9 de julho de 2015

Pátria educadora


A propósito da foto inserida no post de ontem, na qual aparecem "professores", carregando uma faixa com uma mensagem defensável - os professores merecem respeito - mas agredindo absurdamente a língua  escrita culta, recebi entre outras considerações, via e-mail, o seguinte relato, de uma professora de matemática,  inicialmente real, depois imaginário, para encerrar voltando à realidade de nossos dias.

Não enxerguei nenhum conteúdo discriminatório, mas de qualquer forma explicitaria, para maior clareza (no item 7), entre os contemplados com benesses, reserva de mercado e cotas raciais para ingresso no ensino superior, os pobres de todas as etnias e credos religiosos.

Eis o texto que recebi:

"Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar receber ainda mais moedas.

A balconista pegou o dinheiro e ficou olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer.

Tentei explicar que ela tinha que me dar 5,00 reais de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender.

Por que estou contando isso? Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950, que foi assim:

✔ 1. Ensino de matemática em 1950:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?

✔ 2. Ensino de matemática em 1970:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro?

✔ 3. Ensino de matemática em 1980:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Qual é o lucro?

✔ 4. Ensino de matemática em 1990:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
( )R$ 20,00
( )R$ 40,00
( )R$ 60,00
( )R$ 80,00
( )R$ 100,00

✔ 5. Ensino de matemática em 2000:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. O lucro é de R$ 20,00. Está certo?
( )SIM
( ) NÃO

✔ 6. Ensino de matemática em 2009:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00.
( )R$ 20,00
( )R$ 40,00
( )R$ 60,00
( )R$ 80,00
( )R$ 100,00

✔ 7. Em 2010 ....:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção é R$ 80,00. Se você souber ler, coloque um X no R$ 20,00.
(Se você é afro descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria social não precisa responder pois é proibido reprová-los).
( )R$ 20,00
( )R$ 40,00
( )R$ 60,00
( )R$ 80,00
( )R$ 100,00

(...)

E se um moleque resolver pichar a sala de aula e a professora fizer com que ele pinte a sala novamente, os pais ficam enfurecidos pois a professora provocou traumas na criança.

Todo mundo está 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos...

Quando é que se 'pensará' em deixar filhos melhores para o nosso planeta ??!!

Para reflexão ...

13 comentários:

Freddy disse...

Ouvi dizer que se você tentar facilitar o troco nos EUA vai gerar uma grande confusão nos caixas das lojas. Como não vou lá faz tempo, quem puder testemunhar, faça-o.

Jorge Carrano disse...

Mas o motivo seria a falta de instrução escolar das operadoras de caixa ?
O fato, no Brasil, é o analfabetismo funcional, fruto de decisões esdrúxulas, como progressão automática de série (no Rio não era possível reprovar aluno no curso fundamental, para evitar evasão escolar); professores despreparados porque a formação deles é deficiente, o abandono da escola pública, o fim da tabuada, e muitas outras barbaridades num pais que se apregoa "pátria educadora" e é a oitava economia mundial. E no alto da piramide as cotas raciais/sociais (com reflexos na formação de professores).

Lembro de uma musica nordestina, de minha infância, que tinhas os seguintes versos: "Eu lhe dei vinte mil réis pra pagar três e trezentos, você tem que me volta dezessete e setecentos. Sou diplomado etc...

Pois é, os pais faziam as lições com os filhos...

Jorge Carrano disse...

Vejam a preocupação do poeta popular, no caso o Luiz Gonzaga:

"Eu lhe dei vinte mil réis pra pagar tês e trezentos
Você tem que me voltar: dezesseis e setecentos
dezessete e setecentos
Dezesseis e setecentos
Mas se eu lhe dei vinte mil réis pra pagar três e trezentos você tem que me voltar
- Dezesseis e setecentos
Mas dezesseis e setecentos?
- Dezesseis e setecentos
- Por que dezesseis e setecentos?
Por que dezesseis e setecentos?
Mas se eu lhe dei vinte mil Réis pra pagar três e trezentos
Você tem que me voltar é...
Sou diplomado, frequentei a academia
- Dezesseis e setecentos?
Conheço geografia, sei até multiplicar
- Dezesseis e setecentos?
Dei vinte mango para pagar três e trezentos
Dezessete e setecentos você tem que me voltar
Mas eu lhe dei vinte mil réis pra pagar três e trezentos
- Dezesseis e setecentos
- Mas dezesseis e setecentos?
- Dezesseis e setecentos?
Se eu lhe dei vinte mil´Réis
pra pagar três e trezentos você tem que me voltar é...
-Dezesseis e setecentos
- Dezesseis e setecentos?
Você tem que voltar dezessete e setecentos
Eu acho bom você tirar os nove fora
Evitar que eu vá embora e deixe a conta sem pagar
Eu já lhe disse que essa droga tá errada
Vou buscar a tabuada e volta aqui pra lhe provar
Você tem que me voltar é....
Dezesseis e setecentos
Por que dezesseis e setecentos?
-Dezesseis e setecentos?
Não ´e dezessete e setecentos?"

Ouçam para relembrar (copy and paste)
https://www.youtube.com/watch?v=etQTXfMcrSY


As calculadoras tornaram a s pessoas preguiçosas para cálculos e contas simples.

Freddy disse...

O comentário sobre os americanos foi apenas isso: um comentário.
Nossa situação é, a meu ver - ao menos dentro de minha expectativa de vida - irreversível. Toda uma, quiçá duas ou três, gerações estão sendo criadas num cenário decadente.

Veja a massa de jovens oriundos de comunidades carentes tentando entrar no mercado de trabalho, numa quantidade que cresce a taxas geométricas, sem a mínima base cultural, educacional, emocional, moral, ética, todos participantes de um mundo que a maioria de nós, bem nascidos, desconhece.

São eles que você encontra nesses postos de trabalho mais simples: caixas de mercado, atendentes em geral (lojas, hospitais, clínicas, postos, escritórios, etc). A cada ano que passa fico mais assustado com o declínio de qualidade do nosso cotidiano às ruas. Seria lamentável se não fosse calamitoso.

E não tem saída. Tendo estímulo para continuarem a se reproduzir como ratos, fruto de assistencialismo governamental (bolsas) e de convicções religiosas anacrônicas (o "crescei e multiplicai-vos" já passou a ser crime contra o planeta), a coisa só tende a piorar.

Cadê meu passaporte?
=8-(

Jorge Carrano disse...

Vejam e ouçam como instrução faz falta:

https://www.youtube.com/watch?v=un8-Dakxnys

Anônimo disse...

Tô refletindo...

Jorge Carrano disse...

Estou vendo a fumacinha saindo de suas orelhas (rs).
Cuidado para não ferver pois sua cabeça poderá explodir (rsrsrs).
Se eu fosse maldoso ainda acrescentaria o risco do odor desagradável (kkkkkk).

Riva disse...

Facilitar troco nos EUA :

Comigo nunca complicou, pelo contrário ; como eles não têm esse "hábito", ficam extremamente surpresos com a sua sua iniciativa e agradecem.

Toda vez que viajamos tem aquele baita inconveniente de não trazer para casa as centenas de moedas de 1 cent, colecionadas na sua estada, e que pesam bem na sua bagagem.

Muita gente traz, mas eu não. Pocuro sempre um estabelecimento e me desfaço de 100% delas. Alguns caixas fazem eventualmente cara feia em função do trabalho para contar tudo. Mas como dizemos no Twitter, QSF !

Qualidade da educação em escola :

Acho que já comentei por aqui, mas vamos lá .... há alguns anos que estou horrorizado com a caligrafia de eventuais estagiários e até de engenheiros colegas, mas de gerações mais recentes. E os erros de português ?

Nos processos de contratação sob minha responsabilidade, SEMPRE incluo uma redação com um tema que escolho. E ali analiso caligrafia, erros de português, desenvolvimento do tema, poder de síntese, etc.

Contas de Matemática ? Eu sempre procuro fazer "na unha" minhas contas. Muitas vezes os vendedores ficam espantados quando dou o resultado da soma antes deles, que usam a calculadora rsrsrsrsrs.

O texto acima expressa bem o involução do aprendizado. Para onde estamos indo ?
Não tenho nenhuma dúvida de que na direção da extinção da escrita manual e de qualquer cálculo mental. Velocidade dos processos já é prioridade total.

Eu, de cima dos meus 63 anos, continuo agarrado a certas coisas, que com certeza jamais largarei :

- meus livros para folhear, cheirar, anotar, marcar e colocar na minha mesinha ou nas prateleiras da minha mini biblioteca.
- minha agenda pessoal, com anotações em 4 cores diferentes, dependendo do assunto e criticidade. Guardo todas comigo desde 1977.
- meus cadernos de anotações, cálculos, trabalhos, projetos, etc : tenho todos guardados desde 1977 também, e uso até hoje, com papel quadriculado para facilitar o desenho de eventuais croquis.
- carro sem airbag ! Na impossibilidade de hoje em dia adquirir um novo sem airbags, continuo com o meu 2003 só a gasolina, e sem essas malditas almofadas assassinas. Tenho pavor de um negócio desses ativar de repente.
- escorpiões nos bolsos .... tenho-os até hoje. São muito eficientes ! Hoje em dia então !!
- viajar SEMPRE que puder .... para a AMERICA !!

FLUi .... hoje tem estresse, com certeza.


Freddy disse...

KKKKK
Deve ser de família o medo!
Eu garimpei até achar um modelo de EcoSport sem airbag, em 2010! Acho que foi a última série sem as almofadas assassinas. Agora, se quiser trocar, ferrou!
<:o)

PS: meu maior medo é que uso óculos... Aquela m... pode quebrar as lentes e me cegar! Prefiro morrer.

Jorge Carrano disse...

Riva,
Guardei minhas agendas durante anos, mas começou a faltar espaço para os Códigos e o presente se tornou mais importante do que o passado.

Anônimo disse...

Por isso você tem poucos acompanhantes no blog. Suas piadas são ofensivas.

Jorge Carrano disse...

Não é por isso não, Anônimo. É porque o blog só interessa a pessoas bem-humoradas, inteligente e sensíveis.

Ele é excludente para incultos e sem espírito de humor.

Riva disse...

Eatá aí um bom tema para um post : a importância do passado, do presente e do futuro em sua vida.

Carrano, p.e., acaba de dizer que o presente é mais importante que o seu passado.

Refletindo sobre .....