7 de junho de 2011

Omissão imperdoável, cafés e confeitarias afamadas

Ao enumerar Cafés e Confeitarias conceituadas, no post anterior, omiti um local, no caso um hotel, onde se come um dos doces mais afamados e feito a partir de receita secretíssima.

sachertorte


 

Hotel Sacher
 Trata-se da sachertorte, que na verdade é um bolo de chocolate, inventado há dois séculos em Viena, sempre produzido e vendido no Hotel Sacher, que registrou a marca, e cuja receita é mantida a sete chaves.

O bolo consiste de duas camadas de massa de chocolate, não excessivamente doce, com uma pequena camada de compota de alperce* no meio e uma cobertura de chocolate negro, com lascas de chocolate em cima e dos lados. É tradicionalmente servida com chantili, pois é um pouco seca.

Ocorre que no dia em que fui ao Sacher com a intenção de provar a tal torta de chocolate, cuja areceita original tem mais de dois séculos, o que encontrei foi uma grande fila na porta. Deus do céu! Bradei. Tô fora. Por outro lado, se não aproveito a oportunidade, como explicar que estive em Viena e não provei a sachertorte? Todos (na família) sabem de minha paixão por doces.


Staatsoper
Resolvi voltar outra hora. Aí deu-se o seguinte. Estava na ringstrasse (que como o nome indica é uma via circular), perto do Teatro da Ópera, mas não sabia se meu hotel ficaria mais próximo se eu tomasse à esquerda ou à direita. Vinha um senhor, elegantemente trajado, e resolvi perguntar como seria mais prático voltar ao meu hotel, cujo nome declinei. Como indaguei no meu inglês do Brooklin, ele respondeu na mesa lingua, sugerindo que eu tomasse à direita, mas alertando que a avenida era circular e qualquer que fosse o sentido que eu pegasse passaria diante do hotel ; ao mesmo tempo, sugerindo pegar o ônibus (circular), disse que eu conheceria uma parte  interessante da cidade . Agradeci pedindo perdão pelo inglês capenga e meu informante, educadamente e de maneira irônica, respondeu: "não faz mal, este também não é meu idioma."

Já tinha programação para o dia seguinte, de sorte que perguntei na recepção se era normal a fila na porta do Hotel Sacher. A resposta foi de que não, não era normal, mas acontecia quando "chegam caravanas com turistas, que vão visitar o Teatro da Ópera e aproveitam e vão comer a famosa torta".

Mas na conversa fiquei sabendo que a Confeitaria Demel, tradicional casa da cidade, fazia uma torta igual. Tão boa quanto.

 Fui, então, no mesmo dia, já à noitinha, provar a torta  feita na Dimel. O fato da Dimel fabricar e vender, sob o mesmo nome, o doce criado por outro, que tinha registro, foi parar nos tribunais. Entretanto, quando lá estive, bem depois do litígio, a Demel já tinha mudado o nome de seu bolo para Demels Sachertorte. Outrossim, uma sutil diferença na apresentação da torta acabou por solucionar o problema. A da Demel tem a camada de compota de alperce* diretamente sob a cobertura de chocolate. Na original, do Hotel Sacher, esta compota é colocada no meio do doce.

Logo, comi a genérica. Situação idêntica,  de produzirem e venderem produtos consagrados como se fossem feitos com a receita original, ocorre com o "pastel de belém", que é elaborado com fórmula secreta e vendido numa casa com tal nome, em Lisboa; e o doce é copiado e vendido em várias outras docerias, inclusive em Portugal.

Demel  - Viena
 Aproveito pra dizer que gosto mais do pastel de belém do que da torta (bolo) do Sacher.

O Hotel Sacher fica próximo ao Teatro da Ópera de Viena (fantástico teatro), já a Demel fica próxima ao palácio e à catedral.



alperce



Fotos: Google imagens

alperce


*Fruto parecido com um pêssego pequeno e originário da China.

5 comentários:

Carlos Frederico disse...

A Sachertorte não pode ser melhor que um mero petit gateau de chocolate com sorvete de creme (bem feito, claro), ou mesmo que sua tupiniquim versão de goiaba com sorvete de queijo.
E pra mim, pra ser melhor que um quindim cremoso e macio em cima e torradinho por baixo vai ter de ser no mínimo feito pelos deuses !
Abraço

Carlos Frederico disse...

Ah, já que falamos de sobremesa, segura essa (TragaLuz, Tiradentes/MG)

Uma fatia retangular de goiabada cascão totalmente envolta em castanha de caju moída; frite ligeiramente para aquecer, coloque sobre uma camada de mesmo tamanho de requeijão Catupiry. Sirva com sorvete de creme bem macio.

Oh, Minas Gerais !
Abraço

Jorge Carrano disse...

Caríssimo Carlos Frederico,
Pode apostar suas fichas no petit gateau com sorvete e no quindim.
Ganhará na certa.
A propósito, já li como piada, mas presenciei numa viagem (juro) uma deslumbrada comentar que adorava o bolinho pequeno gatinho.
Quanto a receita, (TragaLuz, Tiradentes - MG), irei repassa-la gora mesmo para minhas amigas mineiras.
Não conhecia. A sobremesa mais próxima que comi foi a popular Romeu e Julieta, sem castanha do cajú e sem sorvete.
Abraço

esther disse...

já que vocês falaram em goiabada cascão e todos os anos faço uma quantidade que possa ser usada o ano inteiro, sugiro comê-la com um pouquinho de feijão regado com licor de chocolate e pimenta, feito aqui, em caxambu, cuja fábrica está para fechar acompanhado de nêsperas cozidas.

ou uma fatia fina sobre o camembert acompanhado de figo .e está na estação dele.

Carlos Frederico disse...

Carrano, goiabada fica bem em diversas receitas, ainda mais se for a cascão legítima - poucas cascas e polpa consistente mas relativamente macia.
Tragaluz é um dos bons restaurantes de Tiradentes, que segundo Paulo (e muitos experts) é uma referência gastronômica em Minas.
Figo eu adoro, mas em calda ou cozido, na forma de doces. Aliás, pra mim isso vale para a maioria das frutas, à exceção das cítricas e abacaxi.