22 de julho de 2013

Futebol de botões

Contei que estava no velho Maracanã em junho de 1950, aos 10 anos de idade,  e assisti ao jogo Brasil e Espanha. 

No ano seguinte eu iria iniciar o curso ginasial, que antecedia o científico (ou clássico), essenciais e obrigatórios para quem pretendia fazer curso universitário.

Na época, para os homens, as opções seriam a carreira militar numa das forças armadas: Marinha, Exército ou Aeronáutica. A carreira na Marinha era a mais atraente, mais charmosa, por várias razões: era considerada mais seletiva; o bonito e vistoso uniforme branco que atraia as mulheres; tinha viagem de instrução de volta ao mundo no navio-escola “Saldanha da Gama” e, como resultado de tudo isto, ótimo posicionamento na arquitetura social.

Navio-escola "Saldanha da Gama" (foto Google)
Nas carreiras ditas civis, a medicina, a engenharia e o direito eram as que atraiam o maior interesse dos jovens, seguidas de perto pela odontologia e a arquitetura.

As mulheres, que tinham a opção de fazer o curso normal no ensino médio (os homens também, mas pouquíssimos faziam), depois optavam por pedagogia, medicina ou psicologia.

Bem, já era alfabetizado desde os 6 anos de idade. Aprendi em casa e em aulas particulares com uma professora cujo nome não lembro (pudera são passados 67 anos), mas lembro que morava numa casa de vila, que ficava na Rua Visconde de Uruguai, antes do cruzamento desta com a Rua Marechal Deodoro.

As brincadeiras de então eram baseadas em correrias: brincava-se de pique, de escambida, de esconde-esconde  e outras que tais, como guerra de mamonas, com atiradeiras (ou setas).

Tinha, é bem de ver, as peladas na Rua São Diogo, ainda sem calçamento, o que permitia inclusive cavarem-se buracos (búricas) para jogar bola-de- gude.

Quem podia comprava botões especiais industrializados, com escudos dos times, para jogar com os amigos. Quem não tinha (meu caso), utilizava botões de calças e camisas e principalmente (os melhores) de capas de shantung (moda na época).

Podia-se, também, utilizar pedaços de casca de côco e polir bem a superfície e os bordos, porque viravam ótimos zagueiros.

Nos jornais de segunda-feira, eram publicadas as fichas técnicas dos jogos do final de semana, com as escalações.

Eu cortava, com todo o cuidado, os nomes dos jogadores do Vasco e colava-os (com goma árabica), também com cuidado, para não besuntar o botão.

Por sorte, na época, os jogadores tinham nomes simples e pequenos. Não como hoje que temos Thiago Silva, Renato Silva, Thiago Alcântara (filho do Mazinho), Diogo Silva e por aí vai. Qualquer dia teremos nome, sobrenome e número de CPF. Será assim: Diego Cavaleiro de Almeida, CPF 00.111.222-33.  

Bem, como os nomes eram simples: Eli, Danilo, Jorge, Friaça, Maneca Ademir, Chico, etc.  era fácil recortar os nomes e colar nos botões. E com isso poder “narrar” as partidas quando tinha a “posse” da bola.

Tinha uma exceção que era o Ipojucan, cunho nome quase não cabia no botão, sem atrapalhar o uso da palheta. Barbosa era grande, mas como era goalkeeper não atrapalhava pois era estampado na caixa de fósforos que fazia as vezes do guarda-metas.

Hoje, por exemplo, no jogo contra o Fluminense, que ganhou por 3x1, o time do Vasco tinha os seguintes jogadores em campo: Diogo Silva, Renato Silva, Eder Luiz, Juninho Pernambucano, Sandro Silva, Rafael Vaz, Pedro Kem.

Onde estão os nomes simples, os apelidos tipo Vavá, Pelé, Dida, Didi, Zico, Cafú ?


2 comentários:

Riva disse...

Nunca fui um craque em futebol de botão, que jogava no chão lá de casa e no chão da casa de amigos, pois ninguém tinha uma mesa.

Esse seu post faz-me lembrar de duas coisas interessantes :

- o time de futebol de botão do meu pai, América - sim, ele era americano. O detalhe é que o goleiro dele era um cilindro de madeira, com a extremidade superior arredondada. Guardava seu time numa caixinha de lata, e tinha 2 balizas lindas, com rede de filó. Era um time de botão, imagino, da década de 20.
Para mim já era uma surpresa um goleiro cilíndrico, na década de 50/60, pois já usávamos caixas de fósforo com chumbo dentro, e forrávamos com um "uniforme" e o escudo do nosso time.
- a outra lembrança é que jogávamos com uma bola que era um "disco achatado". Mas tinha um cara na minha rua, o Mauro, que fazia uma bolas redondas de cortiça, e como ele estava acostumado com suas bolas, nos desafiava e ganhava simplesmente todos os jogos. A irritação era enorme, terminando às vezes em porrada - não entre os botões ... entre nós dois mesmo ! rsrsrs.

Carrano, em relação ao outro seu comentário dos nomes dos jogadores, realmente é muito esquisito para todos nós, que sempre ouvimos nomes de uma única palavra. Talvez um Ademir da Guia, mesmo assim, na narração do jogo, era somente Ademir (cracaço, diga-se de passagem).

Muitas, mas muitas mesmo, tantas coisas mudaram no futebol .... uma das que recentemente mais me incomoda é o formato das redes nas balizas.
Sou de uma geração em que a beleza de um gol está também na forma como a bola estufa e morre dentro da baliza ..... e isso não acontece mais .... as redes tem um formato e uma tensão tal, que a bola bate e volta para o campo, sem graça nenhuma. Em Vila Belmiro, graças a Deus, existe uma baliza com rede às antigas.

Estão matando o futebol, aos poucos, para a nossa geração. O pior é que as novas gerações gostam disso tudo que não estamos gostando. Fazer o que ?

E acrescento, que em virtude da extrema violência na sociedade atual, estamos migrando para um modelo de estádio que agrupará uma única torcida ... a que tem mando de campo. Única forma de evitar brigas e conflitos agendados pela web.

E para finalizar : gostaria de ver uma partida profissional, sem a regra do impedimento.

Freddy disse...

Eu cheguei a ter time de botão, mas também jogava no chão. Era comprado pronto, de plástico, mas a gente preparava raspando embaixo, passando carnaúba e fazendo bainha. Dependendo da qualidade, a gente colocava o botão preparado como zagueiro, meio campo ou atacante.
No entanto, não lembro de ter jogado muito com outras pessoas. Fazia-o geralmente sozinho, jogando pelas duas equipes, só como passatempo.
;o) Freddy