28 de fevereiro de 2012

Setenta e dois anos de idade

Avanço da idade versus frascos

Estou prestes a completar setenta e dois anos de idade.

Já dou sinais de fadiga do material, como diriam meus amigos engenheiros. Ou, na linguagem médica, minha higidez já não é a mesma.

E tudo começou em outubro de 2010, quando ainda contava 70 anos, e fiz (para o médico) ou tive, para nós outros cristãos, um AVC. Para ser fiel a verdade, havia controvérsia se “fiz” um AVC, ou se tudo não passou de um AIT, ou de um DNIR.

Traduzindo: o AIT seria um acidente isquêmico transitório e o DNIR um deficit neurológico isquêmico reversível.

Apenas duas certezas. Foi isquêmico e não hemorrágico. E a causa foi um pico hipertensivo.

Quando questionei o neurologista sobre os diferentes diagnósticos, a partir do atendimento de emergência no plantão, ele me respondeu: foi um AVC.

Apontando para a imagem de meu cérebro na ressonância magnética: “está aqui a lesão”. Era uma pequena mancha branca. E veio a explicação: “veja deste lado, não atingido, e veja deste lado de seu cérebro a lesão pequena mas clara”. E arrematou para o leigo: “seu cérebro é constituído de duas metades iguais, note aqui a diferança”.

Bem, transitório foi, porque felizmente recuperei o que perdi no acidente vascular, ou seja, força e controle motor no braço e mão esquerda; e a discreta torção da boca também desapareceu com massagem e fisioterapia. A língua, que ficou meio presa, como se eu fosse um vicentinho sem mandato parlamentar, soltou com fonoaudiologia.

Mas a transitoriedade durou mais do que conceitua a literatura médica, para caracterizar DNIR.

As pessoa me olham e dizem: não parece, você está muito bem. E estou... na aparência.

Não sei se devo debitar na conta do AVC, mas o fato é que a idade, agora, está pesando como se diz popularmente. O neurologista diz que que nada tem a ver uma coisa com a outra. O que preciso fazer é me exercitar e aceitar que algumas  limitações são naturais para minha idade.

O corpo –  partes dele – já não obedece ao comando do cérebro, nem na velocidade e nem na intensidade com que aconteciam.

E não estou me referindo à ereção peniana, porque esta, desde de sempre, teve vontade própria, para o bem e para o mal.

Fosse para me deixar envergonhado por excesso inoportuno, fosse por escassez em momento decisivo. Ele foi mestre em crescer e aparecer quando não devia ou podia, e não se apresentar com dignidade quando a ocasião exigia.

Para meu consolo, errou (erra) mais por ação do que por omissão.

Não, não era disso que eu ia falar. É sobre braços e pernas, principalmente estas.

Foi-se o tempo em que, mesmo maduro e entrado em anos,  conseguia dar umas corridinhas intercaladas nas caminhadas matinais. Corria coisa como 200 metros na ida e mais uns 200 metros na volta. O percurso de minha casa até o final da praia (Icarai), que chamávamos de Canto do Rio, é de exatos 4 quilômetros. Então digamos que 10% eram de corridinha leve, o restante caminhada. Hoje, nem pensar, 10 metros já me deixam ofegante.

As pedaladas na ergométrica, não excedem de 15 minutos.

Embarcar e desembarcar de ônibus era tarefa simples que não exigia cuidados. Mesmo os degraus mais altos eram alcançados sem dificuldade com leve impulso. As pernas obedeciam e levantavam sem esforço.

Se quisesse, poderia fazer umas embaixadinhas, pois teria equilíbrio e controle.

Até mesmo a comezinha tarefa de vestir e tirar as calças, sem precisar de apoio, eu conseguia até os 70. Agora, ficar apoiado numa só perna, sem encostar num móvel ou na parede, nem pensar. Só fração de segundo.

Lembram que a gente demonstrava não estar alcoolizado fazendo um 4? Hoje não passaria no teste, mesmo estando absolutamente sóbrio, abstêmio.

Imagem Google

3 comentários:

Gusmão disse...

Quando você nasceu, em 1940 (fiz as contas), a expectativa de vida era de 50/55 anos, não mais do que isso.
Portanto você está no lucro. Relaxa e aproveita.
Eu sou pouco mais moço (1946).
Abraço

Freddy disse...

Eu nasci em 1951 (1 de janeiro). Detesto horóscopos, mas pra quem gosta, sou de Capricórnio e no chinês sou Tigre.
A idade, infelizmente, pra mim pesou mais cedo. Apesar de ter sofrido enfarte pequeno (1998, discretas sequelas) e descolamento da retina direita (1999, sequelas graves) e do vítreo esquerdo (2008, pequenas sequelas), o que mais me incomoda na verdade são os desdobramentos de meu sobrepeso. Tudo dói, tudo é difícil, sinto-me menos saudável que muito cara com mais 10 anos que eu. Diz o médico que tenho síndrome metabólica.

A solução seria emagrecer. Alguém tem alguma receita indolor? Sim, porque nessa altura da vida se privar das poucas coisas que ainda nos trazem prazer em troca de hipóteses (sim, as melhorias alardeadas são teóricas) é brabo...

Abraço e força!
Carlos

Ana Maria disse...

Mas isso é coisa que se diga pra um idoso???Que lucro que nada... Temos muito ainda que viver pra melhorar as estimativas pras próximas gerações. Eu não tenho medo de morrer, mas não tenho a menor pressa