23 de março de 2013

O que sinto falta no estádio de futebol


Para início de conversa, do público. Vasco e Flamengo com mais de 100 mil torcedores. Fla x Flu também. Seleção brasileira, sempre, com mais de 100 mil. Eu estava no Maracanã no jogo Brasil X Paraguai pelas eliminatórias da Copa de 1970. Era muita gente. Muita mesmo (falam de 140.000). Assisti sentado de lado, graças à solidariedade de torcedores que já ocupavam os degraus das arquibancadas e me permitiram sentar onde deveriam estar apoiados os pés.

Nem vou mencionar o Brasil X Espanha da Copa de 1950, porque foi um caso excepcional, inclusive com invasão do estádio com portão posto abaixo.

E tem o seguinte, se me permitem uma opinião radical. Ôlas e avalanches podem até ser divertidas, mas são desnecessárias no futebol. Assim como vuvuzelas. E, last but not least, dancinha coreografada para comemorar gol. Coisa muito babaca.

A entrada das equipes em campo era uma festa maravilhosa, com agito de bandeiras. As torcidas de Vasco e Flamengo tinham lugares marcados nas arquibancadas. A do Vasco ficava à direita das cabines de rádio e a do Flamengo è esquerda. E ambas tinham, também, uma sala onde eram guardadas as bandeiras e os instrumentos musicais das bandinhas.
No outro dia o Vasco jogou, contra o Nova Iguaçu, para um público de pouco mais de mil pagantes. Vergonha!

Outra coisa de que sinto muita falta, é chegar ao estádio, com as equipes já em campo, e saber quem vai jogar. Os uniformes clássicos, tradicionais, eram respeitados. O Vasco, por exemplo, com um uniforme azul é uma heresia, por mais bonito que pudesse ser (e não era).

O Fluminense, no outro dia, estava jogando com uma camisa bordô, ou grená, sei lá, irreconhecível para mim. Foi preciso esperar o narrador para saber que era o Fluminense. Mas já foi pior, já foi laranja.

Está certo que os patrocinadores de uniformes, e também os clubes, precisam vender camisas, mas as alterações deveriam se limitar aos detalhes, como tipo de gola (em V ou em curva, ou tipo  polo), ou tipo de manga, enfim precisam ser criativos, sem, contudo violentar a tradição e as cores oficiais dos clubes.
Quem acompanha futebol deve lembrar que o Flamengo, não faz muito tempo, jogou com o uniforme do Olaria (ou do Tabajara ) nas cores azul e amarelo. Que coisa horrorosa.

Que saudade do locutor anunciar “A ADEG informa, substituição na seleção brasileira, sai Garrincha e entra Jairzinho”. Ou, ainda, “sai Gerson e entra Rivelino”.

Agora se ouve ou se ouvia (não mais Maracanã), “sai Hulk e entra um Zé qualquer”. Preferiria ouvir, “sai Hullk ... para nunca mais voltar”. Não que o Hulk seja um perna-de-pau, mas não é jogador para seleção nacional. No Vasco, no lugar do Eder Luiz, vá lá que seja.

Tenho saudade do campeonato carioca com o Canto do Rio disputando e com os grandes tendo que vir ao Caio Martins jogar contra ele. E tenho saudade de clubes tradicionalíssimos, reveladores de craques, como o Madureira, o São Cristóvão, o Olaria, o Bonsucesso, o Campo Grande e a Portuguesa, além, claro, de Bangu e América.

Hoje o que vemos são equipes “itinerantes”, bancadas por prefeituras, sem torcida mesmo, na acepção da palavra. Algumas pertencem a empresários.
Todos estes times citados eram facilmente identificáveis em campo, pois seus uniformes eram conhecidos.

Já que falei das torcidas, sinto saudade das brigas “de mão”, sem armas, já que eram inevitáveis algumas vezes. Nem mesmo os mastros das bandeiras eram utilizados para agressão, era considerado crime de guerra.

E quando digo que eram as vezes inevitáveis é porque palavrão ainda era obsceno e muitos maridos ou namorados não admitiam seu uso nas proximidades de onde estavam sentados. Sobre o juiz, o máximo que se dizia é que era “bicha”, em coro. Mas isto já nos anos 1960.

Os dirigentes eram um capítulo a parte, chamados de cartolas, fizeram história em seus respectivos clubes e viraram lenda ou folclore: Gilberto Cardoso, Carlito Rocha, Heleno Nunes e até mesmo o professor Plinio Leite, dono de colégio em Niterói, que presidiu o America, campeão carioca, com um time sensacional.

Folclórico seria o Castor de Andrade, presidente do Bangu, que bancava, depois dos industriais da fábrica de tecidos do mesmo nome (a família Silveira) um time de ponta, com Zizinho.

Os jogadores, o mais das vezes, jogavam várias temporadas pelo mesmo clube (com exceção dos chamados pequenos, que revelavam talentos), criando com isso uma identidade com a torcida: Pavão, no Flamengo, Pinheiro, no Fluminense, Beline, no Vasco, Nilton Santos, no Botafogo, são associações inevitáveis.

O profissionalismo é inevitável. Afinal hoje o futebol é business, e para todo o sempre será. Mas uma pitada do espírito amadorístico nos jogadores daria um tempero excelente. Mercenários e chinelinhos, são pragas que precisam ser extirpadas.

Já que estou me expondo mesmo, uma palavra final sobre execução de hino nacional antes das partidas regionais e nacionais, obrigatório em alguns estados (felizmente não no Rio). Falta-me um adjetivo para definir o quanto acho inoportuno, descabido e irritante. A torcida não presta atenção e até vaias são ouvidas; os jogadores ficam saltitantes para não esfriar a musculatura; ninguém sabe a letra direito; os narradores não sabem o que fazer (respeitam ou aproveitam para dar as escalações?)

E qual é o sentido do hino antes do jogo? Patriotismo ou patriotada? Populismo de deputados venais, corruptos e safados, em sua maioria, que votam matérias sem objetivos claros e alcançáveis como esta. 

15 comentários:

Gusmão disse...

Concordo com tudo.
E acrescento que não é que sinta falta pois não vou mais aos campos de futebol, mas as preliminares com os times de aspirantes eram muito interessantes. O campeonato bem disputado. Era uma forma de se ver todo o elenco jogar, pois como não era permitido substituição no curso da partida os reservas tinham atividade. E as vezes eram timaços.
Abraços

Anônimo disse...

Campeonato de Aspirantes? Timaços?
Nunca morei fora do Brasil, por isso nunca vi.
:D Fernandez

Jorge Carrano disse...

Fernandez e suas poiadinhas. O fato de talvez ser mais novo, não explica a ignorância (no sentido de ignorar), de que no passado havia, no Rio de Janeiro, disputados paralelamente, os campeonatos de Juvenis, Aspirantes e Profissionais.
Quando o time ganhava nas três categorias (o adversário era o mesmo), dizíamos que fez barba, cabelo e bigode.
Os juvenis jogavam as 10 da manhã. Os aspirantes as 13 horas (isso mesmo, com sol escaldante) e os profissionais as 15 horas. E como disse o Gusmão, não havia substituições (mais tarde foi permitida a do goleiro). O ritmo de jogo era outro, mais cadenciado, mais plástico.
Fica chateado não, Gusmão, além de piadista, o Fernandez é paulista e corintiano. Coitado!

Helga Maria disse...

Como internauta constante sugiro mais viagens, receitas e generalidades. E menos futebol.
Desculpe e obrigada.
Helga

Jorge Carrano disse...

Nós é que devemos desculpas, Helga. Realmente neste blog de generalidades, o futebol tem ocupado mais espaço do que outros temas.
Receitas passarão a ser mais frequentes, pois vou fazer um "convênio" com a Erika, além de cobrar mais da Wanda. E você fica convidada a colaborar.
O time de viajantes é bom. Eu mesmo escrevo pouco sobre viagens, com dicas de lugares charmosos. Mas vamos admitir que tem muita coisa no blog. No outro dia publicamos uma série escrita pelo Freddy, sobre a Serra Gaúcha e particularmente sobre uma vinícola.
Fique conosco. Obrigado.

Freddy disse...

Sr Z com certeza ou é novo ou parvo. Santos de Pelé & Cia, Botafogo de Nilton Santos, Didi e Garrincha, Inter de Falcão e Carpegiani, Cruzeiro de Tostão e Dirceu, Flamengo de Zico, Andrade e Junior, foram timaços que vi jogar. Infelizmente o timaço do Vasco eu não vi, Carrano teve mais sorte.

Brasi x Paraguai de 1969 teve 183.000 espectadores e a final de 50 teve 200.000. Fora outros exemplos, como um FlaxFlu com quase 190,000. Riva deve saber.

O futebol hoje perdeu o glamour e parte de sua identidade. Decorar escalação? O mesmo Vasco que disputava o título no início do Brasileirão do ano passado passou vergonha no 2º turno, teria sido rebaixado não fosse a "gordura" acumulada. Não era o mesmo time, simplesmente!

No mais, mantenho-me à parte, discutir futebol (mais política e religião) é angariar inimizades.
Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Nossa Freddy!!! Nem lembrava que foram tantos no BrasilXParaguai. Eu estava lá. Era uma multidão mesmo.
Os timaços a que o Gusmão se referiu em comentário, eram os aspirantes. Corrija-me Gusmão, se estiver errado.

Freddy disse...

Sobre viagens: estou preparando uma série chamada "Gramado em foco" onde, sem pretender esgotar o assunto, tentarei dar minha visão de visitante costumaz. Pretendo que sejam posts pequenos, vários deles a serem publicados com intervalos, pra não cansar.
Riva poderia postar uma série "Niterói news", ele está bastante focado na cidade e deve ter coisa (boa e ruim) pra contar.
Receitas a gente aguarda sempre com prazer, mandem!
Abraços
Freddy

Jorge Carrano disse...

Só para completar, em 1952, Beline era reserva do Haroldo (zagueiro clássico), Hernani (bom goleiro )era reserva do Barbosa, e tinha ainda o Edmur, o Jansen, o Alfredo e vários outros que disputavam na categoria aspirantes. Todos os grandes tinham ótimos reservas que disputavam como aspirantes, a menos que estivessem escalados na equipe principal, por contusão do titular. E tem mais, o contundido, a menos que fosse fratura exposta, não saia de campo, ia para a ponta esquerda "fazer número".

Gusmão disse...

Isso mesmo Carrano. Eu falava de boas equipes de aspirantes. As preliminares eram muito boas.
Mudando de rota, ainda no futebol:
e o Vasco contratou o Autuori, que foi campeão com meu Fogão, em 1995.
Boa sorte!
Bom final de semana.

Jorge Carrano disse...

Fernandez,
Seu comentário, das 14 horas, excedeu os limite da decência. Tem senhoras na sala.
Você tem todo o direito de não voltar ao blog, assim como tive o direito de deletar seu desabafo agressivo e obsceno.
Aqui não tem discriminação, mas todos somos alvo e seta de gozações.
Se é por falta de ADEUS, até nunca mais.

Riv4 disse...

BRASIL x PARAGUAI 1969

Cheguei no Maraca às 9:30h da manhã daquele domingo, com meu amigo Tavinho ( um nanico flamenguista que devia ter na época 1,55m), ingressos na mão comprados antecipadamente - sim, existia venda antecipada em grandes jogos.

Conseguimos entrar na arquibancada central ao meio-dia. Não tinha onde sentar. Como Carrano falou, sentava uma pessoa de lado, no degrau, entre 2 degraus. Incrível. Vimos uma menina se desequilibrar e cair em cima de uma pessoa sentada. Foi passada de mão em mão, por todos os degraus, até parar na grade lá embaixo. Deve estar lá até hoje ! rsrsrs

Saímos dali, no anel superior, e reentramos na arquibancada atrás de um dos gols. Quando sentamos encostados na parede, saiu uma briga feia, e não sei como fomos parar na confusão .... fora da arquibancada, no anel superior.

Saímos do estádio, entramos na fila de ingressos e conseguimos comprar 2 gerais. E para lá fomos !

Bem, Tavinho não conseguia ver o jogo devido à sua baixa altura. Tive que ..... "radiar" o jogo TODO para ele, acreditem !!!!

Um fato marcante e inesquecível, que vou carregar em meu coração até morrer : 200.000 pessoas cantando o hino nacional antes do jogo, e o grito de GOL no estádio quando Pelé fez o gol !

Sim, 200 mil pessoas, pois foram 183.000 pagantes ! Dizem que superou Brasil x Uruguai em 1950.

Quanto ao Anônimo, fiquei no mínimo curioso com o que uma pessoa frequentadora desse blog possa ter escrito para ser "censurado" pelo Carrano ....

Sds TETRAcolores...em Friburgo, pronto para mais um sofrimento do meu FLU contra o timaço do Duque de Caxias kkkkk

Jorge Carrano disse...

Riva,
Mandou-nos fazer alguma coisa que definitivamente não gostaríamos de fazer. Isto porque o Freddy disse que ele era um parvo e eu o discriminei chamando-o de coitado, por ser paulista e corintiano.
Ora, convenhamos, é muito azar: nascer em São Paulo e virar torcedor do Corintians.
O mais estranho Riva, é que não era do feitio dele apelar para as ofensas pessoais e os palavrões. Vai ver caiu e bateu com a cabeça. Ou tem a ver com taste or smell. Sei lá.
Como aventou Ana Maria, no post "scheduled", ele vai continuar dando sua espiadinha...

Riv4 disse...

Parvo tem uma definição bem ampla .... o cara pode se sentir bem ofendido.

De qqer maneira, não sei como ele respondeu. Com certeza não deve ter sido por vc falar que ele é de SP e Gambá rsrsrs .... sei lá, somente ele pode responder.

Mas disso tudo, só lamento é que ele realmente só manda pedrada. Poderia mandar flores, de vez em quando, e também contribuir para o blog com alguma matéria legal.

No TWITTER, que sou fã, vc pode bloquear qualquer pessoa que vc queira, se a frequência na sua timeline não te interessar de alguma forma. Não conheço a mecânica de um blog, mas .... se for o caso, bloqueie.

Não vi nenhuma desculpa da parte dele, a não ser que tenha enviado só para vc.

Em tempo ... o FLU se Flud.... 0x0 contra o MEGA time do Duque de Caxias. ABELANTA está caminhando para o cadafalso !

Jorge Carrano disse...

Esta rodada foi danada de ruim para os chamados grandes. Vasco, Flamengo e Fluminense deixaram pontos importantes. Vamos ver o Botafogo amanhã.

Quanto ao Fernandez, se depois de uma reflexão achar que não era o caso para tanta raiva e explicar que ponto nevrálgico nós atingimos, o espaço estará disponível.