22 de julho de 2011

Visita ao Vale dos Vinhedos - IV

Por
Carlos Frederico Marques Barroso March
Friburgo - RJ



EXTENSÃO DA ESTADIA NA VILLA


O pacote original da Villa Valduga oferecido aos turistas, focado na Festa da Vindima, terminava no domingo, na hora do almoço. No entanto, como disse no início do relato, estendemos a estadia com o objetivo de visitar outras vinícolas da região, que concentra a maior parte das grandes marcas brasileiras. Pela manhã demos uma volta a pé pelos arredores. Pra começar, voltamos à Vinícola Dom Cândido, que fica logo ao lado. Sua porteira fica a 100m da porta da Casa Valduga. Fomos recebidos por Dom Cândido Valduga em pessoa, que nos brindou com uma degustação e algumas histórias. Informou-nos, por exemplo, que descobriu-se recentemente que a melhor maneira de armazenar espumantes não é deitado, como ainda é para os vinhos ditos tranquilos, e sim de pé! Contou-nos de sua mágoa por não lhe ter sido permitido usar seu sobrenome na vinícola, quando a família se separou em três. A outra vinícola conduzida por integrantes da família Valduga, mas independentes do Grupo, se encontra pouco mais de 1km à frente: a Marcos Luigi, a qual não visitamos.

Dom Cândido
Todas essas três vinícolas oriundas da família Valduga produzem vinhos de boa qualidade. No que tange à Dom Cândido, eu tenho preferência por um de seus rótulos, que nem é o mais caro, mas como sou chegado a itens um pouco fora do padrão (válido também para cervejas), me afeiçoei ao 4ª Geração Marselan. Como já tive oportunidade de informar, essa uva é resultante de um cruzamento entre Cabernet Sauvignon e Grenache. Resulta um vinho bastante interessante.

Outro produto da região que aos poucos vem sendo colocado no mercado são os vinhos em caixas de 3 ou 5 litros. Como muitos deles são vinhos suaves e baratos, costuma-se rejeitar quaisquer deles. No entanto, a Dom Cândido produz duas caixas com produto de sua linha CV vendidos também em garrafa, todas de vinho tinto fino seco: a CV Cabernet Sauvignon de 5 litros e a CV Merlot de 3 litros.

Depois de mais um excelente almoço no restaurante Maria V, desta feita acompanhado do espumante Gran Reserva Natura, contratamos um tour de 2 horas pelo Vale. É um novo serviço oferecido pela Villa, por hora. Já tínhamos nosso roteiro em vista de modo que declinamos das ofertas feitas pelo guia (obviamente direcionadas segundo conveniências da Casa Valduga) e fomos direto à Don Laurindo.


Don Laurindo - setor de degustação
Eu, pessoalmente, sou um fã de alguns rótulos dessa vinícola, em especial Tannat, Ancellotta e Malbec. A Don Laurindo ficou conhecida pelos seus bem sucedidos esforços no cultivo da Tannat. Essa uva tem sua melhor expressão em solo uruguaio e produz vinhos encorpados, de cor bem escura, fortes. Com um trabalho esmerado, a Don Laurindo obteve resultados excelentes em solo nacional. Acaba de lançar um rótulo comemorativo, o Tannat 10 anos, justamente para celebrar esse sucesso.





Almaúnica, modernos equipamentos



Depois, fomos à nova Vinícola Almaúnica. Fundada recentemente (2008) pelos filhos gêmeos de Don Laurindo Brandelli, Magda e Márcio colocaram como objetivo aliar a tradição familiar com propostas inovadoras para produzir vinhos de altíssima qualidade. Tive oportunidade de degustar o Syrah 2010, lançado agora em junho, quando era ainda um néctar em garrafa sem identificação. Sou suspeito por ser um apreciador inveterado dessa uva. A descrição oficial fala em paladar encorpado, intenso e prolongado. É complexo e distinto, com aromas e sabores de especiarias (pimenta-do-reino preta), frutas escuras maduras (framboesa negra, groselha negra, amora), alcaçuz, couro, caça e alcatrão, além de notas de tostados e defumados. O mais importante: tem boa capacidade de envelhecimento, apesar de poder ser bebido desde a juventude graças à maciez e doçura dos taninos.

Para terminar, ainda conseguimos visitar a Pizzato, pequena vinícola que fabrica rótulos restritos à região mas bem interessantes. É uma das pioneiras no trato da uva Egiodola, que já conhecemos quando da visita à Cave de Pedra, e da surpreendente Alicante Bouschet, de origem franco-espanhola. Segundo Flávia Pizzato, que gentilmente nos guiou na rápida visita de fim de dia, o Pizzato Reserva elaborado com essa uva é bem estruturado, potente, adequado para guarda. Não o provamos, infelizmente...

Na 2ª feira, tiramos o dia todo para um passeio com motorista, contratado à mesma empresa que fez nosso traslado Porto Alegre - Vale dos Vinhedos. Estávamos cheios de "más intenções", porque uma das atividades mais desejadas toda vez que vamos à Serra Gaúcha é fazer compras no enorme Varejo da Tramontina, em Carlos Barbosa. Normalmente as operadoras incluem essa visita no pacote Maria Fumaça que é um passeio de trem entre Bento Gonçalves e Carlos Barbosa (ou vice versa) com parada na estação de Garibaldi, mas recomendamos apenas para marinheiros de primeira viagem, como curiosidade.


Varejo da fábrica Tramontina






A realidade é que a distância entre a Villa Valduga e Carlos Barbosa é algo em torno de 15km, ou seja, muito perto. Em minutos estávamos dentro do varejo, enchendo o carrinho (força de expressão, são cestas) e solicitando despacho para o Rio de Janeiro. Dependendo da compra, o frete é gratuito. Há quem nos questione se é vantagem, dado que se encontra produtos da Tramontina no Brasil todo. Damos como justificativa a existência de promoções sazonais com descontos muito bons por conta de mudança de linha, às vezes apenas pequenas alterações cosméticas. Além disso, nesse varejo você encontra simplesmente TUDO que a Tramontina fabrica!

Depois das compras, que nos tomaram hora e meia e uma boa quantia, voltamos na direção de Bento, almoçando no Di Paolo, ótimo restaurante em Garibaldi, com rodízio colonial bem saboroso. Seguindo viagem, encontramos a Domno e a Chandon. A Domno é uma empresa do Grupo Valduga e seu principal produto são os espumantes Ponto Nero, honestos e situados numa faixa de preço popular. 

Chandon - tanques de aço do método Charmat







Optamos por parar para conhecer a mais famosa Chandon, onde fizemos visita guiada e uma degustação de seus poucos rótulos. A Chandon vende no balcão a preços bem interessantes, mas para levar na hora. Não tem serviço de despacho, para não concorrer com seus distribuidores. Apesar da fama e do DNA francês, é digno de nota que todos os espumantes por ela fabricados no Brasil usam o método Charmat, mais eficiente para produção em massa. Em contrapartida, a maior parte dos produtores da região usa o método champenoise, ou tradicional, de segunda fermentação na garrafa.

Vinícola Salton



 Terminamos o passeio na Salton, outra das grandes vinícolas de Bento Gonçalves, com ampla distribuição no país. Ela se situa no distrito de Tuiuty, a 14,5 km do pórtico de entrada da cidade de Bento Gonçalves, em direção oposta à do Vale dos Vinhedos, de modo que só de carro para conhecê-la. Fizemos a degustação paga, declinando da visita guiada (que incluía uma degustação gratuita, limitada). Ficamos surpresos ao conhecer os novos rótulos, de alto nível, produzidos pela vinícola. O portfólio da Salton é imenso, indo de vinhos definitivamente populares, de baixíssimo preço, até os da série comemorativa de 100 anos. Vende pela Internet e no balcão, tendo um serviço de despacho a preço convidativo. Um destaque é o espumante Salton Poética, "tiro certo" por conta de uma   conjugação bem sucedida de aparência (cor), sabor e preço.

Para coroar o último dia integral de estadia, optamos por jantar novamente na Villa Valduga, no Restaurante Luiz V, com menu fechado e toda a carta da Casa Valduga à disposição. Aproveitando a oportunidade para conhecer as novidades, insistimos na série Identidade e tomamos o Arinarnoa (como já disse anteriormente, cruzamento de Petit Verdot com Merlot). Eu acho que ele tem taninos muito acentuados, tornando-o um pouco "rascante", mas minha mulher adora e acompanha bem carnes com temperos generosos.

A 3ª feira, dia da saudosa despedida, foi aproveitada com um derradeiro passeio de manhã, fotografando a vinícola e suas redondezas.


Planta principal da Vinícola Casa Valduga






Fizemos a inevitável compra de espumantes, escolhendo para levar na viagem de volta o preferido de minha esposa, Gran Reserva Natura. Ao invés de almoçar, resolvemos degustar mais uma garrafa de Mundvs Alto Malbec 2006, eleito por mim um dos melhores da casa, no bar do restaurante Maria V. De brinde, ganhamos duas taças do maravilhoso sagu de vinho com creme, sobremesa típica da serra e feita com absoluta perfeição nos restaurantes da Villa.

Retornamos ao Rio de Janeiro com a nítida impressão de que fizemos uma das melhores viagens de toda nossa vida, por conta do que vimos, aprendemos, degustamos e partilhamos. Entrar em contato com o cerne da colonização italiana, ouvir de descendentes diretos a história toda, ser guiados nas visitas por gente da própria família e não meros contratados, foi uma experiência inesquecível.

Casa Valduga - Vinhedo Centenário







E finalmente pude ver as parreiras carregadinhas de uvas maduras, prontas para o corte!






Fotos: dos arquivos do autor do texto, exceto as do D. Candido e da garrafa de espumante, obtidas no Google.

8 comentários:

Jorge Carrano disse...

Carlos Frederico,
Obrigado por compartilhar conosco, ao longo destes últimos 4 posts, seu belo passeio pelo Vale dos Vinhedos, e ainda nos transmitir preciosas informações sobre castas, vinhos, restaurantes e pousadas.
Abraço

Gusmão disse...

Também gosto dos espumantes da Valduga e da Salton.
E os preços são accessíveis.
Gusmão

Carlos Frederico disse...

Carrano, o prazer foi meu. Eu não teria feito este entusiasmado relato não houvesse realmente apreciado o passeio. Misto de turismo, degustação de vinhos e espumantes, gastronomia colonial italiana e contato com uma cultura de trabalho e respeito à Natureza e ao próximo, foi uma experiência magnífica.
E mais uma vez, obrigado pela oportunidade de compartilhar o seu espaço.

C disse...

Um comentário ao Gusmão. Em termos de solo, a vocação do Brasil são os espumantes. Podemos batalhar arduamente e só conseguiremos resultados medianos com os vinhos tintos, no entanto nossas uvas se prestam à produção de ótimos espumantes, à medida que aprendemos a usar as modernas tecnologias de plantio, colheita e produção.
No Rio Grande do Sul já podemos encontrar inúmeras vinícolas que estão fazendo excelentes espumantes, de nível internacional e alguns ganhadores de prêmios lá fora. No entanto sua distribuição é local. Não há como atender ao mercado de massa, portanto você não os encontra nos grandes centros. Tem de ir lá !

Carlos Frederico disse...

Carrano, acho que o teclado "comeu" meu nome... Se aparecer algum vindo de C, sou eu!

Jorge Carrano disse...

ATENÇÃO
O comentário acima, endereçado ao amigo Gusmão, e assinado por "C", é do Carlos Frederico, autor do post. É que ele foi traído pelo teclado que "comeu" parte de seu nome, segundo me explicou via e-mail.
Abraços

Helga Maria disse...

UUFFAA!!!
Que maratona. Mas foi uma viagem interessante, de carona.
Beijos
Helga

Jorge Carrano disse...

Continue conosco, Helga.
Outras viagens virão.
Abraço