10 de maio de 2011

Um brasileiro na Carolina do Sul

Ricardo Wagner Carrano é filho de Hamilce Carrano, neto de João Carrano, que, por sua vez, era irmão de meu pai. Logo, Ricardo é meu primo, porque filho de um primo em primeiro grau. Já falei sobre ele num post intitulado “O primo distante”.
Aqui ele nos fornece preciosas informações sobre o estado da Carolina do Sul (USA), onde ele reside e trabalha. Leiam o texto abaixo, escrito por ele, e vejam que abordagem interessante.
Destaco o trecho em que ele comenta, sobre o governo: acima de tudo acreditam que governo existe para gerar oportunidade e não assistencialismo.”



A Carolina do Sul é um estado fisicamente localizado no Sudeste, mas chamado de “Sulista” ou “deep south” (deep = profundo, mas ficaria melhor “Baixo Sul”) , devido a sua cultura e tradições seculares.

Sua história remonta aos tempos pré revolucionários quando os primeiros colonos ingleses aqui se estabeleceram porque receberam terras da Coroa, irlandeses em busca de liberdade, e também alguns escoceses e franceses. Inicialmente, a colônia foi nomeada apenas de “Carolina”; mais tarde (1720 ou por ai), dividiu-se entre a do Norte e a do Sul. Por isso, foi também uma das 13 (treze) Colonias, que se levantaram contra a dominação inglesa, consequentemente lutando uma longa e sangrenta guerra de Independência, onde a Carolina do Sul teve participação destacada.

Se você assistiu ao filme “ The Patriot” (“O Patriota”) - não sei se foi esse o nome no Brasil - com o Mel Gibson, de uns 10 ou 12 anos atrás, assistiu a uma historia real que se passou aqui na Carolina do Sul.

Apos a Independência a economia agrícola (algodão, tabaco, milho principalmente) se desenvolveu muito. Esta foi a época latifundiária deste estado, que terminou com dois acontecimentos quase simultâneos. O inicio da Revolução Industrial, onde este estado se tornou uma potencia na indústria têxtil, e a Guerra Civil Americana ou de Secessão, onde mais uma vez o estado teve participação destacada. Mas só que desta vez porque foi aqui ( em Charleston) que a guerra começou pois foi este o primeiro estado a se tornar Confederado rompendo com a União e, com a derrota, sofreu com inúmeras consequências sócio-econômicas que perduraram por quase um século.

A economia voltou a crescer muito a partir dos anos 80 quando aqui se instalaram usinas nucleares (2 ou 3 ?), bases militares notadamente da Força Aérea, e também devido a um programa de incentivos fiscais iniciado a partir dos anos 90, e que perdura em parte até hoje quando empresas como a Michelin, BMW, Bosch dentre outras (58) instalaram fábricas por aqui. A última boa noticia relacionada a estes incentivos veio no ano passado quando a Boeing iniciou a construção de uma nova fábrica próximo ao litoral, apesar da crise econômica, que custou muitos empregos e falências ao estado (já esteve pior) principalmente no setor de serviços.

O estado tem aproximadamente 4.600.000 habitantes e as principais cidades ou áreas metropolitanas são: a de Charleston (finanças, turismo), a de Columbia (capital, bem no centro do estado) e a de Greenville (próximo a fronteira com Carolina do Norte e Georgia), devido ao complexo industrial instalado, área onde eu moro. O Estado tem hoje uma população bem mais diversa, mas em geral conservadora e religiosa, na sua maioria evangélica, onde nós, os católicos, somos aqui apenas uns 17% diferente dos 33% no resto do país.

Existem escolas de razoáveis para muito boas, como as Universidades de Clemson (onde Danille estudou), a Universidade do Estado (que não é grátis, como no Brasil), Frumman e Welford.

Nos esportes, existe uma grande rivalidade entre as Universidades da Carolina do Sul e a de Clemson (fica a uns 40 minutos de minha casa), em qualquer modalidade. E por falar em esportes, os jogos de futebol americano entre Universidades são uma grande atração. Na liga nacional ou NFL existe o Carolina Panters que foi finalista do SuperBowl uns dois anos atrás. Futebol se pratica mais e mais a cada dia, mas não existem times importantes ou um campeonato estadual como no Brasil. Não existe um time de basebol muito famoso, as pessoas que gostam desse esporte torcem pelo Atlanta Braves, do estado vizinho (Georgia), o basquete universitário tem também muitos torcedores. Alias as universidades em geral produzem a “elite atlética” estadual e nacional, mas isso em todos os níveis. Desde um bom jogador universitário que pode parar na NBA e ganhar milhões até mesmo atletas de nível olímpico.

O estado possui vários parques florestais e áreas verdes que são inclusive refugio de pássaros migratórios, assim como também existem áreas florestais destinadas a animais “mais” selvagens. Se você mora perto de um lugar desses, pode ser que receba a visita inusitada de um urso, por exemplo.

O litoral tem também lugares interessantes, como Mirtle Beach, que é uma praia próxima a divisa com a Carolina do Norte, e seria uma espécie de Cabo Frio daqui. Exitem também próximo a Charleston diversas ilhas ligadas ao continente por pontes. Este cenário tem belíssimas paisagens que podem ser admiradas de carro, entre travessias. As praias em geral são limpas, bem cuidadas e policiadas. Os limites para barcos e jetski, são respeitados assim como os banhistas também respeitam os seus.

O povo é bastante educado e hospitaleiro com quem vem de fora legalmente e com os turistas, e têm, a meu ver, um senso comum de nacionalismo e patriotismo compartilhado com o resto do pais, o que eu pessoalmente admiro. Respeitam e prezam a Constituição e valores que são transmitidos pelas gerações desde os tempos de George Washington. Assim este povo detesta que o governo se meta em qualquer aspecto da sua vida, como regular preços, aumentar impostos e prover benefícios gratuitos (embora existam alguns), pois acreditam que isso leva ao abuso de poder, e acima de tudo acreditam que governo existe para gerar oportunidade e não assistencialismo.

Um exemplo prático disso é a reação popular contra o Plano de Saúde do governo Obama, que até agora só serviu para que as Companhias de Seguro aumentassem os valores dos planos, inclusive o meu próprio. Este povo, em sua maioria, se diverte de maneira simples, fazendo churrasco no quintal nos fins de semana, ouvindo musica country, e passeando de um lado a outro em pickups e utilitários, coisa que eu também faço.

Bem, assim como você mencionou ser este estado pouco conhecido, eu somaria a isto também o fato de que o cinema e a midia em geral só fazem menção a Nova York , Los Angeles, Miami, Las Vegas, Chicago, e algumas outras cidades , que são lugares interessantes (nunca fui a L.A) mas não representam como os EUA são internamente. Bem, há os que preferem que as coisas fiquem do jeito que elas são.

Em tempo, pois me esqueci de falar do clima. Na área não é comum a ocorrência de tornados; diria que é pouco provável.

O clima é até bastante agradável se comparado com outros lugares mais inóspitos tipo o frio do Alaska ou o calor do Arizona.

Hoje por exemplo temos um típico dia de primavera com temperaturas entre 12-23 C. No verão as máximas podem atingir uns 35 C. O inverno, entretanto, é bem frio, principalmente quando recebemos o "resto" das frentes vindas lá do Canadá.

Temos sorte de não nevar muito como no Norte, mas as temperaturas são quase as mesmas como NY, por exemplo, variando entre -5 / -2 (mínimas) 7/12 no alto inverno. No ano passado no entando tivemos duas tempestades de neve "radicais", mas depois eu falo nisso......

 

Fotos tiradas pelo Ricardo Wagner, autor do texto, em janeiro deste ano, após a nevasca. Observem as rodas do veículo com correntes.

7 comentários:

Jorge Carrano disse...

Caro primo,
Reitero o que escrevi no e-mail através do qual lhe informei sobre a publicação deste post: ele enriquece o conteúdo do blog.
Muito grato por colaborar.
Espero que se disponha a escrever mais vezes.
Abração

Ana Maria disse...

Nossa. O primo escolheu um lugar, em suas características sócio-políticas e a excelente infra-estrutura, que me recorda o RJ. Tudo funciona tão bem aqui. rs
Se não fosse tão idosa ia pleitear um greencard.
Em tempo, quero parabenizar o Ricardo Wagner pelo texto. Foi bom reencontrá-lo, afinal, as poucas notícias que recebo são através da Teresinha.

Claudia Almeida disse...

Realmente eu não conhecia o primo e jamais imaginei ter familiares em terras tão distantes.
Quem sabe ainda não terei o prazer de conhecê-lo (espero que não no Brasil...)
Mais uma vez parabéns pelo blog!

Ricardo Wagner Carrano disse...

Eu na verdade, procurei e procuro captar a essencia do pensamento americano. No inicio como
fator de adaptação e integração, depois porque admiro, e acredito em muitos principios formadores
desta nação. É claro que existem diversas coisas erradas, mas acredito que a gente pode se adaptar
sem se aculturar e adotar boas influências. Afinal, como você sabe, nossos ancestrais aqui também
aportaram, tal como no Brasil."

Jorge Carrano disse...

Caro Ricardo,
Estava ouvindo a opereta Porgy and Bess, com Armstrong e Ella Fitzgerald e me lembrei de você, porque a comunidade de pescadores vive em Charleston, na South Croline.
Abraço
Jorge

Priscila disse...

Ola, gostaria de saber se em janeiro costuma nevar, ainda que pouco ou só tem neve esporadicamente? Quero ir para uma cidade que neve, mas que eu possa ir de Orlando, de carro. Tinha planejado Charlotte, porem não terei tempo de ir e voltar.

Jorge Carrano disse...

Olá Priscila,
Espero que o Rick Carrano, autor do post e morador da Carolina do Sul, acesse o blog, veja sua consulta e responda em tempo oportuno.
Obrigado por navegar pelo blog.