Ressaltando que escrevo sobre Niterói, e que este quadro em seu país, cidade ou lugarejo, pode ser diferente: pergunto para que servem as calçadas?
Aqui servem de moradia, sob as marquises, para moradores de rua. O numero de desocupados e pedintes aumenta a cada dia. Em alguns casos, são famílias inteiras.
Alguns comerciantes sofrem muito com a sujeira deixada por eles pela manhã em suas portas, pois até mesmo suas necessidades fisiológicas fazem na rua mesmo. Além do desagradável odor fica o risco de doenças.
Como não poderia deixar de ser, no meio desta população desassistida, existem muitos vagabundos, trombadinhas e assaltantes, responsáveis pelo alto índice de criminalidade que campeia na cidade.
Outra ocupação desregrada é a de motos. Principalmente no centro da cidade, mas também em Icaraí, de ponta a ponta das calçadas estão estacionadas motocicletas.
O pior, entretanto, é o comércio predatório dos camelôs que ocupam as calçadas com seus tabuleiros e barracas, onde vendem de um tudo. E vendem, em alguns casos, muita mercadoria roubada, muito contrabando, sem contar muito imposto sonegado além da imundície que provocam com os restos de caixas de papelão, sacos plásticos e outros resíduos, muitos dos quais irão parar nos bueiros.
Existem dois aspectos, censuráveis e absurdos, a considerar sobre os camelôs. Quando a fiscalização quer coibir (o que é raro), e apreender as mercadorias à venda, alguns transeuntes reagem e protestam dizendo que é melhor te-los ali do que roubando nos sinais de trânsito ou assaltando nas saídas dos bancos. Alguns hipócritas vão além: “coitados, estão ganhando seu dinheiro honestamente”.
O outro lado perverso e absurdo, é que alguns comerciantes, estabelecidos em lojas, colocam seus produtos a venda através dos camelôs, para burlar os impostos.
Banca de jornais |
As calçadas, por vocação e conveniência pública, abrigam ainda alguns equipamentos úteis, tais como os orelhões e bancas de jornais.
Então o que temos? Calçadas, o mais das vezes estreitas, abarrotadas com tabuleiros de camelôs - isto quando as mercadorias não estão expostas no chão, sobre pedaços de plástico – mais as motos estacionadas no sentido transversal e mais os moradores de rua sob as marquises, esmolando.
O que resta a fazer? Um curso de caranguejo para aprender a andar de lado, se esgueirando nos apertados espaços entre motos, camelôs e desocupados.
Lancha Rio-Niterói |
Niterói foi durante muito tempo uma ótima cidade para se morar. Tranqüila e ordeira. Tinhamos praias frequentáveis, trampolim, vários cinemas, bailes aos sábados nos clubes sociais e festinhas nas casas das colegas de escola.Tanto que atraiu muitos moradores dos subúrbios do Rio de Janeiro para cá, inclusive pela facilidade de acesso ao centro do Rio através do sistema de barcas e lanchas. Melhor do que enfrentar viagens de trem desde o subúrbio da Central ou da Leopoldina.
Principalmente depois da ponte, que nos liga à cidade do Rio de janeiro, a coisa degringolou. E os governos que temos tido, convenhamos, foram e são vergonhosos.
Aos poucos vieram incorporadores e construtoras e a cidade cresce desordenadamente. Corremos o risco de uma grande explosão de esgoto, que soterrará a cidade com dejetos humanos. O trânsito é um caos. A sujeira campeia, no centro da cidade, nas proximidades da estação das barcas.
Pedra do Indio Icarai - NIterói |
A população está chegando ao meio milhão de habitantes, com uma infraestrutura dimensionada para 300.000 quando a cidade era um luxo.
De uns tempos a esta parte, pela incompetência, desonestidade, omissão ou leniencia das autoridades virou um lixo.
5 comentários:
Niterói é uma cidade de contrastes.
Por um lado tem um dos maiores índices de escolariadade da população e uma das maiores rendas per capita entre os municípios brasileiros.
Do outro lado tem este estado de abandono.
Mas hoje é domingo e embora o sol não tenha dado as caras, vamos deixar as misérias de lado.
Abraço
Gusmão
Diria que é uma "evolução" !
Muito do que você descreveu aconteceu antes no Rio de Janeiro.
Nos idos de 1980 e poucos, Recife já era tomada por camelôs, no Rio a coisa ainda era meio devagar. Lembro-me da proliferação galopante deles pouco depois, aqui.
Um amigo meu escreveu uma música sobre as Casas de Papelão - que proliferavam nos pilotis da Av. Pres. Vargas, pleno centro do Rio, já nos idos de 1990...
Agora os bueiros do Rio explodem. Quando explodirão os de Niterói, que agora já tem serviço de distribuição subterrânea de gás?
Carrano, tive de me relembrar o dia da inauguração da Ponte (ou teria sido o primeiro sábado depois?). A curiosidade trouxe milhares de cariocas a Niterói de uma vez só, e todos quiseram voltar no fim da tarde... O engarrafamento tomou quase todos os bairros da cidade! Morávamos no Pé Pequeno, junto ao Largo do Marrom e testemunhamos parte dele, estendendo-se pelo Cubango e Santa Rosa.
Assisti as cenas deste engarrafamento pela televisão, pois morava em São Paulo, na época.
Os noticiários deram destaque ao assunto.
Abraço.
Ah! Não só os cariocas atravessaram a Ponte. Eu mesma, no sábado subsequente, fiz a travessia num ritual particular de inauguração. Lembro inclusive,a música que tocava no rádio do carro (Lucy in the sky...)Quanto ao caos que vc identifica em Niterói, creio que , como disse o Gusmão, é o preço que se paga pelo progresso, aliado a inoperancia do Poder Público.
Que tal mudar pra Carmo? KKKKKK
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