15 de abril de 2013

Cotas do atraso


As pessoas a minha volta e as que visitam este blog, conhecem de sobejo minha opinião sobre o sistema  de cotas afirmativas.


Reputo um atraso e nada há que justifique a adoção desta prática que só trás malefícios.

Num momento em que deveríamos estar perseguindo a excelência acadêmica, melhorando o nível de nossas universidades, nenhuma delas listada entre as mais conceituadas do mundo, vamos inunda-las com gente despreparada, sem méritos senão os de serem pobres, negros, pardos ou índios.

Desde a infância convivi com pobres e negros, até por causa da nossa proximidade com a pobreza. Nós estávamos ali na linha divisória.

Quase todos ascenderam socialmente, tornaram-se profissionais respeitados e bem sucedidos economicamente. O exemplo mais clássico, assim pertinho de mim,  é o de um menino, entregador de marmitas de uma pensão, cujo nome preservarei embora ele não se envergonhe de sua origem, e que se transformou num executivo de multinacional líder em seu segmento, na função de vice-presidente, publicou livro e hoje é palestrante e mantém uma bem sucedida agência  de negócios de marketing.

Perto de mim seriam muitos os exemplos. De domínio público centenas, sendo o caso de maior visibilidade no momento o do ministro Joaquim Barbosa, do STF (ele mesmo partidário de cotas, o que me surpreende).

Mas a motivação para uma vez mais tratar deste tema aqui no blog, veio da leitura de uma entrevista com um jovem de 17 anos.

Já antecipo uma de suas respostas, para dar uma medida de seu pensamento, de seu equilíbrio, de sua formação.  Perguntado de que forma seus pais  estimularam seus estudos, ponderou: -  “Quando você é da favela, tem inclinação a trabalhar cedo, constituir família, mas meus pais sempre me incentivaram a estudar.”

Vale dizer que a mãe era doméstica e possuía apenas o ensino fundamental; o pai nunca foi à escola e era porteiro.

Acrescentou o jovem, de nome Jonathan Coroba,  em sua resposta: - “Minha mãe ia todo mês à escolas aber como eu estava em sala de aula, conversava com os professores, não perdia uma reunião de pais. Olhava os cadernos para ver se tinha recado, acompanhava o boletim, cobrava notas altas.”

Ele mora no Complexo da Maré.

A escola dele, na Tijuca – Rio de Janeiro,  foi reconhecida pela Microsoft como uma das 33  mais inovadoras do mundo. Única do Brasil nesta  lista seletiva.

A criatividade deste rapaz é impressionante. Vejam o que ele bolou para a apresentação,  na cerimonia de entrega do título ao colégio.

Nas palavras dele mesmo transcritas da entrevista publicada na Revista  O Globo, em 24 de março último:

“Na entrega do titulo simulei uma conversa com uma versão minha no passado. Eu estava sentado na plateia  quando tocou meu celular num volume altíssimo. Todo mundo olhou para mim. Levantei-me, subi ao palco e disse que iria atender uma ligação importante. Quando falei alô surgiu um vídeo em que eu aparecia como se fosse três anos antes, entrando na escola. Há uma conversa entre os “dois” . No vídeo, falo das expectativas. Ao vivo vou contando as realizações de lá para cá, como ter sido o primeiro da família a chegar a faculdade e estar estagiando .”

É deste tipo de gente que as universidades  precisam. Pessoas que  acreditam,  que têm objetivos e por isso, por mérito pessoal,  chegam lá.

Sem cotas.

Precisamos é de escolas públicas de melhor nível, como já tivemos em Niterói o Liceu Nilo Peçanha e o Instituto de Educação.

Precisamos de pais mais responsáveis, mais presentes, mais conscientes, que priorizem a educação de seus filhos e deixem o samba e o futebol em segundo plano, sem despreza-los.

A fantasia com que irá desfilar e a tabela do campeonato não podem ser as prioridades.

8 comentários:

Freddy disse...

Uma frase recebida numa daquelas famigeradas mensagens do Facebook que abundam na rede, atribuída a Jô Soares, diz que "o maior inimigo de um governo é um povo culto".

Isso explica porque os recentes governantes (desde a abertura política após a Ditadura) "investiram" no sucateamento do ensino em nosso país. É uma maneira de deixar o povo à margem, sem capacidade de lutar contra os desmandos e falcatruas.

As poucas escolas que o fazem são exceções que se perdem no meio de milhares que funcionam sem infraestrutura nem apoio, sem recursos e com professores mal pagos e mal preparados.

Voltar ao nível que tínhamos no passado parece tarefa inglória, torpedeada por medidas como essa das cotas. Além de rechear as universidades com um contingente totalmente despreparado, ainda faz renascer no país o conceito de diferenciação por raça, conhecido vulgarmente como racismo.

=8-/ Freddy

Gusmão disse...

Tem muito ôba-ôba do governo em torno da educação. Mas onde estão os investimentos na melhoria do ensino público? Que já foi bom.
Se as escolas públicas de primeiro e segundo graus (ainda é assim que se fala?) fossem boas, as cotas seriam desnecessárias pois nivelaria todo mundo em termos de preparo intelectual. Ai contaria apenas a dedicação, o empenho, a vontade, independentemente de cor da pele.
Abraços

Anônimo disse...

Li a matéria com este rapaz, o Janathan. Me emocionou.

Jorge Carrano disse...

Este rapaz é um belo exemplo mesmo.

Freddy disse...

Estamos muito acostumados a raciocinar nos termos de centro-leste pra baixo. Tá ruim mas nós não vimos nada ainda. Dá uma passadinha nos municípios das regiões norte e nordeste, mais centro-oeste e depois me conta o que é "ensino público"...
É tudo Brasil, certo?
Nem vou lembrar que esse povão prolifera como ratos na proporção direta de sua ignorância e depois vem bater na porta do Governo pedindo mais bolsas e cotas.
E o Governo? Ganha votos.
=8-(
Freddy

Jorge Carrano disse...

Tristeza mesmo, não é Freddy?

Ana Maria disse...

Concordo com o Gusmão. O Governo deveria investir numa base de ensino justa. Isso seria o resgate que necessitam os menos privilegiados.
Mas, como todos os problemas, este possui outras variáveis. A ausência da família, o desistimulo e despreparo dos professores (eles mesmos oriundos de um ensino de má qualidade), a distorção das prioridades do Governo e do povo são apenas algumas.
Mas, quando se quer, encontramos fenômenos como o da pequena cidade do Piaui (Cocal dos Alves) que foram campeões em olimpíadas nacionais de matemática, química, e língua portuguesa e em gincanas estaduais de história e geografia.
Quem sabe as teorias reencarnatórias sejam a explicaçao para esses sucessos isolados?

Riva disse...

Caiam na real ..... que Governo ?

Quem quiser terminar bem no planeta Terra, saia do Brasil para um lugar maneiro, antes de partir definitivamente para "outra".

Não é fácil fazer isso, com tantas raízes que temos por aqui, mas .... não tem mais jeito.

Eu dou a maior força para TODOS os meus filhos saírem. Não é fácil uma decisão dessas, mas o Deus da Oportunidade é careca .....