9 de maio de 2011

Casa no campo

Retomo minha aventura de morar na roça, a partir do ponto em que parei em http://jorgecarrano.blogspot.com/2011/05/vida-na-roca.html

Acho que cabe explicar que faço uma diferença entre casa de campo e casa no campo. A primeira subentende que você mora na cidade, mas mantém uma casa no campo, para férias ou finais de semana. A casa no campo, como era meu caso, implica em morar lá; ter sua residência no interior.

Uma casa, sua manutenção, dá muita despesa se você quiser mante-la em bom estado e com as coisas funcionando. Se ela tem vícios estruturais e foi construída com material refugado ou de 2ª qualidade, pior ainda.

A casa que adquiri, em São José de Imbassaí era assim, “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.

Por falha no projeto e na execução da parte hidráulica, vez ou outra ficávamos sem água na torneira da pia da cozinha, fruto de entrada de ar na linha de alimentação. Era necessário subir no telhado e ir até a caixa d’água e tomar umas providências. Não queiram saber exatamente quais, pois não lembro. Não adianta mandar e-mail perguntando. Lá pela terceira vez do evento, o cara que fazia o serviço, compadecido com meu drama e ciente de que minha conta bancária minguava a olhos vistos, resolveu me apresentar uma solução “definitiva”para a inoportuna entrada de ar no encanamento. Fazer uma espécie de respiro, que consistia em qualquer coisa parecida com ter um ou dois pedaços de tubulação, encaixados num joelho, também de PVC, com um lado aberto virado para cima.

Algumas vezes, porque os encaixes eram muito forçados, enjambrados, fora de alinhamento, os entroncamentos trincavam, principalmente nos tais joelhos que faziam as conexões. O sol escaldante fazia com que se dilatassem e... pimba: trincavam. Resultado, acordavamos com a caixa d’água vazia, ou quase, pois escoava pela trinca a noite toda. Não havia rede pública de suprimento de água, eramos abastecidos por um poço que atingia o lençol aquifero aos 3 metros de profundidade. Mais tarde mandei fazer um artesiano, mas isto já é outra história.

Eu achava que tomar conta de tudo sozinho era uma empreitada grande para o Bill, mesmo considerando seu avantajado porte, de quase 40 quilos, sua coragem e disposição para briga e, por estas razões, o respeito que inspirava. Daí que resolvi colocar cacos de vidro nos muros, como medida de legítima defesa do patrimônio.

Vocês não avaliam a dificuldade que é conseguir vidros para tal fim. Até porque nem todo tipo de vidro serve. Para o pedreiro, o ideal são os fundos de garrafa ou daqueles garrafões dos vinhos tipo sangue de boi ou equivalente.

Tive que comprar garrafas inteiras ou já quebradas e transportar no porta malas do carro, em várias viagens. Ufa! Que trabalheira e que risco de cortar as mãos. Mas o muro ficou encimado por pedaços de vidro, como ajuda suplementar na defesa de minhas laranjas e mangas.

Prestaram atenção em quanta coisa eu tive que comprar e quanta mão-de-obra tive que contratar, somente até este trecho da saga? E depois de ter efetuado uma reforma geral na casa quando a comprei? É que existem os chamados vícios ocultos, os quais aparecem inesperadamente, nos momentos mais impróprios.

Enxadas, ancinho, vassoura de laminas de aço, tesoura de poda, machado, facão e mais, collher de pedreiro, escadas, peneira, baldes, mangueiras etc, e bota et cætera nisto. Incrível, mas nestes lugares mais remotos um pouquinho, se você não tem as ferramentas tais como chaves inglesa e de fenda, alicates, martelo, talhadeira, e outras mais sofisticadas como furadeira e lixadeira fica sem o serviço feito, porque poucos “profissionais”, as possuem. Dependem de pegar emprestado com um amigo que mora à léguas e como você tem urgência acaba tendo que levar o sujeito de carro até o sempre distante local onde está o tal amigo, e tome de enveredar por caminhos esburacados, aos solavancos judiando dos amortecedores e gastando combustível. É melhor ter as ferramentas básicas em casa. Inclusive para evitar improvisações que geralmente não dão certo, como dar aperto ou desapertar com talhadeira e martelo já que falta um alicate de pressão.

Vou, de novo, fazer uma pausa. Volto qualquer dia com mais situações vividas em ano e meio de vida na roça. Foi quanto durou o sonho e a paciência.




Casa antes e depois da reforma, já quase pronta para mudança.

Um comentário:

Jorge Carrano disse...

Interrompo aqui a publicação da série que relata minha saga na roça, para publicar posts de colaboradores: um primo e minha neta.
Retornarei breve com mais situações vividas no campo.