11 de junho de 2011

Batéis, esquifes, almadias, alcatifas e albarradas

Por isso ou aquilo, por esta ou aquela razão, o fato é que este blog é frequentemente acessado em Portugal. São as estatísticas disponíveis para os blogueiros no site blogger.com, que me dão conta deste fato.

Imagino, vai saber, que uma palavra constante do título de um post, como uma das que dão nome a este, ou um tema abordado que seja de particular interesse dos internautas que rastreiam a rede em busca de novidades ou curiosidades e que, volta e meia, se deparam com um link para este espaço em suas telas, é que se refletem nas estatísticas.
Cabral


Resolvi prestar uma homenagem aqueles que nos desvirginaram, que acabaram com nossa inocência, declarada esta pelo próprio escrivão da frota de Cabral, de quem falarei adiante.


Caminha

Nossa pureza e inocência foi atestada por Pero Vaz de Caminha, na tão mencionada e pouco conhecida carta que o mesmo endereçou a rei D. Manuel, cognominado o Venturoso.

As palavras do título, possivelmente em desuso mesmo no além-mar, são um capítulo a parte na narrativa do escrivão, assim como outras que figuram na carta.

Modesta e humildemente, Caminha assim se expressou na abertura da missiva:

“Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que - para o bem contar e falar – o saiba pior que todos a fazer”.

Modesto não?

Lembrou na carta o dia em que partiram de Belém, em Lisboa, que foi o dia 9 de março, uma segunda-feira.

Conta, ainda, que no dia 21 de abril – "terça-feira das Oitavas da Páscoa" “toparam com alguns sinais de terra. No dia seguinte avistaram um grande monte, mui alto e redondo ao qual o capitão pôs nome Monte Pascoal".

Tudo que me ensinaram em anos de escola primária, sobre a “descoberta” do Brasil, está sintetizado na carta de Caminha, que fala do "achamento".


Tupiniquins
 A nudez sem vergonha, acanhamento ou prurido, dos habitantes da ilha (que era o que imaginavam terem descoberto), chamou a atenção a ponto de assim se referir ao fato:

“Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequeno, por chegarem primeiro”.

E continua a narração:

"Então lançamos fora os bateis e esquifes; e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falara, entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio.E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que,ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens”.

E agora eis a descrição que fizeram dos habitantes da terra “achada”: Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.”

Em outro trecho escreveu que “tomou dois daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos, que estavam numa almadia”.

E ainda complementava Caminha, dando ênfase ao que já narrara quanto a nudez: “Andam nus sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, der tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e rapadaos até por cima das orelhas”

E prestou muita atenção nas vergonhas masculinas a ponto de identificar que não eram circuncidadas, deste modo: " ... sem buscarem maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas”.

No que tange as mulheres índias, foi mais preciso e minuncioso, ressaltando aspectos de suas anatomias, a saber: “E uma adaquelas moças era toda tingida, de baixo a cima daquela tintura; e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela.”

Neste ponto cabe uma reflexão. Nossas índias eram realmente bem atraentes fisicamente, ou os portugueses estavam no maior atraso pela longa viagem sem parceiras? Por certo que anos mais tarde, seus descendentes se encantaram com as negras africanas, dando origem as nossas tão decantadas mulatas.

Vejamos se não é o que digo, nas palavaras do escrivão da frota: “Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres moças, nuas como eles, que não pareciam mal”.

Viram? “Não pareciam mal”. Tarados aqueles navegadores hein?

Estranhou muito o redator da carta que não houvesse, nestas paragens, os chamados animais domésticos, relatando nos termos a seguir: “Eles não lavram nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra animária, que costuma seja ao viver dos homens.”

inhame
 As mulheres da frota por certo invejaram a forma física das mulheres indígenas, que poderia decorrer da dieta alimentar, segundo Caminha calcada nas raízes e frutos que caiam das árvores, como descreveu: “ "Nem comem senão desse inhame que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores a si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.”

Abro parêntesis para comentar que nossos índios sempre foram indolentes. Desde sempre. Eis que não lavravam a terra, nem criavam animais que pudessem servir-lhes de alimento. E tão preguiçosos, que esperavam que as árvores lançassem ao chão os frutos para então comê-los. Nem subir na árvore eles queriam.

E nada mudou em relação a este ponto. Como regra geral são parasitas. Preferem arrendar a fazendeiros e madeireiros a vasta extensão de terra que lhes é conferida, ao invés de nelas cultivar alimentos. Do que gostam mesmo é dançar.

Ignoram as pertinentes palavras de Pero Vaz de Caminha a propósito do fértil solo, da terra graciosa que encontrou: “... querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”.

2 comentários:

Carlos Frederico disse...

Carrano
Estava outro dia mesmo comentando que deve ter ficado entranhado em nosso DNA a preguiça. Típica talvez de países tropicais, onde nada se faz e a terra nos dá tudo em termos de clima e alimento.
Pode observar que a maioria dos países de 1. mundo são em regiões onde o trabalho é indispensável à sobrevivência, e com isso os referidos povos se acostumaram a ralar o couro. Nós? Caminha disse tudo: nem subir em árvores fazíamos, esperávamos que as frutas caíssem. E assim somos até hoje...

Jorge Carrano disse...

Pois é, Carlos.
Eu diria o seguinte. Nos estados (ou cidades), colonizados por alemães, italianos e açorianos, caso do sul do país, por exemplo, a miscigenação melhorou um pouco o padrão.
Abraço