30 de abril de 2010

Reencarnação

Não sei se acredito em reencarnação. Das coisas do espírito já vi e ouvi tanto, que acabo por não duvidar de nada. Então ficamos assim: não acredito, mas também não duvido.

Posição coerente de quem é ímpio, como declarado no perfil, mas que tem fé em São Jorge. Vai entender?

Aproveito para deixar claro que me qualifico como ímpio no sentido (está no Aurélio) de quem não tem fé, é incrédulo.

Pelo sim e pelo não, admitindo que haja reencarnação, eu passo. Me exclua desta quem decide. Tou fora!

Uma só vida neste mundo já é mais do que suficiente.

Imagina voltar à Terra e conviver, de novo, com mochilas e motocicletas. E seria inevitável. Hoje em dia todo mundo usa mochila. Homens e mulheres, jovens e velhos, gordos e magros, altos e baixos, educados e deseducados.

Se você tem a infelicidade de estar num elevador e entra alguém gordo, com uma enorme mochila nas costas, prepare-se para ser atingido por uma mochilada. O sujeito entre e ao se virar para se ajeitar, ficar de frente para a porta, leva de roldão o que estiver a sua volta, no caso, outros ocupantes.

Se o fulano é alto e gordo, e gordo todo mundo é hoje em dia, o elevador com capacidade para 8 pessoas, fica lotado com 3. E a mochila dele vai espremendo seu peito.

Você já viu, é lógico que já, a menos que não tenha viajado de ônibus nestes 3 últimos anos, o cara que entra com sua cangalha, perdão, mochila, e vai dando safanão na cabeça de tantos quantos estejam sentados no banco junto ao corredor?

E quando ele vai sentar? Tem que tirar a mochila das costas, e neste ato, a mochila vira uma arma mortal. Se acerta você é nocaute na certa.

E as mochilas estão cada vez mais cheias. A sensação que se tem é de que o mochileiro carrega, tal qual o caramujo, sua casa inteira nas costas. No caso das mulheres, o guarda-roupa completo, incluindo uns 10 pares de sapatos.

Faltará espaço para falar, mal, das motocicletas. Perdão, melhor dizendo, dos motociclistas. Melhor ainda, da maioria deles. Para eles eu desejo o fogo do inferno, pelo risco a que me expõe no trânsito, pela barulheira infernal, pelo atravancamento das calçadas onde estacionam, por serem o tipo de pessoa que são, irresponsáveis. Sem contar que atualmente, montado numa moto, pode estar um assaltante ou assassino de aluguel.

Lembro que já ouvi, só não me recordo de quem, que gostaria de ser reencarnado num cachorro. Eu, nem em cachorro. Imagina você voltar ao mundo na China.

29 de abril de 2010

Futebol arte, futebol de resultado

Se você não gosta de futebol, volte amanhã.

Hoje não posso deixar de abordar este tema. O que de resto faço com muito prazer. Gosto e, modéstia à parte, conheço.

Dois acontecimentos de ontem me impelem a comentar coisas do futebol. Vamos a ales:

Jogo no Maracanã, entre Flamengo e Corinthians, pela Copa Libertadores. Em campo dois ex-jogadores da seleção nacional e artilheiros. Um de cada lado. Adriano e Ronaldo.

Este Ronaldo, que no início da carreira, fulgurante, era tratado carinhosamente de Ronaldinho, virou Ronaldo Fenômeno nos campos da Itália, e agora caminha, tristemente, para virar Ronaldo Ridículo.

Alguém com um mínimo de auto-crítica, um pouquinho de bom senso, na situação do Ronaldo Nazário (como sempre preferiu o Felipão), deveria ter a dignidade de pendurar as chuteiras. Será que ela acha que ainda joga futebol?

Vai terminar, pelo andar da carruagem, da mesma forma melancólica com que Garrincha de despediu do futebol. Vai acabar em equipes do interior, jogando partidas amistosas de exibição. Uma vergonha.

O Ronaldo em campo me faz lembrar de uma pata choca.

O segundo fato de ontem, marcante, foi o jogo entre as equipes do Barcelona e da Intenacionale de Milão. Esta eliminou aquela, que, a propósito, era tida e havida como franca favorita à conquista do título da Copa dos Campeões da Europa.

O jogo foi realizado no Nou Camp, em Barcelona, maior estádio da Europa, que estava com sua capacidade de acomodação para 92 mil torcedores inteiramente tomada.

Aliás, a festa dos torcedores do Barça, nas arquibancadas, antes do início da partida, foi um espetáculo muito bonito de movimento e cores. Numa coreografia bem ensaiada, digna de abertura de Jogos Olímpicos, os torcedores, com retangulos de cartolina, de cores distintas, formaram figuras e símbolos alusivos ao clube e à Catalunha. Bonito de ver. E se tratava, apenas, de uma partida pelas semi-finais da competição.

Este jogo foi um clássico exemplo e ótima oportunidade de discussão sobre a dicotomia defendida por alguns críticos, que fazem distinção entre o futebol arte e o futebol de resultado ou de competição. E há mesmo!

É claro que idealmente a boa equipe tanto jogaria bonito, dando espetáculo, quanto seria competitiva e chegaria aos títulos. Mas nem sempre é assim.

A seleção brasileira de 1982 é um exemplo. Tão bom quanto seria o da seleção holandesa de 1974, chamada de Laranja Mecânica, que após uma campanha brilhante, invicta, encantando pelo futebol jogado, perdeu na final para a pragmática Alemanha.

A Inter, com um time mais limitado, mas extremamente aplicado, com atitude de campeão, desclassificou o Barcelona, que conta com o melhor jogador do mundo atualmente (Messi), muito bem coadjuvado por um naipe de bons jogadores, como Xavi, Daniel Alves, e outros.

Ficou claro que a disciplina tática, o mais das vezes, supera o talento individual, quando se trata de futebol.

E o José Mourinho é um mestre. Ele sabe montar o time, sem mudar as peças. Faz ótima leitura do jogo, quando já em curso, e altera o sistema para anular o adversário, como ninguém.

Enquanto não puserem nas cabeças dos bons jogadores, habilidosos, artistas da bola, que eles devem se empenhar em campo, ocupando espaços, marcando o adversário quando este tem a bola, então o Dunga terá razão. Jogar somente com a bola nos pés é coisa do passado. Malabarismos com a bola, até foca amestrada faz.

28 de abril de 2010

Woody Allen

A única o preocupação que tenho quando é anunciado novo filme do Woody Allen, é saber qual é o cinema mais próximo que o exibirá.

Sempre vou assistir com muita expectativa e ansiedade, mas sem receio se valerá o meu rico dinheirinho ou se me fará perder tempo. Raramente saio frustrado. Foram pouquíssimas às vezes em que a expectativa ficou acima do resultado.

Agora é anunciado “Tudo Pode Dar Certo” (Whatever Works). Parece que ambientado na França, depois de ter feito um na Inglaterra (Match Point) e outro na Espanha (Vicki Cristina Barcelona), e antes de vir fazer o que terá o Rio de Janeiro como cenário, previsto para o próximo ano.

Não sou provavelmente o maior fã do Woody Allen, mas sou muito e dos poucos. Cabemos, acho, todos, numa Kombi, como a torcida do América.

Daí porque, como seus filmes não atraem multidões, nunca são catalogados como blockbusters*, preciso saber em que salas será exibido, para me programar.

Não assisti alguns dos filmes do Allen, até porque sua filmografia, entre dramas e comédias, é impressionantemente grande. Quase um filme por ano. E os faz há 40 anos.

Alguns são jóias raras. Meus preferidos, sem preocupação de ordem cronológica de realização ou de classificação, mas apenas de lembrança dos títulos, são: “Noivo neurótico, Noiva Nervosa”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Match Point”, “Dirigindo no Escuro”, “Zelig” e “Hanna e suas Irmãs”.

Woody Allen, aos 75 anos de idade, ator, diretor, roteirista e músico, ainda consegue nos surpreender, mesmo depois de mais de 40 filmes e mesmo se repetindo, às vezes, revisitando temas recorrentes.

Recordista de indicações ao Oscar de Melhor Roteiro, quando ganhou (também como melhor filme) com “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, não foi receber o prêmio, porque, como toda segunda-feira, tinha compromisso em Nova Iorque, onde tocava clarinete com uma banda de jazz, num pequeno bar.

*Antes pelo contrário, ganhou de um blockbuster , como Melhor Filme. "Annie Hall" ganhou de “Stars Wars”, em 1977.

Outros filmes de Woody Allen, que pincei na Internet, alguns poucos dos quais não assisti:
“Scoop”,Um Assaltante Bem Trapalhão”,“Bananas”,“Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar”,“Dorminhoco”,“A Ultima Noite de Bóris Gruhenko”,“Interiores”“Manhattan”,"Memórias",“Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão”,“Broadway Danny Rose”,Setembro”,“Simplesmente Alice”,“A Outra”,“Crimes e Pecados”,
”Maridos e Esposas”,“Um Misterioso Assassinato em Manhattan”,"A Era do Rádio",“Tiros na Broadway”,“Todos Dizem eu te Amo”,“Desconstruindo Harry”,“Melinda e Melinda”,“Celebridades”,“Poucas e Boas”,“Trapaceiros”

Além destes filmes, Allen roteirizou, dirigiu e atuou em um dos episódios de “Contos de Nova York”

27 de abril de 2010

A Pilar, como se dissesse água

O título aqui em cima, é a dedicatória feita pelo José Saramago para Pilar del Rio, espanhola, esposa do escritor há mais de vinte anos.

Uma das mais sucintas, mas das mais emocionantes que jamais li.

Por outro lado, sua mulher, na mesma linha da parceria, da cumplicidade, da admiração e respeito, o defendeu com muita elegância, quando foi criada uma enorme polêmica, originada entre os católicos mais beatos, quando do lançamento do livro "Caim". Vejamos o que disse Pilar:

"Saramago é um ser excepcional, a sua dimensão é distinta e o seu perfil não é o habitual, por isso há tanta gente que não o entende. Não houve polémica nenhuma, umas quantas pessoas imorais que não leram o livro é que se pronunciaram, quando deviam estar de pé, aprendendo a escrever. Um romance nunca pode ser polémico. O meu marido recebeu foi os parabéns de todos, e isso vê-se com os livros que já vendeu. O ruído e a fúria não entraram em minha casa."

O próprio Saramago, por sua vez, quando do lançamento público da obra, limitou-se ao seguinte comentário:

"Não procurem os hematomas, tenho a pele bastante dura e esta será a única alusão directa, de alguma maneira, à suposta polémica que se desenvolveu em vários tons, a mando da Igreja Católica, apoiada por quem tinha rancores pessoais. Sem querer parecer vaidoso, estou acima de tudo o que dizem de mim."

É desta maneira de dizer as coisas que sou apaixonado. Sei que Saramago não vende tanto quanto são vendidos os Amanheceres e os Eclipeses da vida. Suas obras, quando chegam às listas de best sellers, jamais alcançam o primeiro posto e nelas permanecem pouco tempo. Acho que é por isso que sou fã.

Ele guarda, para meu gosto, uma relação muito próxima com Woody Allen, que também não faz sucesso junto ao grande público, mas que para mim é sinônimo de inteligência.

Para encerrar esta minha babação pelo grande escritor português, transcrevo trecho de sua mensagem, quando criou uma fundação que leva o seu nome:

"Bem sei que, por si só, a Fundação José Saramago não poderá resolver nenhum destes problemas, mas deverá trabalhar como se para isso tivesse nascido. Como se vê, não peço muito, peço-vos tudo”

Não peço muito, peço tudo; assim como dizer Pilar, como se dissesse água, deixam-me rubro de vergonha por tentar escrever.Verdade!

24 de abril de 2010

Denny Crane e Alan Shore

Denny e Alan são advogados num elegante e prestigiado escritório de advocacia em Boston, USA. O Denny é sócio fundador, portanto figura no nome da firma, que é Crane, Poole & Schmidt. Sendo este último o sobrenome da sócia vivida por Candice Bergen, de nome Shirley. É um olhar divertido e irreverente sobre a vida pessoal e profissional de advogados caros que trabalham no tal escritório.

Trata-se de uma série americana (óbvio), exibida no Brasil pelo canal FOX, com o nome de "Justiça sem Limite"*e que teve, se não me engano, 5 temporadas. Deixou de ser produzida em 2008, e o último episódio fazia alusão ao término da sociedade, com os dois principais protagonistas se despedindo numa conversa na sacada do edifício onde funcionava o escritório (lá chamado de firma). No enredo, a sociedade termina porque a firma foi vendida para os chineses, o que já representa uma crítica irônica, tom adotado em todos os episódios. Eles – orientais - estão vindo aí mesmo com força numérica e poderio econômico.

Foi uma pena acabar a série. Parece que os índices de audiência deixaram a desejar.

Uma das coisas que me fizeram assíduo acompanhante do seriado, foi a transparência e a liberdade, principalmente esta, com que temas tabus **, alguns cânceres mesmo da sociedade e da política americana, eram expostos e criticados. Só mesmo nos Estados Unidos isto seria, como foi, possível.

Outro ponto igualmente envolvente, para mim, era a amizade entre os dois citados advogados, vividos pelos atores James Spader (Alan) e William Shatner (Denny).

Emocionante, para quem como eu entende que uma amizade sincera e desinteressada não tem preço. A relação dos dois era de lealdade, respeito e muito afeto. Nem pense, você que não acompanhou a série, que se tratava de uma relação homossexual tão em moda***. Era uma relação afetuosa, enraizada pelo convívio profissional e pessoal honesto, leal, transparente. Pelos gostos semelhantes por bons charutos, bons bourbons e belas mulheres, e também pela respeitosa discordância política. O Alan democrata e o Denny republicano.

Outro dia escreverei sobre esta amizade, pois houve um episódio em particular que ao assistir fiquei deveras emocionado.

Bem, esqueçam as excentricidades e fiquem focados na discussão dos temas, sempre relevantes.

Abstraiam a advogada anã, o advogado negro gay, o juiz que preside audiências de capacete e outras bizarrices. As locadoras dispõem das temporadas completas. Vale a pena!

* Nome original "Boston Legal"
** Alguns dos temas, atuais e delicados, discutidos com irreverência e contundência:
- Homem luta para ser congelado criogenicamente.
- Um aluno acusa seu diretor de praticar censura.
- Dono de uma churrascaria cujos negócios estão sendo prejudicados por uma portaria que bane a carne vermelha por medo da doença da vaca louca.
- O superintendente de uma escola que está sendo processado após despedir os professores de ciências que se recusaram a ensinar o criacionismo.
- Ações contra empresas fabricantes de cigarros e da indústria químico-farmacêutica.
-Homem está brigando com a ex-esposa sobre os direitos de acesso ao sangue do cordão umbilical do filho de ambos que está armazenado e pode lhe salvar a vida.
- Uma garota que foi recusada para o papel principal de uma produção por ser afro-americana.
- Torturas na prisão de Guantánamo.
- Gravidez na adolescência.
- Homem quer processar o exército pela morte de seu irmão em um hospital militar.
- Pena de morte, etc.

*** Nada a ver com "O Segredo de Brokeback Mountain"

22 de abril de 2010

Historinhas verdadeiras

Estes casos abaixo transcritos ocorreram há três anos, mais ou menos. Estou reproduzindo tal e qual escrevi sobre os mesmos na época. A guisa de explicação, acabara de explodir o escândalo do mensalão. Na outra situação descrita, eu ainda subia  pela Praia da Flexas (parece que a grafia é com xis mesmo) até o MAC.
                                                
                                                                        Caso 1
Estou em casa, trabalhando no computador, quando toca o telefone lá na sala. Wanda atende. Então ouço: - quem quer falar com elê? Uma longa pausa, enquanto, suponho, a pessoa se identificava. Ouço Wanda repetir: - mulher de quem?

Entrando no escritório* onde eu estava, pálida, Wanda me passa o aparelho telefônico sem fio e anuncia com voz baixa: - é a mulher do Marcos Valério...
Por uma fração de segundos, seja pelo espanto da Wanda, seja pela surpresa com que fui apanhado, exitei um pouco antes de responder: - sim?

- Aqui é Miriam, mulher do Marco Valério. – Ah! Como vai?

Para nosso alívio não era a Renilda. Tratava-se da mulher de um cliente, de quem já nem lembrava, que certamente está maldizendo a hora em que foi registrado com o malsinado nome.

                                                                        Caso 2

De uns tempos a esta parte, vez ou outra, nas caminhadas matinais, tomo o rumo da praia da Boa Viagem. Aquela subida da praia da Flexas até o Museu de Arte Contenporânea, exige mais da musculatura das pernas, embora me deixe mais ofegante.

Como recompensa pelo esforço, ganho uma das mais belas paisagens da cidade. Que de resto torna mais agradável a caminhada.

Numa recente manhã dominical, por volta das sete e quarenta e cinco, a caminhada estava particularmente agradável. Embaixo, ao final da pirambeira, o mar quebrava suavemente na areia e atirava-se contra as pedras do local. Ao som das ondas, incansáveis nos seus recuos e avanços, somava-se o canto de sanhaços. Não sei quantos, mas dois em particular, tal qual repentistas sertanejos, alternadamente, com silêncio obsequioso de respeito ao outro que cantava, diziam-se coisas que me soavam como declaração de amor a vida.  A liberdade.Que mais poderia ser?

Eu caminhava do lado do mar. Na calçada oposta, quase defronte ao museu, existem dois prédios em construção. Por ser domingo não havia trabalho nas obras. Todavia, dois trabalhadores, fossem vigias das respectivas, ou tendo outra profissão mas residindo no próprio canteiro de obras, convesavam em tom normal de voz, mas que repercutia e se destacava sobre o movimento do mar e o canto das aves. Neste passo, cabe lembrar que era domingo, muito cedo, pouquíssimas pessoas no calçadão, nenhum trânsito de veículos. Assim, o som das vozes, mesmo em tom baixo, era bastante claro mesmo a certa distância.

Quando passei diante deles, mas como disse no lado oposto da rua, ouvi nitidamente a pergunta: - você acha que o coroa vai perder aquela barriga andando assim? Ao que o outro retrucou, na bucha, sem pestanejar: - só se ele for até Fortaleza.

Mais não ouvi. Seja porque concentrei minha atenção no pertinente comentário, seja porque já estava mais afastado. Considerei a hipótese de na volta fazer uma blague qualquer com eles. Não sabia exatamente o que dizer, mas pretendia. Por sorte, quando eu retornava eles não estavam mais lá. Quanto a barriga, está assumida. Até Fotaleza não vou mesmo.

* Na época era um escritório, hoje sala de TV.

16 de abril de 2010

Afrodescendentezinho da Beija-flôr

Não é politicamente correto chamar o negro, de negro. Coisa tão idiota quanto dizer que alcancei a terceira idade, agora que estou completando 70 anos. Me poupem, por favor.

Importamos o sintagrama* afrodescendente, e utilizamos indiscriminadamente, colocando em segundo plano a nacionalidade brasileira de gente como Joaquim Barbosa (ministro do STF), Pelé, Zeca Pagodinho, Thais Araújo ou Helio de La Penha, e um enorme contingente de brasileiros (e são milhões), que têm orgulho da nacionalidade brasileira.

Ora, em todo o mundo o afrodescendente seria, antes de tudo, e em primeiro lugar, um descendente do continente africano ? Antes de ser americano, o Tiger Woods se considera africano? E o Morgan Freeman, o Michael Jordan? E o presindente Obama?

Este modismo, a meu juízo, só faz acentuar a questão racial. Estas pessoas citadas são, com muito orgulho, brasileiros e americanos, antes de serem descendentes de raças africanas, com toda certeza.

Os próprios negros são, em parte, culpados ao criarem ou apoiarem movimentos e/ou idéias absolutamente inadequadas, tais como “black power” ou “black is beautiful”. E nós importamos estas expressões lingüísticas que têm como pano de fundo acentuar a raça negra.

Nesta linha ridícula, do politicamente correto, o Neguinho da Beija-flôr deveria passar a ser conhecido como “Afrodescendentezinho da Beija-flôr”.

E antigas canções populares deveriam ter seus versos refeitos, eis que não seria poticamente correto cantar:
“A nega do peito é aquela
Que faz o feijão costumeiro
Não vou mudar de mulher
Só porque ganhei dinheiro”

Ou ainda:

“Nega do cabelo duro,
Qual é pente que te penteia
Qual é pente que te penteia
Óh, nega”

Será que o Ary Barroso mudaria os versos de seu grande sucesso, que continha os versos:

“Nego tá moiado de suor
As mão do nego tá
Que é calo só.
Trabaia, trabaia nego”

Alguma vez o Pelé se sentiu humilhado ou discriminado, quando ainda atuava nos campos de futebol, por ser chamado de “Negão” pela grande maioria dos narradores e comentaristas esportivos? Mais do que uma alusão a cor de sua pele, tornou-se um qualificativo de genialidade. O “negão” era sinônimo de Pelé, por sua vez apelido do Edison.

Tudo isto é coisa de pseudointelectuais, que à falta de brilho para coisas mais profundas, inventam baboseiras tais como luso-brasileiros, os franco-brasileiros, os teuto-brasileiros, e outros que tais. Ou seja, genuinamente brasileiros, somente teríamos os tupis e os tapuias. E outras tribos indígenas.

Nunca me passou pela cabeça intitular-me italo-brasileiro, embora tenha ancestrais nascidos na península itálica.

* Segundo o Aurélio: E. Ling. O resultado da combinação de um determinante e de um determinado numa unidade lingüística hierarquicamente mais alta, que pode ser uma palavra (p. ex.: vanglória, em que vã é determinante de glória).
- No caso acima, o “afro” seria o determinante, e brasileiro ou americano seriam secundários.

14 de abril de 2010

Literatura ? Sei não...

Acho que já comentei que se a história contada no livro não tiver um mínimo de verossimilhança não consigo ler.

Num destes, para mim, abomináveis livros, acho que do Sidney Sheldon, ou equivalente de plantão, que tentei ler faz tempo, o personagem está a caminho da costa africana, a bordo de um barco pequeno, navegando num mar revolto e infestado de tubarões gigantescos.

Os tubarões representam uma séria ameaça, parecem famintos e podem atacar o barco a qualquer momento.

Pois bem, num pequeno lapso de tempo o personagem tem uma brilhante idéia e a põe em prática num piscar de olhos.

O raciocínio era que tubarões são atraídos por sangue e, se estão famintos, mais ainda. Que faz então o dito personagem? Pega uma lata de sardinha, que levava entre seus suprimentos de viagem, mas sem tirar por inteiro a tampa. Abrindo parcialmente a lata, utiliza a tampa como se fora uma navalha, e corta o dorso do tubarão mais próximo da pequena embarcação. O sangue jorra rapidamente, inundando o trecho do mar a sua volta.

Os tubarões, num ataque frenético, começam a devorar o que foi ferido, dando condições da embarcação se afastar velozmente.

Tudo isto num mar descrito anteriormente como revolto e a bordo de um barco de pouca estabilidade.

Pensam que o absurdo termina aí? Nem a minha paciência, pois segui adiante na leitura.

Ao se aproximarem da costa, acho que da África do Sul, os tripulantes do barco, não lembro quantos, mais certamente poucos, ao tentarem desembarcar, estavam trôpegos, exaustos, pela aventura vivida em alto mar. Assim, mal chegaram a primeira areia não atingida pelas ondas do mar, o personagem central da história, deita-se de bruços e crava os dedos na areia. Para sua surpresa, aparecem diamantes. Rasteja, e a medida em que seus dedos enterram na areia, para dar firmeza ao impulso necessário para prosseguir rastejando, vão saltando mais diamantes.

Aí, atingido meu limite de tolerância, fechei o citado livro. Para nunca mais abri-lo, bem como a qualquer outra obra de Sidney Sheldon.

Minha irmã caçula, ávida leitora, de todos os gêneros, e ao mesmo tempo polêmica de carteirinha, ao meu comentário ácido sobre o livro, retrucou, e saindo em defesa do escritor, respondeu perguntando, “você sabe quem é Sidney Sheldon ?” E eu, constrangido por não saber, respondi que para mim, pela amostra, um escritor vulgar.

Ela, minha irmã Ana Maria, desfiou um rosário de trabalhos do dito cujo, principalmente no cinema, como roteirista de séries de humor, como “Jeannie é um Gênio” e “Casal 20”.

Já havia vendido alguns milhões de livros, em mais de uma centena de países, livros estes que foram traduzidos para mais de cinquenta idiomas.

Certo, vá lá, não sabia que o Sheldon estava com esta bola toda. Todavia, quanto a vender muito em vários países, também o Paulo Coelho vende. E no que respeita a certos autores fazerem sucesso num segyuimento da arte, não signifaca que se sairá abem em outras. Exemplo típico é o Chico Buarque. Um craque no manejo das palavras em ótimas letras de músicas, e, por outro lado, com o devido respeito, um amador na criação de romances.

Quanto a vasta produção literária do Sheldon,  acho pouco provável que alguém possa escrever quatro romances num mesmo ano, como ele fez em 1995. Só se fosse uma franquia.

Comentário semelhante, de crítica à narrativa na tal obra do Sheldon, pois achava, como acho, que não possuía nenhum ponto de contato com a realidade, fiz com meu filho Jorge. Arrematei dizendo que assim, com absurdos, situações e coincidências improváveis ficava fácil escrever.

Ao que ele me respondeu com um desafio: tenta! É, talvez seja difícil mesmo. Haja imaginação.

O fato é que não me agrada ler coisas irreais, a menos que se trate de uma alegoria, de um sarcasmo, ao  estilo de José Saramago, de quem li coisas fantásticas, tais como “Ensaio sobre a Cegueira”, e os mais recentes “O Caminho do Elefante” e “Caim”.

13 de abril de 2010

Finais

Com uma alavanca pode-se mover o mundo. Com um bom desfecho em mente, pode-se dar início a uma história. O que quero dizer é o seguinte: um bom final é a receita para um conto ou um roteiro cinematográfico.

Tome-se como exemplo Casablanca. Seria talvez um dos muitos filmes esquecidos nas empoeiradas prateleiras, se a Ilsa Laszlo (Ingrid Bergman) não tivesse embarcado naquele avião. Sem o Richard Blane (Humphrey Bogart). O final do filme é o grande diferencial, é o que faz dele um cult.

Mesma nuance ocorre com  o western Shane. Ele se transformou num clássico do gênero, porque o Shane (Alan Ladd) foi embora. Tivese ele ficado, como o Joey, filho da Marian Starret (Jean Arthur), poderia dizer que a mãe dele amava o mocinho? Jamais.

Mesmo quando o final não é muito feliz, ele pode ser memorável. Pelé fez tudo certo. Deu uma bela finta de corpo no bom goleiro do Uruguai. Chutou em direção ao goal e a bola, caprichosamente, não entrou. Mas se tivesse entrado, não seria um dos goals top ten do Rei. Seria mais um bonito goal, só. Este lance é exibido ad nausean, nas resenhas, porque a bola não entrou.

Ainda na linha de Casablanca, recordo das Pontes de Madison, filme* no qual durante cinco dias se desenvolve um romance emocionante entre Robert Kincaid (Clint Eastwood) e Francesca Johnson (Meryl Streep). Se a Francesca tivesse embarcado no Jeep e ido embora com o fotógrafo, o filme não levaria tanta gente às lágrimas. Não comoveria.

E se Romeu e Julieta tivessem vivido felizes para sempre, a dramaturgia teria perdido uma de suas obras mais expressivas.

Não importa se o final é feliz ou infeliz, importa ser diferente, surpreendente. Como diz um grande mestre de xadres, de origem holandesa, a melhor jogada não é a mais inteligente; a melhor é a inesperada. Aquela que o adversário não antevia.

Exemplo mais recente de final surpreendente, o Woody Allen conseguiu em Match point. Grande sacada, não é não?

No processo de criação, para o escritor, ter um bom final é um bom começo. Se o assassino for o mordomo, é melhor não escrever.



* Adaptado de um romance de igual nome.

12 de abril de 2010

Lido nas folhas

Última parte das notícias colhidas na imprensa  nos dez dias passados.

                                                                             - X -

Morreu Armando Nogueira e, como não poderia deixar de ser, foram muitas as crônicas, as matérias e as reportagens homenageando o jornalista e comentarista esportivo, que cultuava a palavra, tendo com elas uma relação respeitosa. Grande frasista, cunhou algumas que são verdadeiras perolas, vira e mexe recorrentes nos meios da crônica esportiva e jornalismo em geral.


A minha preferida, é aquela através da qual ele prestou reverência a Pelé, e que transcrevo de memória (se me engano, é por pouco): “Ele já era antes de ser, e continuou sendo mesmo depois de ter sido.”

Grande Armando, membro ilustre de uma plêiade de grandes comentaristas esportivos, muitos dos quais foram seus companheiros na Grande Resenha Facit, tais como João Saldanha, Nelson Rodrigues, José Maria Sacassa, Oldemário Toguinhó e outros.

                                                                             - X –

Duas notícias diferentes, mas que eu associo posto que dizem respeito a ocupação de solo urbano.

A primeira trata do fechamento da Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, que será transformada num grande parque urbano para pedestres.

A segunda diz respeito a “importação” de mestres calceteiros, que virão, por “empréstimo” de Portugal, para formar, no Rio de Janeiro, outros profissionais desta arte de fixar, uma por uma, as pedrinhas de arenito (as brancas) e basalto (as pretas). Foi criado, para tal fim, o projeto “Tapetes de pedra, tatuagens urbanas”

Quem viajou a Europa sabe da excelência dos trabalhos dos calceteiros, que assentam com perfeição as pedrinhas, criando lindos tapetes. Vale registrar que as calçadas e praças revestidas com este material, lá, são absolutamente lisas e formam magníficos desenhos. E é do alto que se pode admirar a perfeição do trabalho.

Tomara que o calçadão da futura Rio Branco seja feito com este nível de qualidade, por artesãos qualificados.

                                                                              - X –

Há trinta anos, nas pesquisas de opinião pública, a propósito do desempenho e credibilidade das empresas prestadoras de serviços, muitas hoje privatizadas, e órgãos públicos, o prestado pelos Correios era reputado como excelente. Em geral este serviço de entrega postal ficava colocado nas primeiras posições. Tinham os Correios a maior credibilidade. E com alguma razão.

Os demais serviços públicos eram, como são, tão ruins, que os Correios, embora não prestassem um serviço admirável, acabava por se destacar.

Agora, o nível de credibilidade baixou muito e o serviço postal entrou no rol dos ineficientes, que causam aos usuários dissabores, aborrecimentos e prejuízos.

E não foi só a qualidade do serviço que degradou. A qualificação e a seriedade dos dirigentes e funcionários também.

Além do episódio, triste, envolvendo o loteamento da empresa pública e favorecimentos políticos (vide caso Roberto Jefferson), agora boa parte do que se envia não chega ao destino ou, se chega, é com enorme atraso.

Mas eles se suplantaram, em matéria de falta de respeito para com o usuário dos serviços, segundo leio na seção “Mala Direta”, do Globo.

O missivista reclamante, conta que enviou três correspondências internacionais para Espanha e Estados Unidos, em datas diferentes. Pois bem, as três foram violadas, chegando ao destino sem o conteúdo. O lesado registrou a reclamação na Ouvidoria (os Ouvidores, em geral, são surdos e apegados aos seus empregos), e nada aconteceu.

Contatados pelo jornal, responderam, descaradamente, que “para apuração e providências" é preciso que os destinatários, repito, os destinatários, formalizem pedido de informação junto as administrações postais.

Agora imagine você, pequeno empresário, num esforço de colocar seu produto no mercado externo, envia amostras ou catálogos e os destinatários não os recebem. Aí você, que é o interessado, tem que dizer para o potencial comprador, que em princípio não está nem um pouco focado no produto, que ele tem que procurar o serviço postal de seu país, para reclamar que não recebeu encomendas. Seria hilariante, se não fosse trágico.

Imagino o destinatário ouvindo que precisa adotar providências pelo evento, que vamos chamar logo de furto, com vontade de dizer... o que não devo mencionar em respeito as crianças que estão na sala neste horário.

Se você tivesse apenas R$ 10,00 reais para apostar, e não pudesse correr o risco de perder seu rico dinheirinho, em quem apostaria como autor do furto? O serviço postal do Brasil? Ou quem sabe, vai ver, coincidentemente Espanha e Estados Unidos têm os mais desonestos servidores do mundo em seus serviços postais. Que falta de sorte, hein?!

Manchete da edição de O Globo, do dia 4 deste mês, domingo, da uma boa pista da resposta.

11 de abril de 2010

Deu nos jornais

Continuando o post de ontem, sobre o noticiado nos últimos dias:

                                                                                  - X –

Tiger Woods voltou. E em alto estilo, com uma performance muito boa para quem ficou tanto tempo afastado. Foi no Masters de Augusta, onde ele provou que continua bom nos buracos, sem duplo sentido.
                                                                                 - X –

Desconhecia a existência da Fundação Estudar, criada por executivos de grandes empresas nacionais, que concede apoio financeiro para ingresso em universidades no Brasil e no exterior.

Boa parte destes bolsistas já ingressou em universidades da Ivy League, que, fiquei sabendo, é composta por oito instituições de ensino que têm altíssimo grau de excelência, tais como Princeton, Yale, Harvard e Columbia, por exemplo.
Parabéns para aqueles que priorizam o mérito, pois pelo critério da Fundação, recebem as bolsas os estudantes que merecem e não os que precisam.

Como diz uma chamada para o Prêmio Profissionais do Ano, veiculada na TV, “nada substitui o talento”.

É uma contrapartida ao malsinado sistema de cotas raciais.

                                                                                 - X –

Discute-se de quem é a culpa pelo desmoronamento do Morro do Bumba, que soterrou dezenas de casas causando centenas de vítimas.

Os responsáveis, ou irresponsáveis, somos todos nós.

Quem constrói casa por sobre um antigo lixão, não tem juízo. Dizer que é falta de opção, não me parece ser inteiramente verdadeiro.

Os vereadores que doam tijolos e vergalhões em troca de votos, têm enorme parcela de culpa, eis que não procuram saber onde e como serão urtilizados.

As autoridades municipais que cuidam de ocupação de solo urbano, têm mais responsabilidade ainda, pela omissão, não coibindo construções em áreas de risco, como encostas e, neste absurdo caso, lixões.

Prefeitos que “urbanizam” estas áreas, como aconteceu neste escabroso caso, como se viu numa placa de divulgação de obras do prefeito, há alguns anos, proclamando o asfaltamento de rua de acesso ao morro, e que consta dos arquivos de vídeos da TV Globo, que divulgou as imagens.

E a imprensa que nas poucas ocasiões em que o poder público age, retirando os moradores destas áreas, por vezes com o uso de força (demolição da casas, etc) se coloca a favor dos moradores resistentes, falando de pobres coitados.

And last, but not least, eu e você que elegemos esta corja que aí está, decidindo a sorte da sociedade.

                                                                          - X -

Amanhã encerrarei os comentários sobre o que foi veiculado nos jornais nesta última semana.

10 de abril de 2010

Noticiado na imprensa

Para início de conversa, antes mesmo de comentar o que a imprensa divulgou nos últimos dias, que é o tema deste post, pergunto a mim mesmo, já que os eventuais leitores têm se mantido silentes, se é correto falar em imprensa escrita, falada e televisionada, como se ouve corriqueiramente.

Para mim, se falo de imprensa, estou aludindo a notícias, comentários, criticas e outras matérias jornalísticas, impressas. Ou seja, há que ter tinta sobre papel.

Aceito que o jornalismo pode, e deve, ter outros meios de expressão, outras mídias. Mas imprensa é a impressa. Se me equivoco, corrijam-me.

Nesta linha, o noticiado na imprensa do titulo refere-se ao que li em jornais e revistas.

                                                                                - X –

O Icaraí Praia Clube – IPC – o tradicional e bem localizado clube social, foi vendido para uma construtora, e no terreno será erguido um prédio residencial. Bom para os sócios (será?), que receberão cerca de R$ 140.000,00 cada um, mas péssimo para a cidade. A uma porque o aumento sem controle da população de certos bairros, como no caso, irá agravar os problemas crônicos de trânsito, escoamento de esgoto e abastecimento de água. Alguém poderá dizer que enquanto clube, com grande freqüência, como no passado, também havia consumo de água, despejo sanitário e algum trânsito. Mas não era a mesma coisa. É só raciocinar um pouquinho para identificar a diferença. Limitado ao problema de trânsito, comento que a grande maioria dos sócios residia no bairro e independia de transporte para chegar às dependências do clube.

A segunda razão, é que as áreas de lazer nos condomínios - que segundo alguns é a causa da falência dos clubes sociais da cidade - não substituem o convívio nos clubes. Os condomínios não dão visibilidade aos freqüentadores, limitam as manifestações comemorativas e dificultam o convívio de iguais. Os bailes de debutantes, os grandes bingos beneficentes, os bailes de gala, tudo isto fazia parte não só da atividade do IPC, mas também do Central e do Regatas (CRI), só para ficar em Icaraí.

Vale comentar que os clubes eram, e alguns ainda o são, capazes de promover a criação de confrarias: de gourmets, de amantes do vinho, etc. que estão em permanente contato e promovendo encontros.

De minha parte, que nunca fui sócio do IPC, restará a lembrança de um baile de coroação da rainha dos estudantes, quando era presidente do Grêmio Recreativo do Liceu Nilo Peçanha, e diretor da Federação dos Estudantes Secundaristas de Niterói.

Se me não falha a atribulada memória, a coroada foi Ângela Maria Carrapatozo.

                                                                                - X –

Como ficou muito grande este comentário sobre o fim do IPC, continuarei no próximo post, amanhã, a análise do que repercutiu na imprensa nestes últimos dias.

8 de abril de 2010

Via Appia digital

Aproximam-se as eleições e por certo, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos, na campanha que levou Obama à presidência daquele país da América do Norte, a internet está fadada a ser uma poderosa ferramenta a ser usada por governistas pró-Dilma e opositores pró-Serra.

Refletindo sobre isto, lembrei-me deste artigo, na verdade um post encontrável em http://www.cavernaweb.com.br/?p=1021, que aqui publico, com a licença do autor, meu filho.

"Via Appia digital

Por Jorge Carrano

Em 312 a.C, os romanos começaram a construção da Via Appia, uma estrada de pedra com cerca de 300 km de extensão, que ligava Roma à cidade de Cápia. Seu nome era uma homenagem ao político Ápio Cláudio.

A partir dessa estrada, muitas outras surgiram, contribuindo para a manutenção das conquistas romanas. Com caminhos pavimentados, era muito mais fácil mover as legiões do exército, sendo também importante fator para a expansão do comércio. A origem da expressão “todos os caminhos levam à Roma”, nada mais é do que a constatação de uma verdade histórica.

Num certo modo, a internet tornou-se a Via Appia do nosso tempo, pois permite que ideias, produtos e serviços trafeguem de um lado a outro do planeta em segundos. Igualmente, representou uma impressionante força a favor das transações comerciais.

Mas há uma diferença fundamental. Não há um ponto de partida (”Roma”) ou de chegada. Todas as estradas virtuais se conectam, simultaneamente, a muitas outras. Chegam à Roma, mas também a praticamente qualquer outro lugar do planeta. Aqui, “todos os caminhos levam à outros caminhos”.

Se as estradas romanas tinham como principal objetivo assegurar o poder, a internet tem como principal característica a resistência ao poder.

Essa espécie de Via Appia digital tem sido usada para fugir da censura, emitir opiniões ou divulgar fatos que seriam, de outro modo, sufocados por regimes pouco democráticos, alguns deles bem perto de nós.

Ironicamente, a facilidade de locomoção (aliada a fatores internos) criada pelos romanos contribuiu para a própria decadência do Império, que os historiadores assinalam no calendário de 476 d.C.

Precisamos tomar cuidado para que o mesmo não aconteça com a internet, tendo em mente a importância de que esta estrada digital ajude a preservar certos valores fundamentais, como a liberdade de expressão, o livre trânsito de ideias.

É indispensável que aproveitemos a troca de visões e informações propiciada pela web para fortalecer nossas fronteiras mentais e culturais, deixando de fora os bárbaros, se possível."

7 de abril de 2010

Esgargalado

Piorava a cada minuto. Ao cabo de poucos dias, já sem fala, com o que restava de sua lucidez, antes da inconsciência que precederia a morte, entendeu ser hora de manifestar sua última vontade. Tinha direito.

Quando nasceu, já nos primeiros dias de vida, amarraram-lhe em torno do pescoço um babadouro. Na primeira infância, o traje de marinheiro, com gravata, em voga na época, era sua roupa de passeio. Ingressou na escola. O uniforme pedia gravata, peça que o acompanharia o resto da vida, pois terminados os estudos fundamentais, foi trabalhar em um banco, no qual fez carreira. Sempre engravatado. Seu temor era que, cumprindo tradição familiar – fora assim com seu avô e com seu pai – fosse enterrado com seu melhor terno e a indefectível gravata.

Fez - em movimento lento e sem coordenação - mímica para a mulher, quase viúva, sentada junto a sua cabeceira, sugerindo que queria escrever. Ela entendeu.

Correu a procurar um papel. Não se deu ao trabalho de buscas por um bloco de notas. Serveria, pela urgência que o caso exigia – que poderia ele querer? – até mesmo o papel que embrulhara o pão, ainda sobre a mesa de refeição. Rasgou, às pressas, um pedaço que saiu irregular, mas de tamanho suficiente para escrever um bilhete, se fosse o caso. A esferográfica estava na mesinha, com a caderneta de telefones.

Com as mãos trêmulas, e ajudado pela mulher, que abriu e juntou as mãos, de sorte a dar apoio ao papel, escreveu: enterro esgargalado.

A cabeça, que levantara um tantinho, voltou abrupta ao travesseiro. A mão pendeu para um lado segurando frouxamente a caneta. Estava morto.

Prantos e telefonemas. Chegaram os filhos, noras e netos. E uma vizinha que acorreu, prestativa, logo que chamada. Alguém precisava cuidar da logística. Água com açúcar, chá de camomila, comida para as crianças, encontrar as velas e acende-las, essas coisas. E dona Alzira era como uma irmã.

O médico, que deveria esperar por isso a qualquer momento, foi chamado apenas para atestar o óbito. A viúva, inconsolável, soluçando abraçada a um dos filhos, lembrou-se do papel onde o falecido escrevera e caira ao chão.

Apontou, aos soluços e balbuciando alguma coisa ininteligível, mas que era suficiente para indicar que queria que o filho o pegasse.

Enterro esgargalado. Que quer dizer isto? Já teria perdido o tino? Esgargalado? Estaria se sentindo como esganado? Em vão. Ninguém sabia o significado. Ainda tentaram o médico, quando este chegou. Mas também o facultativo ignorava o sentido.

Coitado. Foi enterrado como seus antepassados, com o terno preto e de gravata.

Se alguém mais da família tivesse lido o Saramago, no “Homem Duplicado”, de onde o de cujus tirou a palavra que jamais esqueceu, por ser inusual, teriam podido satisfazer seu último desejo.

6 de abril de 2010

William Longhall

Ele foi batizado antes de nascer. Eu e meu filho Ricardo, caminhando no calçadão da praia, já havíamos escolhido o nome há uns dois meses, aproximadamente. Este período antecedeu minha mudança, para uma casa com bom quintal. Fora de Niterói. Assim, quando o levei para casa, com 45 dias de vida, ele já tinha um nome. E sobrenome.

A escolha foi fácil, a partir do momento em que defini que deveria ser imponente, como ele deveria ser. O porte robusto e nobre, assim como seu temperamento foram idealizados. Este perfil permeou a escolha do nome, que deveria ter origem na nobreza, mas que permitisse aos mais chegados um tratamento mais simples, sem a pompa, sem cerimônia, um apelido enfim.

Poderia ter sido Robert, que daria um Bob, mas era muito comum nos de sua espécie. O nome William aflorou logo. Mas somente os íntimos poderiam tratá-lo pelo diminutivo afetivo: Bill.

O real superou, em tudo, o imaginado. Bill era, dentre os de sua raça, de porte avantajado. Tornou-se um adulto, aos 7 meses, forte, imponente, impondo respeito pela simples presença física. Orelhas sempre rígidas e apontadas para o céu. Nunca caiam para os lados; antes pelo contrário se cruzavam, eventualmente, inclinando-se, eretas, para dentro, sobretudo quando ficava mais atento ao que eu dizia ou fazia. Era da espécie capa preta ou manto negro. Um pastor lindo. Quando saíamos de casa, inspirava nas pessoas dois sentimentos: de admiração e de temor. Melhor dizendo, respeito.

Seu olhar atento, fixado em mim, em meus gestos, permanentemente, passava a idéia de que ele estava sempre preparado para me defender de qualquer ameaça, real ou suspeita.

Não se conformava que eu pudesse estar fora do alcance de sua vista. Seu lugar, acho que ele achava, era sempre perto de mim. Toda manhã colocava as patas dianteiras no peitoril da janela de meu quarto, e ficava espreitando. E durante meu café matinal, fazia o mesmo através da janela da copa. A menos que a porta estivesse aberta, pois neste caso se esparramava na soleira, olhando para dentro, aguardando sua refeição diária. O que acontecia logo após o meu dejejum.

Nunca foi adestrado, pelo menos não segundo os padrões usuais. Nunca teve um treinador. Nunca lhe ensinei coisa alguma planejada. As regras de convivência foram sendo estabelecidas naturalmente, a medida que as situações apareciam. Foi assim quando, ainda um filhote, com não mais do que 2 meses, ou seja, 15 dias em minha casa, rosnou e avançou na minha mão, quando inadvertidamente peguei seu prato de comida apenas para mudar de lugar. Dei-lhe um piparote no focinho, e ele logo aprendeu que eu tinha o comando ali. E nunca mais, nunca mais mesmo, rosnou para mim. Mai tarde, até mesmo osso eu pegava em sua boca. E devolvia, claro, pois era preciso que ele soubesse que eu jamais o trairia. Que podia confiar em mim.

Quando tentou entrar em casa, pela porta da copa/cozinha, foi advertido com um sonoro não, em tom baixo mas enérgico. E ele jamais entrou em casa, nem por aquela, nem outra qualquer. Ele foi aprendendo assim, com reprimenda, se a ação era indesejada, e com estímulo se era um procedimento apreciado. Nada formal, tudo naturalmente, como se faz com uma criança.

Foi mais fácil ensiná-lo a não pegar os chinelos que ficavam no primeiro degrau de uma estante de ferro, na varanda, onde mantínhamos vasos de plantas, do que aos meus filhos a darem laço nos cordões dos sapatos.

Comportava-se como criança ao menor sinal de que sairíamos. A pé, ou de automóvel. Os indicios aprendeu rapidamente: pegar a coleira e a guia era muito claro. Ou abrir a porta traseira do carro.

Tínhamos uma enorme confiança um no outro. Estou absolutamente seguro que me defenderia até a morte. Quando eu “conversava” com ele, era tal a atenção que dava as minhas palavras, que parecia entender cada uma delas.

Um dia precisamos nos separar. Eu precisei. Não sei como cheguei em casa dirigindo, pois percorri os 8 quilômetros desde o lugar onde o deixei, com os olhos marejados. E ainda hoje, relembrar daquele dia e daquele momento, me deixa triste e deprimido. O mais emocionante é que quando tirei dele a coleira, pois queria leva-la comigo como uma lembrança, ele parecia ter entendido que era uma despedida. Seu olhar denunciava isto. Como esquecer.

Eu não precisava de um amigo, pois tinha e tenho 2 filhos, mas precisava de um companheiro, no isolamento de São José de Imbassaí. E tive o melhor que qualquer um pode ter tido em qualquer tempo ou lugar.

Como disse certa feita o Paulo Alberto Monteiro de Barros, “viver é acumular perdas”.



Nota do autor: esta é uma história real. Se fosse uma peça ficcional, reconheço, seria muito pobre. Pouco criativa e nada original. Parecida com muitas outras. Mas é a história de minha relação com meu cão. De ninguém mais Por isso, para mim, é forte e inesquecível.

5 de abril de 2010

Deus e o diabo no Manel's

Estavam já na terceira garrafa de Portuguesa¹. Os cascos² vazios, num canto do balcão, permitiriam ao Manoel, dono do buteco, contabilizar ao final da noite quantas cervejas teria que pendurar³. Eles freqüentavam o bar, que apelidaram de Manel´s, por duas razões principais: o dono confiava e fiava*, e a loura* era gelada pois conservada, para clientes especiais, na parte de cima da enorme geladeira com revestimento de madeira, verdadeiro frigotífico.

A conversa rolava livre. Sempre assim. Os assuntos se encadeavam interligados por um fato, uma pessoa mencionada ou até por um anônimo passante que chamasse atenção. E intervenções do Manoel, claro. – Vão querer uma linguicinha?

Eu nem estava ligado na conversa, mas ao ouvir falar de Deus, agucei os ouvidos:

- Se você pudesse fazer um pedido a Deus, um único e mísero pedido, que Ele atenderia, o que você pediria?

- Pô, pediria para não morrer.

- Xíii!!!  Imortal ? Esse ele não vai atender. Nem ao filho dileto, embora adulterino*, Ele deu a imortalidade terrena.

- Pô, p’ra início de conversa, filho também sou, pelo que dizem os padres. Depois, se Ele não atender é sacanagem, porque você falou que um único pedido Ele atenderia. Nem Nele se pode confiar hoje em dia? Agora também “o homem” vai mijar p’ra trás e não honrar a palavra?

- Eu não gostaria de não morrer. Chato teus amigos partindo p’ra melhor e você tendo que começar novos relacionamentos. E tem mais, você continuaria envelhecendo sempre, ou queria parar numa certa idade?

- Sei não. Talvez parar nos trinta anos. É uma boa idade.

- Casado e com filhos? Se fosse, olha que droga ver a mulher e os filhos envelhecendo e morrendo... só bebendo muito mesmo.

- Não pensei nisso. Pensei em não morrer e ficar toda a vida aqui, tomando as cervejas do Manel …enquanto ele vivesse.

- Pois eu pediria sabe o que? Que Ele aparecesse, diante de mim neste momento, para podermos tirar a maldita dúvida se Ele existe mesmo, ou é como a mula-sem-cabaça, de quem todos falam e nunca aparece de verdade.

E o Manoel, já cerrando uma das portas. - Por hoje chega, gajos*. Olha que se não me pagam até amanhã, corto-lhes o crédito. Mesmo que Deus Pai Todo Poderoso venha interceder em contrário.

Notas explicativas:

1* Antiga cerveja da Antártica

 2* Vasilhame, garrafa

3*• Em alguns bares, antigamente, havia um prego na parede ou balcão, onde os donos espetavam, e por isso penduravam, as contas não pagas a vista.

4* Fiar é dar crédito, para pagamento futuro.

5* Apelido da cerveja pilsen, entre os apreciadores, no Rio de Janeiro.

6* Maria era casada com José. Logo foi concebido fora do casamento e, portanto, adulterino.

7* Indivíduo ou sujeito qualquer.

1 de abril de 2010

Disney

Nunca estive na Disney. Minha neta Juliana, que está com 13 anos, já foi 3 vezes. Logo, a narrativa que ela fez para mim, não é mero encantamento ou deslumbramento próprios de quem se depara pela primeira vez com a  grandiosidade que imagino.
Outrossim, asseguro que ela não trabalha no Departamento de Marketing ou de Relações Públicas. Vejam abaixo:

"Disney... Sonho de muitas crianças e também adultos, um lugar mágico onde você volta a ser criança e todos os seus sonhos se realizam.
Onde você perde o medo de andar em montanha-russa e aprende a sorrir mais uma vez! Ao todo são 4 parques repletos de emoções e cada um deles com suas características.

O Magic Kingdom é o principal deles, o parque colorido, com os brinquedos mais calmos, onde seus olhos enchem de água quando ouve "Celebrate a dream came true!" a música que toca na parada que acontece na rua principal, todos os principais personagens passam e acenam, quando você percebe já está emocionado e cantando!

Epcot é um parque grande e tem uma parte muito interessante sobre cultura do mundo. Reproduzindo um cenário típico de 11 países, com comida e lojas. Você também pode montar uma máscara e em cada país eles te dão uma espécie de tag e penduram na máscara. Com uma parte sobre o espaço e muitas curiosidades, Epcot é surpreendente.

Disney Hollywood (o antigo MGM) é o parque sobre o cinema, com brinquedos muito conhecidos como a "The Twilight Zone Tower of Terror" (elevador que despenca do 13° andar) e a "Rock 'n' Roller Coaster Starring Aerosmith" (montanha-russa da guitarra) é imperdível! Lá existem simuladores que mostram como cenas de explosões e catástrofes são feitas e brinquedos para os pequenos como o "Toy Story Midway Mania!" (jogo 4-D, em que você participa) e shows da Pequena Sereia, do Playhouse Disney e do High School Musical 3.

Por último o Animal Kingdom, um parque dedicado aos animais, lá algumas atrações são muito curiosas como fazer um safári em que o rinoceronte chega a 1 metro do seu carro, isso se você der sorte ou azar, só depende do ponto de vista! Ou então curtir uma montanha-russa assustadora: "Expedition Everest", a montanha-russa do Everest, só cuidado com o pé-grande! Se estiver calor nada melhor do que um brinquedo com água para refrescar, "Kali River Rapids" é realmente refrescante, só que se você for no inverno pode pegar um resfriado, já que a água é bem gelada!

Disney ainda conta com dois parques aquáticos o Typhoon Lagoon e o Blizzard Beach e com o Downtown Disney, uma espécie de shopping onde existem restaurantes, lojas e onde você pode comprar o seu ingresso para os parques da Disney e para o Cirque Du Soleil que tem um espetáculo fixo no Downtown Disney, La Nouba!

Os adultos vão para a Disney muitas vezas para levar seus filhos, mas eles acabam se encantando, afinal é um lugar mágico, onde tudo funciona, os funcionários estão sempre sorrindo e dispostos a te ajudar e para isso você não precisa falar inglês muito bem, basta saber alguma coisa e entender o espanhol que todos os funcionários tem algum conhecimento sobre.

Quando você entra no parque e vê todas aquelas pessoas de países diferentes com culturas diferentes que falam línguas diferentes e olha para elas e todas parecem se entender perfeitamente e estarem em perfeita harmonia, percebe-se que elas gostam de viver a magia da Disney, você entende porque a Disney faz tanto sucesso, o segredo é o espírito jovem que ela tem, não falo só da beleza de plantas podadas com o formato do Mickey, nem dos personagens que ficam nos parques para tirar fotos com os visitantes, nem das pessoas que te olham e sorriem para você, muito menos da quantidade, qualidade e diversidade de brinquedos, eu falo de como isso funciona bem e como seu espírito fica leve, jovem e renovado quando o passeio acaba.

O lema da Disney é: "Where dreams come true" e isso eles fazem com exelência!