Jorge Carrano
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Quando eu era criança, vi e vivi muitas vezes a cena. Na hora do recreio, os meninos – boa parte do tempo correndo atrás de uma bola – acabavam deixando cair uma parte, quando não tudo, de seus lanches (que eram chamados “merenda”). Uma vez aconteceu comigo, e meu então melhor amigo estendeu o sanduíche de presunto dele e falou: “tira um tasco”. Dei uma mordida e fomos em frente, atrás da bola.
No mês passado, meu filho viveu uma situação similar. O aniversário da professora estava chegando, e alguns pais resolveram fazer uma vaquinha para comprar um presente. Mas faltou combinar direito, e ficou naquele “deixa que eu deixo”, e o presente não foi comprado. Só que as crianças não sabiam disso. Afinal, juntar a grana e comprar o presente era tarefa dos pais…
No dia do aniversário, um dos amigos (cuja mãe não sabia do “projeto vaquinha”) levou um presente por conta própria. Na hora “h”, as crianças se perguntam, “cadê o presente”? Silêncio. Bateu o desespero. E agora? O menino que havia levado seu presente “solo”, vendo a aflição dos amigos, pegou o cartão que acompanhava o embrulho, riscou o nome dele e escreveu “de todos”. E a professora ganhou o presente achando que era da turma.
Parece pouco, mas é um gesto de enorme significação. Em que momento de nossa vida nos tormamos mais egoístas, não sei dizer. Trabalho para os psicólogos, talvez.
Há quem acredite ser esse um comportamento da nova geração, nascida sob o signo do “compartilhamento” e “curtição” típicos das redes sociais. Discordo.
Meu palpite é que essa nova geração – que corre da mesma maneira atrás da bola, apesar do iPod no bolso – tem o mesmo senso de compartilhamento das gerações anteriores. É um gesto natural de crianças. Sempre foi. Atribuir esse comportamento ao fenômeno contemporâneo da internet só repete o discurso manjado de atribuir tudo de bom ou ruim que acontece às redes sociais. Um exagero.
Para provar que o gesto é natural, a organização humanitária ACF (Ação Contra a Fome) lançou, na Espanha, um experimento, materializado num comercial que mostra uma situação em que crianças se vêm diante de uma situação de dividir (ou não) um sanduíche.
O vídeo – e a mensagem que ele traz – são preciosos como as crianças. Click no link abaixo e assista.
http://youtu.be/-5htoK742UQ
O vídeo – e a mensagem que ele traz – são preciosos como as crianças. Click no link abaixo e assista.
http://youtu.be/-5htoK742UQ
Written by Jorge Carrano in: Artigos,Cultura,Digital
Publicado originariamente em http://www.cavernaweb.com.br/?p=2017
2 comentários:
O vídeo ilustra bem a tese expendida no post. Mas será uma realidade no mundo todo?
Gusmão
Interessante o vídeo, embora ache que os fatos foram selecionados para a matéria, no meio de outros tantos que não dividiram a comida.Mas o "egoísmo" natural das crianças pode ser estimulado ou anulado pela educação que recebem em casa.
Vc acredita que o coleguinha de seu filho teria tido esse ato de desprendimento se tivesse em casa exemplos de mesquinharia ou pais castradores?
Amei ler vc. .
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