25 de março de 2012

Post scriptum

O humor de Chico Anysio não se resumia a fazer rir, senão também a refletir. Através de seus personagens escrevia crônicas de costumes de época e fazia críticas ao sistema, por vezes sutis, mas agudas para quem estivesse atento.

Uma das cenas guardadas em minha memória e a qual recorro sempre que se discute, condena ou exalta o capitalismo, a riqueza e a ganância desenfreada, foi protagonizada pelo “Coronel Limoeiro” um de seus inesquecíveis 209 personagens.

A cena, claro num quadro humorístico, apresentava o Coronel Limoeiro acompanhado de sua mulher Maria Tereza*. Eles são cercados por um bando armado que pretendia assalta-los.

Maria Tereza entra em pânico, mas o Coronel, depois de fazer algumas considerações sobre os bandidos, mete a mão no bolso do paletó e arrancando a carteira diz: “MariaTereza, eles querem desafiar o poder econômico”. E tirando uma cédula da carteira a entrega a um dos marginais dizendo “tá aqui, quanto quer na espingarda?”

Lembrei deste quadro e deste personagem ao ler as matérias hoje publicadas, sobre o acidente que envolveu o filho do Eike Batista.

Vejam que agora o ciclista estava embriagado, e atravessou a estrada descuidadamente.

 E o velhinho atropelado tempos atrás, pelo mesmo Thor, faz uma declaração afirmando que não houve culpados naquele acidente; que também ele (o velhino atropelado) contribuiu para o fato e que o rapaz deu-lhe toda a assistência.

É o poder econômico.

Nota do blogueiro: dizia-se à época que a nome da personagem, mulher do Coronel Limoeiro, seria uma alusão à primeira dama, casada com João Goulart. Não sei, poderia ser.

3 comentários:

Riva52 disse...

Deus me livre, mas aquela missa que mandaram rezar .... todos sorrindo naquela foto no GLOBO.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipocrisia

Fui ali vomitar.... volto mais tarde.

Ricardo dos Anjos disse...

Todos nós somos mortos futuros. Se choramos num velório é porque estamos nos projetando no defunto, pranteando, carpindo a nós mesmos. Nada de tristeza portanto nessas horas, se há fé na Ressurreição (uma visão pessoal). É claro que deve haver respeito pois nem todos pensam em reagir dessa maneira. Já basta o Vale de Lágrimas em que se vive desde tempos imemoriais. Em gurufins como o do Chico Anysio, é claro, muita gente chora, muita gente ri. E se ele pudesse ser consultado, certamente franquearia o riso, e até gargalhadas como a do Carrano. Logo ele, Mestre do Humor, gozador que era e que em muitos de seus quadros ironizava a Morte.

Em se falando de gurufim, veja esse pagode de Arlindo Cruz:

Eu vou fingir que morri
Pra ver quem vai chorar por mim
E quem vai ficar gargalhando no meu gurufim
Quem vai beber minha cachaça
E tomar do meu café
E quem vai ficar paquerando a minha mulher
Quando o caixão chegar
Eu me levanto da mesa
E vou logo apagar
As quarto velas acesas
E vou dizer pra minha mãe
Não chora
Amigo a gente vê é nessa hora

Jorge Carrano disse...

Grande Arlindo, não é Ricardo?
Pena torcer pelo Flamengo. Mas ninguém é perfeito.
Abraço