23 de setembro de 2015

Educação: Diferentes Visões



Por
Alessandra Tappes






A emoção tomou conta de mim. Meu coração quase pulou peito a fora. Estar ali naquele momento, em meio aquelas crianças me fez tremer toda por dentro. Juro! Sabe quando você consegue realizar um velho sonho? É muito mais que ganhar num desses concursos milionários da CEF ou tirar uma casa na sorte...

Estar ali sentindo o fervor do futuro da nossa nação em formação... ah isso realmente não tem preço. E sabe o que fica mais impagável ainda? É vc saber que vai poder contribuir (ou não) para que isso ocorra.

Há quase dois anos que me preparo para adentrar uma sala de aula e ouvir a palavra “Professora”. Pois é. Um sonho mesmo. E falando das condições em que se encontra o ensino-professor-educação, é quase utópico.

E nesse semestre que curso, surgiu em minha frente o tão sonhado estágio. Achei que fosse tirar de letra, como se diz, mas como relatei acima, fui tomada pela emoção da cabeça aos pés! E olha que essa fase do estágio é somente de observação!!!

Mas falemos das condições da educação em nossa pátria mãe tão gentil.

Existe uma corrente em prol da educação, mas uma mais forte ainda contra ela. A educação deixou de ser prioridade. E isso é fato constatado!  Não vou falar em números aqui, mas vou falar o que tenho visto ultimamente.

A nossa educação está em crise, sucessivamente o professor também. Esse mesmo vem encontrando obstáculos que acabam por sua vez, desestimulando na sua formação e sua profissão.  A dificuldade na interação social, descrença em seu papel como professor, conflitos nas instituições de ensino, baixos salários e sem falar no sentimento de insegurança, são alguns dos motivos que ajudam na tal crise de identidade, abrindo “vala” entre o que ensinar e o porquê de ensinar realmente.

Vale a pena o professor ficar horas preparando aulas (fora do seu horário curricular) pra turma chegar ao meio do ano e nem ao menos saber o nome do “mestre”? Mestre??? Vale a pena o professor enfrentar três turnos de aula pra poder ter um salário que pague, pelo menos, boa parte dos seus gastos, contando que seu cônjuge complete o orçamento da casa?

Vale a pena esse mesmo professor que um dia sonhou mudar o quadro da educação, perder seu prestígio quando o mesmo é ameaçado por um aluno que tem idade para ser seu filho, pois o mesmo foi advertido ou simplesmente tirou uma nota abaixo do esperado? Vale a pena o professor lutar contra um sistema falido e que dita que quanto menos souberem melhor é? Uma vez alçado um analfabeto ao poder, alimentaram-se os leões da ignorância...

A educação vem de berço sim. A escola é um complemento do ensino. O que é ensinado em casa é a base para a vida, mas mesmo assim, hoje em dia os pais largam seus filhos na escola e cobram que a mesma eduque seus filhos.

 Os valores mudaram! A escola virou um depósito de crias mal educadas e o sistema não dá respaldo algum para o professor.

Sabe qual é o resultado da péssima educação? Profissionais cada vez mais distantes do esperado. Entre médicos, advogados, tecnólogos, atendentes, recepcionistas, repositor, atendentes de mercado... e por aí afora. E olhem só, estou falando em escala regressiva. Os níveis de escolaridade são mais assustadores.

Atualmente, ter um diploma superior que tenha relevância foi obtido através do esforço do aluno, (vira caso do “Fantástico!”) ou foi investimento familiar desde os primeiros dentinhos do filho. Ou, a última saída: estudo no exterior.

Os cursos técnicos e profissionalizantes perderam o sentido. Temos uma enxurrada de cursinhos emergentes em sobrelojas assustadoramente assustadoras! E o que era para ser bom, o que tinha uma visão e razão para existir, perdeu-se na ganancia financeira.

Os “professores” da maioria desses cursos não são capacitados a dar aula, não tem treinamento algum, nem jogo de cintura ou postura de professor. O que desqualifica cada vez mais o profissional. Muitas vezes são ex-alunos da própria instituição que “acham” que sabem se julgam capazes e repassam seus curtos conhecimentos, fazendo assim surgir a corrente da má formação.

Por ora, o futuro aprendiz, sem noção alguma do que está sendo dito, aceita sem dúvida alguma, repassando adiante o que colhe do ensino. Aí pergunto: repassam o que? Se nada aprendem? Ou se o que aprendem é a 9° parte do que teriam mesmo que aprender?

Daí se vê o resultado repercutindo no comércio: péssimo atendimento. E não falo da educação de casa, falo de profissionais desqualificados que ocupam cargos importantes sem que tenham noção alguma do que fazer. Sente-se à mesa do seu gerente no banco e tente dar a ele seu comprovante de endereço para alteração do cadastro, num dia de sistema travado: ele fica amputado!

Ligue para a secretária do seu médico para confirmar sua revisão sem se contagiar com o mau humor dela; vá ao mercado e informe a um funcionário que tal freezer está desligado, ou produto congelado descongelado, sem que eles se ofendam! É batata... 

Sempre se ofendem. Esse é o resultado da péssima formação batida com doses assustadoras de falta de educação e bom senso.

Embora o ensino corra para caminhos decadentes, eu ainda sonho em me formar.

Tive grandes mestres nos quais me espelho. Da época do ginásio ao cursinho. Mestres que davam seu suor pelo entendimento do aluno, mestres que se preocupavam não só com o conteúdo aplicado em aula, mas com a matemática da vida de cada um. E fui privilegiada, abençoada, agraciada com alguns dos mais fabulosos no meu tempo: Maria Laura Prado e Fernando Teixeira, famoso FT, que hoje enriquecem o céu com suas interpretações divinas entre História e Literatura.

É motivada por essa vertente chamada “inspiração” e desafiada pela falência do ensino, que realizarei meu sonho de ser chamada de “professora”.

Não vou citar aqui meu aprendizado no ensino superior. Também estou sendo formada por esse tipo de profissional não qualificado para a proposta inicial.

Quero o Brasil de outrora, quero a educação que me foi dada lá nos anos 80/90 em São Paulo em uma distinta escola estadual chamada “Adelina Issa Ashcar”, onde cantávamos o Hino Nacional, fazíamos fila e festejávamos desde o Dia do Índio à Semana do Folclore. Sem falar na biblioteca circulante que nos “visitava” semanalmente exigindo redações e testes sobre o livro lido.

Mas, como sei que depende muito mais de mim, que é o meu sangue que dôo, meu suor e minha grande força de vontade. 

Mesmo com tantas barreiras no caminho, me pergunto: Quem disse que ia ser fácil?

10 comentários:

Jorge Carrano disse...

Sinta-se homenageada, inserida no post abaixo
http://jorgecarrano.blogspot.com.br/2015/03/professores-profissionais-injusticados.html

Valho-me das palavras do juiz sentenciante, ipsis verbis:
"o professor é o indivíduo vocacionado a tirar outro indivíduo das trevas da ignorância, da escuridão, para as luzes do conhecimento, dignificando-o como pessoa que pensa e existe”.

Estou seguro que você honrará a nobre função.

E parabéns pela formatura que sei (talvez da missa a metade), o quanto lhe custou superar dificuldades para chegar ao ponto.

Jorge Carrano disse...

Disse mais, e definitivamente, o Juiz Eliezer Siqueira de Sousa Junior:

"No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio o verdadeiro HERÓI NACIONAL, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu ‘munus’ com altivez de caráter e senso sacerdotal: o Professor."

Assino embaixo, com todas as vênias do magistrado.

Anônimo disse...

Não conheço a autora mas desejo-lhe sucesso. Espero que não sofra decepções tão comuns entre professores. E com razão.

Jorge Carrano disse...

Nova experiência em São Paulo.
É uma boa ideia?
Quais são os prós? E os contras, tem algum?

http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/09/1685232-sp-vai-transferir-mais-de-1-milhao-de-alunos-para-dividir-escolas-por-series.shtml

Riva Pessimista disse...

Alessandra descreveu com muita assertividade o cenário da Educação nesse Brasil atual.

Carrano, em outro post, certa vez comentou sobre o fato de hoje, com a mulher trabalhando fora de casa, como isso impactou a educação dos filhos. Eu concordei e concordo, que o papel mais importante da mãe outrora era certamente a educação dos filhos, em todos os sentidos.

Não mais. O casal sai para trabalhar, e eu não tenho dúvidas do grande impacto no dia a dia de uma criança ou adolescente, na perda de qualidade no ensino, na educação.

E junto com isso vem o tsunami de tecnologia aplicada à vida dessas novas gerações, vem o aumento da atuação do tráfico de drogas em todas as cidades, a consequente insegurança, o caos da mobilidade urbana, tudo isso impactando a vida de quem pretende estudar, aprender, se educar.

Alessandra descreve com muita precisão como isso tudo afeta as nossas vidas, até num simples atendimento em uma farmácia, por exemplo.

Eu não estou numa fase de otimismo. Nem eu nem muita gente. Pelo simpes fato de não perceber nenhum processo sendo construído para reverter tudo isso. Não consigo imaginar essas crianças que vejo pela rua, sentadas numa sala de aula, com entusiasmo. Não vejo.

E em não voltando para a sala de aula, onde estarão daqui a 5 ou 10 anos ? E elas são o Brasil de Amanhã.

Jorge Carrano disse...

Riva e Anônimo (a),
Imagino que a Alessandra virá aqui agradecer as manifestações e replicar seus comentários.

Alessandra Tappes disse...

Jorge, meninos, boa noite!

Como sempre sou muito bem recebida aqui. Grata a todos pelo carinho e compreensão. As vezes vejo meu nome circular entre um comentário e outro e fico realmente lisonjeada! Mas como Jorge já citou inúmeras vezes, meu tempo é curto demais para os prazeres da vida. Amo escrever. Mas o tempo...a esse tempo... anda escasso na minha agenda.

São tantas dúvidas qto ao futuro (e presente tbm!) da nossa educação que realmente entendo a colocação do "anônimo" quando diz sobre sofrer decepções no processo. Já larguei empregos bons por influência da lua, ou pq simplesmente ventou forte. Mas isso foi lá nos meus 20 e poucos anos...

Nessa mesma fase, troquei o certo pelo duvidoso também e n levei guarda chuva quando a mãe avisou! Segui meus instintos e quebrei sim. Me dei mal mesmo.

Hoje, com quase 45 (idade não quer dizer nada...)me sinto mais centrada, tendo muito mais que um horizonte a seguir. Tenho medo sim do que possa vir, do que vou encontrar. E,não vamos tão longe nesse futuro né? O que temos por hora é inaceitável. Sinto que estamos respirando por aparelhos em todos os aspectos. Quero muito respirar livremente! Mas hj, passados bem mais dos 20 e poucos anos, o medo por hora toma conta de mim. A realidade é outra, os valores tbm são outros.

Fico realmente muito tocada e agradeço de coração sua preocupação Anônimo.

Sabe Riva, volta e meio brinco aqui em casa que no instante que me formar, irei dar aula em tribos indígenas. Para isso precisarei fazer um estudo completo de onde irei pisar, como e que tipo de armamento terei q levar...até os índios se "bandearam" pro lado de lá.

Também ando numa fase muito pessimista. Dá desânimo sair. Saber que vai se chatear na primeira tentativa de estacionar em uma das 12 vagas de deficiente na cidade e encontrar lá carros parados "mas é só 5 minutinhos!" "pq não buzinou? eu saía!" e outras desculpas mais, desanima mesmo. Desanima vc saber que o peito de frango que vc compra vem cheio de hormônio. Desanima vc imaginar que em uma feira de artesãos vc concorre brutalmente com "artesãos" made in China...e olha que cito pequenos motivos para desânimo...os reais n valem a pena ser citados.Desanima só de pensar...

Mas bora lá! Tenho que continuar a insistir na regra do jogo e nos valores certos da vida por mim e por João. Está aqui nesse mundo há 15 anos. Preciso ter menos medo e mais coragem não é? Afinal, ele já faz parte desse ciclo de "educação" e se eu não tiver virtude, perder meu foco, então seremos os 2 perdidos.

Mais uma vez, agradeço todo o carinho de vcs! E, obrigada por me ouvirem!

Boa noite!!!

Jorge Carrano disse...

E já que a Alessandra falou do João, reitero que amanhã o texto que será publicado neste espaço é de autoria dele.

Eu é que tenho que agradecer, Alessandra. Sempre que consiga um tempinho volte aqui com seus textos repletos de sensibilidade.

Boa anoite!

Riva disse...

Show a réplica da Alessandra. Perfect.

E quanto ao seu "boa noite", Carrano, espero que seja para nós dois ..... rsrsrsrs .... lá vem estresse !!

Riva Pessimista disse...

Voltei rápido para, detalhes .....

Na saída da garage do meu prédio tem uma pintura amarela no asfalto, da Prefeitura, para respeitarem ali o limítrofe de estacionamento na rua, para não prejudicar quem sai da garage do préio.

Saí hoje, e me deparei com um carro bem além da marca, atrapalhando minha saída da garage. E a motorista desse carro estava presente na hora ....

Parei ao alado dela e falei : essas marcas aí são para serem respeitadas, ok ?

Resposta dela : um sorriso de desprezo ....