27 de março de 2015

Cidadania italiana




Tudo ia bem até meu bisavô. Na Itália, por correspondência (foto acima), foi tudo bem. E de graça. Mas quando chegamos ao Brasil a partir de meu avô paterno, a porca torceu o rabo.

O ponto de partida seria um ascendente italiano. E isso foi fácil, com a documentação de meu bisavô. Mas a chegada dele ao Brasil, com um filho menor de idade (?), desacompanhado de esposa, já deu um nó.  Quem seria este filho? Seria meu avô Jose? E onde teria nascido o José? Em Tramutola não foi. Teria sido na Espanha, já que a mãe era espanhola (Tereza de Segovia)? Ou foi na Argentina de onde veio com o pai? Se o apelido de meu avô fosse Pepe, teríamos uma pista.

Então tínhamos dois complicadores: a divergência de nome, pois meu avô ora era José Carrano y Segovia (com o sobrenome da mãe), ora era só José Carrano. Mas não foi só a divergência de nome que complicou. Foi também quanto a nacionalidade. Meu bisavô casou-se com uma espanhola, de nome Tereza. Onde?

Pesquisamos na cidade de Segovia, por causa do nome da Tereza, mas foram infrutíferas as tentativas. E buscar em toda a Espanha seria um dos treze trabalhos de Hercules.

Na maioria de seus documentos (em especial certidão de óbito), meu avô figura apenas como José Carrano; assim como nas placas da rua que leva seu nome em São Gonçalo, no bairro do Paraíso. Ele era congregado mariano e por causa de obras assistenciais foi homenageado com nome de rua na cidade em que viveu muitos anos,  até sua morte.

Então faltou-nos a certidão de casamento do Carlo Micheli. E, também, a do nascimento do José.  Efetuamos buscas na Candelária e na Catedral, que possuem arquivos de casamentos e  batizados antigos. E nada, embora admita  não haver examinado todos os imensos livros empoeirados. Faltou pesquisar também em São Gonçalo (onde ele viveu durante anos), mas na altura em que nos encontrávamos nas buscas, isto já não era relevante. Outros problemas surgiram.

Nos Cartórios das diferentes circunscrições também não logramos êxito.

Deste modo, o elo entre meu bisavô e meu  avô desapareceu. Nas certidões de casamento de meu pai, assim como em seus demais documentos, inclusive os militares, consta filiação direitinho.

Se bem lembro, meu avô tinha mais sotaque espanhol do que italiano. E, para desespero geral, descobrimos que haveria uma remota possibilidade dele ser argentino, ou ter passado com o pai pela Argentina antes de chegar ao Brasil. Melhor não mexer muito nisto.

Um primo de outro ramo Carrano, de nome Pedro Henrique, a partir do mesmo bisavô, gastou tempo e dinheiro pesquisando a história da família, no Brasil e na Itália. Utilizou inclusive seus conhecimentos de heráldica para falar de nosso brasão familiar e sua origem. Está em:
http://www.pedrohalbuquerque.net/carrano/index.html


As pesquisas resultaram num livro, publicado sob o título de "Encontro com os Ancestrais" e tem trechos na internet, via Google.



Eu desisti, meus filhos esfriaram o interesse e meus netos podem, de maneira mais fácil, querendo um dia, obter a cidadania portuguesa, o  que lhes conferirá a condição de cidadãos da união europeia, porque o avô materno é português e transmitiu para as filhas a cidadania.

É que o investimento ainda não compensou. Não fica barato. É preciso ter um ganho, na relação custo-benefício.

Meu bisavô, Carlo Micheli Carrano, como já dito ad nauseam, nasceu em Tramutola, em 8 de maio de 1845. Vejam abaixo o seu registro de nascimento, o tal que obtivemos pelo Correio.




Morreu em Piraí, município fluminense, na condição de capitalista (meu Deus, tive um bisavô capitalista e vivo sem grana), mas nos autos do processo de inventário nada consta sobre meu avô, que seria herdeiro, juntamente com seu irmão Jesus. E a repartição dos seus bens, seu espólio, basicamente antigos títulos do tesouro, foi para as calendas.

Pelo visto nem meu avô e nem meu pai deram pelota para os bens do "capitalista" que morreu aos 82 anos de idade.


Atentem para a profissão e para o nome já em português, como costume
Este inventário, todo ele manuscrito, com aquela caligrafia de monge copista, está arquivado na prefeitura do município como peça histórica.

Pelo ramo da Wanda, que também tem ancestrais italianos, também não há documentação completa, como já narrei em
http://jorgecarrano.blogspot.com/2011/02/potenza-basilicata-italia.html

O avô de Wanda - Felice Campagna -  nasceu na comuna de Picerni, na província de Potenza, capital da Basilicata.


Por outro lado, meu bisavô, Carlo Michele Carrano, como já visto, nasceu na comuna de Tramutola, na mesma província de Potenza, na região da Basilicata.



Ambos migraram para o Brasil, e não se conheceram nem lá na Itália e nem no Brasil.

Algumas gerações depois, eu e Wanda, descendentes destes dois carcamanos (latachos) de Potenza, nos conhecemos em Cachoeiro de Itapemirim e viemos a nos casar, já lá se vão 50 anos.

Coincidência remota, a origem dos ancestrais em Potenza. Mais em 
Tirante alguns casos de imigrantes italianos que vieram para a lavoura em substituição a mão-de-obra escrava, que chagavam em bandos e entravam no pais por São Paulo, onde existem registros do antigo setor de migração (imigração e emigração), os que vieram isolados, chamados por parentes ou em aventura individual mesmo, os documentos de ingresso no Brasil, fixação em território brasileiro, ocupação e descendência ficaram perdidos nas brumas do tempo.

Quem tinha preocupação de regularizar? De colocar em ordem a papelada? Ainda mais quando sobreveio a guerra e os italianos foram perseguidos e ameaçados. O "Palestra Itália" virou "Sociedade Esportiva Palmeiras", por exemplo.

Mais tarde, bem mais tarde, a presença de estrangeiros no Brasil, no mercado de trabalho, passou a ser controlada. Houve a lei, conhecida como a “de dois terços” , que pode ser vista em
http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:decreto.lei:1939-12-07;1843, e que limita a presença de estrangeiros nas empresas.

Os Matarazzo, por exemplo, importavam muitos conterrâneos para suas empresas.

De uns tempos a esta parte, com controles mais eficientes, com polícia de fronteira, polícia federal e os diferentes órgãos governamentais que controlam entrada de estrangeiros, ficou mais fácil montar uma árvore genealógica.

Aliás que ficou muito mais fácil ingressar no Brasil. Que o digam os cubanos (médico ou não), os haitianos e os venezuelanos.

Por outro lado, como há sempre há algo positivo em todas as coisas,  escapei, embora sem querer, de ser concidadão do Cesare Battisti. 

Para satisfazer a curiosidade do Paulo March (Riva), manifestada via comentário em post anterior, informo que tive muito pouca influência carcamana, pois convivi muito mais com as lusitanas e lusitanos parentes de minha mãe.

Minha avó materna nasceu em Viseu onde viveu até casar em primeiras núpcias.Veio para o Brasil com duas filhas nascidas na mesma cidade. Enviuvou aqui, tornou a casar e seus outros 5 filhos (inclusive minha mãe) já nasceram no Rio de Janeiro.

Daí que os hábitos familiares estão muito mais ligados as tradições portugueses: bacalhau, castanhas, rabanadas.

Fui apresentado a pizza na "Gruta de Capri", mas isto será objeto de outro capítulo. Quem sabe com o titulo "Brotinho de presunto e um chopp na pressão".

Na década de 1950 (desconheço a menina da foto, obtida via Google)

8 comentários:

Freddy disse...

O chopp na pressão da Gruta se chamava Schnitt: a caneca vinha metade chopp, metade espuma. Num rasgo de honestidade que só existia na época, o Schnitt custava menos que o mesmo caneco com colarinho normal.
<:o)

Freddy disse...

Uma de minhas filhas vem fazendo pressão para que eu obtenha cidadania portuguesa para que ela possa, depois, usufruir do fato.
Meus avós maternos eram ambos portugueses que emigraram para o Brasil e aqui se casaram. Minha mãe nunca requereu a cidadania, mas creio que eu posso assim mesmo.
O problema tem sido o custo, que dizem estar muito elevado. Ainda não me informei no Consulado.
=8-/

Jorge Carrano disse...

Depois que descobri que a senhora Marisa Lula da Silva obteve a cidadania italiana, abdiquei de vez do exercício deste direito.
E, cá para nós, que ganhos, que valorização, que vantagem eu teria com passaporte europeu?
Facilidades na imigração quando em trânsito pelo continente?
Ora, vão se catar.

Anônimo disse...

Vai ver e você é parente do Michelangelo e não sabe (hehehehe)

Jorge Carrano disse...

E sua avozinha descende de Lucrecia Borgoia, pois não?

Jorge Carrano disse...

A Gruta de Capri era local de encontro de um dos grupos que frequentei. Com certeza, Roberto Marconi Durão e Eurico Cesar Rodrigues da Costa. Nós três fomos eliminados no exame médico para ingresso na Aeronáutica (EPCA).
Eu daltonismo; Eurico, deficiência auditiva; e Durão desvio do septo (não quis operar).
Roberto Durão conseguia que o pai emprestasse o Packard 1941 com o qual fazíamos as paqueras.
Estou falando de um período entre 1959 e 1962.

Anônimo disse...

Descobri o casamento de seu avô José Carrano y Segovia no Cartório da 6a. Circunscrição do Rio de Janeiro. Ele foi realizado em 30.8.1902. Lá consta que José tinha 28 anos e era natural de Buenos Aires. Talvez, então, o registro de seu nascimento esteja na Argentina. Um grande abraço. Pedro Wilson Carrano Albuquerque

Jorge Carrano disse...

Muito obrigado, Pedro Wilson.

É desanimador ficar sabendo que um avô que julgava ser espanhol, na verdade nasceu na Argentina (rsrsrs).

Bem, ninguém é perfeito, não é mesmo?

Abraço forte.
Jorge