21 de julho de 2014

Eu não sei pra que a gente cresce


Por
Regina Carrano



Sou de outra época já citada, no entanto, também há muito tempo passada. Ficou estranho o "Passada", parece passado, gasto, usado, sei lá. Mas é passado porque passou, e passou rápido!

Também estudei no Raul Vidal. Naquele tempo os nossos pais participavam ativamente da nossa vida escolar. Minha mãe era presidente do grupo de pais e mestres. Hoje nem devem saber o que é isso.

Assim como nossas brincadeiras, a maioria na rua.
Brincávamos na rua mesmo, no meio dela. E os carros nos respeitavam. Acreditem, nunca houve um acidente. Pulávamos corda, bandeirinha, chicote queimado, garrafão, pera uva maçã... E ainda tinha campeonato de queimado. A rua de cima contra nossa rua.

Surgiram até namoros entre os times. Eu era boa nisso (no jogo, tá), porque namoro só escondido, mesmo assim, era só segurar na mão.

Frequentávamos a casa uns dos outros como se fossem nossa, entrando e saindo sem bater. Era como se fosse uma grande família.

Minhas roupas eram na sua maioria costuradas por minha mãe. Eu reclamava muito, porque era do jeito dela, não tinha muita escolha, mãe durona, das boas, mas uma supermãe.

Sabe o que é você receber seu lanche na escola quentinho na hora feito por ela? E por conta desse "Durona" Bailinho? Festinha? Só com a família.

Mas não posso reclamar, não me fez falta. Tínhamos um tio muito festeiro, na casa dele sempre havia festa e música. Eu dançava com meu pai, e como dançava bem, os tios e amigos dos tios queriam aproveitar a jovem no alto dos seus 12 anos, rs, sim doze, mas já um mulherão, que dançava sem parar. Nesta e em outras ocasiões era eu e meu pai que abríamos o salão.

Não usava coisas da moda, a vida era meio difícil, quando um calçado já ia saindo de cartaz (digamos assim), era quando meus pais podiam comprar, pois o preço baixava bastante.

Meu gosto musical não acompanhava a época, meu pai só ouvia música orquestrada, e eu adorava as músicas que mamãe cantava, associado a isso eu amava coisas antigas. Sabia cantar Vicente Celestino, Nelson Gonçalves, entre outros. Por isso e por talvez possuir uma alma meio antiga, não me lembro de gostar ou ser fã dos artistas da época.

Acho que vivi muito tempo meio que numa redoma, protegida, amparada e muito vigiada...


Mas posso afirmar que de nada sinto falta. Tudo que vivi e fiz foi maravilhoso. E aí me lembro da canção: _ "Eu daria tudo que tivesse, para voltar aos tempos de criança, eu não sei por que a gente cresce, se não sai da gente esta lembrança..."

Nota do editor: O título do post é um dos versos da música "Meus Tempos de Criança", de autoria de Ataulfo Alves. Está em:
 http://www.vagalume.com.br/ataulfo-alves/meus-tempos-de-criaanca.html

8 comentários:

Jorge Carrano disse...

Cara prima,
Seja muito bem-vinda a este espaço virtual.
Muito obrigado por aceitar o convite e colaborar com este post.
Espero que se anime para outras contribuições.
Bj.

Riva disse...

Legal seu post, simples e abrangente.

Reparei o "uma rua contra a outra", como também era no Pé Pequeno, competições entre tchurmas do mesmo local, diferenciado por ruas.

Um outro ponto igual ao nosso, era esse lance de entrar e sair das casas dos amigos sem nem tocar a campainha ! Acontecia exatamente assim no Pé Pequeno, com algumas casas. Na minha, por exemplo, se tentassem, minha avó botava o cara pra correr !! rsrsrsrs .... então no máximo o cara nem tocava a campainha ... parava na porta e ...Paulooo !!!!!!

E pra finalizar, você é mais uma que adorou esses tempos, como eu ... fora maravilhosos, apesar da tal ditadura militar ....

Valeu !

Ana Maria disse...

Algumas crianças também brincavam na travessa onde morei até os 8 ou 9 anos, mas meus pais eram extremamente zelosos com nossa segurança. Regina falou em redoma. É isso mesmo.

Jorge Carrano disse...

Pois é, Ana Maria. Nem tanto ao mar e nem tanto a terra. Liberdade excessiva não é conveniente, mas a privação de liberdade também é nociva.
O convívio entre crianças as tornam mais sociáveis. Mas é preciso monitorar.
Acho que também neste quesito Aristóteles estava certo: a virtude está no meio.

Ana Maria disse...

Eu conhecia esta citação, mas atribuída a Lao Tsé, fundador do Taoismo, que viveu no século 1300 AC. Bem antes de Aristóteles.
No livro que me foi emprestado por meu sobrinho Ricardo (um dia eu devolvo!) li que ele considerava o absoluto (TAO) como o caminho do meio.
Que me corrijam os budistas e taoistas.

Jorge Carrano disse...

Bem, Ana Maria, filosofia não é meu forte (o que seria?), mas fui pesquisar e achei muita coisa sobre a filosofia de Aristóteles.
Veja, por exemplo, em
http://blogdefilosofiadowolgrand.blogspot.com.br/2011/03/o-pensamento-etico-em-aristoteles-ou.html

Jorge Carrano disse...

Bem, Ana Maria, filosofia não é meu forte (o que seria?), mas fui pesquisar e achei muita coisa sobre a filosofia de Aristóteles.
Veja, por exemplo, em
http://blogdefilosofiadowolgrand.blogspot.com.br/2011/03/o-pensamento-etico-em-aristoteles-ou.html

Alessandra Tappes disse...

Quando você, Regina cita sobre seu gosto musical, veio a tona as inúmeras vezes que me peguei amando Carlos Gardel, Born Free, 101 Cordas, Nana Caymmi, Chico Buarque em plena era MENUDOS.

Lembro de minha mãe lavar roupa no tanque, quarar no sol dentro de sacos plásticos o uniforme de meu pai assoviando “El Silêncio”.

Enquanto me julgavam a “estranha” eu me achava apenas filha de uma família unida, onde dividíamos de um tudo e a música fazia as trilhas das nossas vidas.

Hoje vendo a amizade, respeito e lealdade que você mantém com sua mãe, só posso crer que a “redoma” em que você foi criada, protegida e amparada junto a seriedade dessa mulher brava só contribuiu para tornar você o espelho lutador de sua mãe, Nildéia. Boas as suas lembranças.