Sim, Bill é um cão manto negro, de berço bom, em Niterói, e criado em São José de Imabassaí.
Chegou lá em casa, quando o comprei (seria melhor dizer adotei?) pesando cerca de 6,200Kg, e na idade adulta chegou aos quase 40 Kg, medindo, da cernelha ao chão, 62 cm.
aos 2 meses |
Já contei sobre nosso relacionamento inicial. Tivemos um atrito. Nada de muita importância. Depois fomos de um companheirismo a toda prova.
Bill teve toda a assistência necessária, com acompanhamento veterinário periódico, boa alimentação e exercícios físicos que permitiram um crescimento saudável. Ficou grande, forte e resistente.
aos 7 meses |
Acostumei-o à ração seca, que aceitava bem, mas vez ou outra ele comia ovo cozido e fígado bovino cozido com pouquinho sal.
Um domingo ou outro, principalmente quando nós saíamos e ele ficava só em casa, servíamos um bom osso, também cozido, no qual sempre existia um resquício de carne. Digamos que era mal desossado.
Sobrava um canudo ressacado e polido. Somente a parte externa do osso, bem lambida e ruída sobrava para contar a história.
Nunca foi adestrado profissionalmente. Até pensei nisso e cheguei a chamar um dono de canil, com reputação de bom treinador. Ele atendeu meu chamado, esteve lá em casa, examinou o Bill, postura, atitude, nível de atenção e foi só elogios. Mas não disse nada que eu já não soubesse. Tratava-se de um animal especial.
Não o contratei porque o preço pedido foi muito alto. Com o valor que ele queria cobrar, eu poderia mandar o Bill para Oxford, onde se graduaria e, mais tarde, poderia fazer um doutorado em Yale ou Harvard (teria que pesquisar a mais indicada para um doutorado canino).
Também não me dispus a ensinar-lhe, eu mesmo, gracinhas. Coisas como deita, finge de morto, fica em pé nas patas traseiras e finge ser bailarina, nem pensar.
Mas eu o exercitava quase todos os dias. Desenvolveu massa muscular (tinha pouquíssima gordura corporal) e reflexos impressionantes. Além de velocidade.
O exercício era simples e sempre com auxílio de uma bolinha tipo de tênis.
Eu arremessava a bolinha, rasteira, com alguma força o que fazia com que ela atingisse uma razoável velocidade, pra que o Bill a perseguisse e tentasse alcançá-la antes que ela batesse no muro que ficava distante. Quando ele não conseguia pega-la, obviamente a bola batia no muro e voltava contra ele que ia em disparada no objetivo de alcançá-la. E neste retorno da bola, ele sempre era ágil e a pegava com a bocarra.
Algumas vezes eu jogava a bola com menos força e, com menos velocidade, ele a pegava antes de bater no muro. Quando isso ocorria, chegava a deslizar no chão de terra com a bola na boca, tal o ímpeto com que atirava à tarefa.
Abro parêntese para contar que, este desgaste das unhas, nas corridas, seja na terra seja no cimento, evitava que eu precisasse cortar-lhe as unhas periodicamente.
Alternava estes arremessos com a bola rente ao chão, jogando-a para o alto. Bem alto, de sorte que era muito difícil para ele pega-la com a boca na queda. Então, quando a bola chegava ao chão, quicava e voltava a subir. Neste momento ou ele a pegava no alto, saltando, quando ela ainda subia, ou na segunda queda fatalmente a pegava na boca.
Ele adorava estas brincadeiras. Quando eu pegava a bola, que guardava sobre o teto do canil, ele já ficava de olhos vivos, fixos na bolinha, aguardando o início do exercício. O rabo balançando e caminhando, com o pescoço virado para trás, acompanhando meus passos, até o local onde brincávamos.
Nunca consegui que me devolvesse, entregando em minhas mãos.
O que fazia era caminhar em minha direção e, a certa distância, cerca de um metro, a soltava no chão e ficava me olhando, até que eu me adiantasse e pegasse para novamente arremessar.
Aprendeu a andar junto ao meu corpo, quando conduzido pela guia e com coleira. E obedecia ao comando de sentar. Coisas que aprendeu naturalmente, sem aulas a isso destinadas. Era observador atento e extremamente inteligente.
Uma curiosidade, notada até por amigo que me visitou certa feita, e que depois passei a observar, é que se havia alguém estranho lá em casa, ele não representava nenhuma ameaça se eu estivesse por perto. Ele ficava era olhando para mim o tempo todo, acho que para ver minhas reações. Imagino que ao menor sinal de desagrado meu, ele reagiria agressivamente de imediato.
Ciumento como ele só, era um perigo me abraçar.
O instinto de cão de guarda, aquela coisa que é genética, atávica, se manifestou logo e de maneira surpreendente. Acho que contei sobre o caseiro que mantive por algum tempo. Pois muito bem, quando o Bill chegou lá em casa era pequenino, estava com dois meses e meio, e o Souza (caseiro) já estava lá. Logo, acompanhou a crescimento do Bill, que por sua vez acostumou-se com a presença do Souza no terreno.
Ocorre que, depois de mais crescido um pouco, o Bill não permitia que o Souza pegasse ferramentas ou seus instrumentos de trabalho, tipo enxada, ancinho, etc. sem que eu estivesse perto.
Isto foi inesperado para mim, e acho que para o Souza mais ainda.
O certo é que um dia o Bill começou a latir incessantemente e o Souza a pedir calma. O caseiro tinha em mãos a enxada que pegara no fundo da garagem onde eram guardados estes apetrechos rurais. E não conseguia sair da garagem pois o Bill latia e o cercava.
E foi assim que o Souza aprendeu que não deveria se arriscar a pegar qualquer coisa lá em casa sem pedir autorização.
2 comentários:
L - nUNCA SOUBE DA EXISTÊNCIA DO bILL EM SUA VIDA.... iSSO ME DEIXA MAIS À VONTADE COM MINHAS CACHORRICES.
2 - fIQUEI EMOCIONADA AO LER E CHOREI. (MAS ISTO NÃO É NOVIDADE),
BEEIJOS,
BETH
(AS ANIMAIS NÃO DEVERIAM MORRER NUNCA).
Beth,
Embora "brigando" com o teclado você conseguiu manifestar sua emoção.
Valeu! Obrigado.
Beijo
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