22 de setembro de 2015

Brasil – Pátria educadora




Por
Ana Maria Carrano





Tive a sorte de nascer numa família que valorizava o estudo. Minha mãe e meu pai possuíam pouca escolaridade, mas uma enorme ânsia em aprender.  Essa vontade de obter graduação, eles nos incutiram.

Pensando bem, tive sorte de nascer também num outro Brasil, que embora estivesse se ressentindo da segunda guerra, estava disposto a buscar o progresso e a ordem preconizados em nossa bandeira.

Já falamos aqui neste espaço sobre nossa experiência nos bancos escolares e de como eram diferentes as relações entre mestres e discípulos e o interesse de todos em prol do aprendizado.


Naquela ocasião em que os direitos femininos ainda eram muito questionados, nós mulheres deveríamos escolher um  “bom partido”, um noivo com emprego que garantisse o sustento da família. Assim disse minha avó quando minha irmã terminou o Curso Ginasial e matriculou-se no Normal.

Dizia nossa avozinha que deveríamos aprender prendas domésticas para conseguir um bom matrimônio. Mas, por sorte mamãe não se conformava por ter largado cedo os bancos escolares e queria mais para suas filhas.  Um de seus sonhos era ser professora, profissão que naquela época era respeitada e reverenciada.

Por este motivo me tornei professora primária, lecionando no Colégio Plínio Leite antes mesmo de concluir o curso, graças à generosidade do dono e diretor geral da instituição que nos empregou após a morte prematura de nosso pai.

Fui uma boa professora (sem falsa modéstia) espelhando o exemplo dos excelentes mestres que tive. Ainda havia preocupação com a transmissão do conhecimento, coisa que não vejo nos dias atuais.

Lecionei por cerca de dez anos em diferentes escolas e diferentes cidades. Não só os alunos bem nutridos do colégio particular de Niterói, como os moradores do Gradim em São Gonçalo (a maioria vindos do Morro do Oriente) e as esforçadas  crianças da zona rural de Teresópolis que caminhavam até três horas para chegar ao Grupo Escolar Rural.

Aprendi tanto quanto ensinei, visto que desconhecia realidades tão diferentes da minha, mas em todas essas circunstâncias a responsabilidade e o respeito estavam presentes dentro e fora da sala de aula.

Falei tanto de minha experiência para reforçar o sentimento de repúdio ao Sistema de Ensino atual.

E vem o governo com seu marketing nos alcunhando de Pátria Educadora.

Os jovens de hoje são despreparados para o exercício de profissões e para a vida. Os exemplos dos líderes são desprezíveis. Somos o país do “jeitinho”, da “lei do Gérson”, das cotas, das bolsas e do pixuleco.

O que estamos deixando como exemplo para nossas crianças? Quem são nossos ídolos?

Assim como Renato Russo, eu pergunto : afinal, que país é esse?



6 comentários:

Jorge Carrano disse...

No Brasil "educação" é um ministério a ser negociado com algum partido da base aliada em troca de apoio.
O que já não estava bom piorou nos últimos anos, quando assumiu um presidente que se jactava de não ler.
A atual faz marketing criando um slogan mentiroso a partir de pesquisas de opinião junto a população que clama por melhores condições e mais investimentos para o setor.
Então criaram o "Brasil - Pátria educadora" para nos engambelar.
Vejam a posição do Brasil no ranking mundial.
Vergonha!
Ainda convivemos com prefeitos que desviam verbas da merenda escolar. Ora, a criança mal nutrida certamente terá menores condições de aprendizado.
No norte/nordeste do país a situação é ainda pior.
Alguém poderá dizer que há muito batemos nesta tecla e nada muda, nada acontece de melhor.
Quanto mais gente reclamar, denunciar, maiores serão nossas chances de obter melhorias para netos e bisnetos.
É como bater panela. Nós não conseguimos sufocar discurso da presidente na TV? Pois é.

Freddy disse...

Acho que o assunto é tão amplo que debatê-lo só com texto fica meio difícil, merece uma reunião presencial (!!). Vários são os aspectos a considerar quando se fala na dificuldade de educar jovens. Por exemplo, os professores em geral são de gerações anteriores incompatíveis com o novo linguajar, com a nova maneira dos alunos se comunicarem entre si e com o mundo.
Referência: gerações "baby boomers", X, Y, Z e alfa.

Para centralizar o foco num dos aspectos, vou apenas opinar que não interessa a governo com projeto de poder a educação da população (não apenas no Brasil, é em qualquer republiqueta). Demagogicamente dão (ou prometem) assistência médica, bolsas desemprego e família, tickets de alimentação e transporte, mas programas efetivos de educação não.

Para não ficar feio, não dizem diretamente que são contra. Apenas minam o sistema educacional. Progressão escolar mesmo sem o aproveitamento mínimo é uma maneira de corroer o ensino. Outra são cotas raciais, que permitem o ingresso de despreparados no ensino superior por decreto. Salário miserável para os mestres e condições de trabalho precárias são outras formas de minar o sistema.

Ou seja, para fazer ouvir as vozes que lutam pela melhoria da educação da população tem-se que, em primeiro lugar, tirar o PT e coligados do governo. Senão, continuaremos dando murro em ponto de faca.


Riva disse...

O Brasil a que se refere a Ana, que era o meu também, apodreceu e morreu. Simples assim.

Hoje, nas 2 horas de engarrafamento no trajeto Icaraí-Barra, como sempre, venho ouvindo a CBN e no pedágio da Linha Amarelo coloco música. E ouvi uma crônica antiga do Jabor entitulada Meu Sonho, ou algo assim. Ouçam na web, porque retrata fielmente o que todos nós, que conhecemos um outro Brasil, estamos sentindo.

Acabou mesmo o Brasil dos nossos sonhos, e o desafio agora é saber como reconstruí-lo, se é que será possível, pois é uma tarefa que passa por mãos diversas, muitas mesmo, a exemplo do que o Beltrame citou, referente à segurança pública.

A maioria pensa e acha que as autoridades policiais têm que acabar com a violência, quando na verdade essa é uma tarefa de 200 milhões de pessoas, cada uma em seus papéis, em associações, em trabalhos, em partidos políticos verdadeiros, em ONGs, no diabo a quatro, em atitudes no dia a dia, mas todos.

O livro Nos Bastidores da Disney tem uma passagem interessante. Um dos convidados ao complexo Disney pergunta ao executivo da Disney quantos funcionários de limpeza eles têm, tendo em vista a impressionante limpeza de um local sempre muito cheio de visitantes.

E o executivo responde : temos 20.000 funcionários na Limpeza.

Mas como, reage o convidado ? O senhor disse que seu efetivo total é de 20.000 funcionários.

Isso mesmo, e TODOS têm compromisso com a limpeza do parque. Sinergia total !

Jorge Carrano disse...

Assiste razão ao Carlos Frederico. É um assunto muito rico e vasto para ser debatido num só texto.
Entretanto vale ressaltar que no post anterior sinalizamos que serão três os posts sobre o tema. O de uma ex-professora (aqui publicado), o de uma formanda, quase professora, ansiosa por lecionar, cheia de sonhos e ideais, e finalmente o de um aluno de escola técnica.
Os dois últimos serão publicados até o final da semana. Eventualmente outros que cheguem ao editor poderão ser igualmente publicados na sequência.
Vou além, acho o assunto inesgotável, pois sempre surgirá uma didática mais moderna, recursos eletrônicos, técnicas de ensino validadas em outros lugares, etc.
Vamos fazendo, modestamente, nossa parte no debate. Cada passo que seja dado em direção ao objetivo tem sua relevância, pois serve de impulso para o seguinte.

Riva disse...

Repliquei o post no Facebook.

Jorge Carrano disse...

Chile e Peru, mais pragmáticos e menos bolivarianos, entraram nesse pacto.

http://oglobo.globo.com/economia/acordo-historico-une-eua-japao-outros-10-paises-do-pacifico-1-17689533