15 de maio de 2013

Entre muros

Por
Gusmão




Acho que não são todos os casais, mas certamente a maioria tem, em sua intimidade em casa, segredinhos, apelidos, piadas que só eles entendem, coisas do gênero.

Eu e Berê (como chamo minha mulher, Berenice), temos nossas brincadeiras, códigos, apelidos e piadas que somente nós achamos  graça. Piadas que, contadas para os outros, ninguém achará graça, porque faltaria conhecer o contexto.

Acho que o bom humor no trato diário quebra um pouco o desgaste natural da relação, principalmente na aposentadoria de ambos. Há muito contato, praticamente o dia inteiro, e é preciso amenizar a relação.

Bem, de apelidos reciprocamente colocados não falarei. Você está é besta se vou entregar apelido meu.

Mas posso falar de outras brincadeiras e códigos que costumo fazer e a Berê vai interpretando. Por exemplo, nunca digo que a manicure telefonou, sempre digo que  “a faxineira de unhas ligou para você”. Assim, embora não simplifique, pois falar em “faxineira de unha” leva mais tempo do que manicure, acho que fica jocoso.

Costumo mesmo trocar os nomes das coisas, mas tentando associação de ideias, como por exemplo pedir a água sanitária de ferimento, quando quero me referir a água oxigenada.

De igual forma não peço diretamente para apagar o gás quando termino o banho. Costumo perguntar “você sabe apagar o gás?” Ela sabe que estou pedindo um favor.

Esta maneira  coloquial de trato serve para situações parecidas, como pedir para comprar o jornal na volta do supermercado. Digo: “você sabe comprar O Globo?” E ela responde - "tudo bem, eu compro na volta".

Quando quero saber o que há para o jantar costumo (não é todo dia) perguntar “como chama o que vamos comer hoje?”

Ou, para variar, comento: se fossemos jantar hoje o que você estaria planejando para comermos?

Também não informo pura e simplesmente. Prefiro prometer. Tipo assim, se vou almoçar em casa: - "Posso prometer uma coisa? Venho almoçar em casa". Ou, ainda, se vou tomar banho: -"Quero te prometer uma coisa". Diz Berê, "vai promete". - "Vou tomar banho".

Por vezes finjo esquecer o nome de alguém e brinco como algo assim: -“como é o nome daquela sua amiga?”  E Berê, ainda na inocência,  pergunta: - “ que amiga?” Então eu replico: - “aquela que dá para o João toda vez que ele quer”. João, claro, é o marido da Sonia, cujo nome fingi haver esquecido.

Outra brincadeira que gosto de fazer, é parecer sempre que eu estou opinando ou consentindo. Por exemplo, se ela diz "vou ao supermercado", digo, "Berenice, porque você não vai ao supermercado?" Ou, pior ainda, digo: você não quer ir ao supermercado?, pode ir.

Ou se ela diz vou ligar  a máquina para lavar um bocado de roupa pois o cesto está cheio, eu emendo, posso te dar uma sugestão? Ela, em geral desatenta, sem malícia, pergunta: - qual? Ao que eu digo, porque você não põe um pouco de roupa na máquina para lavar?

Como Berê não gosta de Maricá, que acha pequena e pobre, desde quando há anos lá tivemos uma pequena casa, e não se acha coisa alguma para comprar, quando tenho que fazer menção a alguma cidade pequena e/ou pobre (não desenvolvida) gosto de me referir a ela como maricá, ao invés de dizer o próprio nome da cidade. Por exemplo: -“nunca estivemos naquela maricá onde o  Carrano casou”.

Sei que o Carrano casou em Cachoeiro de Itapemirim porque ele contou em  algum post. Espero que a Wanda não leia isto, porque parece que ela é de lá.

E antes que alguém enfie um comentário sobre futebol, já me antecipo: Viva o Botafogo"

8 comentários:

Freddy disse...

Espirituoso texto!
Todos nós temos nossos códigos íntimos, Gusmão explorou o assunto com muito humor.

<:o) Freddy

Gusmão disse...

Pois é, Freddy, também entre nós, não ficando repetitivo, achamos graça.A ideia é essa mesmo.
Há que improvisar e inovar.
Abraços

Jorge Carrano disse...

Não conto nossos códigos nem sob tortura. Mas eu e Wanda também os temos.
A propósito ela sabe que Cachoeiro é uma cidade pequena, como de resto o filho mais famoso da terra já cantou em versos:
"Meu pequeno Cachoeiro
Vivo só pensando em ti
......................"
Ademais, ela não nasceu na cidade. Fica frio, Gusmão.

Helga Maria disse...

Eis o que aprecio no blog - o bom humor!
Helga

Jorge Carrano disse...

Agradeço em nome do blog e de todos quantos colaboram com seus posts aqui publicados.
Você já elogiou nosso senso de humor, nossa inteligência e cultura, agora falta elogiar nosso apurado gosto literário... e as fotos dos seguidores (rs).

Riva disse...

Apelidos entre nós, nem pensar ! Tenho um nome a zelar ! rsrsrsrs

Legal seu post, meu caro.Diferente até em conteúdo, e divertido. Fora as manias que cada um de nós tem, em seu território demarcado devidamente rsrsrs .... incontáveis ! São manias à mesa, na sala, na utilização do banheiro, na cozinha, etc, etc, etc. E também fatos recorrentes engraçados do dia a dia ... exemplos ?
- por que o papel higiênico SEMPRE acaba quando sou eu que vou usar ?
- por que ninguém coloca um sabonete novo no box, deixando para mim sempre a tarefa de pegar um no armário, desembalar, etc ?
- por que minha faxineira de 35 anos de trabalho lá em casa, ainda não aprendeu a deixar nosso banquinho do box no lugar certo ?
- por que os talheres da mesa de almoço/jantar têm que ser todos iguais, pertencentes ao mesmo jogo ?
- por que o copinho de beber água da matriarca é intocável (corremos risco de vida se o utilizarmos) ?
- por que o raio do telefone tem que tocar na hora errada ? rsrsrs (e hoje rimos muito mesmo, quando isso acontece)

Poderia passar aqui o dia todo escrevendo para vcs muitas coisas engraçadas (pelo menos para nós, como diz o autor do post)sobre o nosso dia a dia.

Sds TETRAcolores (pra lembrar do futebol) ..e que os Gambás "morram" hoje hehehe ...Viva Los Hermanos !

Gusmão disse...

Obrigado pessoal!
Mas criei problema em casa. Terei que inventar umas gracinhas para limpar a barra (risos).
Abraços

Ana Maria disse...

Já que a barra já está suja, conta os apelidos que estou cheia de curiosidade. rs