21 de novembro de 2011

FRIBURRO

 Por
Carlos Frederico M B March



Não, não é erro de digitação. É Friburro mesmo, Friburgo Burro!

Refiro-me à recente prática das blitzes da Lei Seca nessa antes aprazível cidade serrana fluminense, uma ação totalmente intempestiva, tendo em vista os recentes e trágicos acontecimentos dos quais ela vem tentando se recuperar. 

A intenção aqui não é abordar políticas de recuperação da cidade ou prevenção de tragédias. Quero tratar de Lei Seca. É um exagero típico de país sub desenvolvido, com cunho bombástico e popularesco, quando não motivada por radicais religiosos, cuja parcela de participação no governo aumenta assustadoramente.

Não tem muito tempo atrás existia uma lei que preconizava um limite para a ingestão de álcool caso o cidadão fosse dirigir, algo que na prática significava cerca de 2 chopps ou 2 taças de vinho. Lembro ainda que há estudos médicos reconhecendo o benefício à saúde pela ingestão diária dessas duas doses de bebidas alcoólicas, notadamente o vinho tinto.

A nova Lei, dita Seca, zerou os limites. Se um cidadão que tome as tais duas doses for pego dirigindo perde sua carteira por estar "dirigindo embriagado", paga uma elevada multa e se porventura houver bebido mais um pouco pode ser até preso. Excetuando casos de reais excessos, é um rigor e uma humilhação que pode desestruturar a vida de um indivíduo íntegro, honesto e até prejudicar sua família.

Não estou fazendo apologia à bebida alcoólica, até porque reconheço ser uma droga perigosa, cujo abuso pode levar à destruição de personalidades, de famílias, de vidas. Mais perigosa ainda por ser socialmente aceita, ao contrário de maconha, cocaína e outras drogas ditas pesadas. No entanto, 2 doses não mudam praticamente nada. Nem no nosso comportamento social, nem na maneira de dirigir. Tanto assim que a lei anterior, sensata e vigente por décadas, assim permitia.

Qual teria sido o motivador do recrudescimento da lei? Diminuir os acidentes de trânsito, alega-se. Diminuíram? Pontualmente pode ser que sim, mas na média não. E a blitz não pega cocaína, maconha, anfetaminas... Nem desajustados para quem o carro traz uma sensação de poder e superioridade irresponsável, motoristas que podem até ter passado numa prova de habilitação mas que são verdadeiros criminosos no trânsito.

Voltemos a Nova Friburgo, que vem de uma calamidade que até hoje está viva no cotidiano de quem sofreu severas perdas, sejam materiais ou de vidas. Entre outras fraquezas existentes na administração pública, recentemente assunto da mídia por conta de mau uso das verbas encaminhadas ao município para recuperação, cito a incapacidade dos bombeiros de lidar com incêndios florestais. O de outubro de 2007 perdurou por mais de 5 dias e destruiu a vegetação de quase todos os morros do Centro e do Cônego, locais que em janeiro de 2011 foram protagonistas de grandes deslizamentos. Volta e meia os incêndios voltam a assolar as matas da cidade, como agora em setembro próximo passado.


Incêndio florestal em Friburgo, outubro/2007




Incêndio florestal em Friburgo, setembro de 2011



Tudo que se puder fazer para recuperar econômica, social e emocionalmente a cidade é válido. E isso obviamente passa pelo estímulo ao turismo, que em Friburgo tem como uma de suas maiores expressões a gastronomia. Gastronomia de nível sempre vem acompanhada (diz-se harmonizada) com bons vinhos, hoje em dia até com cervejas gourmet. O limite de duas doses é perfeitamente adequado a uma boa refeição.

Entra a Lei seca e a Polícia resolve fazer blitzes. Tenham em mente que Nova Friburgo não tem estrutura alternativa de locomoção adequada: linhas de ônibus insuficientes, táxis cobrando uma fortuna por corridas pequenas e praticamente inexistentes depois de certa hora, nenhum serviço de vans ligando os polos gastronômicos aos bairros ou rodoviárias urbanas...

Isso posto, perguntem aos donos de restaurantes, bistrôs e bares o que aconteceu com a frequência a seus estabelecimentos: uma queda significativa no movimento. A notícia vem rapidamente se espalhando no meio turístico e, aliada aos conhecidos desmandos no uso de recursos para prevenção de novas catástrofes, provocará a exclusão de Nova Friburgo como destino de escolha.

Eu sou da opinião que a Prefeitura e a Polícia de Nova Friburgo deveriam se organizar melhor para coibir os abusos no trânsito sem prejudicar a frágil situação que a cidade vivencia, sendo que esta sim, deveria ser alvo da máxima prioridade nas ações da prefeitura. Aliar o estigma de tragédia iminente à ameaça dos visitantes perderem o direito de dirigir por conta de um único jantar harmonizado é receita certa para relegar a cidade ao mais baixo patamar turístico.

A menos que seja política municipal reduzir Nova Friburgo a uma cidade operária, destinada a atender apenas a sua numerosa mas modesta população periférica, expulsando todos aqueles que viam nessa antes simpática cidade serrana um chamariz para passar umas férias ou até descansar os ossos na aposentadoria, como eu.

13 comentários:

Gusmão disse...

E os desvios das verbas públicas destinadas a recuperação das cidades serranas? E as toneladas de alimentos que apodreceram nos depósitos?
Esse governantes não têm um mínimo de consciência. Se tivessem pesaria muito. Como podem ser felizes as custas da miséria alheia.
Além da falta de sensibilidade e inteligência, conforme diz o Carlos.
Abraço
Gusmão

Jorge Carrano disse...

No tocante a ingestão de bebida, sou particularmente a favor da tolerância zero.
Uma das minhas noras, com dois dedos de vinho, já se sente um pouco tonta; a outra, acompanha o marido na degustação de uma garrafa, sem qualquer alteração de comportamento ou humor.
Cada um tem seu limite de tolerância ao álcool. E varia conforme o dia.
As cidades com vocação turística têm mais é que se organizar e criar condições favoráveis.
Dou como exemplo a cidade de Gramado. Lá, muitos restaurantes recolhem clientes nos hoteis e os levam de volta.
Quanto a conduta criminosa dos governantes que o Gusmão enfocou, é bem feito para os eleitores (geralmente os que são mais prejudicados com a falta de probidade dos eleitos). A classe política, com pouquíssimas e por isso honrosas exceções, é constituida da pior escória humana. Sem caráter, sem escrúpulos, sem ética; formam uma súcia, uma corja, como dizia meu pai.
Os políticos são piores do que os advogados (rsrsrs).
Abraços

Freddy disse...

Friburgo poderia ter um serviço de van, ou shuttle, entre o polo gastronômico de Mury e alguns pontos chave na cidade. Mesmo pago, seria uma alternativa aos inviávei$$ táxi$.

Sobre Gramado, em breve atualizarei informações, pois até onde soube a prefeitura acordou com a polícia não fazer blitzes no perímetro urbano. Quando há, são nas estradas de acesso à cidade.

Abraços
Carlos

Paulo disse...

Não gostei do post. Por que ilustrar matéria da Lei Seca com fotos do condomínio Parcville impactado pelas chuvas de janeiro, onde tenho apartamento, e onde Carlos já vendeu o dele ? Estranho post esse ....
O post mostra um Parcville que não está assim ....tenta jogar a cidade para baixo, em um momento em que o que ela mais precisa é de campanha pelo retorno daqueles que curtem a cidade, suas virtudes resgatadas.
Com MUITO esforço da população local e networking, aos poucos Friburgo volta ao normal ...comércio de langeries efervescente, ótimos restaurantes e bares, com imóveis super valorizados em função do estoque zero da cidade (não se constrói em Friburgo há alguns anos) - inclusive a própria casa do Carlos, que soube estar à venda.
O condomínio Parcville que Carlos mostra devastado não está assim. Está novamente alegre, com toda a infra de jardins reconstruída com belos gramados e jardins bonitos, clube e cantina TODO restaurado, etc, sabiás, bem te vis e beija flores em profusão, revoada de andorinhas no fim da tarde, etc.
As barreiras que caíram dentro do condomínio estão sendo tratadas, e a última notícia é que a Petrobras vai entrar com $$$ para acelerar as obras, tendo em vista que vai arrendar todo o complexo da Fundação e da UERJ no topo do morro adjacente ao condomínio, para laboratório de pesquisas.
Quanto à Lei Seca, cada um TEM QUE SABER o seu limite, conhecer seus riscos, perdas e ganhos seus e de outros.
Se Gramado tem acordo entre Prefeitura e Polícia, é porque certamente nem o prefeito nem o delegado local tiveram mortes na família por atropelamentos de bêbados. É lamentável !!!
E como tem bêbado em Friburgo .....
Nos EUA, país "fake" segundo alguns, o cara que fizer merda bêbado está ferrado para o resto da vida !!!! E o estabelecimento que vendeu a bebida também.
Carlos, tiro no dedão do pé ......cuspindo no prato que come há anos em Friburgo ! Pelo post, começo a achar que está procurando imóvel em Gramado ....

Freddy disse...

Paulo, acho bom você fazer um post elogiando a postura da prefeitura na reconstrução da cidade e relatando a alegria dos habitantes.
As fotos são testemunhos históricos, datados, não se referem à situação atual.
Minha opinião sobre a Lei Seca é essa colocada, única motivação do post. Em Friburgo ou em qualquer lugar do país.
Abraços
Carlos

Paulo disse...

Carlos escolheu Friburgo para comentar as atrocidades que os políticos e administradores estão fazendo em todo o território nacional.O tema escolhido foi a gestão da Lei Sêca, mas poderia ter sido trânsito, policiamento, sinalização, ordem urbana, limpeza, educação, saúde, etc, etc.
Niterói, por exemplo, onde vivemos : a obra do Mergulhão não poderia ser iniciada sem antes uma implementação de "onda livre de tráfego" em toda a região impactada, onde existem inclusive 2 hospitais. Os sinais de trânsito seriam desligados, e substituídos por passarelas, com elevadores para idosos, grávidas e desabilitados, comotem na Av. Pres. Vargas no Rio. Somente depois dessa implementação as obras seriam iniciadas, sem impacto para o fluxo de trânsito oriundo da Ponte. Resultado dessa aberração hoje : o caos, para quem trabalha no Rio.
Friburgo, como qualquer cidade brasileira, sofre do mesmo mal : má administração, brigas políticas, etc, e ainda por cima, quis Deus que fosse a escolhida para receber um tsunami vertical com 4 horas de duração, em janeiro deste ano.E dizem alguns moradores, com estranhas ondas de choque também sentidas durante o evento.
Foi devastador.
Como se levantar e recuperar uma cidade de uma tragédia dessas, sem uma união muito forte entre adversários políticos, entre esferas municipal-estadual-federal ?
Para quem não mora lá, como eu, que vou de 20 em 20 dias, a sensação é de lerdeza nas ações. Quem vive lá tem impressão diferente, tendo em vista sentir na pele, no dia a dia, a enorme dificuldade de obtenção de recursos financeiros e de mão de obra.
Mas está se recuperando bem, está ficando bonitinha de novo, bem cuidada.
Incentivo todos a irem a Friburgo, curtir seu clima, seus ótimos restaurantes e bares e fazer compras. São apenas 120 km de Niterói, ou seja, apenas 1:30h a 1:45h de vg, sem correr.
Carlos como morador e grande consumidor local, poderia também dar dicas da gastronomia local e compras interessantes, bem como de passeios nos arredores.
Quanto a Gramado .... não vale comparar ... é covardia ...
Gramado é uma dessas cidades ( ou uma) brasileiras que deram certo. Pelo menos por enquanto. Nem sinais de trânsito tem ... !
Não vou esquecer meu papo com um empresário local, dono de famoso restaurante, quando ele me disse que, INDEPENDENTE do prefeito/partido eleito, toda a comunidade local segue um plano diretor estabelecido ainda nos anos 80, cujo planejamento de crescimento é compreendido, difundido e respeitado por toda a população local. Plano esse que contempla : trânsito, limpeza, segurança, foco de negócios, educação, saúde, etc.
Quer testar?
Tenta alugar um apartamento em Gramado para ver as exigências.

E quanto à Lei Seca ? ...

Sds e desculpas a Carlos pelo comentário anterior.

Jorge Carrano disse...

Caríssimos Paulo e Carlos,
Vejam que o espaço aqui é retangular, e não octogonal. Logo aqui debatem-se ideias e as opiniões são livres. Nâo é local para UFC (rsrsrs).
O Carlos conhece o irmão muito melhor do que eu, e sabe de sua veemência e contundência.
Os dois gostam muito de Friburgo e as opiniões emitidas, pelos dois, são pertinentes.
Obrigado por debaterem aqui, permitindo-me ficar inteirado de fatos, assim como eventuais visitantes do blog.
Abraços

Jorge Carrano disse...

A pedido do autor, foi excluida do post a foto que mostrava o Condomínio Parcville, depois das fortes chuvas que inundaram a cidade de Friburgo.
A retirada da foto não compromete o foco do post, que é a chamada Lei Seca e sua aplicação.
Esta explicação de faz necessária, para que não imaginem, os que venham a ler os comentários a partir de agora, que alguém enloqueceu ou bebeu demais.

Paulo disse...

Espero sinceramente que surjam os comentários sobre a Lei Seca, foco principal do post inicial do Carlos. O assunto é muito polêmico.
Em Fortaleza, por exemplo, já existe um "mercado" paralelo de profissionais que "vencem" a blitz da Lei Seca, pilotando seu carro por 100 reais a vg. São apenas uns 300 metros a serem vencidos.
Aqui ainda não existe. As alternativas, a criatividade, tem que surgir dos estabelecimentos prejudicados, principalmente, como Carlos menciona em seu post ... vans e taxistas, bancados pelos restaurantes e bares.
O fato é : quem tem .... tem medo .... eu tenho !
Já escapei de uma blitz em Friburgo, em que Papai do Céu nos ajudou .... e também, já tive há alguns anos ( uns 20), a amarga experiência de bater violentamente com o carro por dirigir sem condições ...perda TOTAL do veículo, e graças aos Céus, machucando somente a mim mesmo.
Nunca vou esquecer o que pensei ao sair do restaurante, super mal : estou mal, mas nem que eu vá a 20 km/h até Niterói, eu chego em casa ......
Não fiz a primeira curva ! Acordei no Miguel Couto.

Fica o registro para todos que são contra a Lei Seca. Concordo quando há argumentos fortes do tipo ...nem o padre pode dirigir depois de rezar uma missa ..... vamos pesquisar e aprender com quem já pratica as leis há muito mais tempo que nós.

Sds

Freddy disse...

Terei de voltar ao assunto, apesar de estar escrito nos parágrafos 4 e 5 do texto...

Existia uma lei que punia quem dirigisse com teor alcoólico no sangue acima de algo correspondente a 2 chopps ou 2 taças de vinho. Se ela fosse aplicada, todos os exageros (por exemplo a batida relatada por Paulo) estariam dentro da aplicabilidade da lei.

O QUE EU SOU CONTRA É A LEI SECA. Não tem cabimento limite ZERO.

Será que agora deu pra entender? Voltemos à lei antiga e façamos as blitzes. Perfeito.

Abraço
Carlos

Freddy disse...

Atualização: já tem restaurante na estrada de Mury fechando. No Cônego, testemunhei pessoalmente que a frequência baixou a quase zero. Foi-me afiançado por um dos bons bistrôs que a lei seca provocou uma debandada geral com reflexo substancial nos fins de semana, cujo grande movimento segurava a arrecadação.
Com a palavra, os defensores dessa lei.

Riva disse...

Passeando pelo GE deparei-me com esse polêmico post do Freddy há alguns anos, que gerou principalmente meu questionamento sobre a LEI SECA.

Em 2019 estivemos por 7 dias na maravilhosa TOSCANA, Itália, local com foco total em sua gastronomia e vinhedos, além da beleza arrebatadora da região. Segue abaixo LINK (copiar e colar no seu navegador) sobre como é tratado o assunto na região, infestada de turistas o ano inteiro :

https://www.viajandoparaitalia.com.br/informacoes-uteis/dirigindo-na-italia/posso-beber-e-dirigir-na-italia/#:~:text=No%20entanto%20%C3%A9%20bom%20saber,veja%20tabela%20no%20link%20abaixo).

Na oportunidade, para não correr riscos, meu filho que estava conosco ficou de motorista, quase nada ingerindo de vinhos.





Jorge Carrano disse...


Esse polêmico post do Freddy é redundante. Não o seu conteúdo, mas sua frase.

Seu irmão era polêmico por natureza, salvo em poucas questões.