13 de setembro de 2011

Pongar o bonde

Glabro, esgargalado e pongar. Em Chico Buarque, em José Saramago e em Gilberto Gil, encontrei vocábulos que me levaram ao tio do Chico, para poder aprender o significado.

Assim, aprendi que pongar é pegar o bonde, ou outro veículo qualquer. Glabro e esgargalado não digo o significado. Cada um que vá ao dicionário se estiver interessado.
Linha 20, em Niterói
Santa Rosa - Viradouro

Bonde em Santa Tereza

Volto a falar de bondes, neste blog, porque estão nas manchetes em face do lamentável acidente ocorrido em Santa Tereza, único bairro do Rio de Janeiro, ainda servido por este meio de transporte. Em Santa Tereza os bondes têm também uma outra conotação, além de transportar os moradores. É que eles são atração turística. O acidente, que pôs em dúvida se devem ser mantidos em operação, nas estreitas e íngremes ruas do bairro, é, que eu saiba, da maneira como ocorreu, muito raro. Ou seja, o bonde tombou.

Em meus muitos anos de uso deste veículo, em Niterói e no Rio de Janeiro, não lembro de episódio semelhante.

O bonde era seguro, só não era confortável e rápido. Nos dias de chuva, então, era uma lástima pois as cortinas tipo painel não funcionavam direito. Se além da chuva tivesse um vento soprando, era certo ficarmos molhados.

Antes do sinistro em Santa Tereza, o bonde reapareceu nos jornais por conta da torcida do Flamengo, que inventou a história do “Bonde sem freio”. Era premonição, pois o Flamengo vai mesmo ledeira abaixo na tabela. São 8 jogos sem vencer.

O Vasco também tem ligação com os bondes. Uma das linhas, inclusive, no Rio de Janeiro, aludia ao bairro onde está localizado o estádio do clube.

Linha "São Januário"*
1941
A linha “São Januário” inspirou um samba muito interessante de Wilson Batista em parceria com Ataulfo Alves, composto em 1940, que diz nos primeiros versos:

“Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
Leva mais um operário:
Sou eu que vou trabalhar”


Linha 56
Alegria

E teve o bonde “Alegria”, também eternizado nos versos de Wilson Batista (de novo) agora em parceria com Haroldo Lobo, no samba "E o 56 não veio"

"Vai embora, meu amigo, ela não vai aparecer.
Será que ela não veio porque se zangou,
Ou o bonde Alegria descarrilhou”


E Gilberto Gil, na música “Tradição", falando, é claro, das coisas da Bahia, assim escreveu:

“Conheci uma garota que era do Barbalho
Uma garota do barulho
Namorava um rapaz que era muito inteligente
Um rapaz muito diferentei
Inteligente no jeito de pongar no bonde”

E despongar é descer, viu gente? Mais adiante, na longa letra da música, Gil  fala em despongar.


* Foto -  Genevieve Naylor.
Demais fotos: Google

2 comentários:

Gusmão disse...

Peguei muito o bonde Ponta D'Areia, em Niterói.
Ele descia a Rua Visc. de Rio Branco e entreva na Silva Jardim.
Depois ia até o final do bairro do mesmo nome, onde ficava a colônia de pescadores, com seus barcos estacionados no cais.
Parece que o local agora se chama Portugal Pequeno, numa homenagem a colônia lusitana que era grande no bairro.
Gusmão

Freddy disse...

Tentaram revitalizar a área que chamam de Portugal Pequeno, mas sabe como é... Hoje sei não...

Eu cheguei a pegar alguns bondes em Santa Rosa, mas logo foram substituídos pelos trolleys, que depois também acabaram.

Bonde funciona na Europa, onde são fechados, os carros respeitam quando eles param para as pessoas saltarem, etc. Por aqui, nunca darão certo...

Abraço
Carlos