23 de novembro de 2011

Depressão e angústia

Estou deprimido, angustiado. Pneus arriados e farol baixo. O tempo, que é um placebo natural, espero, tratará de levantar meu astral.

Sem entrar detalhes, diria que conheço a origem de meu abatimento. Não preciso de analista. Ninguém me conhece melhor. Bem, escrever sobre o assunto ajuda no processo de sublimação.

Há um princípio, em administração, chamado “Teoria da Incompetência” criada por Laurence Peter*. A tese é a seguinte: há um nível em que as pessoas atingiram seu limite de eficácia e esgotaram seu potencial de desenvolvimento.

Profissionais competentes são promovidos por suas habilidades para determinadas funções. Porém, à medida que tais habilidades não são as mesmas para outras funções, o profissional torna-se incompetente e chega ao patamar da incompetência.

Esta situação traz muitos prejuízos para a empresa e para o profissional, que pode apresentar alterações físicas e psicológicas e entrar em processo depressivo, pois passa a se dar contar que é “incompetente” para a nova função.

Assim, um bom engenheiro poderia ser guindado a função de supervisor de manutenção e fracassar totalmente pois faltariam alguns predicados indispensáveis para a nova função.


Muita gente atinge seu ponto de incompetência mais cedo.
Lembro de uma caso concreto de um office-boy muito bom, diligente, rápido, responsável, educado, enfim, com desempenho bom. Quando surgiu a vaga de auxiliar de faturamento, cargo melhor remunerado e inicial de carreira,  a Supervisora do setor entendeu que era chegado o momento de dar ao menino uma oportunidade de promoção, salarial e funcional.

Resumo da história, o menino revelou-se um péssimo datilógrafo (na época as notas fiscais ainda eram datilografadas), mesmo depois de treinamento intensivo, ele errava muito, inutilizando muitos jogos (vias) de notas fiscais que não podiam conter emendas e razuras por causa da fiscalização da receita estadual. E atrasava o serviço, acumulando pendências.

Criou-se um impasse, ele não poderia reverter a função de office-boy, porque seria humilhante, sem contar que o salário dele já estava majorado e ficaria acima da faixa estabelecida para os mensageiros. Conclusão: teve de ser demitido. Perdemos um ótimo mensageiro de serviços externos.

Poderia dar outro exemplo de cargo de nível mais elevado na hierárquia, como a de um vendedor, recordista de vendas, que atingia com freqüência as metas e foi um fiasco como Gerente de Vendas, pois não tinha capacidade de liderança, não sabia delegar tarefas e perdeu-se nos meandros administrativos da função.

São incontáveis os casos, até mesmo em multinacionais de presidentes ou CEOs que foram afastados por acionistas insatisfeitos com os resultados da empresa, embora o indicado para o cargo tivesse sido um brilhante diretor finanaceiro ou de marketing ou de produção.

Em resumo, há um estágio, um nível, em que a função, o múnus público, o cargo irá exigir um determinado talento que o candidato que seria naturalmente o indicado não possui: atingiu seu nível de incopetência. Claro está, incompetência para aquela nova função superior. Ou simplesmente diferente da habitual.

Um outro aspecto , ainda no terreno administrativo, de avaliação de desempenho, para efeito de promoção vertical ou horizontal numa empresa, ou meramente para reajuste salarial por mérito, quando algumas qualidades pessoais, conhecimentos, predicados, que o avaliado possui, não são essenciais para o desempenho da função, e frustram expectativas. Estas qualidades não são necessariamante fatores de avaliação para exercicio daquele cargo. Nem sequer um plus.

Vou exemplificar: o jovem economista, lotado no departamento de controladoria, fala javanês e sabe muito sobre apicultura hindu no século XIII, mas que relevância estas experiências ou conhecimentos têm para o cargo de analista que ele ocupa?

O próprio nível de QI, muito elevado, no desvio padrão, poderá contraindicar alguém para um determinado cargo, se estivermos tratando, por exemplo, de tarefas repetitivas.

Bem a minha angústia está relacionada com o fato de ver alguém com ótima qualificação para algumas profissões ou atividades sociais (vocação, talento, jeito, etc) e uma total incapacidade para realizar tarefas mais simples ou que exigem menores conhecimentos . Por não possuir o perfil adequado. As características a que me refiro não são físicas, mas se fossem, diria que faltaria o physique du rôle.
Esta pessoa  não usa o sistema de auto-censura, e aceita, ou se dispõe, ou até pior, se oferece para assumir responsabiliadades para as quais não é talhada, inobstante a inteligência, a cultura geral e a boa vontade.

E não posso, sem milindrar ou magoar a própria pessoa, e outras que estão ao seu redor, e que também estimo, dizer com todas as letras, fria e cruamente: você é incompetente para este mister. Não tem nem cacoete.

Estou cansado e sem paciência para agir como no passado, quando eu ficava de plantão, dando cobertura ou até assumindo encargos no sentido de coloaborar. Não dá mais.

Esta é a origem de minha angústia, não poder ferir com a verdade. Insinuações, alusões e indiretas não produziram o efeito esperado. Mas vai passar, como diria o Chico Burque.




*Teoria da Incompetência de Laurence Peter, que afirma: “todo mundo é um incompetente em potencial”. 
Laurence Peter




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Laurence Johnston Peter  foi um educador, que se tornou mundialmente conhecido por ter criado o "Princípio de Peter". Esse princípio dizia que "Numa hierarquia todo empregado tende a subir ao seu nível de incompetência".

Eu estendo esta tese a todas as áreas da atividade humana. Incompetência para ser pai ou mãe; incompetência para dirigir automóvel, para ser síndico ou advogado, mesmo tendo sido brilhante acadêmico, nos bancos universitários.

6 comentários:

Gusmão disse...

Não entendi nada.
O sintoma é de catarse.
Abraço
Gusmão

Paulo disse...

Quando comecei a ler o post, pensei que o foco era sua própria incompetência. Mas ao final percebi que não; que sua angústia é não conseguir abrir os olhos de alguém para sua capacidade e qualificação.
E aí entra o tal do "mentoring", "coaching", processos com profissionais capacitados (será ? rsrs)a direcionar/nortear a trajetória de uma pessoa em qualquer atividade, profissional ou não.
A construção civil foi uma escola maravilhosa para mim. 18 anos dentro de um canteiro de obras, vivenciando, errando e aprendendo sobre o ser humano (com características de carência enormes), sobre administração de empresas e todos os seus processos, e claro também os próprios processos que uma construção envolve.
Não vejo outra forma de enfrentar essa questão, que não passe por um processo profundo de alinhamento envolvendo as 2 partes : pessoas e função/atividade/projeto ...whatever (como dizem os americanos).E isso custa tempo e $$. Há que se avaliar todo o custo e benefício da questão, o que envolve, impactos, etc.
Engraçado, quando comecei a ler o post, e pensando se tratar de uma coisa pessoal, tipo, " EU sou incompetente", logo logo me vi debatendo 2 assuntos que volta e meia retornam à minha pauta :
1)ser generalista ou especialista ? Qual deve ser o foco da nossa formação, como orientar nossos filhos sobre isso ?
2)emburrecer é preciso ! .... explico : usei o expertise de um grande profissional de RH, que trabalhou 20 anos na Souza Cruz (e nunca fumou um cigarro ...rsrs).Após algumas seções de trabalho com ele, debatendo minha frustração devido às dificuldades para "vender" idéias e projetos profissionais da época, ele me afirmou : PAULO, vc precisa emburrecer um pouco, para ser mais feliz, para melhorar sensivelmente seu interpessoal no meio em que vive, para avançar numa velocidade natural.Emburrecendo um pouco, vc desce alguns degraus e se alinha mais perfeitamente às empresas/departamentos/pessoas que convivem com vc no dia a dia da construção civil.Eles estão te vendo como um ET, com idéias loucas, revolucionárias demais para a cabeça deles, atropelando paradigmas. Eles preferem um porto seguro. E vc é um ponto fora da curva.
E aí, voltando ao post inicial : qual é o porto seguro das 2 partes ? qual o melhor caminho para ambas lá chegarem, ao mesmo tempo, juntas ? que competências (pessoais,profissionais) são necessárias nessa trajetória ? são possíveis ? em que prazo ? esse prazo atende o"projeto" ?

.... adoro esse assunto .... rsrs ... que inclusive tem MUITO a ver com o post do Carlos entitulado FRIburro.

Sds TRIcolores

Jorge Carrano disse...

Pois é, sempre reprimi meus impulsos, sempre me violentei, para não ferir as pessoas que amo. Foi assim com os pais e com os filhos. E com irmãs. Nunca feri sentimentos ou a alma. Pelo menos de forma consciente.
Sempre procurei usar mais diplomacia e menos contencioso ou arbítrio.
O acúmulo de preocupações, decepções e desenganos levou-me a um nível de estresse muito severo. Com consequências.
Não dá mais. Agora preciso ser ajudado, paparicado, aliviado de fardos.

Freddy disse...

Costuma-se dizer em psicologia: "preciso de colo".

Eu, como o Gusmão, não entendi nada, mas percebo bastante. É porque me sinto assim também. O tempo ajuda, mas botar pra fora ajuda mais ainda até porque tempo é uma commoditie escassa pra nós. No meu caso, já passei por 5 análises com 3 profissionais (botei pra fora pagando). Já decorei tudo, mas não adianta, é recorrente (e genético segundo uma das avaliações).

Esperamos que passe logo, e se o debate intenso ajudar, estamos na área!
Abraço
Carlos

Jorge Carrano disse...

Bem amigos (Galvão Bueno, argh!)
Acho que dei uma dimensão muito exagerada ao problema, ou passei a impressão errada, por incompetência (rsrsrs) redacional.
O caso é simples. Pessoa a quem estimo muito, assumiu um encargo para o qual não está habilitada. Trata-se de pessoa culta e inteligente , com ideias próprias (claro).
Já insunuei minha opinião e não resolveu. Para alinhar as inúmeras razões sobre meu diagnóstico, eventualmente irei ferir.
Para dar uma ideia, pensem no seguinte: um decorador de interiores é capaz de fazer um belo projeto para um dormitório, com ocupação inteligente de espaço, pensar na iluminação e ventilação e harmonizar cores. Mas não sabe o básico, o simples, o banal: fazer a cama, com lençol bem esticado.
Deu para entender? No caso, o encargo exige outros talentos.
Abraços a todos e obrigado por aceitarem discutir o caso.

Paulo disse...

Infelizmente grande parte dos nossos erros são devidos à nossa incapacidade de auto análise, de não saber buscar ajuda (por não entender o que está acontecendo conosco, por falta de humildade, por receio de consequências, etc).E também ao fato de termos tido maus professores. É uma baita responsabilidade repassar ensinamentos. Individualmente o nível de assertividade é grande, mas coletivamente é muito complicado.
Arquitetos fazem belos projetos, mas não têm a menor idéia de quanto custa manter suas criações ... eu que o diga ! Trabalho com isso há 16 anos. O resultado costuma ser desastroso.
Nossa vida é feita de escolhas, que geram ganhos e perdas para o nosso entorno - família, amigos, trabalho, comunidade ...
Meu DNA é complicado ...rsrs. Vai para a direita, estou mandando!!..ferrou, com certeza irei para a esquerda.
Lá vou eu de novo, Carlos : vc vai ser médico ! Seu irmão já escolheu ser engenheiro .... minha mãe bradou certo dia. ! ...estudei Engenharia...rs.
Mas acho que a mais forte de todas as minhas escolhas foi terminar um namoro de 4 anos, complicado, logisticamente também muito complicado, com mil interferências de familiares. Eu era muito jovem, tinha 17 anos, e não sei como tive coragem de tomar aquela decisão, fortíssima pelo cenário que existia, contra a vontade de tanta gente, de tantos amigos e amigas.
Só enxergavam perdas ; ganho zero !
Resultado : minha vida (meio louca)se ajeitou com essa decisão, tomou um rumo que até então inexistia, conheci a Isa ; temos tido uma vida maravilhosa juntos há 41 anos, com 3 filhos maravilhosos. Inimaginável um desfecho desse, para quem analisou minha atitude na época - passei por uma longa fase braba de rejeição por parte de muitos que não concordaram com o rompimento do namoro.
Fui egoísta ? Sim, para a maioria. Mas até hoje sigo um lema básico : PRIMEIRO EU tenho que estar bem, para poder fazer BEM a outro.Fujo, me afasto (hoje isso está mais forte ainda)de qualquer situação/pessoas que me causem mal estar.
Já abandonei 3 bons empregos (o último há poucos meses) por começar a fazer mal à minha saúde, e consequentemente àqueles com quem me relaciono, pois preciso estar bem para ficar bem com todos.