Tínhamos como vizinhos, em São José de Imabassaí, um casal muito estranho, pelo comportamento por vezes bizarro, porque não dizer, esquisito mesmo.
Eles moravam numa boa casa, que ficava por trás da nossa; entre as duas, um terreno desocupado. O acesso a casa deles se dava através de uma rua transversal àquela onde ficava a minha.
Primeira curiosidade, ou esquisitice: na esquina (cruzamento) das ruas, onde se localizavam a minha e a casa deles, colocaram uma placa onde se lia “CASA DOS TJ’S”, com uma seta apontando a direção a ser seguida.
TJ’s porque ele se chama João e ela Telma. São vivos, e residem em Copacabana embora conservem a casa em S.J. de Imbassaí.
Vez ou outra frequentavamos-nos. E jogavamos buraco.
Nestes momentos, quando o encontro era lá em casa, uma série de bizarrices. Ele punha gelo, e até eventualmente guaraná, no vinho que eu servia, menos por ele, mas para meu desfrute mesmo. Na verdade ele não gostava de vinho tinto seco. Se fosse um Sangue de Boi suave, quem sabe apreciasse.
Mas o pior, o que me divertia mais do que o jogo propriamente dito, era vê-lo fazendo a contagem dos pontos. Ele sempre contava a maior os pontos que a dupla (ele e Telma) fizera, e “compensava” em parte, contando a menor os pontos que tinham que pagar porque morreu nas mãos. E ainda assim, com toda a trapaça, não ganhavam. Ele era muito distraído, incapaz de se concentra e só fazia bobagem.
Quando eventualmente íamos a algum restaurante, geralmente domingo, apresentava-me ao garçon ora como Juiz ora como Promotor de Justiça, na expectativa de que fossemos melhor atendidos.
O João é uma figura. Viajava bastante para Europa e tinha uma Mercedes. Muito antiga, mas nem por isso perdendo a condição de ser uma Mercedes. E fazia relatos ótimos das viagens, que me faziam rir intimamente. Coisas tipo assim: - Telma como é mesmo o nome daquela cidade onde subimos na torre? Referia-se a uma cidade pouco conhecida chamada Paris. Divertido, se não fosse trágico. Não estava fazendo tipo não, é falta de informação e cultura mesmo. Dinheiro, definitivamente, não é tudo.
capela de São José de Imbassai |
No centro comercial do distrito de São José de Imbasaí, havia um pequeno supermercado, um açougue, uma padaria, uma farmácia, uma casa de produtos agrícolas e veterinários, um sacolão e, como não poderia deixar de ser, uma igreja evangélica. E lógico uma capela.
Para chegarmos a este centro comercial, precisávamos do automóvel, menos pela distância, cerca de 3 Km, mas pelas condições do acesso. Eram ruas de terra batida e quando chovia viravam um lamaçal.
Impressionante o crescimento do número de evangélicos naquela região.
Certo dia, duas mulheres com vestidos cumpridos e trazendo nas mãos pequenos livros de capa preta, tocaram o sino, que fazia as vezes de campainha e indagaram seu eu permitiria que elas entrassem para uma curta conversa sobre fé. Pressentindo o problema, informei que não porque eu já tinha minha fé no espiritismo e que era macumbeiro. Frisando bem esta palavra.
Elas se benzeram, e dando as costas partiram em passo acelerado. Nunca fui tão inspirado como daquela vez.
Quando comprei a casa, ela precisava de uma reforma geral. Precisei de pintor, pedreiro, bombeiro hidráulico (encanador para os paulistas) e de alguém que vigiasse a casa, durante a noite e capinasse o terreno. Indicaram-me um tal de Souza, que morava de favor numa casa das redondezas. Virou meu caseiro.
Como a casa não tinha acomodações para caseiro, ele se instalou na garagem, onde permaneceu até que o Bill, já citado e mostrado nestes escritos, infernizou a vida dele e o fez mudar. Foi morar com um parente.
As histórias dele eram sensacionais, mas merecem um post especial. Quem sabe no futuro escrevo.
Por enquanto, digo apenas que um caseiro custa caro e por vezes é mais problema do que solução.
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