9 de abril de 2011

Os especialistas

Diante de catástrofes de causas naturais, de conflitos bélicos internacionais, de tragédias sanguinolentas que têm como personagem principal psicóticos de todos o gêneros, ou quando de pleitos eleitorais, surgem especialistas dos quais jamais ouvíramos falar, famosos quem (famous who?) que acabam por ganhar espaço na mídia conseguindo seus quinze minutos de fama. E heróis acidentais, ocasionais.

Comecei a prestar atenção neste fato, quando da guerra das Malvinas. E, mais tarde, na invasão do Kwait; e mais recentemente na invasão do Iraque.

Aparecem especialistas em armamento, que sabem não somente o nome dos mísseis e foguetes, se é que existe alguma diferença entre eles, como conhecem o alcance, a precisão de lançamento, seja a partir de bases móveis (porta-aviões), seja do espaço (aeronaves), seja ainda de bases terrestres.

Conhecem todos os tanques, os que rodam sobre pneus e os que avançam sobre lagartas, fazendo que se movam em terrenos inacessíveis a viaturas comuns.

Tomahawks, Scuds, mísseis balísticos intercontinentais de todas as origens (um míssil balístico intercontinental, ou ICBM, é um míssil balístico que possui um alcance extremamente elevado - maior que 5 500 km ou 3 500 milhas - normalmente desenvolvido para carregar armas nucleares - Wikipédia).

Miras telescópicas, armas químicas, torpedos, fuzis e metralhadoras de vários calibres, alcance e precisão, tudo, tudo isto, especialistas absolutamente deconhecidos, anônimos, conhecem em detalhes (quem  fabrica, desde que data, quem compra e quem vende).

Nas catastrofes naturais, como o recente terremoto seguido de tsunami no Japão, aparecem, do nada (para nós leigos), geógrafos, meteorologistas, engenheiros, pesquisadores (todas as áreas de conhecimento têm os seus), que nos explicam, detalhadamente, o que são placas tectônicas, porque periódicamente se movem, a energia que liberam em sentido vertical, a diferença entre terremoto e maremoto, a intensidade que atingem na escala Richter (veja nota de rodapé).*

Conhecem o solo, os solos, como se formaram, em que era, quais são as espessuras e grau de resistência. Enfim, humilham e realçam nossa ignorância na matéria.

A manchete da vez é esta  coisa bestial ocorrida no Rio de Janeiro, quando um portador de transtorno psíquico (esquizofrenia)** matou covardemente vários adolescentes, alunos da escola que frequentou no passado.

As causas do ato? Aí entram os psicanalistas, psicólogos, psiquiatras, antropólogos e afins, e nos explicam as diferanças entre os transtornos psíquicos, as carcterísticas comportamentais dos possuidores, tratamentos, reações e tudo o mais que  (não fora o fato de ter estudado medicina legal) jamais ouvira falar. Mas ampliei minhas informações, porque no curriculo da faculdade o assunto era tratado muito superficialmente.

Esta mesmo lamentável e brutal ocorrência, deu espaço para pedagogos, educadores genéricos, assistentes sociais e... heróis ocosionais.

Ficamos sabendo que as cenas presenciadas pelos adolecentes são traumatizantes, chocantes, e provacaram sequelas que poderão se manifestar em até quarenta anos. O que vemos, em todos os canais de TV, é um desfile de profissionais daquelas especialiadades supracitadas, todos a recomendar acompanhamento psicológico para os alunos sobreviventes, para os pais dos que faleceram vítimas da chacina e também para os professores. Há um consenso.

Entretanto, divergem e discutem se as crianças devem ser transferidas para outras escolas ou se devem permanecer na mesma da tragédia. E as opiniões divergentes são respaldadas por bons argumentos. Tanto os que defendem a idéia de que um novo ambiente escolar seria salutar, quanto aqueles que, ao contrário, entendem que é positiva a permanência no mesmo colégio, acabam por ter um pouco de razão.

Divergem também sobre a conveniência de aumentar normas de segurança, botando mais grades, detetores de metais e outras medidas. Há quem entenda que a escola há de ser o mais aberta possível. Não um prédio gradeado como um presídio. Especialistas também divergem e têm opiniões controversas.

Falam dos remorsos que alguns carregarão por um bom tempo, por não terem podido ajudar seus colegas, arrastando-os ou fazendo-os correr, ou quem sabe?, fazendo com que se deitassem ou se abrigassem atrás da porta. É, pode ser.

Recomendam providências, criticam o modelo, tudo genericamente, embora sejam especialistas.

E os heróis? É o professor que conseguiu proteger seus alunos trancando a porta da sala de aula e escorando-a com tantas cadeiras quantas as existentes no local.

È o dono de uma camionete que passando diante da escola naquele momento, socorreu vários feridos colocando-os na carroceria, levando-os ao hospital mais proximo.

È o policial militar que, contatado por aluno ferido, acorreu ao local da tragédia e atirou no assassino, atingindo-o e levando-o a se matar.

Tirante os heróis acidentais, que embora desconhecidos não são, necessariamente, profissionais, e muito menos especialistas, como seria o policial, todos os demais que mencionei são experts, peritos ou consultores.

Lembram dos períodos eleitorais? No dia da eleição e antes da apuração, surgem os estatísticos, os cientistas sociais, os jornalistas políticos, que analisam pesquisas, palpitam, fazem previsões sobre o perfil que terá o governo e, muitas das vezes, erram por muito.

São muitos os especialistas “nisto ou naquilo” que nadam por aí, anonimamente, até que chegue a vez de cada um deles aparecer e ter seu momento de brilho.

Este blog também tem sua especialidade : generalidades.

Notas:
* A escala Richter, que mede a intensidade dos terremotos, foi desenvolvida pelo sismólogo americano Charles Francis Richter e começou a ser usada em 1935. Um pêndulo, com oscilação controlada, é fixado em uma base de concreto que registra tremores em três direções: duas horizontais e uma vertical. A escala vai de zero a nove e os tremores fracos receberam valores próximos de zero. Cada unidade representa dez vezes a magnitude do tremor.


** A esquizofrenia (do grego σχιζοφρενία; σχίζειν, "dividir"; e φρήν, "phren", "phrenés", no antigo grego, parte do corpo identificada por fazer a ligação entre o corpo e a alma, literalmente significa "diafragma"[1]) é um transtorno psíquico severo que se caracteriza classicamente pelos seguintes sintomas: alterações do pensamento, alucinações (visuais, sinestésicas, e sobretudo auditivas), delírios e alterações no contato com a realidade. Junto da paranoia (transtorno delirante persistente, na CID-10) e dos transtornos graves do humor (a antiga psicose maníaco-depressiva, hoje fragmentada na CID-10 em episódio maníaco, episódio depressivo grave e transtorno bipolar), as esquizofrenias compõem o grupo das Psicoses[2]

Fonte – Wikipédia






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