botão, e indaga: Quem apertou o botão do f*%$-se?
Maravilhoso.

Fez-me lembrar a velha piada, não sei por que associação de idéias, na qual alguém aconselha a uma mulher, que se o estupro é inevitável, deve relaxar e gozar.
Será que no quadro eleitoral que se desenha é pertinente?

16 de setembro de 2010

Redes sociais

Tenho recebido, via e-mail, propostas para que participe de algumas redes sociais. São parentes, amigos e clientes, que efetivamente não me conhecem bem. Ou viveram momento de distração.

Para quem como eu acha que Niterói, com seus, sei lá, 500 mil habitantes, já cresceu muito e chegou ao limite do suportável, como cidade para se viver, iria fazer o que no facebook, por exemplo, rede com mais de 500 milhões de participantes, que se fosse um país teria a terceira maior população do mundo, atrás de China e Índia.

Não, obrigado, estou fora.

Embora não seja exatamente um low profile, não vou me expor e compartilhar intimidades com essa multidão.

Neste blog, com um número de leitores contáveis nos dedos das mãos, já causei certa surpresa. Assim é que ouvi de uma cliente, que quem me conhece e lida comigo profissionalmente, nem imagina a pessoa que sou por trás daquele aspecto austero, sisudo e circunspecto que apresento quando travestido de advogado, a partir de conclusão que tirou da leitura de alguns posts aqui do blog.
Disse que aqui me aproximo um pouco mais de um ser humano. Ledo engano, mas deixa p’ra lá.

Nem sei quantas são as comunidades (é assim que se chamam?) existentes. Para lá do Orkut, que conheço de nome há muito tempo, e do citado Facebook, que tem sido recordista de propostas de adesão, por convites de conhecidos, e do Twitter, coqueluche do momento, acabo de receber convite de uma certa rede denominada Formspring. Na semana passada foi da Quepasa.

Mensagens eletrônicas (e-mails) são o máximo de concessão que faço neste universo internáutico.

Meu filho Jorge postou em seu blog (http://www.cavernaweb.com.br/) uma matéria muito interessante sobre as redes sociais. Recomendo o acesso e leitura.

14 de setembro de 2010

Viúva Clicquot

Muitos não conhecem. Alguns ouviram falar. Poucos sabem de quem e do que se trata.
A personagem título é a responsável pela respeitabilidade e pelo sucesso comercial de um champagne que leva seu nome, não de batismo, mas de casamento. O nome que acabou por consagrar como sinônimo de fino champagne – Clicquot – advem de seu marido François Clicquot.

Também não sabia, mas estou lendo um livro muito bom, que a par de contar a biografia da corajosa e empreendedora dama, née Barbe-Nicole Ponsardin e que enviuvou aos 27 anos de idade, oferece o cenário e o ambiente político-social no qual ela nasceu e foi criada.

E é exatamente deste período histórico da França, com reflexos positivos em outros países, inclusive os USA, que quero falar.

Aqui os enólogos e sommeliers não têm vez. Champagne é para se beber.

Tanto é verdade que cogitei de intitular o post de Carga Tributária.

A revolução francesa, que derrubou a monarquia e levou à guilhotina Luis XVI* e sua mulher, Maria Antonieta, em julho de 1789, teve como uma das causas principais os escorchantes impostos e taxas cobradas pela coroa, pelos nobres e pelo clero.

Mesmo sendo dono da terra, o agricultor poderia ter que pagar até 40% aos nobres e ao clero, só para poder ter o direito de colher e esmagar suas uvas.

Quem diria que passados séculos, mudado o regime político, e malgrado os avanços científicos e tecnológicos, temos hoje uma carga tributária que ultrapassa os absurdos 40%, que resultaram na revolução.

Há em São Paulo um painel, chamado Impostômetro, que mede quanto pagamos de impostos e que aponta que será atingido o estratosférico valor de um trilhão de reais (R$ 1 trilhão) antes do Natal.

É óbvio que não estou propondo que a sociedade se comporte como na França de 1789, quando foram acertadas velhas contas com o poder constituído. Longe de imaginar que o vandalismo, as atrocidades, os espancamentos dos governantes seriam uma solução. Que dá vontade , dá. Mas temos que reprimir.

Vamos, nas urnas, iniciar uma mudança de postura, de cidadania, de responsabilidade social.

A quem gosta de vinhos, em especial de champanhe e a quem gosta de história geral, não só da bebida, recomendo a leitura de A Viúva Clicquot, de Tilar J. Mazzeo (americana que não é parente do Bruno), e ditado pela Rocco.

* Luís XVI de Bourbon, nascido em 23 de agosto de 1754 em Versalhes e executado em 21 de Janeiro de 1793 em Paris, foi rei da França (1774-1791) e esposo de Maria Antonieta da Áustria (com quem se casou com 16 anos).




11 de setembro de 2010

Atualidades XXI

1) Natureza

Quando tanto se fala em sustentabilidade, em preservação do meio-ambiente, cuidados com a natureza, proteção especial para espécies animais em extinção, é irônico que moradores dos bairros cariocas da Gávea, Humaitá e Cosme Velho estejam se queixando da invasão, até em seus apartamentos, de macacos-prego, micos e saguis.

Nos fundos do Parque Lage, cerca de 100 jaqueiras serão derrubadas, por terem nascido muito próximas de outras já existentes e suas ra´zes brigam por espaço embaixo da terra.


2) Eleições

Para não exagerar, tenho recebido uma média de 5 mails semanais, com críticas ao governo Lula e à candidata Dilma, com alusões ao seu passado de guerrilheira, seu apoio aos vândaloa dos sem-terra, sua proximidade com Collor, Sarney, Jader Barbalho et caterva, e nenhuma linha sobre os demais candidatos com visibildade, Serra e Marina. Nem contra e nem a favor.

A julgar pelas críticas, e a quantidade delas, a dedução lógica seria que a Dilma não teria qualquer chance de se eleger. Entretanto as pesquisas apontam uma enorme diferença em favor dela. Poderemos ter surpresas, ou o fenômeno se explica pelo fato de que os beneficiários das bolsas – família, gás, universidade – não têm acesso à rede mundial de computadores?

3) Sigilo fiscal

Vocês já pararam para pensar na vulnerabilidade e no uso criminoso de dados confidenciais dos cidadãos por parte de servidores da Receita Federal ?

A partidarização daquele órgão fiscal/tributário é visível.

Reflitam, por instantes, na gravidade da situação. É absurdo que não se possa ter direito ao sigilo fiscal.

E, assim como na Receita Federal, não se deve confiar no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, igualmente controlados pelo PT e apaniguados do governo Lula.

Com Dilma, e a inevitável volta do José Dirceu, ninguém mais terá assegurados seus direitos, seja ao sigilo fiscal, a inviolabilidade de dados bancários, privacidade nas comunicações, seja de proteção da propriedade. Direitos? Que direitos?

4) Preços dos imóveis

Estou assustado. Onde vão parar os preços dos imóveis? Não me refiro, apenas, aos preços de venda. Também os alugueres dispararam.

Novos prédios têm suas unidades vendidas nos primeiros dias do lançamento.

Eu estou preocupado. Um fenômeno como o ocorrido nos USA está inteiramente descartado no Brasil? Eu, do meu cantinho, acho que não.

Vajam que nunca foi tão fácil obter financiamento. Consegue-se até 110%, em certos casos.

Ora, com qualquer marolinha (como diria o Lula) no mercado externo, que produza alto índice de desemprego, a inadimplência vai explodir.

Vade retro! Cala-te boca.

10 de setembro de 2010

Religião

Fui coroinha. Isso mesmo que você leu, coroinha. Portanto estive muito próximo da religião católica. Hoje, herege e agnóstico, estou muito distante não só da católica, bem como de qualquer outra, ocidental ou oriental.

Muitos foram os fatores que levaram a este afastamento.

Mas alguns foram predominantes. O principal deles é que cresci e passei a questionar certos dogmas. Comecei a ler histórias sobre o poder da Igreja e de como ela virou um poderoso império explorando a crença e a ignorância dos mais humildes. Li sobre a Inquisição. Sobre alguns Papas tão corruptos quanto devassos. E a versão da criação do mundo, o papel de Deus, o nascimento e a pregação de Jesus, não fazem o menor sentido nos limites de minha capacidade de compreensão, de entendimento.

Minha inteligência limitada e minha parca cultura religiosa são um sério entrave para aceitação do Deus que os homens criamos.

Um Deus que tem que ser temido acima de ser amado e que foi incapaz de prever o fracasso da missão conferida a seu filho Cristo, por certo está longe de ser alguém que tem os poderes que Lhe são atribuídos e que devamos respeitar a amar sobre todas as coisas.

Todavia, coisas mais concretas, que presenciei e vivi, constituíram-se em fatores relevantes para minha descrença nos aspectos humanitários e na farsa contida em algumas das regras, da Igreja católica, que devem ser seguidas. E o mercantilismo, nas religiões sobre as quais li ou ouvi falar é um aspecto deprimente que não consigo assimilar.

A primeira delas foi quando me casei. Vejam que como casaria em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, eu iria precisar de uma “autorização” do padre da paróquia sob cuja jurisdição eu residia. No caso, a da igreja localizada na Vila Pereira Carneiro, porquanto eu residia no bairro Ponta D’Areia.

Para atender meu pedido de fornecimento da tal “autorização”, o padre impôs a condição de que comprovasse que sabia rezar, pelo menos, a Ave Maria e o Pai Nosso.

Ora, gente, naquela mesma igreja, ao que o padre (da minha época de coroinha), em bom latim e de costas para os fiéis apregoava “Dominus vosbiscum”* eu respondia “Et cum spiritu tuo”.**

Achei absurdo e me recusei. Claro, fiquei sem a autorização, que somente foi obtida graças à interferência de minha mãe.

O critério seletivo me deixou decepcionado. Ao invés de aproximar, de atrair, o padre impôs barreiras ao casamento diante de Deus. E, no meu caso, inteiramente destituídas de fundamento.

Mas o pior foi quando, na qualidade de padrinho, tive que pagar o valor do batizado. Perguntei, com discrição, ao padre, quanto deveria pagar. Ele respondeu que dependia se eu queria com sagração ou sem sagração. É evidente que ironizei. Se com sagração é mais caro, então deve ser melhor. Quero com sagração.

Ah! Ia ficar no batizado, mas na última vez que estive numa igreja, não faz nem um mês, para acompanhar a missa de 7º dia do falecimento do Bazhuni, levei um susto com a cantoria, com os apertos de mão e - que coisa não? – as intenções da missa: aniversário de casamento, restabelecimento de enfermo, sétimo dia, um ano de falecimento, graça não declarada, aprovação em concurso, enfim, uma relação de pelo menos vinte pessoas nomeadas uma a uma. E todo mundo paga, como numa sessão de cinema. Negócio lucrativo. Fora as gorjetas recolhidas dos fiéis presentes, com saquinhos estendidos até você.

Onde a missa especial e específica que mandavam celebrar em intenção de um ente querido?

Eu, desde já e através deste post, dispenso missas.


* Dominus vobiscum - O Senhor está com você - Do•mi•nus vo•bis•cum
** Et cum spiritu tuo. – E com teu espírito - Et –cum- spi- ri- tu -tu-o

7 de setembro de 2010

Tempo...

A autora do texto abaixo é minha neta Juliana. Está com 13 anos, e para alegria geral é muito ligada às letras. Seja lendo, seja escrevendo. Ela já teve poesia publicada no Projeto Radação 2009, do Instituto Gaylussac, onde estuda. E também neste blog.

"Passado, presente, futuro... Palavras fáceis, mas que possuem significados bem complicados, embora todas estejam ligadas ao tempo.


Nós podemos analisar tempo como algo marcado por minutos, segundos e horas, o que nos leva a ter a consciência de que uma hora são 60 minutos e de que 60 segundos são um minuto. Desse mesmo ponto também surgem os anos, décadas, milênios...

Também podemos compreender tempo pelas formas verbais, pretérito perfeito, futuro do presente, pretérito mais que perfeito, futuro do pretérito, pretérito imperfeito... E nesse caso nós também temos que saber conjugar os verbos em cada um dos tempos verbais.

Mas existe uma outra noção de tempo e que é a minha preferida que é aquele tipo que não segue regras, nem critérios específicos. Onde o tempo passa mais rápido nos bons momentos e parece que não passa nunca na aula de Geografia. Onde cada pessoa possui um olhar diferente. Quando se recorda do seu passado, relembra um tempo que já foi, se as lembranças são boas ou ruins não interessa, o foco é que é tempo passado e decorrido. Essa forma de tempo que é marcado pela mente, pelas consciência, pelo coração e pela lembrança é a melhor que existe, pois ninguém pode tirar de você, e ela é só sua, ninguém tem uma igual.

O tempo que muda modas, reforma pensamentos, sugere novas formas de viver, esse é o tempo que deve ser aproveitado, pois não volta.

Não devemos nos esquecer do futuro, já que vai depender do passado e do presente e que é um tempo desconhecido, onde podemos ser o mocinho ou o vilão. Viva cada momento do presente, porque ele é único, e quando acaba vai para a montanha de lembranças que viraram tempo, no passado."

Juliana

4 de setembro de 2010

Preparando para a morte

O assunto não é deprimente. Faz parte da vida. Capítulo final, esta certo, mas pode ser uma apoteose.

Desde há muito, quando morei em São Paulo, no final dos anos setenta, adotei a prática de deixar um roteiro com providências a serem adotadas em caso de acidente grave ou óbito.

Era natural, na medida em nossa vida estava sedimentada em Niterói, e para lá (no para aqui), deveríamos retornar. Não havia o que justificasse a permanência da família por lá.

Assim, as primeiras versões (atualizo, pelo menos, uma vez ao ano), eram datilografadas. Depois passei a digitar e guardar em um disquete. Do disquete passei ao CD e atualmente mantenho em pen drive.

A mídia muda em função das novidades tecnológicas, já os conteúdos em função de vários fatores: bens patrimoniais, número de contas correntes, bancos, códigos e senhas, etc.

Para facilitar informo os números de documentos, dados sobre o plano de saúde, sobre o Parque da Colina (quadra e número do túmulo onde devo ser sepultado), onde estão os documentos principais, tipo escrituras,contratos, etc.

Sempre, em toda minha vida, paguei as contas antes do vencimento. Isto, entre outras coisas, permitirá que não morra inadimplente (rsrsrs). Ademais, se morro em dia de vencimento de alguma conta, quem terá disposição, iniciativa, tempo e estado emocional para a providência de pagar?

Bem, faço isso, como disse, há muito tempo. Todavia, de uns tempos a esta parte, tenho adotado providências mais concretas e imediatas, tais como descartar recortes de jornais e revistas (alguns dos quais já nem lembrava porque guardei), cartas, e coisas tão bizarras quanto meu cacho de cabelo, resultante do primeiro corte feito aos 3 anos de idade. Verdade; até os 3 anos, meus cabelos eram cacheados.

Certas coisas têm valor afetivo para mim, mas para filhos e Wanda, nada significam. É óbvio que uma matéria publicada em jornal estudantil, elogiando minha atuação neste ou naquele episódio, pode deixá-los orgulhosos. Mas até que ponto e por quanto tempo?

Fotos nas quais estou com pessoas absolutamente desconhecidas, que não participaram efetivamente de nossa vida familiar e social, que serventia teriam para eles? Foram registros pontuais, isolados, efêmeros, de eventos profissionais ou encontros fortuitos.

E cartas e fotos de ex-namoradas, as poucas que restaram depois que algumas foram confiscadas, à sorrelfa, pela Wanda. Ela não comenta e eu finjo que nem dei falta, entre outras coisas porque nada significam para mim a esta altura, do alto de nossos 45 anos de casamento. O destino deve ser mesmo o lixo. Na memória já estavam esquecidas.

As pastas com alguns temas específicos: jazz, vinhos, Vasco, e outros, já estão no aterro sanitário há algum tempo, pois este trabalho mais intensivo de descarte teve início há semanas.

E explicação para tanto, nestes casos citados, já dei em posts aqui publicados: internet.

Enfim, não se assustem. Não estou buscando a morte. Quando muito, tenho facilitado, aqui e ali, a missão dela. Não vou a médico, como regra geral. Quando vou nem sempre faço os exames solicitados e nem compro os remédios. E quando os compro, nem sempre os tomo. Acho que é por isso que cheguei aos 70 anos.