Boa piada, mas sem graça

O casal está copulando no chão no parque.

Para quem mora em Niterói, seria o Campo de São Bento; se você é de São Paulo imagine o Ibirapuera. Se é do Rio de Janeiro pense no Campo de Sant’Ana. E assim sucessivamente pois se ficar enumerando parques e jardins das cidades que conheço, não sobrará espaço para a piada.

Sim, porque se trata de uma piada. Uma piada que servirá de link para outra mais engraçada ainda. Prometo.

Então, dizia, o casal fazia amor no jardim público, à noitinha, quando ouve passos. O homem levanta-se num salto e vê um guarda se aproximando. Diz o guarda: “bonito hein!! Então isto é lugar para prática de sexo? Isto é atentado ao pudor, vou prende-lo.”

O homem retruca: “mas seu guarda, eu estava apenas urinando, pois estava muito apertado”.

O guarda toma a palavra e comenta: “e esta mulher nua ai no chão?”

Diz o homem: “que mulher? Se o senhor não me avisa mijava em cima dela”.

Pois é exatamente o que está acontecendo com José Dirceu, no entender de seu melhor advogado de defesa, o ministro Ricardo Lewandowski.

José Dirceu não sabia de nada do que estava acontecendo. Quem é Delúbio? Marcos Valério? Nunca ouvi falar.

Para usar as próprias palavras dos ministros do STF, “uma das figuras mais proeminentes da República”. “A segunda maior autoridade do executivo”, não sabia de nada do que estava acontecendo ao seu redor, seja em seu partido, seja em sua pasta como Ministro Chefe da Casa Civil.

Entenderam? Mais um pouco e ele mijava no Delúbio.

O Dr. Lewandowski, advogado de defesa travestido de ministro da mais alta corte, inclusive com a beca protocolar, pretendeu nos fazer crer que Delúbio Soares era o todo poderoso artífice e executor de um dos maiores esquemas  de corrupção no país. Só ele, e mais ninguém do PT, era responsável pela compra de votos  (apoio parlamentar no Congresso).

O articulador político, papel principal da Chefe da Casa Civil, não sabia de nada. Esta afirmativa de Lewandowski deveria ser precedida de farta distribuição de narizes de palhaço, para todos nós cidadãos brasileiros.

Bem, teve o ato falho do aludido advogado de defesa, quando à horas tantas afirmou que “é possível  que ele (José Dirceu) fosse o mentor intelectual do esquema”. Está lá gravado e filmado. E eu vi e ouvi.

Quero encerrar dizendo o seguinte: é possível, e acontece, que o revisor de um processo, desembargador ou ministro, dependendo da instância, discorde do relator. Nada demais nisso.

Mas nunca, jamais, o faz nos termos e forma como vem fazendo Lewandowski. Com toda ênfase, toda teatralização, com distribuição aos seus pares de documentos álibis. Uma retórica capaz de causar inveja a Molón.

E esta alusão comparativa  a Apolonio Molón é uma homenagem que presto ao ministro. Para quem não sabe, Molón foi um emérito orador grego, dono de uma retórica fantástica, tão apreciada e respeitada que levou à Grécia ninguém menos do que Marco Tulio Cicero, para aprender com o grande mestre. E vejam que estou falando de Cicero, senador, cônsul, filósofo, tribuno e orador festejado até os dias atuais como dos maiores da história.

Laughton

Pois bem, o entusiasmo, a empolgação o mise-en-scène, a dramaticidade do ministro Lewandowski conferiria a ale o Oscar de melhor papel dramático. Nem Charles Laughton em seus melhores momentos encarnando advogados nos tribunais de filmes americanos se sairia tão bem.

Atestado de burro não aceito.

Esse ministro está fazendo um papel vergonhoso. Sua biografia está irremediavelmente tisnada com uma mancha indelével.