Levei muito tempo para conseguir a autorização, clara e expressa, do Autor, e poder publicar aqui este post que foi publicado originariamente em seu próprio blog. Está em
Muitas das histórias daquele que foi reputado o melhor colégio do Estado do Rio de Janeiro (antes da fusão com o Estado da Guanabara, que antes fora o Distrito Federal), estão contadas no livro de sua autoria, intitulado "Lembranças do meu Liceu (1953-1959)", que tive a alegria de receber como presente.
Quando o Carlinhos (para os amigos), a meu pedido, enviou a foto acima, fez questão de ressaltar que ele não se parece com o adolescente que era quando nos conhecemos.
Também eu nem de longe guardo semelhança com o magrela seu contemporâneo de Liceu.
Tempos muito bons, sob vários aspectos. Mas destaco os seguintes: tínhamos escola pública de bom nível (o Liceu é um exemplo), médico clinicando em farmácia do bairro; segurança nas ruas (dava para assistir a sessão das 22 horas nos cinemas), rede de transporte bem razoável (bondes e ônibus elétrico, a preços civilizados) e, uma coisa de valor inestimável, todo mundo conhecia todo mundo. Embora capital do Estado, Niterói era praticamente uma cidade interiorana graças a proximidade com a capital da República.
Dentro de alguns dias terá início o outono europeu (a meu juízo a melhor época para visitar o velho continente) e publicarei aqui, se conseguir superar alguns problemas de edição, matérias do Carlos Lopes, ex-Juiz de Direito, hoje globetrotter, com ótima dicas que servem tanto para iniciantes em viagens quanto para veteranos.
Hoje fico com as memórias.
Por
Carlos Lopes
Segunda-feira, fevereiro 02, 2015
BOAS
LEMBRANÇAS
Calfilho
Depois
de muito tempo, na realidade vários anos, tive o prazer de reencontrar,
graças aos mistérios da internet, o meu ex-colega do Liceu Nilo Peçanha de
Niterói, JORGE CARRANO.
Apesar
de nunca termos estudado na mesma sala, tivemos um contato bem próximo nos anos
de 1958 e 1959, quando cursei a segunda e a terceira séries do então curso
científico. Acredito que CARRANO era um ou dois anos mais atrasado que eu, não
me recordo ao certo.
Em
1958, eu e outros colegas de turma, principalmente o Irapuam Assumpção e o
Telúrio Tércio de Aguiar, vendo o abandono em que se encontrava o Grêmio
Cultural Nilo Peçanha, decidimos reunir um grupo de abnegados de outras séries
e reativar as atividades gremistas.
Éramos
todos apaixonados por esportes, principalmente o futebol, mas ficávamos
limitados a alguns "rachas" nos intervalos do recreio ou quando
"matávamos" uma ou outra aula mais enfadonha. Depois de correr
alucinadamente pelas quadras de basquete ou vôlei atrás de uma bola de borracha
furada com prego quente para não quicar, voltávamos totalmente suados e
bastante cansados para as aulas seguintes. Mas, exibindo sempre um sorriso de
satisfação nos lábios.
Conversamos
com alunos de outras séries mais novas, o João Bonvini, o Josa (José Henrique
Paredes), o Fernando (Pernambuco) e alguns outros, e decidimos
reativar o Grêmio.
Em
primeiro lugar, fomos verificar as condições em que se encontrava a agremiação.
Abandono total, que datava de alguns anos... O material esportivo, comprado em
administrações anteriores, estava em casa de ex-liceístas, servindo um dos
uniformes, conforme apuramos, para forro para o cachorro dormir...
Tínhamos que recomeçar do zero.
Procuramos um colega de outra série, o JORGE CARRANO, que às vezes
"rachava" conosco na quadra de basquete, e propusemos lançar sua
candidatura à presidência do Grêmio. Candidato único, pois ninguém se
interessava pela agremiação, ganhou facilmente as eleições. CARRANO parecia-nos
ser talvez o mais equilibrado, o mais responsável de todos nós, o mais indicado
para nos representar junto ao diretor do estabelecimento e outras autoridades
com quem teríamos que lidar.
Telúrio
foi nomeado diretor de esportes e eu, responsável pelo futebol. Irapuam era o
diretor social, cargo que bem lhe coube, dada a facilidade que tinha no
convívio com as liceístas...
Eu,
Carrano e Irapuam fomos ao gabinete do então diretor do Liceu, Professor
Aldo Muylaert, e solicitamos sua permissão para a reativação do Grêmio, bem
como a apresentação de um programa musical na hora do recreio do turno da
manhã. Ele ouviu nossa reivindicação e, depois de refletir por alguns
instantes, decidiu aprová-la.
Nascia,
assim, a "Hora do Grêmio", que, nos quinze minutos do recreio, informava
os alunos sobre as atividades da agremiação e tocava os 78 rotações da época:
Elvis, The Platters, Little Richard, Nat King Cole, entre outros. O Brasil
sofria, à época, forte influência da música norte americana, principalmente o
rock'n roll, que invadiu como um furacão as rádios e televisões dos Estados
Unidos e também do Brasil. A bossa nova brasileira ainda engatinhava e nossa
música constituía-se de bolero e samba canção, não interessando muito à
juventude dos anos 50. O programa, logo depois, foi estendido ao turno da tarde
e, às vezes, até ao noturno.
Pela
"Hora do Grêmio" convocamos os liceístas, amantes dos esportes, para
que viessem ajudar na reconstrução de nossa agremiação. E, já no sábado
seguinte, vários deles apareceram para, juntos, construirmos as balizas de
futebol de salão. Pitamos as mesmas de amarelo, para ficarem diferentes das
tradicionais brancas, compramos as redes e duas semanas depois, realizávamos
nossa primeira Olimpíada Interna, na qual a turma do 2º. científico (por acaso,
a minha) sagrou-se campeã.
Criamos,
em seguida, o departamento de vôlei, tanto o masculino como o feminino e o
basquete. Realizamos, em 1958 e 1959, várias excursões memoráveis, como as de
Marambaia, Angra dos Reis e a inesquecível ida a Cachoeiro do Itapemirim. O
Liceu também teve participação importante nas Olimpíadas Estudantis, realizadas
no Ginásio Caio Martins. Em nossa quadra de basquete, adaptada para o futebol
de salão, recebemos para partidas amistosas, vários colégios de Niterói, entre
eles o Plínio Leite, José Clemente, Salesianos... Nosso diretor social,
Irapuam, organizou uma festa junina no pátio e realizávamos festas nas casas de
colegas para angariar fundos para comprar material esportivo.
Verdade que, para o desenvolvimento de nossas atividades, contribuíram decisivamente o Professor de Educação Física ALBER PESSANHA, que nos dava um toque oficial do corpo docente do colégio e o zelador do Liceu, AZER RIBEIRO, que abria o colégio para os liceistas aos sábados e lá ficava até terminarem os jogos realizados.
A
salinha do Grêmio, escondida num cantinho do imponente prédio, na confluência
de dois corredores na parte de trás do colégio, próximo a uma escada que dava
acesso ao segundo andar, tornou-se o centro de reunião dos liceístas. Iam ali
conversar, bater papo, folhear uma revista e, principalmente, comprar passes de
trolley ou bonde, com desconto significativo para os estudantes, grande vitória
alcançada pelo Grêmio junto à Federação dos Estudantes Secundários de Niterói
(FESN). Vendíamos os passes na sede do Grêmio, sem necessidade do deslocamento
dos alunos até a FESN, então localizada na Praça do Rink.
Mas,
voltemos ao meu amigo CARRANO: depois que deixamos o Liceu, cada um seguiu seu
caminho na vida, apesar de termos cursado a faculdade de Direto, eu talvez um
ou dois anos antes dele. Lembro que ensaiamos abrir um escritório de advocacia
quando eu voltei de minha temporada em Cantagalo, mas a coisa não evoluiu e
perdemos o contato.
Voltei a revê-lo brevemente, na década de 1980, quando eu já era juiz presidente do I Tribunal do Júri do Rio de Janeiro e tive o prazer de receber sua visita. Conversamos rapidamente e outra vez perdemos o contato.
Só agora recentemente, quando entrei num site de buscas da internet, pesquisando coisas sobre o Liceu, foi que soube que CARRANO tinha um blog em que meu nome era citado numa de suas postagens. Localizei e li o mesmo com emoção, passados mais de cinquenta anos daquela época tão especial para nós.
E, passando por seu blog uma vez ou outra, vi uma postagem recente, em que ele fala do MANEL'S, um local misto de mercearia e botequim, na esquina das ruas Lemos Cunha com Mariz e Barros, onde passamos momentos saudosos e deliciosos, acompanhados de uma Portuguesa (não se faz mais cerveja como antigamente) ou de um conhaque Dreher.
Mas, isso é outra história, que merece uma
postagem especial...
11 comentários:
É muito prazeroso ler esses testemunhos de uma época que muitos não gostam de comentar - sei lá porque.
Para essa idade do relato, creio que o meu período foi entre 65 e 70, e foi, podem acreditar, uma fase maravilhosa da minha vida pessoal.
Aguardo, ansioso, os relatos europeus. Prefiro viajar na primavera, mas concordo que o outono tem seus encantos.
De minha arte, Anônimo (a), tirante o inverno e o verão, por diferentes motivos, tanto a primavera quanto o outono são ótimas estações para viagens à Europa.
Alás, viajar para a Europa é sempre ótimo. E tenho (ou teria) ainda tantos países a visitar... Estônia, Letônia, Croácia, Sérvia ...
A propósito dos textos sobre viagens pelo continente europeu, que prometi publicar, devo esclarecer que ficou difícil.
A experiência de pinçar diretamente do blog do autor - Carlos Lopes - revelou-se inadequada.
O ideal, para uma boa edição/diagramação, é que eu receba o texto em word.
Só que o autor está de viagem marcada para o final de mês, só regressando em dezembro. Não posso, em consequência, pedir que o mesmo tire o foco da viagem para atender meu desejo de aqui publicar seus posts com dicas e sugestões para diferentes cidades do velho continente.
Não sei como contornar os problemas "técnicos", pois sou amador.
Vamos aguardar o transcurso do tempo.
O Caio Martins voltará a ser ocupado pelo Botafogo.
Coincidência: o primeiro clube do Carlinhos foi a Canto do Rio, que mandava seus jogos neste estádio. Anos depois, mais crescido e empolgado com o timaço alvinegro, virou botafoguense.
Leiam em:
http://extra.globo.com/esporte/botafogo/casa-do-botafogo-em-2016-caio-martins-recebera-investimentos-de-15-milhoes-tera-capacidade-para-15-mil-torcedores-17541241.html
Enquanto isso, aqui em uma Friburgo a 19º, hoje fomos ao Festival local de FoodTrucks.
Esse negócio de trucks de comida pegou no mundo inteiro. Comidas deliciosas, uma infra pequena para o proprietário, que ainda pode se deslocar para outros bairros.
O de Niterói, há algumas semanas, pecou pela falta de infraestrutura local, no Campo de São Bento. Não tem condições. Não dava nem para andar lá dentro.
Aqui em Friburgo achei que pecou pela falta de mesas e cadeiras - pouca quantidade. Mas a proposta é essa mesma. Tinha um vagão banheiro limpo, estacionamnto pelas ruas do entorno, musica ao vivo, uma festa.
Fomos de risoto de rabada, cachorro quente com couve frita e cebolas caramelizadas, batatas fritas com molho barbecue e purê de maçãs, e ainda levamos para casa coxinhas de rabada com molho de agrião, deliciosas. Preços entre 15 e 30 reais.
Por que estou falando disso aqui, nesse post ? Sei lá, aqui não é o Pub da Berê, ou errei de lugar ? Ou sentei na mesa errada ?
Enquanto isso 2 :
Rumores de renúncia da Disgraça .... não duvido de algo costurado com o Congresso ... reprovam o pacote fiscal, e ela diz não poder governar sem essa aprovação. Uma saída adequada para o momento, quando começam a se aproximar do Lula e dela. Acalmaria tudo !
Ou não ?
Pois é Riva, pegou aqui no Brasil mas já era moda em alguns outros países. A diferença é que aqui os preços são altos, para um tipo de refeição que seria (ou deveria ser) alternativa.
O autor deste depoimento recheado de boas lembrança não aparece na foto dos meus quinze anos? Caso positivo, ele realmente não se parece com aquele adolescente fotografado em 1960.
Sim, Ana Maria, ele mesmo entre alguns outros amigos e colegas de colégio, de prática de esportes e de aventuras juvenis.
Não a sabia tão fisionomista, porque realmente todos os que na citada foto aparecemos estamos muito mudados: física e mentalmente.
Sem falar da memória. Para uma septuagenária está muito boa (rsrsrs).
Caro Carrano: O Caio Martins, na realidade, seria muito melhor e mais econômico para o Botafogo, na fase difícil que ele atravessa atualmente. O Engenhão é muito bonito, mas de difícil acesso, principalmente nos jogos noturnos. A média atual de público do Botafogo não chega a 15 mil espectadores, o que caberia perfeitamente no Caio Martins. Quando era garoto e sócio do Canto do Rio, assistia seus jogos na arquibancada social coberta, à direita, entrada pela Pres. Backer.
Lembro perfeitamente de ter comparecido em sua casa, quando vc. ainda morava na Feliciano Sodré, no aniversário de sua irmã. Aliás, se puder, por favor, republique a foto que tirou na ocasião.
Passados três anos da publicação deste post, algumas retificações e explicações tornaram-se imperiosas porque agora disponho de informações mais precisas.
O Carlos Lopes não presidiu, ao contrário do mencionado no texto, o julgamento do general Newton Cruz. Um dos casos mais rumorosos que ele julgou foi o da atriz Dorinha Duval.
Por outro lado, não ficou claro que ele (Carlinhos) era chamado, à sorrelfa, de “cachaça” (que não bebia como acentuado), para diferença-lo de outro Carlinhos, igualmente popular no Liceu, que era tratado por “frigideira”. Este último era filho do desembargador Moacyr Braga Land e batia muito bem frigideira juntamente com os ritmistas do Morro do Cavalão.
Assim era o Liceu na época. Abrigava as elites da cidade: social, política e cultural. Como havia prova de ingresso (eliminatória e classificatória), os classificados juntavam-se aos filhos de deputados e até do governador (Celso Peçanha) e de empresários, compondo o que chamei de elite. Esta seleção resultava em que os formando no Liceu não precisavam fazer cursinho vestibular para ingresso nas faculdades, tal era o nível da escola. Sim porque o corpo docente, no geral, era muito bom.
Peço perdão aos que não mencionei os nomes, por falha de memoria.
Para minha alegria restabeleci contato com o Carlinhos (Carlos Lopes). Pessoal num recente encontro de ex-liceístas e mais assiduamente pela via virtual, através de mensagens eletrônicas e comentários nos respectivos blogs. Seu blog está em http://calfilho.blogspot.com.br/ (copy and paste).
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