7 de julho de 2011

Desperdício de sorte

Vivíamos os primeiros anos da década de 1970. A Loteria Esportiva era, na época, o grande apelo para ficar rico de uma hora para outra.

Como devem se lembrar, ou não, o jogo consistia em acertar os resultados de 13 jogos de campeonatos oficiais de futebol. Quando digo acertar os resultados, não me refiro ao placar das partidas, mas, tão somente, acertar qual das equipes venceria ou se haveria empate.

Mas havia um grande complicador: a imponderabilidade. Futebol é apaixonante porque o resultado é sempre imprevisível, por mais que uma das equipes seja tecnicamente superior a outra. Muitas variáveis atuam e resultados surpreendentes são mais comuns do que se imagina.

Resutados inesperados eram, e ainda são, rotulados de zebras. E a loteria era tão popular na época que havia um quadro no Fantástico, programa dominical da TV Globo, para dar os resultados dos 13 jogos constantes do sorteio. E foi criada a figura da zebrinha, personagem que vestida de zebra anunciava os resultados estranhos, fora da lógica.

Bem, eu, como uma grande parte da população, jogava vez ou outra. Minhas chances de êxito eram remotas pois eu não tinha coragem de marcar resultados que  achava que seriam absurdos pela diferença flagrante entre as equipes envolvidas. Ou seja, as zebras eu dificialmenete acertava. Como marcar vitória do Itumbiara se eu sequer conhecia a clube. Como marcar, por exemplo, derrota do Vasco frente a qualquer outra equipe se acabaria por torcer contra o que apostei, para não trair o coração vascaíno. Por exemplo, Corinthians versus Taubaté, cravar o Taubaté nem pensar. Mas acontece que acontecia do Taubaté vencer ou empatar, o que me derrubava.
                        
Por outro lado, as pessoas absolutamente alheias ao futebol, que mal distinguiam quem era a bola, só identificando esta pela forma física arredondada, cravavam em seus jogos muitos resultados improváveis, o que de resto também não era bom caminho posto que as zebras existiam mas não muitas em cada rodada. Só a sorte ajudava, pois adivinhar os resultados chamados absurdos era coisa para detentores de bola de cristal.


Eu tinha uma amiga, casada com um velho e querido amigo, que nada entendia de futebol. Não acompanhava e não gostava.

Bem, vou poupa-los, caros leitores, de mais detalhes.
                                                                                   
Imaginei uma estratégia que se revelou eficaz.

Propuz a Francisca, este era o nome da mulher do Castelar, meus amigos, que fizéssemos ums parceria num jogo. Ela marcaria os 13 jogos e eu faria os palpites duplos, que eram válidos embora encerecessem as apostas. Era possível, até mesmo, fazer palpites triplos (limitados a 2), ou seja, marcar como vencedores os dois contendores e ainda o empate.

O objetivo era calaro. Ela, certamente, por não ter preferências clubísticas e por ignorar por completo quais eram as meçlhores equipe, teria muita chance de marcar as tais zebras que tanto derrubavam os apostadores. Depois, verificando aqueles palpites que a meu juízo eram os mais improváveis, faria os jogo duplos, marcando também a possibilidade de vencerem os favoritos. Ou haver empate.

Eu morava em São Paulo num hotel, e no domingo à noite não tomei conhecimento dos resutados dos jogos que compunham o teste no qual apostaramos. Mas na segunda-feira, logo cedo, ao tomar ciência dos resultados, achei que acertáramos os 13 jogos. E acertamos.

Dinheiro a vista. Imaginei que ganharíamos um bom dinheiro. Talvez mesmo muito dinheiro. Que, óbvio, dividíriamos.

O valor do prêmio aos vencedores dependia do número de acertadores eis que era feito um rateio do prêmio total a ser distribuído, dividido pelo número de apostas vencedoras.

Alguns testes, por terem poucos ou até mesmo um só acertador, já tinham feito milionários, que compraram fazenda, carros importados e partamentos.

Mas a alegria, que transmiti de imedato a Francisca, em ligação telefônica, durou pouco. Um elevadíssimo número de ecertadores, recorde até aquele momento, reduziu o prêmio para cada aposta correta a míseros Cr$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos cruzeiros).

O sonho acalentado de enricar foi por água abaixo. Como tínhamos que dividir o prêmio a razão de 50% para cada um de nós, couberam a mim e a Francisca não mais do que CR$ 1.200,00 para cada um. Minha parte foi utilizada na compra de um relógio para Wanda. Bonitinho com design modernoso para época, mas que logo, logo, ficou cafona e deselegante sendo aposentado.

Esta é a história de uma opotunidade de sorte desperdiçada. Considerando a lei das probabilidades, minha chance de acertar de novo eram remotíssimas. E a sorte me ajudou a acertar os resutados, mas num sorteio em que muitas outras pessoas também o fizeram.

Encerro a narrativa com uma curiosidade, fato real que os jornais da época poderão comprovar. Houve um acertador que fretou um jatinho para ir de Goiânia, onde morava, até São Paulo para receber o prêmio em São Paulo. Em geral os acertadores com medo de assédio e riscos de roubo ou sequestro fugiam e se ocultavam com a família.Todos queriam sigilo por parte da CEF, para não ficarem expostos a riscos, e novos velhos amigos e parentes distantes procurando aproximação para tirar uma casquinha do prêmio.

Esta é a história real de ter sorte na hora errada.


Se tiver interesse em conhecer outras curiosidades entre em  http://apostenasorte.blogspot.com/2008/01/o-primeiro-caador-de-zebras-da-loteca.html

Um comentário:

Gusmão disse...

Eu lembro da zebrinha. A personagem dizia, após anunciado o resultado do jogo: "Êpa! Olha eu aí"
Como nunca acertei ainda não queimei minha oportunidade. Mas tenho consciência que meu dia de sorte jamais chegará... porque não jogo.