5 de março de 2012

O futuro da caligrafia


Por
Carlos Frederico M B March

Imagino que todos nós em nossa infância passamos pelas aulas de caligrafia (dicionário Houaiss: "arte ou técnica de escrever à mão, formando letras e outros sinais gráficos elegantes e harmônicos, segundo certos padrões e modelos estilísticos ou de beleza e excelência artística"). Usávamos aqueles caderninhos com pauta dupla, para delimitar o tamanho das letras, forçando-nos a respeitar os limites e assim capacitando-nos a escrever de uma maneira bonita ou ao menos inteligível.

Só que no cenário atual, cada vez se escreve menos à mão. Na verdade, nem digitar um teclado convencional faz mais parte do cotidiano, dado que um teclado virtual aparece numa tela (muitas vezes minúscula) e é tocado levemente com a ponta dos dedos para formar o texto. Muitos ainda por cima usam o modo automático, onde nem a palavra toda precisa ser digitada; o programa sugere palavras que combinam com o assunto, você concorda e vai em frente! 


Decerto estou a falar daqueles que escrevem corretamente, porque cada vez mais se usa o internetês, ou o twittês, com siglas que remontam (algumas) à época da telegrafia, onde economizar letras era baratear a transmissão. Hoje é para acelerar a conversa.

Por exemplo: vc = você; msg = mensagem; qqr = qualquer; bjs = beijos ; tb = também
E por aí vai, é um dicionário inteiro de abreviações e a criatividade é tudo.


Mas e a caligrafia? O que aconteceu com os belos textos escritos à mão livre? Darei meu testemunho pessoal. Consegui ter uma escrita redonda, uniforme, relativamente bonita. Tanto em texto corrido como em texto todo com maiúsculas, que vez por outra é necessário. Escrevi muito, muito, muito! Copiava aulas em tempo real, às vezes à revelia dos professores, alguns dos quais insistiam que deveríamos apenas ouvir. Os idiotas não sabiam que há pessoas como eu que têm a memória visual mais desenvolvida que a auditiva e que escrevendo ao mesmo tempo que ouvia eu aprendia melhor.

É bem verdade que perdi qualidade de escrita depois de grave acidente em 16/03/1968, quando tive 11 tendões e 2 nervos da mão direita seccionados, dos quais a maioria foi restaurada, mas nem todos. Mesmo assim, minha caligrafia continuou bastante elogiada.

Bom... Isso até recentemente. Aos poucos passei a escrever menos, menos... Hoje só digito. Para preencher um cheque quase que tenho de fazer um aquecimento prévio, senão nem assinar eu consigo!  OK, nem cheque mais se usa, agora é digitar senha do cartão, mas sempre aparece aqui e ali algum documento para assinar. Só que qualquer dia desses eu vou me ver em apuros, a menos que todo dia faça um exercício de caligrafia explícita que nem aqueles que a professora passava como castigo, tipo: "assine 100 vezes o seu nome!".  Depois incinerarei as folhas, porque não se deve deixar papéis assinados dando sopa por aí...

Papel! Para piorar, o uso de papel cada dia que passa se torna mais politicamente incorreto, porque usa recursos da Natureza. Cadernos, blocos, folhas de impressora, formulários... tudo isso deverá ser evitado no futuro próximo, a continuar a "caça às bruxas" dos ecologistas de plantão. Putz, até livros estão sendo digitalizados (ei, isso é assunto para outro post, por favor!).

Gente... O que vai ser das próximas gerações? Será que o mundo vai sobreviver sem escrita manual? Nas escolas - presenciais ou virtuais - as aulas serão seguidas nos tablets (que no futuro próximo poderão ser dobrados e guardados no bolso). As provas serão enviadas ao aluno, ele digita as respostas  ou apenas marca as opções corretas, manda o resultado para um computador com sua senha pessoal de 16 caracteres misturados com letras, números e símbolos, ou quem sabe apenas aplica sua digital num campo específico, e pronto! Nada manuscrito.

Será assim? Nunca mais uma Parker 51, Sheaffer, Mont Blanc, Crown, Cross, ou uma mera BIC Cristal? Lápis então, nem pensar. Borracha? O que é isso?

  
        Caneta tinteiro Parker 51                                           Esferográfica BIC Cristal

Só quero ver como o mundo vai girar naqueles não raros momentos em que "- Desculpe, senhor, mas os sistemas estão fora do ar..."

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Imagens obtidas no Google

22 comentários:

Jorge Carrano disse...

Lamento até hoje não ter praticado nos cadernos de caligrafia. Como consequência hoje faço umas garatujas que nem mesmo eu por vezes entendo. E para mim teria feito muito bem, porque certamente iria minimizar minha natural falta de habilidade manual. Sou incapaz de desenhar uma linha reta ou um circulo minimamente aceitáveis.

Quanto a escrita manual, pode ser que desapareça, mas lembremos que houve uma evolução, um progresso, uma modernização na história da humanidade, desde os sumérios e egípcios, com a escrita cuneiforme e os hieróglifos. Eles usavam pedra, argila e papiro. Já utilizavam os "tablets" (tabuletas de argila onde escreviam com estilete). E teve o Gutemberg com seus tipos móveis. Eta cultura de almanaque.
Abraço e obrigado pela colaboração.

Paulo disse...

Carlos, realmente vc é um ponto de interrogação ! ...com um ponto de exclamação depois ...

Pelo que sei, vc SEMPRE foi adepto e fanático por tecnologia, por ficção científica, abomina métodos/composições musicais das "antigas" que não empregam emuladores e equipamentos que FELIZMENTE Jimi Hendrix não conheceu (Deus nos permitiu ver Jimi tocando sem recursos tecnológicos, e deixando para os fabricantes de pedais como deveria ser o futuro som de uma guitarra).

Não entendi seu post exclamando ... " Gente, o que vai ser das próximas gerações !!"
Está tudo bem com vc ? rsrs

Fui ali me enforcar e volto mais tarde.

Essa nem FREUD explica ...talvez Freddy, ou Fred, ou Charles, ou Carlos mesmo.

Sds TRIcolores
Que venham Los Hermanos

Jorge Carrano disse...

Carlos,
Somente para temperar, pergunto como ficará, no futuro que você projeta, o sistema Braille?
Provavelmente alguém questionou, quando passamos dos sinais de fumaça e batida de tambor para símbolos e letras impressos em qualquer meio (paredes de cavernas, argila, papiro)
Abraço

Anônimo disse...

Continuando ...
A maioria dos ETs/Alienígenas vistos ou imaginados ou projetados em filmes, etc, não têm boca.
Toda a comunicação é telepática.

Estamos caminhando para isso, com certeza. A desvalorização total da escrita de próprio punho.

A maior prova disso é justamente o fato do ser humano escrever mal, cada vez menos decifrável. Escrever pra que ?

Agora, paralelo a isso, NUNCA ninguém me explicou porque os médicos escrevem receitas que não deciframos.

Anônimo Provisório

Gusmão disse...

Esse negócio de "anônimo" já deu pano p'ra manga (essa giria vai pegar) aqui neste blog.
Agora aparece um que se adjetiva "Provisório".
Qualquer dia teremos anônimos com carteirinha, sem carteirinha, cadastrados, não cadastrados, etc
Abraços

Ricardo dos Anjos disse...

Em se falando em Technology, o poeta/profeta Augusto dos Anjos, no Poema Negro, se espanta e critica e preconiza a perda da própria identidade ante o avassalador desenvolvimento da Ciência e da Técnica:

“A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo a minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade!?
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.”

Porém, Augusto possui visão, ou melhor, a antevisão tecnológica, tipo Júlio Verne, quando faz incursões ideais no Cosmo, no Universo, no Espaço Sideral. E isso por volta de 1900/1914. Em Solilóquio de um Visionário,
“Para desvirginar o labirinto
Do velho e metafísico Mistério"... , o poeta afirma:
"Vestido de hidrogênio incandescente,
Vaguei um século improficuamente
Pelas monotonias siderais...
Subi talvez às máximas alturas.
Mas se hoje volto assim, com a alma às escuras,
É necessário que inda suba mais!"

E, na atualidade, a NASA continua assim, com seus projetos, com seus foguetes, subindo e descendo, subindo e caindo e explodindo e querendo subir mais às máximas alturas, naturalmente motivada a desvendar o metafísico Mistério, como na ânsia do poeta, como na ânsia de muita gente que não se conforma em constatar que estamos, juntos, na mais inquieta solidão nesse Universo de Deus.

Saudações Tricolores sempre!

Jorge Carrano disse...

Laços de família
Para os desavisados ou que estejam chegando agora, esclareço:
O Paulo que fez ( lá em cima)aquelas insinuações maliciosas, aquelas ironias, com o Carlos, autor do post, é irmão dele. Ou seja, é coisa de irmãos e não devemos meter a colher.
Já o poeta/profeta Augusto dos Anjos, é avô do Ricardo, que postou o comentário anterior a este.
Abraços a todos.

Paulo disse...

Prezados,
Não são insinuações maliciosas com meu irmão...nem ironias.
Eu sei que o ser humano é um conjunto enorme de pontos de interrogação, exclamações, de vírgulas bem e mal posicionadas.
No caso do meu comentário, apenas uma oportunidade real de exclamar a minha interrogação em relação a qual dos personagens colocou aquele post ...

Jorge Carrano disse...

OK. Feito o reparo.
Fiz uma leitura equivocada. E olha que não estava nem em hieróglifos e nem em cuneiforme.
Abraço

Jorge Carrano disse...

Recado para o Gusmão:
Este Anônimo Provisório tem identidade conhecida, CPF e endereço fixo.
Trata-se do Paulo March, seguidor e colaborador deste blog.
Abs.

Freddy disse...

Com relação à caligrafia dos médicos, havia uma explicação (que me deram). Como nas aulas a quantidade de informação é muito grande, os estudantes escreviam quase que taquigraficamente e ao longo dos anos que demoravam para se formar, perdiam a caligrafia que porventura tivessem antes de ingressar na faculdade.
No entanto, tem sido comum hoje em dia uma escrita mais legível nos receituários, por pressão popular e até por recomendação da própria classe, já que nem todo farmacêutico consegue decifrar os hieróglifos. Apesar disso ainda vemos alguns exemplares ilegíveis como os do passado.
Abraços
Carlos

Jorge Carrano disse...

Acho que vale a pena ressaltar o papel dos monges copistas que, na idade média, antes do advento da impressão tipográfica, eram os responsáveis pelas cópias manuscritas e a propagação de textos didáticos e religiosos. Faziam os, digamos, livros manuscritos. Na antiguidade, com papel semelhante, havia os escribas egípcios.

Freddy disse...

Tô com vontade de estender minha questão, até então restrita ao desaparecimento esperado da caligrafia.
Que importância tem (ou terá) o bem escrever, a perfeita gramática, dado que o importante para a geração atual é apenas conseguir comunicar-se?
Abraços
Carlos

Jorge Carrano disse...

Tivemos 3 baixas nos últimos dias: Fernandez, Helga e Paulo March.

Este último, pelo menos, intitulando-se " Anônimo Provisório", prometeu voltar a se cadstrar como seguidor, com nova imagem e perfil.

Freddy disse...

Não captei... O que significam baixas? Dr. Z tem sido inconstante, Helga faz tempo que não comenta regularmente e Paulo até mandou um post.

8-/ Carlos

Jorge Carrano disse...

Carlos,
Baixa tem alguns significados. Eis alguns:
1) Dei baixa do serviço militar em 1959;
2) Estive no banco e resolvi com a gerente, podendo dar baixa na lista das pendências;
3) O jogador Tenório, com a contusão sofrida no último jogo, é uma baixa sensível na equipe do Vasco.

Eu usei no sentido de perda.
Abraço

Ana Maria disse...

Quais os significados da palavra "baixa" no Houaiss do Carlos Frederico?

Ana Maria disse...

Acho correto o afastamento de um leitor ou seguidor que discorde do objetivo do blog, ou considere inadequadas as opiniões emitidas.
Estamos numa democracia. Cada um fala o que deseja, e, ainda que soe a nossos ouvidos como irônico ou deselegante, isso não justificaria uma censura ao comentário.
Mas, inadmissível que o afastamento seja motivado por se considerarem excluidos, rejeitados.
Neste caso, teríamos que iniciar, imediatamente uma campanha do tipo "Volta Luiza".

Freddy disse...

Ana Maria, no "meu" Houaiss tem 18 significados para baixa. Apenas o 13 se aplica ao que Carrano disse, mesmo assim após adaptação ao contexto do blog: "indivíduo morto, ferido ou caído em poder do inimigo, durante uma ação militar".
Penso, pois, que ele usou o termo querendo dizer pessoas que ele perdeu na contenda, quero dizer, no bate-boca, quero dizer, por causa de divergências ocorridas aqui nesse agradável espaço.

Seu comentário veio bem a calhar.
Não é razoável afastar-se do blog por conta de opiniões discordantes. Como já se disse em comentários passados (bota passados nisso), o que seria do blog se não fossem as controvérsias? Um espaço estéril, insípido, morno...
Abraços
Carlos

Freddy disse...

Putz, Carrano, desculpe. Passei batido pela sua pergunta sobre o Braille.

Convivi com mãe cega (ou progressivamente cega) desde os 8 anos de idade - o desfecho se deu quando eu tinha 13 anos, o último lampejo se apagou. 1964.
Se uma coisa ficou marcada - entre inúmeras e inúmeras outras - foi sua rejeição ao Braille. Radical, definitiva. Mamãe morreu em 2008 sem nunca ter esfregado um dedo sequer naquelas "verruguinhas".

Abraço
Carlos

Freddy disse...

Sofri críticas ácidas quando escrevi este texto. Talvez tenha me adiantado ao tempo, como quando iniciei o debate sobre drones. Eis artigo de hoje (18/11/2014) no Globo, mais de ano e meio após ter aberto a questão no Generalidades Especializadas:

http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/o-traco-que-desafia-educacao-do-seculo-xxi-14588506

Jorge Carrano disse...

Releve as criticas, caro Carlos Frederico. A única opinião que aqui teria maior peso e desequilibraria, seria a de Deus.
Mas duvido que, existindo, Deus venha a se manifestar no blog.
Eu ficaria rico, milhonário, bilhardário em dólares (rsrsrs).