22 de abril de 2013

Entrevista especial


O blog teve a felicidade única de encontrar alguém que não tem nada a dizer. Como perder a oportunidade de entrevistar tão rara  figura?

Num mundo em que todos têm opinião e dão entrevistas nos meios de comunicação (rádio, TV  e jornais), com ar doutoral,  aparência compenetrada, tom didático e fazendo afirmativas definitivas, como se fossem donos da verdade, encontrar alguém que não tem o que dizer, tem consciência de sua pouca importância, sem opinião firmada sobre tudo é, no mínimo, para usar um chavão, uma ave rara.

Foi difícil convence-lo, mas sob o juramento de que não perguntaríamos nada, ele se dispôs a dar esta entrevista exclusiva, inócua, inodoro, incolor  e insípida.

Blogueiro: Não queremos saber, mas é interessante que nem seu nome você divulga.

Entrevistado: É porque vocês  da mídia têm mania de rotular todo mundo. Veja só, Roberto Carlos é o Rei; Xuxa é rainha dos baixinhos; Ronaldo é o fenômeno e assim por diante. Não quero virar Fulano, o Lula!

Blogueiro: O Lula?

Entrevistado: Sim, o que não sabe de nada, não viu nada, não ouviu nada.

Blogueiro: Na verdade ele é um  apedeuta.

Entrevistado: Pois é, e mentiroso, e falso, mas o que sei, ou penso saber, guardo para mim. É diferente.

Blogueiro: Mas você não forma uma opinião sobre coisa alguma? Nem nos casos mais rumorosos, como o atentado a bomba em Boston?

Entrevistado: Para que opinar? Daqui a dois anos, ou um pouco mais, sairá a versão cinematográfica do acontecimento. Nesta hora os direitos de filmagem já estão sendo adquiridos, roteiristas já trabalham no tema. Então é melhor esperar o filme. O que o filme mostrar será a verdade. Mesmo não sendo.

Blogueiro: Mas nem em casa, entre familiares, você expressa uma opinião?

Entrevistado: Parei há anos. Meu filho me cutucava e pigarreava quando na frente de terceiros eu dava um palpite. Por exemplo. Você deve ter visto cenas mostradas no noticiário de uns homens agredindo uma mulher. Chutavam e batiam, mesmo com ela caída e indefesa. Não satisfeito, um dos agressores voltou com enormes pedras nas mãos e apedrejou a mulher, na cabeça.

Blogueiro: Vi e fiquei chocado.

Entrevistado: Este é o ponto. Não adianta ficar chocado ou indignado. Só isso não adianta nada, este e outros fatos semelhantes irão se repetir. E cada vez mais, porque tudo fica por isso mesmo. Só com indignação.

Blogueiro: Não é uma pergunta, porque prometi não perguntar, mas só pensando em voz alta, será que você não sente nada diante de uma situação desta?

Entrevistado: Não é uma resposta, porque minha opinião não tem qualquer importância, força ou capacidade de formar outras opiniões, mas o fato é que meu sentimento é de raiva por ter que sustentar estes marginais e outros que tais, nas cadeias.

Blogueiro: Estou acompanhando, continue.

Entrevistado: Ressocialização, na maioria das vezes é pura hipocrisia. Faça as contas quanto nos custam alguns bandidos criminosos frios, destituídos de qualquer sentimento, e sem qualquer chance de recuperação. São presídios, agentes penitenciários, juízes que têm que julgar, promotores que têm que acusar, alimentação, assistência médica, o diabo. Custam-nos muito caro. Sem contar as rebeliões, quando queimam colchões, depredam as instalações e nós temos que pagar a reconstrução e reposição. Isso tudo custa os impostos que eu pago que você paga (você paga?), e este dinheiro poderia estar sendo empregado em escolas, creches, para que as futuras gerações não sejam tão pervertidas, sejam melhores cidadãos.

Blogueiro: Obrigado. Posso publicar?

Entrevistado: Bobagem, não vai acrescentar coisa alguma, não vai alterar nada.

                                                      X - X

Pensando bem o entrevistado tem razão, além dos que se levam a sério,  psicólogos, críticos de arte, economistas e outros, donos da verdade, doutrinando sobre suas especializações, tem aqueles mais populares que trazem  textos prontos, chavões,  na ponta da língua. Vocês querem coisa mais ridícula do que entrevista com ator/atriz de TV e/ou jogador de futebol?

Atrizes repetem o mesmo texto:
- Este papel foi um presente do Manoel Carlos para mim.
- Eu sou pé no chão, sei que o sucesso é o momento e não me abala.
- Este papel é um desafio muito grande. Viver antagonista é muito diferente de tudo que fiz até hoje.
- Teatro, cinema ou TV, o importante é ter um bom papel.

E jogadores de futebol, no intervalo do jogo ou logo após tem discurso pronto:
- Nosso time teve mais oportunidade mas o gol não saiu.
- Vamos ouvir o que o professor  (técnico) tem a nos  dizer e vamos voltar e virar este jogo.
- Não, agora é trabalhar e pensar no próximo jogo.
- Tomamos um gol que não podíamos tomar, de bola parada. Faltou atenção.
- O resultado não foi justo, nós tivemos mais oportunidades, mais volume de jogo e a bola não entrou. Mérito para o goleiro deles.

4 comentários:

Gusmão disse...

Sou um internauta sem opinião. Nada tenho a dizer sobre esta entrevista (risos)
Abraços

Riva disse...

#$% @@ (&*#@ HR@!

TFGnn &&$% ?

Sds

Jorge Carrano disse...

Riva,
Por seu comentário percebe-se que você entendeu a mensagem de nosso entrevistado.

Freddy disse...

Eu brinquei mas tenho de comentar que achei o texto ótimo! Tem verdadeiras pérolas!
;-)
Freddy