O planeta foi melhor, o pais foi melhor, a cidade foi melhor, o ser humano foi melhor

Millôr decretou que o ser humano não deu certo. Mas houve esperança de dar, num dado momento no pós-guerra. Segunda grande guerra. Onde foi que nos perdemos?

Nasci em 1940 e os tempos eram difíceis, mas o mundo respirou aliviado em 1945. A guerra-fria era isto mesmo, fria. O mundo foi melhorando, pouco a pouco. 

O Brasil bateu na trave em 1950, mas oito anos depois finalmente se transformou no país do futebol, com um gênio da bola, aos 17 anos de idade se revelando aos olhos do mundo.

Já perdemos este título.

Os meios de comunicação já se modernizavam e nos anos 1960 surgiu a internet. Para o bem e para o mal uma revolução.

Já fomos mais solidários, mais civilizados, mais sensatos e mais felizes. Não sabíamos, infelizmente, que degradaríamos tanto, que a irracionalidade tomaria conta de nossas mentes e cérebros e presidiriam nossas atitudes.

Estamos nos afastando cada vez mais do que convencionamos chamar de humanidade. Onde e quando começamos a degringolar?

Diariamente filhos matam pais, friamente, por motivos torpes; pais livram-se de filhos que seriam, na visão deles,  um estorvo; ex-maridos ou noivos ou simplesmente namorados, matam impiedosamente suas ex por ciúme, vingança ou outro vil sentimento.

O feminicídio, antes de existir como crime específico, era mais raro; e os menores infratores, que agora são apreendidos, eram um contingente menor, que trabalhava como office-boy, ou empacotador de supermercado, ou era aprendiz,  e se mantinha afastado da vagabundagem e do crime.

Pois é, os pedagogos inventaram que as palmadas dos pais, nas bundas de seus filhos, é um erro grosseiro. Que os castigos impostos aos alunos indisciplinados nas escolas são condenáveis.

Você aí, que teve a liberação retardada no colégio, tendo que ficar em sala após o horário escrevendo 100, 150 ou 200 vezes a frase "devo ser disciplinado em sala", ficou traumatizado? Teve vontade de matar a professora?

Era melhor, espertamente, já ter um caderno com esta frase escrita antecipadamente porque assim que era cumprida a tarefa eramos liberados. A professora recolhia, mas em momentos de tédio, nas aulas de desenho ou canto orfeônico, por exemplo, podíamos ir preparando umas cinquenta frases para minimizar o tempo de permanência no castigo. Tinha um estoque permanente, embora reputado dos mais disciplinados nas aulas.

Na verdade o problema está nos psicólogos e sociólogos. Trabalhei com várias psicólogas em minha atividade profissional na área de recursos humanos. Nenhuma era socialmente ajustada.

Tipo façam o que digo, mas não façam o que faço (rs).

Àquelas que se sentem ofendidas, informo que estou no rol de uma categoria que tem imagem mais suja do que pau de galinheiro: advogados.

E nem por isso me sinto alcançado pelo conceito desabonador.

Se você vai a um médico que tem os dedos indicador e médio da mão direita amarelados, de tanto fumar, e ele recomenda que você abandone o cigarro, levará ele a sério?

Estragaram as piadas inventando o politicamente correto, e criando o bulling, aqui no Brasil capitulado em lei desde 2015.

Os assaltos, com mortes, são cada vez mais frequentes.  Caixas eletrônicos são explodidos em todo o pais, desde as mais modestas cidades interioranas até os grandes centros. Lembram dos punguistas, que tiravam sua carteira do bolso sem que você percebesse?

As milícias proliferam como cogumelos e as crianças são atraídas ao mundo do tráfico cada vez mais prematuramente. Os Cosme e Damião nos davam sensação de segurança, quando policiavam as ruas em dupla.

O evento morte, nos roubos e assaltos, ficou banalizado. Antes o bandido matava a vítima, em circunstâncias e por razões consideradas por eles de risco, excepcionalmente.

Hoje matam mesmo sem reação da vítima; até mesmo como coroação de seu feito. Pura irracionalidade, por força de uma patologia, ou domínio pelo tóxico, que começou a ser socialmente aceito.

A polícia recoloca no mercado drogas e armas apreendidas dos marginais. Estou mentindo? Tá certo é parte dela, mas o que fazem as corregedorias?

Faltam dignidade e honestidade nas casas legislativas, nos tribunais de contas (pode isso?), nos executivos federal, estaduais e municipais, até mesmo o STF está contaminado, permito-me expressar minha opinião. A honestidade pode e deve ser também intelectual.

Na caixinha de madeira, que tinha muitas utilidades

Já comemos melhor, inclusive pela boca, já tivemos futebol melhor, sem o abominável VAR, já tivemos famílias mais ajustadas, já fomos mais fraternos. Até o Catupiy era o que prometia ser na língua tupi-guarani: excelente.

As tirinhas de histórias em quadrinhos (HQs) publicadas em jornais eram uma diversão garantida. Pafúncio e Marocas; Ferdinando e Violeta; Fantasma e Diana Palmer, sem esquecer do Goran; Mandrake e Lothar, até hoje povoam minha cabeça.

Jogávamos nas portas de casa, nas calçadas, com vizinhos, dama e xadrez; tínhamos cinema de rua, grátis; amoladores de facas e tesouras em nossas portas; tínhamos o Eski-bon fantástico sorvete que podíamos comprar em carrocinhas.

E o Maracanã comportava duzentas mil pessoas, mal acomodadas mas felizes, até mesmo na democrática "Geral", de preços populares.

E tínhamos figuras folclóricas, rotulados de filósofos de rua, como o controvertido Gentileza, que era intransigente com as crianças que o perseguiam nas ruas, gritando seu nome. Por vezes ele as apedrejava. Vilão ou herói? Filósofo ou maluco?

Acho que  a sentença de que viemos do pó e ao pó retornaremos, está menos relacionada ao destino de cada um de nós, a mortalidade, do que à sobrevivência da humanidade, como espécie.

Este texto está meio sem pé e nem cabeça? Também achei que ficou assim, mas não vou deletar. Alguém vai se identificar e lembrar e concordar comigo. Terá cerca dos mesmos 79 anos que completarei domingo, dia 21.

Notas:
Imagens via Google.
Com a VAR é possível que o Brasil não fosse penta campeão, porque no jogo contra a Espanha, na Copa de 1962, Nilton Santos (a enciclopédia) cometeu penalty não marcado e os ibéricos tiveram um gol legítimo anulado.
O célebre gol de mão do Maradona teria caído no esquecimento.
Duas vitória recentes do Flamengo sobre o Vasco não teriam acontecido. Num dos jogos a bola entrou cerca de 60 centímetros no gol do Flamengo e o juiz não validou. No outro houve um flagrante impedimento não marcado e valeu o gol. Duas derrotas, dois títulos perdidos, mas fazia parte do futebol.
Ainda adolescente, vi Gentileza xingar a apedrejar crianças. Realmente a criançada enchia o saco dele.