13 de dezembro de 2014

As intenções eram boas, os resultados desastrosos

Ele mantinha alguns pássaros em gaiolas e num grande viveiro.

Um dia recebeu a visita de uma prima, ativista dos movimentos de preservação do meio-ambiente e militante de uma ONG que defende a vida animal.

A prima ficou horrorizada quando viu os pássaros “em cativeiro”, segundo palavras dela. Ele argumentos que alguns estavam com  ele há muitos anos e eram muito bem cuidados: água fresca todos os dias, em bebedouros e banheiras lavados constantemente, ração e frutas frescas (mamão, banana, laranja, tomate)  pelo menos duas vezes por semana e todas as outras preocupações cabíveis  tipo o tempo de exposição ao sol, diariamente, o jiló e a couve sempre colocados na parte interna da grade das gaiolas, enfim todos os desvelos.

Alguns eram  canoros, outros atraiam pela plumagem.

Ainda assim a defensora da natureza não cedeu e continuou a argumentar, agora já chantageando filosoficamente, que a liberdade não tem preço e não seria  a alimentação diária que compensaria a prisão.

Ainda mais para os pássaros, que podem voar.

Naquela noite ficou insone, matutando sobre as palavras da prima, visitante ocasional.

No dia seguinte, com o coração partido, pegou a gaiola do canário-da-terra e ao invés de retirar o fundo para troca do jornal que substituía diariamente e trocar também a água do bebedouro, num impulso abriu a porta da gaiola e ficou observando o passarinho, que parecia feliz. Pulando de um poleiro ao outro.

O canarinho aparentemente não se deu conta de que a porta estava aberta para a liberdade. Aproximou a mão e finalmente o canário amarelo, já na terceira muda, saiu voando.

Mas não foi longe, seja por falta de hábito, seja por falta de fôlego, seja até mesmo por dúvida. Aqui me concedo uma licença poética para admitir que ele hesitou entre a segurança e garantia de subsistência e a possibilidade de voar. Parecia se indagar, para onde vou?

O fato, e agora já não é especulação do escriba, é que pousou logo a uns dez metros adiante,  justo no muro da casa.

Não se sabe de onde, e sem prévio aviso, um gavião, do tipo carcará, deu um rasante e capturou o indefeso canário.

O homem, arrasado, pensou com seus botões: às favas a prima, militante xiita da defesa da natureza.

A liberdade teve um preço... o mais alto para o canarinho.


Ele vinha pela estrada na velocidade de cruzeiro, apreciando a paisagem que embora conhecesse de sobejo, a cada dia apresentava uma tonalidade ou uma luz diferente.

De repente, adiante, um corpo na estrada, meio na pista de rolamento, meio no acostamento.

Uma mulher aparentando desespero acenava com uma das mãos e com  a outra apontava paro o corpo estendido no chão.

Ele passou direto tentando olhar melhor o cenário. Já ia a pelo menos cinquenta metros quando a emoção, superando a razão, fez com que ele freasse o automóvel e engatasse ré.

Retornou a distância que o separava da mulher e do homem no chão, inerte.

Parou no acostamento, desceu e se aproximou. Foi rendido de surpresa pelos dois. Tanto o homem, que levantou de um salto, quanto a mulher, estavam armados.

Ficou  sem o carro, os documentos, cartões de crédito e as roupas.

Só de cueca, na estrada, acenava mas  nenhum imprudente parava para ajuda-lo. Ninguém teve drama de consciência.


12 comentários:

Riva matutando ... disse...

Seu teclado deve ser irmão gêmeo do meu .... tipo come-letras ! rsrsrs

Li e reli o post .... alguma analogia com a maioria do povo brasileiro ?

Jorge Carrano disse...

Come mesmo, Riva, e não rejeita nenhuma delas, vogais ou consoantes se lhe apetece, come (rsrsrs).
Minha preguiça para revisão é igual a do Douglas para jogar futebol (rsrsrs).

Riva disse...

Mas e sobre o estranho post ? rsrs

Fábulas ?

Jorge Carrano disse...

Meu amigo,
Tudo que precisa ser explicado é porque não é bom.

Ana Maria disse...

O que tem a ver o preço da liberdade com o ônus da solidariedade?
Hoje estou mais lesada que o habitual.

Jorge Carrano disse...

Paulo Bouhid, que nos alegra com a leitura do blog, mandou por e-mail uma fábula antiga, que ele associou ao post de hoje:

"Um passarinho voava para o sul, para se preparar para o inverno.
No caminho, encontrou uma forte nevasca. O frio era tão intenso que o passarinho quase congelou, e caiu ao chão.
Enquanto ele estava ali deitado, sem conseguir se mexer, quase morrendo, uma vaca, que passava pelo local, defecou em cima dele. Aos poucos, o passarinho começou a perceber o quão quente estava a merda, mantendo-o aquecido e isolado do frio. Ficou tão quentinho que começou a piar de felicidade.
Um gato que estava nas proximidades ouviu o canto e seguiu o som, até encontrar o indefeso passarinho. Limpou-o... e o comeu!!
Moral:
1. Nem sempre aquele que te põe na merda é seu inimigo.
2. Nem sempre aquele que te tira da merda é seu amigo.
3. Quem está na merda, não canta. Tem mais é que ficar calado!!

Freddy disse...

Com relação aos 2 relatos do post, dos quais gostei, o segundo preconiza a regra básica de segurança de hoje em dia nas estradas: na dúvida, passe por cima! E acelere, porque pode vir tiro em cima!

Já o primeiro é mais profundo... Há muitos meandros envolvendo a ideia de liberdade a todo custo, e são temas polêmicos. Não há como debatê-lo em poucas palavras.
=8-/

Jorge Carrano disse...

Caro Carlos Frederico,
Vou fazer um chiste, contando uma conclusão a que cheguei há anos, a propósito de seu comentário de que o primeiro relato é mais profundo.
Em São Jose de Imbassaí, onde morei um tempinho, dependíamos de poço para ter água.
Pois muito bem os caras que furavam, poços anunciavam em rústicas placas de madeira ou lata. Num deles lia-se: "furasse poço". Em outro: "furo poço cartesiano".
A blogue que fiz quanto a este último foi que fazia sentido ser cartesiano porque era profundo.
Pano rápido, como diria o Riva.

Ah! Sim, mandei furar um poço artesiano por dentro do manilhado que já havia na casa, matando este último que foi todo revestido de argamassa.

Riva Chaveiro disse...

Sobre "abertura de portas" :

Tenho certeza de que se abrirem as portas das celas de muitos presídios por aí, muitos não vão querer sair .....
(pano rápido #1)

Quando vão abrir as portas do BNDES ?
(pano rápido #2)

Antonio Augusto Sá disse...

Muitos nomes da lista são de pessoas comuns,os militares são de baixo escalão,isso traduz o clamor que partia do povo.Tinha 10 anos quando incendiaram a casa da família carreteiro no Fonseca.êles exploravam a travessia Rio-Niterói.Destruiram e incendiaram também a estação das barcas.As coisas iam mal,não funcionavam direito,alguma semelhança com nossos dias?

Antonio Augusto Sá disse...

Inicialmente a nação deseja "escancarar" a Petrobrás,depois certamente virão BNDES,Furnas etc,etc


antonio Augusto Sá

Jorge Carrano disse...

Vejam a esperteza destes dois americanos, simulando infarto:

http://g1.globo.com/planeta-bizarro/noticia/2014/12/homem-finge-infarto-enquanto-comparsa-roubava-loja-nos-eua.html