23 de junho de 2012

Marcus Tullius Cicero


Não conheço latim o suficiente, de sorte a poder ler e traduzir tudo quanto se contém nesta língua em matéria de filosofia, princípios jurídicos e outros ensinamentos no campo científico em geral os quais, atravessando séculos, ainda subsistem e estão presentes na íntegra ou servem de base para outros conceitos mais modernos no campo do direito e da filosofia. 

Ginasiano, sem planos de seguir carreira no campo das ciências humanas (queria ser militar), e ouvindo reiteradamente bobagens como “o latim é língua morta, sem aplicação prática”, não dei a mínima importância ao seu estudo. E fiz pior; ao concluir o ginasial, matriculei-me no “Curso Científico” ou invés de matricular-me no “Curso Clássico” melhor opção para quem iria fazer o “Curso de Direito”, no grau universitário.

Mas eu não sabia que iria seguir advocacia. Foi a falta de opção, na chamada vida civil, que me levou à Faculdade de Direito e à ciência jurídica, pela qual me apaixonei doutrinária  e filosoficamente. Mas já era tarde.

Aprender latim depois dos 20 anos de idade, trabalhando, e em seguida casado, e na sequência sendo pai, estava acima de minha força de vontade e empenho.

Mas foi um erro crasso, que me dói fundo quando, por exemplo, vejo o João Ubaldo Ribeiro esbanjando conhecimentos do latim e do grego.

Saber latim é meio caminho para bem falar e escrever em português. É meio caminho para entender princípios jurídicos que nos chegam escritos nesta língua e estão presentes na nossa legislação e na de muitos outros países.

Arrostei minha ignorância para poder falar de Cícero com a consciência tranquila de que alertei aos leitores sobre minhas limitações culturais e em especial linguísticas para tratar da oratória de Marco Túlio Cícero. Ou simplesmente Cícero. O Cicero das Catilinárias.

Brilhante advogado, orador fluente, dono de retórica refinada, político (senador e cônsul), filósofo e escritor, é personagem importante na história da civilização ocidental.

É tão importante que, segundo Veríssimo, em sua imperdível crônica dominical, com pouquíssimas falas como personagem física na obra clássica de Shaskepeare “A Tragédia de Julio Cesar” acaba por dominar a peça, porque embora tendo apenas nove falas em seu decurso, está recorrentemente presente na fala de outros personagens, que o têm como referência e o reverenciam.


Verísimo enfoca Cícero, e nos dá a informação acima, ao analisar o livro “Rome  and rethoric”, do historiador Garry Wills, mas  a  finalidade do nosso festejado cronista, descobre-se ao final do texto, é dar uma estocada na falta de formação moral de nossos políticos, apontando Cícero como exemplo de respeitabilidade na política  e um modelo de moral indiscutível, ingredientes tão escassos no nosso ambiente político.

Segue no próximo post...

8 comentários:

Gusmão disse...

A Igreja Católica cometeu um grave equívoco ao abolir o latim, nas missas e outros atos litúrgicos.
Abraços e bom final de semana para todos.

Freddy disse...

Eu também estudei latim no Liceu, e obviamente na época não dei muita atenção. Um pouco mais tarde, porém, já sentia falta de ter estudado também grego. Ambos são fundamentais para o entendimento do português.

Quanto à minha escolha pelo "curso científico", foi acertada. Na época, quando foi feito o teste vocacional no Liceu (você fez?), em primeiro lugar apareceram "ciências físicas", o que pode explicar minha paixão por Astronomia.

Isso pode explicar também minha dificuldade com literatura e demais assuntos fora da área tecnológica, amiúde abordados nesse espaço. Mas a gente procura seguir!

Abraços
Freddy

Freddy disse...

Permita-me discordar de você, Gusmão. Tivesse a Igreja Católica insistido no latim, teria 10% dos fiéis atuais - que já decrescem por outros motivos.
Dominus vobiscum!
Abraço
Freddy

Anônimo disse...

Minha mensagem para o latim: "Requiescat in pace"

Jorge Carrano disse...

Caro Freddy,
Eu respondia, na mesma igreja (em período diferente)em que o Ricardo dos Anjos também foi Coroinha: Et cum spiritu tuo.
Concordo com a opinião do Gusmão. Em português o discurso da igreja fica mais vazio, mais vulnerável, mais sem consistência.
A plebe ignara, manipulada pela religião (todas), não tinha como discernir e o mistério (pela incompreensão) os mantinha respeitosamente fiéis.
Não se esqueça de que a grande massa de católicos era (é) inculta.
Mudando de pau para cavaco, o teu amiúde inspira-me um post. Sabe que tem décadas que não ouço ou leio esta palavra tão simpática?
Abraço
PS: perdão, Gusmão, a discordância do Freddy era com você.

Gusmão disse...

Acho que o Carrano pretendia focar o mar de lama que toma conta da política brasileira. Raposas (ou ratos) travestidos de cordeiros, como Demóstenes, um ignorante pretensioso que governou "como nunca na história deste país" e pretendeu chantagear um ministro do STF, e outros corruptos, fraudadores ou escroques da mesma laia, e compara-los com o famoso político romano, do tempo de Julio Cesar.
Não conheço a vida e obra de Cicero,mas conheço um pouco a de Rui Barbosa, nosso maior orador e jurista, que acabou "tendo vergonha de ser honesto".Estão faltando cultura e inteligência e sobrando esperteza.
Abraços

Jorge Carrano disse...

Demóstenes (o original) brilhou na Grecia, pelo menos três séculos antes de Cicero despontar em Roma.
Ambos oradores e mestres da retórica, e políticos de boa cepa.
Obrigado Gusmão pela tentativa de trazer o debate para o terreno que eu pretendia explorar.
Aliás não eu, mas o Veríssimo que levantou a comparação em sua crônica do último domingo.

Freddy disse...

Sobre a atual política brasileira, tenho de relembrar palavras do falecido Leonel Brizola.
Ele disse que não havia mais ninguém confiável na classe política brasileira (gostei por não ter se excluído). Segundo ele, a única saída para o país seria educar as crianças, os jovens, e esperar cerca de 20 anos, quando teríamos então uma massa votante com cultura e discernimento para, enfim, conseguir eleger representantes dignos.
Infelizmente os governantes atuais também sabem disso, de sorte que se dá tudo ao povão: bolsas variadas, panem et circenses, mas não educação.
Abraço
Freddy