18 de junho de 2011

Época de degustações - parte I

Por
Carlos Frederico Marques Barroso March
Friburgo - RJ - BR


Chegado o inverno as pessoas, como num clichê, definem que é a época de fazer reuniões em torno de garrafas de vinho. O termo “degustação” começa a ser ouvido nas rodas de amigos e citado nas reportagens. Eu, particularmente, sou contra esse estereótipo. Vinho se toma em qualquer época do ano, assim como cerveja ou outras bebidas, alcoólicas ou não. Tudo depende do local e do momento, na minha opinião o básico é a escolha, que deve seguir alguns preceitos.


Cervejas de inverno
meia estação e verão
Aficcionado que sou por cervejas, vinhos, whiskies, drinks em geral e apreciador de licores (meio fora de moda por conta da propaganda contra o açúcar), sigo algumas regras. Cerveja de verão, principalmente quando se pretende enfileirar alguns copos, é pilsen geladinha, chopp claro, algumas de trigo mais leves (p.ex. a Baden Baden Cristal, fabricada em Campos do Jordão - SP). À medida que o tempo esfria é a hora de dunkel, märzen, cervejas tipo abadia, ales médias (cito como exemplo a Weltenburger Kloster Barock Dunkel, alemã produzida sob licença pela Cervejaria Petrópolis - RJ). Quando chega o inverno, é hora de chopp preto, schwarzbier, cerveja bock, ale encorpada, formulações alcoólicas como as triple belgas (da qual destaco a Waterloo Triple 7), e isso dá um liv


Eisenbahn, ganhadora de
alguns prêmios internacionais



Já fiz degustações de cerveja de diversas naturezas antes mesmo de tratar de vinhos com a seriedade (!?) que faço hoje. Uma sugestão seria, por exemplo, varrer todo o portfolio de uma cervejaria, como a Baden Baden (Campos do Jordão-SP), a Eisenbahn (Blumenau-SC), a Petra (Petrópolis – RJ), para citar algumas nacionais que têm uma boa variedade de produtos. A cada dia mais cervejarias artesanais ganham espaço, e essa é uma sugestão que dou para verão e meia estação, e porque também não inverno?


As degustações podem envolver diversas marcas, fixando-se por exemplo o tipo de cerveja: pilsen, weissbier (trigo), ales, escuras, a criatividade é o limite. Eu gostaria de ver o resultado de uma degustação às cegas com alguns experts que afirmam que uma Skol de lata tem sabor diferente da Skol de garrafa. Será que de olhos vendados eles saberiam a diferença?

Eu já participei de uma degustação de refrigerantes de cola às cegas (prelúdio de uma de cervejas, também às cegas) que deu resultado surpreendente. Desmistificou-se a fama de certo refrigerante tido como o melhor do país!

Falei de cerveja, poderia falar de whiskies. No verão eles caem bem num copo lotado de gelo, mas saibam que o verdadeiro degustador de whiskies e bourbons segue outros preceitos, outros rituais, que em geral NÃO envolvem gelo, no máximo um pouquinho de água fria para amaciar o sabor e facilitar a liberação de aromas. Isso dá também outro livro inteiro e vários tipos de degustação.

Whiskies Johnnie Walker, uma boa
idéia para degustação

Sugestões adicionais envolvem degustação de whiskies de 8 anos, de 12, de 18... De bourbons americanos, de whiskies blended versus single malt, de whiskies versus bourbons… Todas são idéias para reuniões muito interessantes.




Contudo admitirei: o momento é do vinho. Como no caso das cervejas, sigo também minhas regras ao longo do ano. O verão é tempo de espumantes leves, descompromissados. Brancos ou rosés, nunca gelados demais para não perder o paladar, e nunca esquecendo que o teor alcoólico deles é de cerca de 12%, de modo que ficar bêbado com aquela coisa refrescante e agradável não demora nada! Vinhos brancos sem muita madeira, relativamente resfriados entre 8º e 10ºC caem bem na praia ou beira da piscina. Tintos leves também descem redondos nas refeições, servidos em temperaturas entre 10º e 14º .

E agora, que o inverno se aproxima, que venha o bom vinho encorpado! Contudo, deixo bem claro: não excluo nunca o espumante, branco ou rosé, como aperitivo ou como você beberia uma cerveja de inverno. Os tintos são os preferenciais mas há vinhos brancos interessantes para a presente estação, que são os mais encorpados, amadeirados, servidos resfriados mas não muito (em geral entre 10º e 12º C).

Com a grande oferta hoje existente, as pessoas começaram a se interessar não só por consumi-los como também entendê-los. Para tal, nada melhor que se reunir com um grupo de amigos e fazer degustações com o objetivo de aprender a diferenciá-los e conseguir escolher os mais adequados a seu paladar, dentro de um padrão de custo x benefício razoável. Degustações deveriam sempre ter um orientador, um sommelier treinado, mas como nem sempre estão disponíveis (cobram por isso), podemos fazer degustações caseiras mesmo, com um dos convivas fazendo o papel de " em terra de cego quem tem um olho é rei" e conduzindo o evento.

Variedade de rótulos

Os temas para degustações de vinhos são amplos. Podemos querer saber a diferença de sabor entre as diversas uvas usadas na produção, podemos querer saber por que determinadas safras de uma mesma uva são melhores (e geram vinhos mais caros) que outras, podemos querer entender porque uma vinícola fabrica uma variedade de linhas estratificadas em preços usando o mesmo tipo de uva nelas todas, podemos querer saber se um vinho caríssimo é realmente muito mais saboroso que um que custe bem menos, podemos querer entender como harmonizar um prato com um vinho numa refeição, ou seja, temos também assunto para mais de um livro inteiro!

A maneira de realizar isso pode ser numa degustação às claras, com os confrades sabendo qual vinho estão “dissecando” a cada serviço, ou às cegas, na qual o condutor ou sommelier faz um resumo de tudo que será apresentado e passa a servir as amostras sem definir o rótulo em questão. Na minha modesta opinião, os iniciantes devem começar suas degustações no formato às claras. Só depois de algum conhecimento passariam a participar de degustações às cegas.

Com certeza a degustação às cegas dá resultados surpreendentes. Não raro – e falo até de concursos internacionais – um rótulo modesto suplanta uma seleção de vinhos tradicionais e bem mais caros.

Independente do formato escolhido, as degustações devem ter um tema. Será de vinhos de uma única uva? Será de uma única vinícola? Será de diversas vinícolas mas limitados em preço – já que preço é um fator infelizmente capital na qualidade do vinho? Deixaremos essas e outras questões para o próximo post.

8 comentários:

Anônimo disse...

Pode fazer degustação de vinho português. Acho todos iguais, muito rascantes.

Jorge Carrano disse...

Provavelmente o Carlos Frederico irá comentar sua opinião. Todavia, adianto que os vinhos que você chama de rascantes, são os ricos em taninos.
Por outro lado, desculpe, mas não acho que sejam todos iguais.
Obrigado pela visita e continue conosco no blog.

Carlos Frederico disse...

Vinhos "rascantes" há em qualquer país. Por isso é bom fazer degustações, a gente vai aos poucos fechando em torno de uma seleção que é a mais agradável para cada pessoa.
Minha mulher ADORA aqueles vinhos que parecem caju tirado do pé, a boca chega a ficar chupada de tanta cica. Eu prefiro os mais macios, e não desaprovo os atualmente pixados demi-sec.
Cada um tem preferências, há que experimentar.

Carlos Frederico disse...

Outro testemunho:
Participei de uma degustação "às cegas" de 4 vinhos de preço similar (fator importante ao comparar), conduzida pelo sommelier Célio Alzer. Éramos 22 pessoas e os vinhos eram: português, espanhol, francês e italiano. Depois da aula e de bebermos as amostras, Célio fez uma enquete antes de dar o "gabarito", ou seja, ainda às cegas. A maioria absoluta preferiu o português (Cartuxa), seguido do italiano (Chianti Vila Antinori), do espanhol e ZERO voto para o francês, que de fato era o mais seco de todos. Portanto... depende de cada vinho, não da origem.

Jorge Carrano disse...

Muitos, mais qualificados do que eu, sem dúvida,já disseram que a grande busca na degustação de um vinho é o equilíbrio entre as substâncias que formam sua estrutura: álcool, taninos, açúcares, extratos e ácidos. ...
È isso msmo, Carlos?
Abraço

Jorge Carrano disse...

A conversa tomou o rumo dos vinhos "rascantes", e com isso esqueci de comentar sobre degustação às cegas, de refrigerantes cola. Não lembro se foi a Pepsi ou se foi a Coca, que há algum tempo, bastante tempo, usou este mote num comercial.

Carlos Frederico disse...

Carrano, o que se busca nas degustações é um aprendizado. Em paralelo à parte técnica envolvendo aromas, sabores, estrutura, método de fabricação, acho que o mais importante é cada pessoa começar a conhecer o tipo de vinho que mais aprecia, aquele que lhe dará mais prazer. Ajuda a direcionar suas próximas compras num mercado que até assusta de tão vasto.

Carlos Frederico disse...

Sobre as colas, um amigo nosso passou a ser apelidado jocosamente de Mr. Pepsi por ser um apreciador inveterado de Coca-Cola e, na degustação às cegas, ter dado com convicção a maior nota justo à Pepsi.