10 de novembro de 2011

Tatum, Jamal e Peterson

Este post foi publicado originariamente em http://primeirafonte.blogspot.com/search?q=tatum

Art Tatum, pianista, criou um estilo que virou escola seguida por muitos outros, durante sua carreira e após a sua morte.

Um estilo rebuscado, cheio de notas supérfluas, que o imperador Joseph II criticaria, eis que por muito menos criticou duramente ao Mozart, durante a apresentação deste de “As Bodas de Fígaro” (The Marriage of Figaro).

Vejam no rodapé, parte dos diálogos do filme “AMADEUS”, um clássico no gênero.

Art Tatum

Mas o Tatum foi um virtuoso que nos deixou muitos registros, inclusive em piano solo, e em parceria com outros mestres, como por exemplo o exaustivamente por mim citado BenWebster.

O Jamal, perdulário nas notas ao estilo Tatum, talvez seja pouco conhecido da maioria, mas sua discografia é incrível.

Ahmad Jamal

Tenho - olha aí eu outra vez autorreferente, mas eu avisei que só falaria do que conheço, vi ou escutei – dois bons CDs do Ahmad Jamal, com seu trio, nos quais encontramos interpretações muito boas de velhos temas, considerados clássicos do cancioneiro popular. Os CDs são: “Ahmad’s Blues” e “Live at The Pershing & Spotlight Club”.

Destaco as faixas: “Moonlight in Vermont” e “Autumn Leaves”, neste segundo álbum e Let’s Fall in Love” e Autumn in New York” no primeiro citado.


Oscar Peterson
Já o Peterson tem para mim uma enorme virtude. Saber se comportar em cada momento como deve ser. Ou seja, se é o solista, e existem dezenas de gravações de seu trio, ele é exibido e prolixo musicalmente, utilizando todo o teclado, bem ao estilo do Art Tatum.

Mas se, todavia, ele é acompanhante, sabe se comportar como tal, evitando roubar a cena. É ele – Oscar Peterson - que está ao piano nas únicas gravações feitas em estúdio pela famosa dupla Louis Armstrong e Ella Fitzgerald. Ele está contido, limitando-se a preencher parcimoniosamente os intervalos deixados pela voz e pelo trumpete. Daí que suas intervenções chamam a atenção pela simplicidade rica.

Estas gravações do Satchmo com Ella, são obras que precisam ser ouvidas. Chamam-se ‘Louis & Ella” e “Louis & Ella again”.

Há um outro álbum de ambos, que é o da opereta “Porggy and Bess”, que merecerá um capítulo especial no futuro. Só a abertura vale o preço pago.

Já que fiz uma alusão à música chamada clássica (opereta), e são inúmeros os apreciadores deste gênero, vou tentar mostrar a compatibilidade que existe entre o clássico erudito e o clássico popular.

O Oscar Peterson gravou duas faixas, em seu CD “We Get Requests “, que são imperdíveis para quem tem xodó pelo jazz mas aprecia também o erudito, pois o pianista faz nas tais faixas uma leitura ao estilo de Bach, ou Vivaldi (especialistas, pronunciem-se), que são duas obras primas. Recomendo sem receio de desapontar, que ouçam “My one and Only Love” e “You Look Good to Me”.

Diálogo do filme (encontrado no Google):

Imperador Joseph II: - My dear young man, don't take it too hard. Your work is ingenious. It's quality work. And there are simply too many notes, that's all. Just cut a few and it will be perfect.


Mozart: - Which few did you have in mind, Majesty?

Ou seja, grosso modo , o imperador recomendou ao Mozart que ele cortasse algumas notas de sua obra, porque haveria em demasia. Logo, se Joseph II tivesse ouvido Art Tatum também acharia que ele usava muitas notas. Em excesso.

8 comentários:

Freddy disse...

Caro Carrano
Continuo escutando suas sugestões. Claro que conheço de nome Oscar Peterson, nunca o havia escutado com atenção.

Ouvi "My one and only love" e "You look good to me". Oscar faz um estilo de jazz onde também o baixo se desenvolve criativamente, mas com certeza a harmonia dissonante (os acordes eventuais com a mão esquerda) é o motivo maior de meu afastamento do gênero - além do jeitão de música de restaurante.

Preciso confessar que apesar de pianista não tenho a técnica nem a velocidade do Oscar, mas não entenda o "não gostar" como "inveja por não saber fazer". Arranjos dessa natureza não sairiam de dentro de mim nem se tivesse técnica suficiente.
Quanto aos lampejos de Bach ou Vivaldi são propositais e colocados ao final das peças, não fazem parte das mesmas.

Em "Little Girl Blue" o YouTube mostra também a partitura do Oscar, além de comentários que remontam a Debussy e Chopin, o primeiro pelas dissonâncias na harmonia e o segundo pelos floreios nas frases musicais. Achei a música até bonita, mas não consigo seguir a harmonia, e isso me incomoda. Como antes, dissonâncias demais - ou só dissonâncias.

Mas ao menos tento.
Abraço
Carlos

Freddy disse...

Carrano,
Ouvi Art Tatum em duas versões para "Tea fot Two":
http://www.youtube.com/watch?v=fKb0Sc2lYVU
Definitivamente não gosto desse gênero. Bota nota demais nisso! O estilo influenciou muita gente e centenas de pianistas da noite procuram fazer arranjos (ok, mal feitos) seguindo esse jeitão => horroroso pra quem não gosta, a música some no mar de notas. O comentarista fala que Liszt teria feito arranjo similar. Pode ser, ele adorava alardear sua técnica em detrimento da beleza.

Já o arranjo de 1933:
http://www.youtube.com/watch?v=KxadblDT6zI
é um pouco mais aderente ao original, mas também não me agradou. Puladinho demais, apesar de tecnicamente primoroso - parece que foi apresentado numa competição com outros pianistas e Tatum venceu. É questão de gosto mesmo.

Abraço
Carlos

Freddy disse...

E, para terminar, Carrano, você cita em um parágrafo que vai tentar mostrar a compatibilidade entre o clássico erudito e o clássico popular.

Abre espaço para que eu, num futuro não muito distante, apresente minha versão para as similaridades entre o clássico erudito e o rock progressivo, com ou sem o peso do metal.

<:o) Carlos

Jorge Carrano disse...

Carlos,
Eu mencionei no texto que também acho o Tatum "prolixo". Aliás, fiz um paralelo com o comentário do imperador Joseph II, em relação a uma apresentação de Mozart, quando decretou, talvez influenciado por Salieri:
" It's quality work. And there are simply too many notes, that's all. Just cut a few and it will be perfect."

Quanto a compatibilidade entre o clássico e o erudito, mencionado no post, lembro que era uma ideia antiga, de quando o mesmo foi publicado originariamente. Como não dei sequencia a série sobre jazz, a intenção foi abandonada.

Acho, entretanto, até por ter formação musical, o que não é meu caaso, que você poderia traçar o paralelo.
Abraço

Gusmão disse...

Fui ao blog onde foram publicados estes posts sobre jazz e li alguns comentários. Acho que lá havia uma exposição maior, o blog Primeira Fonte tem mais seguidores e, provavelmente, mais leitores.
Gosto do estilo de falar de preferências e emoções/sentimentos. Acho melhor do que falar de técnica porque somente os iniciados entendem.
Já opinião a agente concorda ou não e ponto.
Abraço
Gusmão

Jorge Carrano disse...

Valeu, Gusmão.
Obrigado
Abraço

Paulo disse...

Carlos, incrível seus comentários ...
Eu apenas diria, como Joseph II : Carlos, cut a few too. It will be better for all.

Abrs e um super fim de semana a todos !

Freddy disse...

Mas eu já cansei de dizer que um de meus maiores defeitos ao escrever é ser prolixo !!!

<:o) Carlos