20 de julho de 2013

Gênese de uma foto

Por
Freddy*






Esta foto foi tirada da cozinha de meu apartamento, em Icaraí. No entanto, ela não é a imagem original registrada por minha pequena câmera Sony DSC WX80, um dos mais recentes lançamentos desse fabricante, que tira partido de tecnologia óptica oriunda de diversas fontes. Ela absorveu no passado uma das gigantes do mercado fotográfico, a Minolta, e no caso em questão usa lente zoom Carl Zeiss Vario-Tessar, fabricada sob orientação da matriz alemã. De genética Sony, a excelente eletrônica embarcada.

Para minha surpresa, ela é montada em Manaus, na Zona Franca. É, sou avesso a qualquer equipamento feito ou montado no Brasil que envolva tecnologia. Reconheço apenas pouquíssimas e elogiáveis exceções como os aviões da Embraer e as plataformas da Petrobras. Continuando...

O dia estava visualmente interessante, mas uma névoa insistia em permanecer sobre o mar entre meu apartamento e o Cristo Redentor. Parte dela é umidade, parte é smog, a famosa poluição que é uma constante na maioria das grandes cidades. Só em raros momentos pós chuva, de preferência com vento para evitar a concentração de smog, o visual é de cinema. Não foi o caso, era um dia comum.

Comecei batendo algumas imagens a mão livre, com zoom óptico máximo, que na WX80 é de 8 vezes, emulando uma lente de 200mm (é usual ainda nos referirmos ao padrão das lentes da época do filme, o das câmeras de 35mm). A intenção não era o resultado inicial (o visual típico é de topos de prédios),  era criar uma base para manipulação posterior.


Pela tendência inerente às teleobjetivas de comprimir o espaço e aumentar sensivelmente os efeitos negativos do fog ou, como é o caso, do smog, a imagem do Cristo distante ficou "lavada", totalmente sem cor e sem contraste. Filtros existentes na câmera para aumentar a saturação e criar uma foto visualmente bonita não eram viáveis, dado que a dominante era azul.

Resolvi então dar andamento à manipulação e extraí um segmento apenas com o Cristo, recortando a imagem com um programa simples de meu laptop. É como se eu estivesse puxando um zoom de 32 vezes, equivalente ao uso de uma teleobjetiva extrema de 800mm (padrão 35mm). Ah, essas maravilhas tecnológicas modernas... De modo algum isso seria fácil na era do filme!


Como podem observar, resultou uma foto horrorosa, puxada para o azul e sem contraste algum. Tentei algumas técnicas, como extrair mais cores, puxar algum verde das árvores, nada... Então, parti para a briga! Se as cores não resultavam, que tal preto e branco?

Um clique de mouse e "voilà"=> ainda tosca e lavada, mas sem cores brigando entre si, eu tinha nova base (não mostrada). A partir daí o procedimento foi aumentar brutalmente o contraste até o limite artístico (quando começamos a nos afastar da realidade), já com granulação evidente.

Parei num ponto que me pareceu interessante, que é a imagem que abre o texto. O para-raios deixado visível no canto direito é um recurso de composição, um elemento gráfico que contém em suas formas internas uma cruz, tema da foto. Também funciona como indicativo de distância.

* Carlos Frederico Marques Barroso March
Engenheiro aposentado, astrônomo e fotógrafo diletante



6 comentários:

Jorge Carrano disse...

Caro Freddy,
Noutro dia foi o dialeto do som, hoje o da imagem.
Como sou monoglota, só dominando o juridiquês, não tenho o que dizer.

Freddy disse...

Tem o da música e o da astronomia ainda... rs rs
Abraços
Freddy

Riva disse...

Não é implicância, mas esse pára-raios estragou o TAKE ....rsrsrs

Lembro uma foto desbundante que bati de Lake Tahoe, e Freddy falou que estraguei a foto devido a um galho de árvore que aparece no canto superior esquerdo da foto ... coisas que só um profissional perceberia ...rsrsrs

Aprendi kkkkkkkkkkkk #prontofalei

Jorge Carrano disse...

Estamos diante de uma retaliação familiar. Não se assustem: brigam mas se entendem.

Freddy disse...

Quando a gente estuda fotografia, aprende as regras. Quem conhece as regras tem o direito de quebrá-las. Não foi um erro, foi um elemento gráfico para não deixar a foto sem graça, ali incluído propositalmente (é só ler o texto).
Como todo objeto artístico está sujeito a elogios e críticas (foi uma de minhas fotos mais curtidas no Facebook).
E decerto prefiro as críticas que o silêncio.
Valeu!
Abraço
Freddy

Riva disse...

eu mereço .... rsrsrs
meu galho não foi um elemento gráfico ...foi um erro mesmo ! rsrsrsrs