20 de outubro de 2011

Pasta de atum

Por
Carlos Frederico M B March


Volta e meia sou solicitado a fazer uma pasta de atum, seja para reuniões aqui em casa ou até para levar em visitas a parentes. O pessoal diz que minha pasta de atum é a melhor de todas. O que pode ter uma pasta de atum para ser diferente das outras?

Bom, cozinha é detalhe, como os aficcionados sabem. Como eu costumo dizer, um misto quente são duas fatias de pão de forma com recheio de presunto e queijo. No entanto, mil diferenças há entre diversos mistos quentes. Desde a qualidade dos ingredientes até a observação do tempo tostando, passando pela colocação ou não de manteiga (por dentro ou por fora?) e até a temperatura prévia das chapas influencia. Na hora de servir, nada de colocar o sanduíche direto num prato de louça, ele vai ficar mole de um lado, sô!

Coisa séria, essa!

Voltando ao atum, é a mesma coisa. Uns acham que abrir uma lata de atum e misturar com uma maionese qualquer é fazer uma pasta de atum. É, mas como no caso do misto quente acima, mil diferenças há entre diversas pastas de atum.

A começar pelo atum. Há dois tipos básicos no mercado, com duas variantes cada. Ele pode ser em pedaço (chamado de atum sólido), ou ralado. Ele pode vir em óleo comestível ou na água e sal, que é a versão light.

O atum sólido, em pedaço para saladas, é feito com a parte nobre do peixe. O atum ralado é feito com carne da cabeça que, apesar de ser comestível, tem um cheiro bem atuante e, por incrível que pareça - pois ela foi comercializada pensando nas pastas - inadequada para um bom resultado! Prefira, portanto, o atum sólido.

No óleo ou na água e sal? Bom, na atual procura de alimentos menos calóricos, a escolha tende a recair sobre a versão light, água e sal. Mas caramba, ó meu! Vai levar maionese! Pra que economizar de um lado se vai arrepiar do outro? O atum na água e sal tem um gosto travado, uma textura ressecada, inadequada para pastas. O que é conservado em óleo já vem macio, no esquema. A escolha, então, recai sobre a versão no óleo comestível, sendo no entanto necessário que ele seja bem escorrido antes de amassar.

Qual maionese? Bem, eu uso a light. Já usei até a de soja. Questão de prioridade, eu estava tentando baixar o colesterol, mas aqui estamos falando de gosto. Quem não tem problemas, use a comum de marca conceituada - não farei propaganda. Garanto a todos os leitores que o pessoal tem elogiado é a feita com a versão light, escolha viável para uma boa pasta de atum. Se exagerar na dieta e usar a versão zero colesterol, não vai ficar muito boa, não...

Bem, bem, bem... Agora aos macetes! Eu ponho ervas! E cebola desidratada. Ketchup às vezes. Devagar, Carlos... Comecemos pela cebola. Por que a desidratada? É menos ativa e a pasta pode ser guardada na geladeira por um pouco mais de tempo. Ervas, uso bastante o mix de ervas finas, qualquer deles. Às vezes até as chamadas ervas para peixes, vendida em vidrinhos bonitos. O importante é que tenha estragão. Se não tiver, eu acrescento um pouco.

Pra não ficar muito carregado, eu mesclo as ervas finas com um cheiro verde, a famosa mistura de salsa e cebolinha - também desidratado por questões de conservação posterior. Ah, um segredo indispensável: borrifo um pouquinho (eu falei um pouquinho) de alecrim em pó!

Bom, tudo isso bem misturado já dá uma excelente pasta, mas vamos agora às opções. Um tico de maionese escura dá um tchan, uma pegada mais ácida que não deixa a pasta enjoar. Eu disse um tico, ó cara! Senão fica pasta de mostarda! E pra quem gosta, a gente manda ketchup em cima! Às vezes radicalizo e uso molho barbecue, ou misturo um pouco de barbecue com ketchup. A pasta fica mais vermelhinha e o gosto fica legal.

Pra terminar, 3 ou 4 gotas de Tabasco! A pimenta ativa papilas gustativas, de sorte que essas pequenas gotinhas são um detalhe importante no resultado final. Quem quiser que depois derrame meio vidro de Tabasco em sua porção, pois eu disse que ponho gotas!

Sanduíche de atum amaciado com requeijão

Ainda faço uma distinção entre pasta para canapés e pasta para sanduíche. Quem não conhece o "salada de atum" do Bob's? OK, esse leva requeijão, que também já foi um item que usei no passado, mas influencia bastante na durabilidade da pasta. Passei a usá-lo, quando me apetece, no pão antes de passar a pasta de atum. O resultado é o mesmo e não prejudica sua conservação. A diferença entre as duas versões é que a de canapés é mais fluida, leva mais maionese que a versão sanduíche, mais firme.


Olhando o arsenal de potinhos


OK, temos aí dicas sobre uma excelente pasta de atum. Ah, as quantidades de cada ingrediente? Nem eu saberia dizer, pois a cada dia eu fico parado, olhando aquele arsenal de potinhos e vidros à minha frente, e me perguntando: hoje eu ponho mais disso ou daquilo?

9 comentários:

Jorge Carrano disse...

Carlos,
Uma vez mais agradeço sua colaboração.
Você me remeteu ao ano de 1969, ou 1970, por aí, quando vez ou outra eu ia comer no Bob's da Rua do Rosário(ou seria Buenos Aires?). As alternativas eram ovos com pesunto ao salada de atum.
Abraço

Freddy disse...

Meu sanduíche do Bob's preferido nessa época era um que já não é mais produzido: salada de presunto. Felizmente eu consegui mais ou menos emular sua fórmula e volta e meia o faço em casa.
Ah, sim, ele foi temporariamente reeditado quando do Rock in Rio I (1985) no barracão do Bob's, vendido junto com o de ovos e o de atum. Eu estava lá e não desperdicei a oportunidade!
Abraço.
<:o) Carlos

Gusmão disse...

Aguardamos o modo de preparo e ingredientes da salada de presunto.
E fica inaugurada a seção culinária, no blog.
Abraço
Gusmão

Jorge Carrano disse...

Caro Gusmão,
Você chegou atrasado ao blog. Já foram publicadas receitas anteriormente. Veja em: http://jorgecarrano.blogspot.com/2011/06/bacalhau-com-broa.html

http://jorgecarrano.blogspot.com/2011/03/pao-se-batata-da-wanda.html

Talvez você queira dizer que devemos falar de culinária regularmente, com mais frequência.
É, pode ser.
Abraço

Paulo disse...

Infelizmente não posso publicar minhas boas e divertidas recordações de 69 e 70 .... rsrsrs
Mas posso adiantar que a noite terminava num boteco do Largo do Marron, ao lado do falecido Cinema Mandaro, comendo uma pizza de alguma coisa com uma vitamina de banana ..... !! rs

Sds TRIcolores

Jorge Carrano disse...

Gusmão,
Não posso revelar minha fonte (Deep Throat, lembra?), mas sei que o Carlos prepara uma kafta no espetinho que é um negócio muito sério.
Vou deixar aqui, publicamente, o pedido para que ele faça um post a respeito.
Abraço

Anônimo disse...

A salada de atum do Bob's nos anos 70 era muito bem servida e saborosa, hoje em dia, vc não pode virar o sanduiche na vertical, porque além de ter muito pouco atum, a salada é mais líquida do que sólida, e o conteúdo vai todo para o fundo.
Precisamos fazer uma campanha de doação de atum para o Bob's, acho que eles estão precisando.

dpsrosa disse...

Um belíssimo comentário e uma boa lembrança das receitas clássicas do Bob`s.

Jorge Carrano disse...


Freddy ficaria feliz com seu comentário.

Deixou a vida terrena mas - vai saber - ainda monitora o blog.

Agradeço por ele seu generoso elogio.