13 de outubro de 2011

Herdeiros e sucessores

Enganam-se os que pensam que falarei de direito sucessório (heranças, testamentos, inventários). Não! Aqui neste espaço não trato de assuntos profissionais. Para tal fim eu mantinha um site, que ainda está no endereço , mas está absolutamente desatualizado. Use com moderação.

Em matéria de direito é impraticável - não impossível - manter um repertório de doutrina e ementário de jurisprudência porque a hermenêutica, pedra angular do Direito como ciência, varia conforme a exegese do aplicador da lei. E a própria legislação vai sendo alterada numa fúria legisferante insaciável.

Andei me arvorando neste campo, mas não tenho cultura jurídica, aparato intelectual e logística (assessoria) para enfrentar interpretações divergentes das minhas, quando emanadas de tribunais superiores. Se tivesse estaria dizendo bobagens com toga de ministro do STF.

Quando eu imaginava que no terreno das relações condominiais pouca coisa escaparia do que eu conheço e estava consolidado, pavimentado, em matéria de interpretação das normas legais aplicáveis, eis que uma das turmas do STJ dá uma nova, e surpreendente, interpretação aos textos legais e muda por inteiro o prazo prescricional das cotas de condomínio.

Mas não, os herdeiros aqui enfocados são pessoas de uma mesma atividade profissional que poderiam, eventualmente, assumir um papel de liderança, de pioneirismo, de genialidade, de outro que exercia este papel por conquista pessoal e vem a falecer ou se aposentar.

É, por exemplo, o que está ocorrendo agora, pelo menos como especulação da mídia, com relação ao herdeiro ou sucessor de Steve Jobs.

Vários nomes, alguns já conhecidos, consagrados, com luz própria e obras já realizadas estão sendo apontados. Os nomes aventados são os de Mark Zuckerberg (Facebook), Larry Page (Google), Jeff Bezos (Amazon) e Sergey Brin (Google).

Acho que gênios não são sucedidos ou antecedidos por gênios, por aclamação e na tradição do “O rei morreu. Viva o rei!”, ou em francês, onde tem origem a frase, “Le Roi est mort. Vive le Roi! Quem antecedeu Leonardo da Vinci? Quem antecedeu Steve Jobs? Quem sucedeu Pelé?
De repente, não mais do que de repente, aparecerá um outro pequeno gênio, como estes apontados como herdeiros apareceram há duas décadas, e assume o trono. Ou seja, o grande inovador, o gênio, ou ainda não nasceu ou está de fraldas num berço.

Destes apontados não se pode esperara mais do que já deram. Suas contribuições estão esgotadas. Poderão melhorar um pouco o desempenho do que já criaram, mas inovação mesmo não acredito.






Vou falar de um terreno no qual me sinto seguro: futebol.

Nem vou falar dos sucessores buscados avidamente pela imprensa, para o inigualável Pelé. Qualquer crioulinho (desculpem o politicamente incorreto), com um pouquinho de habilidade era logo apontado como sucessor do Rei. Foi assim com Claudio Adão e outros, como o Dener.

Quando o Vavá se transferiu do Vasco para o Palmeiras, o Gigante da Colina passou anos tentando um substituto. Como o Vavá era de Pernanbuco, como fora alguns anos antes o Ademir, a fonte de busca concentrou-se inicialmente no nordeste. Então vieram jogadores grotescos como Teotônio, Pacoti, Oswaldo e outros cujo nome não me recordo. Foram testados Delém (que foi para a Argentina) e até o Wilson Moreyra, que era filho do técnico Aymoré Moreyra, irmão do Zezé.

Nenhum deu certo. Um novo goleador, de outro estilo que não o rompedor do Vavá, surgiu muito tempo depois, vindo das categorias inferiores e se chamava Roberto, que ganhou mais tarde o epíteto de Dinamite.

E tem o seguinte. O Roberto não era o maior artilheiro da equipe juvenil da Vasco, que andou conquistando alguns títulos. O grande artilheiro da equipe era o Luis Fumanchú, que, guindado a equipe profissional, não teve nenhum brilho.

O sucessor de Steve pode não estar ainda se destacando entre seus pares, e até sendo reprovado em alguma instituição de ensino, como ocorreu com Einstein.

5 comentários:

Gusmão disse...

Carrano,
Você disse que o site profissional ainda está no endereço... mas não menciona qual.
Eu até sei, pois já visitei no passado.
Mas outros leitores de seu blog talvez não conheçam.
"Botafogo, Botafogo
Campeão
Desde 1910"
Abraço
Gusmão

Jorge Carrano disse...

Bem observado, Gusmão. Obrigado!
O endereço é www.carrano@carrano.adv.br
Está parado há anos. Mas vou tentar atualiza-lo.
Abraço

Freddy disse...

Carrano, um primeiro comentário (desculpe a brincadeira de um inculto): o segundo parágrafo já me rendeu 4 idas ao dicionário => ementário, hermenêutica, exegese e legiferante ! Sai de baixo, ó meu !
rs rs rs
Carlos

Freddy disse...

Carrano, relacionado à sua afirmativa de que gênios não são precedidos nem sucedidos, estou de pleno acordo. São pessoas que extrapolam o contexto em que estão inseridos, como que possuídos por uma presciência mágica.

Como imaginar fatores que tenham levado ao aparecimento de um Leonardo Da Vinci em plena virada do séc. XVI? O sujeito foi reconhecido como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico, tendo ainda sido considerado o precursor da aviação e da balística - e o Brasil ainda recheado de índios.

Como imaginar o início dos anos 1900 produzindo um Albert Einstein, que do nada me saca uma teoria que revolucionou tudo que se conhecia de física e que até hoje é objeto de estudo e pequenas atualizações? Gente, as carruagens ainda eram o meio de transporte preferencial, os aviões eram novidade e o sujeito divagando sobre as bases do funcionamento do Universo...

Gênios aparecem do nada. Às vezes alguns fatores propiciam seu desabrochar, mas caso geral eles simplesmente acendem e iluminam o mundo a seu redor. Nem que seja apenas um Garrincha ou Pelé dentro das 4 linhas.

Abraço
Carlos

Jorge Carrano disse...

Prezado Carlos,
O segundo parágrafo é coisa de advogado. Tive uma recaida, perdão.
Seu irmão, Paulo, lendo, estaria fazendo tsk, tsk, tsk.
Ele é apologista da simplicidade, da clareza.
Quanto as considerações sobre os gênios, são absolutamente pertinentes (êpa!)
Abraço