3 de abril de 2011

A palavra é ...

Certas palavras definem uma pessoa, um povo, uma situação.

Se havia dúvida, e eu tinha algumas - por ignorância pessoal, falta absoluta de cultura – de que os japoneses preferem a morte do que viver em desonra, esta última catástrofe que assolou o país, eliminou todos os resquícios de cepticismo, de descrença, de desconfiança.

Foi há poucos anos, com a leitura do “Shogun”, do James Clavell*, que tive aguçada minha curiosidade pela filosofia oriental, e foi com o comportamento do povo japonês diante do maremoto, seguido de tsunami, que provocou milhares de mortes e bilhões em perdas materiais, que eliminei dúvida de que eles são um povo com muita dignidade.

O que vemos nas imagens dos telejornais, o que lemos na imprensa, o que relatam os correspondentes internacionais, deixa patente a coragem, a solidariedade, o respeito e amor ao próximo, a civilidade, a honradez do povo japonês. Se tivesse que escolher uma palavra para defini-los, esta seria DIGNIDADE. Que inveja!

E porque inveja? A inveja se manifesta em ocasiões como a que vivemos recentemente, quando a mais alta corte de justiça do país, contrariando talvez o desejo de boa parte da sociedade, decidiu ser inaplicável no ultimo pleito eleitoral a lei chamada de ficha limpa. Não importa o clamor popular, não importa nosso anseio, mesmo que nobre, pois nada justifica o atropelamento da Constituição. O respeito às leis, em especial a maior delas, é pilar da democracia. A decisão, juridicamente, está correta.

Alguém pode perguntar onde entra a inveja neste episódio. Responderia que me envergonho de um sujeito condenado por apropriação de dinheiro público, muito dinheiro (consta que 1 bilhão de reais), que chegou a ser preso e algemado, tenha recebido, nas urnas, 1 milhão e 800 mil votos, ou, em última análise, a aprovação de seus atos pelos mesmos cidadãos aos quais privou de assistência médica mais efetiva, mais escolas para as crianças e moradias humanas.

A palavra para definir estes eleitores seria DESAVERGONHADOS. Um povo com vergonha na cara não elegeria um salafrário do quilate de Jader Barbalho. E outros da mesma laia, mesma estofa.

Precisar de lei que restrinja a candidatura e a posse de condenados criminalmente, significa falta de vergonha do povo. A população deveria fazer a triagem, independentemente de lei.

Há 9 anos, apareceu no cenário político nacional um senhor de fala mansa, coragem e desprendimento para criticar ações do governo do qual participava, sem que tal caracterizasse rebeldia ou deslealdade para com o presidente da republica. Que assumindo em várias oportunidades a presidência do país, sempre se comportou, naquele papel, de maneira sóbria, discreta e elegante. Que enfrentou com coragem e persistência um câncer devastador. E que me fez admira-lo, não só pelas atitudes, mas também pelas palavras. É dele, e guardarei na memória a frase: “não tenho medo do câncer, tenho medo da desonra”.

Uma palavra definiria José Alencar – EQUILÍBRIO.

                                                            Requiescat in pace.

N do A: nas entrevistas, nas reportagens, o que vemos é muita serenidade, muita confiança no futuro, muita disposição para a reconstrução, muito respeito mútuo, muita dignidade. E com um fantasma de contaminação nuclear rondando suas mentes.
Será que algum dia, no Brasil, diante de uma tragédia coletiva, o comércio reduziria o preço de gêneros alimentícios e produtos essenciais, em nome do bem estar dos mais desvalidos? Pois lá aconteceu.

* Link para resumo da obra http://en.wikipedia.org/wiki/Sh%C5%8Dgun_(novel)

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