Há anos numa conversa com Ricardo, meu filho mais novo, disse que precisava de não mais do que 10 CDs, porque quando tinha vontade e/ou tempo para ouvir música, ouvia sempre os mesmos e, lógico, os que mais gostava.
E nesse caso não há a dúvida do biscoito: “vende mais porque está sempre fresquinho ou está sempre fresquinho porque vende mais”.
Ouço mais porque gosto mais, simples assim.
Quem consegue tempo para ouvir 10 horas de música por dia? E ouve todo dia? Só se viver disto, como os produtores musicais, arranjadores, DJs, esse povo.
Minha dificuldade talvez fosse decidir quais os 10 CDs deveria possuir e tê-los sempre à mão, porque tenho mais de 10 que são muito bons, para meu gosto musical. E cadê coragem para me desfazer dos excedentes?
Para encerrar a participação do Ricardo neste post, e não parecer gratuita a entrada dele na história, informo que ele fez uma ironia, e encerrou o assunto com um duvi-de-ó-dó.
Passados já alguns anos, não mudei de opinião quanto ao fato de que poderia viver muito bem com 10 CDs, porque, com efeito, não ouço mais do que 10 por ano. Deixando claro, não ouço mais de 10 diferentes, ouço muito mais de 10 ao longo de um ano, mas os mesmos de sempre. Repito alguns ad nauseam.
Mas dou a mão a palmatória de que não me contentaria em possuir apenas 10. Simplemente porque os 10 preferidos mudariam de um tempo para outro, de uma fase para outra, de um momento para outro.
Sem contar as recaídas. Recentemente fui a exposição do Miles Davis, no Centro Cultural Banco do Brasil. Não resisti e acabei comprando o CD com “Porgy and Bess”, embora já possuísse dois álbuns com esta opereta completa: do Louis Armstrong com a Ella Fitzgerald e Ray Charles com Cleo Laine. A versão do Armstrong com a Ella é sensacional, mas a do Ray Charles com a Cleo é imperdível.
Enquanto voltávamos para casa, meu filho Jorge, com quem fui à exposição, colocou o CD para ouvirmos. Não me encheu os ouvidos, não me arrepiou. O Jorge comentou, dá outra chance e ouve de novo em casa.
Não seria verdade dizer que hoje este CD estaria entre meus 10 preferidos, mas certamente me agrada ouvi-lo de olhos cerrados, bem relax, deixando a música penetrar pelos meus poros, entrar na corrente sanguínea e me anestesiar.
Para quem não gosta de jazz (nenhuma indireta, viu Carlos Frederico), recomendo PORGY AND BESS, ópera em 3 atos ( music by George Gershwin, libretto by DuBose Heyward, and lyrics by Ira Gershwin and DuBose), gravação de 1997, com a London Philharmonic Orchestra e The Glyndenbourne Chorus, regidos por Sir Simon Rattle .
Entre as dezenas de interpretações de "Summertime", parte integrante de "Porgy anda Bess", como a de Janis Joplin, muito apreciada, entendo que a de Ella Ftzgerald é imbatível. Ouçam em: http://www.youtube.com/watch?v=MIDOEsQL7lA
Entre as dezenas de interpretações de "Summertime", parte integrante de "Porgy anda Bess", como a de Janis Joplin, muito apreciada, entendo que a de Ella Ftzgerald é imbatível. Ouçam em: http://www.youtube.com/watch?v=MIDOEsQL7lA
11 comentários:
Há alguns anos, quase 20 provavelmente, comprei, numa loja de discos na Rua São José, no Centro do Rio de Jsneiro, o CD cuja capa ilustra o post, da Porgy and Bess, com Armstrong e Ella Fitzgerald.
Ao ser informado sobre o preço, achei um pouco caro e regateei; o vendedor, um coroa muito conhecido nos meios jazzifilos (falecido), respondeu-me simplesmente "obra de arte não tem preço".
Sabe que ele estava com a razão? Comprei uma obra de arte: pela composição misical, pelos arranjos, pela orquestração, pelo trumpete do Armstrong, pela voz maravilhosa da Ella Fitzgerald.
Excelente.
Abraço
Gusmão
Caro Carrano, comentar sobre Porgy and Bess pra mim não dá, não me encantou o que dela ouvi no passado, em trechos orquestrados. Nem Summertime, mesmo com Janis.
No entanto dissertar sobre 10 discos que ouviria ad nauseam renderia até um post inteiro! Sim, porque vou ampliar o desafio: você assistiria um filme ou um concerto em DVD vezes sem conta, a ponto de dizer que poderia ter apenas 10 em sua prateleira? Incluiria livros nesse desafio? Leria um romance 4, 5 vezes, pelo deleite de reviver a trama ou encontrar detalhes escondidos em linhas antes esquecidas?
Abraço
Carlos
A propósito de meu comentário anterior, revelo que já assisti a série Duna para TV (ficção científica, 2 DVD, 9 horas) pelo menos 6 vezes, e concertos do Nightwish, Riverdance, Sarah Brightman, Celtic Woman a ponto do pessoal em casa ficar irritado! Já li "Amor sem Limites" do Robert A. Heinlein (ficção científica) 4 vezes e a série Angélica, a Marquesa dos Anjos (14 volumes, mais de 7.000 páginas) 2 vezes e já estou seco para recomeçar!
Em tempo, concordo com sua assertiva de que os 10 mais variam com o passar do tempo, ao sabor de nossas experiências e amadurecimento.
Abraço
Carlos
Prezado Carlos Frederico,
Já escrevi neste blog sobre o livro "O Pequeno Principe", do Antoine de Saint-Exupry.
Lembro de haver comentado que além de ser o livro predileto da misses (lembra?), em meus tempos de liceísta era culturalmente admirado aquele que dissesse que lera duas vezes a obra, por causa das entrelinhas que tinham muito conteúdo.
Pois bem, agora aos 71 anos, peguei o livro (recenteemente), com minha neta para reler e ver até que ponto o passar do tempo mudara alguma coisa em minha compreensão.
Vejamos alguns pontos: no diálogo com a raposa, dois comentários em sequência são muito interessantes e pertinentes. Afirma a raposa, "só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos." E mais adiante, outra vez pela boca da esperta raposa, diz Saint-Exupéry: " tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Mas a obra não se limita a estas frases que encerram filosofia de vida. No planeta habitado pelo rei que não tolera desobediência, por exemplo, o rei dá uma enorme lição ao principe, quando este pede um por de sol, naquele momento. Embora fosse um monarca absoluto, só dava ordens razoáveis. Como aquele não era o horário em que o sol se punha normalmente, comentou o rei: "Se eu ordenasse que um general se transformasse em gaivota e o general não me obedecesse, a culpa seria minha e não do general". E com a concordância do principe, arremata: "É preciso exigir de cada um, o que cada um pode dar". E, ainda, "a autoridade repousa sobre a razão".
Como se pode ver, Carlos, pelo menos para mim, é leitura para mais de uma vez, porque quem sabe com a repetição de alguns ensinamentos a gente vá mudando o procedimento.
Poderia citar outros (não muitos) livros que li mais de uma avez, mas como se pode notar o comentário virou om post.
Abraço
No meu caso, Carlos, a predileção varia muito em função do estado de espírito em cada afase da vida.
Abraço
Só para esclarecer porque resolvi reler "O Pequeno Principe", e deixar claro que não me deu na veneta.
É que me surpreendi, quando escrevi o tal post, com o fato do livro, tantos anos e tantas gerações passadas, fugurar na lista dos 10 mais vendidos.
E ainda está.
Abraço
A expressão "duvi-de-o-dó" não faz parte do meu vocabulário. Isso dito eu realmente duvido. E tenho razão, "quod erat demonstrandum" (já que isso é blog de advogado).
Aceito os outros 190 da sua coleção. E quando você descartar algum dos top 10, também pode me dar. ;-)
Gente, não entendi nada!
O blog começou sobre se uma pessoa poderia separar 10 CDs e descartar o resto. Termina apresentando o que seria um deles (P & B)- cereja no bolo.
Eu me lembrei de polêmica caseira antiga, sobre que uma pessoa ouve diversas vezes uma música mas não vê várias vezes um filme muito menos lê várias vezes um romance. Daí estendi a questão CDs (do blog) a DVDs e livros e ganhei um post de presente nos comentários, justificando leitura repetida do Pequeno Príncipe.
Alguém poderia colocar ordem na casa? Estamos cada um falando uma língua, ao que me parece!
rs rs rs
<:o) Carlos
Prezado Carlos,
Tem certeza de que você está no blog certo? (rsrsrs)
Quem falou em cereja no bolo?
Antes pelo contrário falei de minha dúvida entre a versão do Armstrong e a do Ray Charles, pois ambas são imperdíveis.E fiz uma provocação, sugerindo uma versão orquestrada para você.
E, quanto a leitura de um mesmo livro mais de uma vez, foi você que colocou a questão no debate.
A casa está em órdem, estamos falando das mesmas coisas, falta talvez um pouco de atenção as palavras.
Mas que bom esquentou o debate de ideias.
Abraço
OK, vamos baixar a bola, como Didi.
Ouvi a versão do link. Muito bonita, principalmente pelo contraste entre Ella e Louis. Não deve haver versão mais bonita que essa.
Curioso, mas é um precursor do estilo "bela e fera" que permeia o heavy gótico: rosnados e vozes angelicais. Ou não é?? rs rs
Abraços
Carlos
Sobre colocar um disco, fechar os olhos (ou ficar num quarto escuro) e deixá-la entranhar é procedimento de curtidor de som dos anos 70. Muitos só conseguiam depois de um baseado, mas eu consigo até hohe careta (gíria jurássica), admitindo que uma ou duas cervejas ajudam.
O "vestibular de curtidor de som" era a música Echoes, do disco Meddle do Pink Floyd, que nos levava a uma viagem de 23 minutos ao espaço sideral e ao final nos trazia de volta à Terra.
O mais difícil hoje em dia, no entanto, é conseguir o tempo necessário para realizar essa "viagem" concentrado. Num mundo onde as notícias chegam a cada minuto e as informações de horas atrás já são passado, ouvir uma ópera inteira pode parecer uma eternidade.
Abraços
Carlos
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