12 de novembro de 2011

Aviões Comerciais: evolução no design

Por
Carlos Frederico M B March

Eu sempre gostei de aviões. De vê-los, que fique bem claro, só entro neles por absoluta necessidade. Sejam de guerra, comerciais, de transporte, sempre me deliciei em observar-lhes as belas formas.

Posso até admitir que fui um adepto, ao final da infância e início da adolescência, de passeios ao então Aeroporto do Galeão. Lembro-me que os cariocas dizem que os paulistas adoram "tomar cafezinho no aeroporto", mas eu também gostava de passear lá só para admirar bem de perto os aviões que ali pousavam. A família aproveitava e almoçava num bom restaurante que ficava perto da entrada de passageiros. Tempos idos, tipo 1960...

Havia uma rota aérea de que passava quase em cima de minha casa, situada no Pé Pequeno / Santa Rosa / Niterói e eu afirmava conseguir identificar os modelos pelo ruído das turbinas ou hélices. É, é verdade! Raramente errava. Não era tão difícil assim, os aviões que faziam rotas internacionais via Rio eram poucos e, quando semelhantes em forma, havia algumas pequenas diferenças físicas que me ajudavam a diferenciá-los.

Boeing 720-B

Boeing 707











Por exemplo, comparando quadrijatos, o Boeing 720B era semelhante ao Boeing 707, mas era menor e equipado com turbinas que assobiavam de uma maneira que só um surdo não o identificaria! Os Convair CV-880 e CV-990A se diferenciavam dos Boeing pelo formato do nariz, que os fabricantes gostam de usar como "identidade", pelo estabilizador meio "puxado" pra trás, além do fato dos referidos Boeing terem um espeto na ponta do leme.

Convair CV-990A

Convair CV-880 Lisa Marie (Elvis Presley)

Não bastasse, o 990A se destacava dos demais quadrijatos pelas grandes protuberâncias no bordo de fuga das asas, colocadas para melhorar o arrasto aerodinâmico. Como curiosidade, um dos mais bem conservados exemplares de Convair CV-880 hoje existentes foi propriedade de Elvis Presley e ganhou o nome Lisa Marie (sua irmã), estando exposto em seu memorial em Graceland.

No entanto, a motivação desse post é que meu inocente hobby - apreciação da beleza dos aviões comerciais - começou, lentamente, a se tornar monótono. Observando-se a evolução do design com o uso de computadores e simuladores, vai-se verificar que chegou a um ponto mais ou menos uniforme e que nenhum fabricante ousa modificar, a não ser em pequenos detalhes.

Nos primórdios, a coisa era decidida pelos engenheiros aeronáutico, "na munheca", e muitos fiascos aconteceram, para não falar de acidentes fatais, à medida que o design evoluía. Sempre na modalidade aprendizado via tentativa e erro, numa evolução gradual e que permitia experimentações diversas.

Consolidated PBY-5A - Catalina

Douglas DC-3
O hidroavião foi uma solução motivada pela inexistência de boas pistas de pouso. Ao final da 2ª Grande Guerra foi abandonada, apesar de que os veneráveis Consolidated PBY-5 Catalina e outros hidroaviões chegaram a ser usados pela Panair do Brasil na década de 40 e mantidos operacionais na Amazônia até meados de 70 como correio aerofluvial. O Douglas DC-3 foi um dos maiores sucessos comerciais da primeira metade do século e ainda se manteve em uso até os anos 70 em versões comerciais e militares (C-47 da FAB, por exemplo).

Lockheed L-188 Electra II


Lockheed L-1049 Constellation











O pós-guerra trouxe outras soluções aerodinâmicas. O Lockheed L-1049 Constellation é considerado, até hoje, como o mais belo projeto aeronáutico da história da aviação comercial a pistão, tendo sido operado, assim como o DC-3, pela Panair do Brasil. Inovações nos motores introduziram o turbo-hélice, mais eficiente, e o mais conhecido dos brasileiros foi o Lockheed L-188 Electra II, operado pela VARIG na Ponte Aérea Rio-São Paulo. Seus defeitos de projeto foram sanados a partir de análise de acidentes fatais, provocados por vibração excessiva dos motores que causavam stress nas asas.

A era dos jatos comerciais começou com o De Havilland Comet 1, cujas tragédias ajudaram a escrever os manuais posteriores de construção de jatos de passageiros. A mais importante descoberta foi que janelas quadradas trincavam sob condições extremas de pressão, de sorte que hoje todas têm cantos arredondados. Muitos Comet 4 da B.O.A.C. - versão final do modelo - passaram sobre minha casa em Niterói. Eram facílimos de identificar, pois tinham 4 turbinas incrustadas dentro das asas - solução muito valorizada por fabricantes do Reino Unido - e seu estabilizador e leme eram os convencionais da aviação a hélice.

De Havilland Comet 4

Douglas DC-8














O primeiro jato comercial bem sucedido foi o Boeing 707 (foto no início do texto), tornando-se também o marco inicial de crescimento dessa empresa que hoje é uma das maiores fabricantes do mundo. Seu desenho de 4 turbinas penduradas nas asas enflechadas marcou o mercado aeronáutico. Seu maior concorrente direto na época foi o também americano Douglas DC-8.

Diversos desenhos continuaram a ser tentados pelos engenheiros. Uma alternativa que se tornou muito comum no projeto de aeronaves de menor porte foi o uso de duas turbinas na traseira, com o estabilizador no alto do leme. Penso que o precursor teria sido o francês Sud Aviation SE-210 Caravelle, que inaugurou o uso de jatos no país, nas asas da Panair do Brasil. Seguiram-se diversos outros modelos, como o inglês BAC One-Eleven (operado aqui pela extinta Transbrasil).

Sud Aviation SE210
Caravelle BAC One-Eleven














Exemplares mais recentes deste tipo de design revelam o conhecido holandês Fokker F-100, que foi um ícone da TAM até acidentes forçarem sua retirada das rotas principais, e o nosso Embraer ERJ-145. Este sofre de preconceito em nossa própria terra, sendo bem vendido no exterior. Sua versão para uso militar e de rastreamento é usada no SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia).


Fokker F-100
Embraer ERJ-145 para o SIVAM














Para aviões um pouco maiores, que necessitavam de mais potência, acrescentou-se uma turbina na cauda e tivemos alguns designs dignos de nota, como o bem sucedido Boeing 727. Uma exceção no mercado mundial foi o inglês Vickers VC-10, que adotou turbinas geminadas atrás. Tripulação e usuários reportam grande conforto em termos de ruído interno, por conta disso.


Boeing 727
Vickers VC-10














Então se chegou ao design derivado de quadrijatos convencionais, mas com apenas 2 motores sob as asas. O modelo precursor foi construído por um consórcio europeu com o objetivo de produzir um avião de grande capacidade de passageiros e baixíssimo custo operacional: um "ônibus aéreo". O A300 foi lançado e o nome AirBus passou a denominar o consórcio. Estava inaugurada a era dos aviões de cabine larga (wide-body). Não demorou a Boeing respondeu com o 767, de design praticamente idêntico e que se tornou mais um dos grandes sucessos de vendas da companhia americana. Nota histórica relevante: Osama Bin Laden os usou contra as Torres Gêmeas no atentado de 11 de setembro de 2001.


AirBus A300
Boeing 767













Antes que a mesmice se instalasse nos novos projetos, ainda se produziu alguns modelos cujas características visuais chamaram nossa atenção, curiosamente derivados da ideia acima. Para aumentar a potência desses enormes "wide-body", em vez de colocar mais 2 turbinas nas asas, optou-se por uma 3ª no leme. Tivemos o Lockheed L-1011 Tristar, com poucas vendas, e o bem sucedido Douglas DC-10, mais tarde modernizado pela McDonnell Douglas através do MD-11, virtualmente idêntico visualmente.

Lockheed _1011 Tristar
McDonnell Douglas DC-10













Em termos de desenho diferenciado, a década de 70 ainda nos rendeu dois exemplares notáveis, sendo que um deles perdura até hoje e ainda resiste através de remodelagem recente: o gigantesco Boeing 747, o famoso Jumbo, usado pela maioria das grandes companhias aéreas do planeta. O ápice em design, no entanto, fica com o anglo-francês Concorde, o mais rápido jato comercial de todos os tempos. Infelizmente questões ambientais (ruído excessivo), alto custo operacional e por fim uma tragédia transmitida ao mundo todo determinaram seu abandono.
Boeing 747

Concorde














O tempo passou, os computadores assumiram o controle e provaram que o modelo de 2 turbinas sob asas enflechadas se mostrou a solução mais razoável de todas, de sorte que agora temos uma miríade de modelos essencialmente iguais. Diferenciá-los se tornou quase uma arte e eu arrisco dizer que uma ida ao aeroporto hoje para apreciar os aviões já não tem a mesma graça de antes!


Boeing 737-400

Boeing 757



 

        








Boeing 777
AirBus 321













AirBus A330-200


Embraer EMB-195


      











O futuro chegando em breve, com materiais compostos e totalmente computadorizados :


AirBus A350 XWB


Boeing 787 Dreamliner










Os maiores do mundo, o futuro do presente já no ar:


Boeing 747-8



AirBus A380











Fotos tiradas da Internet, via Google.

3 comentários:

Helga Maria disse...

O design pode ter evoluido, mas o conforto interno tem piorado muito.
Sem falar no serviço de bordo - catering - que anda cada vez pior.
Já viajei em algumas destas aeronaves.
Helga

Gusmão disse...

Lamento não ter viajado no Concorde. Nâo tive oportunidade. Achava a aterrissagem dele muito bacana.
Na ponte aérea faz falta o Electra com seu lounge no fundo.
Abraço
Bom final de semana
Gusmão

Paulo disse...

Muita coisa melhorou, principalmente devido às informações preciosas dos diversos acidentes aéreos, à custa de muitas vidas. Tenho vários e vários livros com dados e mais dados das investigações realizadas.
Para todos que conheceram os sistemas de embarque de 30 anos atrás, hoje é um inferno com os fingers, embarques e desembarques pela porta dianteira. Como era gostoso andar até a aeronave, apreciá-la em detalhes ... em alguns poucos aeroportos ainda é assim.
E após o 11 de setembro, nem dá para comentar .... é o caos.
Mas o queria pontuar mesmo é que sou um privilegiado, pois viajo com uma certa frequência, conheço aeroportos em várias cidades do Brasil e fora do Brasil, e o nosso Galeão é uma VERGONHA, uma lástima ... grosseiramente falando, e como diria o Magri, os banheiros são "incagáveis" !!!
Bares com mau cheiro, mau atendimento, escadas rolantes sujas, pisos sujos, tetos com vazamentos, uma coisa HORROROSA.
Estacionamento ? Aquilo é brincadeira ... vagas insuficientes, mal iluminado, sem segurança, sujos.
E muito grave também é termos conhecimento (os mais bem informados) que não adianta somente a reforma interna. Falta-nos pistas, torres, pessoal qualificado para atender a atual e a futura demanda ....
Vc acredita que isso vai acontecer ? Ou quando ficar pronto, a demanda já é inviável novamente ?
Falam muito em Copa do Mundo, como referência. A Copa dura 30 dias .... e nós, aqui, como ficamos no nosso dia a dia ?

Um adendo : os malditos F100 da falecida Fokker ainda voam aqui no Brasil, disfarçados de modelo MK 28 .... pela Avianca (que não é mais colombiana ; é 100% nacional) !
Sds