Elegância é tudo. Na mulher é tudo e um pouco mais. E os quesitos de avaliação são vários. Vai além do trajar e da maneira de sentar cruzando as pernas. Passa pelo tom de voz, pelos gestos comedidos.
Antigamente, muito antigamente, quando passei a notar nas mulheres mais do que peito e bunda, havia um item da elegância com o qual não transigia: a costura da meia. Mulher com a costura da meia de forma torta, serpenteando ou enviesada na perna, era perda de ponto na certa. Fio corrido era mortal.
A costura da meia tinha que vir numa linha reta, desde o tendão de Aquiles, passando pela panturrilha e curva do joelho até a presilha da liga ou cinta-liga, sem desvio e sem fio puxado.
E no sentar o maior cuidado para não exibir a liga, qualquer que fosse a porção de perna à mostra.
Outra coisa censurável: mulher chamando garçon. Ao se dirigir ao garçon já estava errando; se acenasse com as mãos estava cometendo um grave erro que me incomodava; se estalasse os dedos, levantava e ia embora. Pagando a conta, evidentemente, posto que na época a que me refiro não se dividia despesa com a companhia feminina. Imagine deixar a conta por conta da mulher. Ouço e leio que hoje racham até o Motel. Eu não admitia ratear nem o drive-in. Nem a sessão de cinema.
Mas isto foi em outros tempos. A namoradinha, ou caso, ou cacho, ou a amante, chegava discretamente no local de encontro, portando uma pequena bolsa de alça ou uma carteira de mão. Roupa sóbria, até para não deixar o homem em situação difícil, posto que as piadinhas de outros homens exigiria uma atitude de defesa, que poderia terminar em briga feia.
Ao homem, por sua vez, competia, com elegância e naturalidade, ou natural elegância, puxar a cadeira e depois da companheira sentada, empurrar a dita cadeira suavemente até a posição confortável junto a mesa. Abrir a porta do automóvel e esperá-la acomodar-se antes de fechar. Se o percurso fosse feito de ônibus, seria adequado oferecer a mão no desembarque e discretamente segurar na altura do cotovelo para ampará-la na subida do degrau quando do embarque.
Era uma obrigação do homem levar a companheira ou namorada até em casa, mesmo que você morasse na Ponta D’Areia e ela na Engenhoca.
Fumava-se desbragadamente. Também boa parte das mulheres. Logo, ter o isqueiro sempre com pedra e gasolina era importantíssimo. Será imperdoável a companheira ter que acender seu próprio cigarro ou, pior ainda, crime inafiançável, deixá-la tendo de pedir fogo a outro homem. Você tinha que ser o provedor do fogo, em todos os sentidos.
Esquecer a data de aniversário, nem pensar. Nem mesmo a data de início do namoro. As mulheres de então guardavam quantos dias e até minutos tinham de namoro. E era de bom alvitre, nas datas mais expressivas, redondas, mês, seis meses, ano, comprar e oferecer bombom. Ou fazer uma foto no lambe-lambe.
Mandar flores era mais complicado pois nem sempre o namoro era de conhecimento dos pais dela e quase sempre você era indesejável, até prova em contrário.
Os pais, principalmente “o”, faziam sempre uma perguntinha básica: de que família ele é?
Se a resposta fosse Carrano, poderia se seguir uma outra mais esclarecedora e eventualmente animadora. A pergunta seria: Carrano de onde? Sim, porque se fosse de São Paulo seriam herdeiros da Orniex, que fabricava o Bombril, campeão absoluto de vendas na época. Se fosse Carrano do Paraná também menos mal, pois possuíam laboratório farmacêutico.
Gente, asseguro que todo o ritual, toda a via crucis, que consistia em primeiro pegar na mão, depois um beijo roubado, fortuito, o dançar bolero ou fox de rosto colado, com a célebre coxeada na paradinha estratégica no compasso da música, eram coisas deliciosas. Mexiam com todos os nossos sentidos e com o imaginário.
Gente, asseguro que todo o ritual, toda a via crucis, que consistia em primeiro pegar na mão, depois um beijo roubado, fortuito, o dançar bolero ou fox de rosto colado, com a célebre coxeada na paradinha estratégica no compasso da música, eram coisas deliciosas. Mexiam com todos os nossos sentidos e com o imaginário.
7 comentários:
As mulheres devem estar arrependidas, ou não?
O único movimento feminino que elas deveriam ter mantido, no dizer do Millôr, provavelmente, seria o dos quadris.
Abraços
Na minha opinião, o meio termo prevaleceria. Antigamente a excessiva corte masculina era complicada demais (desculpe, Carrano). Hoje em dia não tem graça alguma, as mulheres querem se masculinizar.
Eu bem que tenho sido um arauto da participação feminina na sociedade, postos de trabalho, remuneração, inclusão nas decisões do cotidiano, divisão de contas (!)...
No entanto, faço uma ressalva: desde que se mantenham femininas no seu agir. Esse balanço é o mais difícil de conseguir, dado que lida com os conceitos do que é comportamento masculino e feminino, que é exatamente o que vem sendo combatido por elas.
Compliquei... Deve ser porque acabei de acordar...
Boa sexta-feira a todos.
Abraços
Carlos
Tenho uma confissão a fazer.
Eu fui muito machista. Quase um porco chauvinista, como eram rotulados (acho que inadequadamente)os homens mais radicais em seus discursos anti-feministas.
Como o de uma migo cujo nome preservarei, que dizia que "mulher é bom mas tem peças demais".
Depois descobri nas mulheres algo mais do que objeto de consumo.
Acho que foi quando passei a "consumir" menos.
Riam, por favor, inclusive você, mulher, porque é apenas um chiste. Talvez de mau gosto, grosseiro, mas não iria perder a piada.
Você que não visitou o post de ontem, perdeu.
Foi machista????
Chíii, Carrano. Pegaram você na mentira. O machismo não tem cura.
Você mascara, mas ele está lá nos pequenos detalhes. Falo por experiência própria.
Abraço
A Bíblia tem passagens interessantes sobre machismo. Eu particularmente não acredito em ninguém que diga não ter qqer tipo de preconceito.
Machismos a parte, não vivenciei a descrição do Carrano, em sua plenitude, mas boa parte dela. Uns dizem que aquela época "era mais romântica", e outros dizem que "era careta demais". Choque de gerações.
Quem viu, viu ..... e marcou.
Tenho muita "saudade" de como era a minha juventude (principalmente a minha idade ...rsrsrs)
A Bíblia é machista. Deus é uma figura masculina (como aliás Buda, Maomé, Alá). Criou Adão e de uma costela dele fez Eva. Jesus Cristo é homem, idem seus apóstolos.
Putz...
Abraços
Carlos
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