8 de fevereiro de 2012

Locupletação geral

Por
Paulo Ricardo M B March



Acabei de ler mais um ótimo livro do Ivan Sant’Anna, especialista em aviação. Desta vez foi o PERDA TOTAL, onde Ivan dá uma aula sobre tudo que realmente ocorreu nos nossos últimos 3 grandes acidentes aéreos : o do Fokker da TAM em 96 (Congonhas), o choque do Legacy com o 737 da GOL em 2006 (Amazônia), e o Airbus da TAM em 2007 (saindo da pista de Congonhas). Nos 3 casos, um incrível somatório de erros humanos de diversos tipos, falhas mecânicas e de software, defeitos de fabricação, etc. Assustador mesmo.

Sei que a indústria aeronáutica é uma das que se desenvolve à custa de vidas humanas, ou seja, é principalmente a partir das investigações e laudos dos acidentes aéreos que a engenharia /aviônica vai aperfeiçoando sua tecnologia em equipamentos, dispositivos, procedimentos, regulamentos, logísticas, operação, etc.

Mas quanto mais eu leio ( e acreditem , leio muito mesmo sobre esse assunto), mais me incomoda a questão da má gestão na aviação comercial. E todos sabem que não é só na aviação comercial .... má gestão é uma praga que se alastra em nosso país em larga escala, em progressão geométrica, e em outros países mais desenvolvidos também, com menos intensidade (talvez).

Ler esse último livro do Ivan Sant’Anna é ter uma aula de como uma má gestão certamente acaba em tragédia, ceifando preciosas vidas.

Ler o relatório do Congresso americano sobre o 11 de setembro também é.
Ler as reportagens sobre o recente desabamento triplo no Rio de Janeiro também é.
Ler sobre o processo de privatização dos aeroportos no Brasil também é.
Ler sobre o caos que hoje é o ir e vir entre Niterói e Rio de Janeiro também é.
Ler sobre a bandalha na segurança em Salvador (que pode ser o estopim para outras cidades) também é.
Ver como está o prédio onde moro (outrora belo) também é.


Acho que poderia citar, com vocês, uns 785 exemplos imediatos de má gestão. E aí vocês perguntam : onde você quer chegar com esse comentário, com esse diagnóstico ?



Sei lá ... aquele último parágrafo do post do Carrano entitulado “Vi, li e ouvi” mexeu comigo : “De tanto ver prosperar as nulidades ; de tanto ver properar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa).


E o Carrano ainda me arrasou com o cometário adicional (rsrs) : “ Pois é, Paulo, tem cada vez mais gente pulando para o outro lado. Nesta mesma linha, há uma frase do Millôr, que é bem expressiva: "Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos".


Pessoal, pelo que tenho visto e sentido no dia a dia, no trabalho, no ir e vir, nas conversas com colegas e até amigos, a coisa está mais para a LOCUPLETAÇÃO GERAL.


Quem tenta restaurar a moralidade está sendo perseguido, ameaçado em alguns casos mais complexos (digamos assim), chamado de chato e/ou inconveniente, de otário, etc. E a maioria, com medo, se cala, se omite.


É tudo que os locupletadores (existe essa palavra ?) querem.


O silêncio........e tudo vira paisagem...

4 comentários:

Jorge Carrano disse...

Boa análise de fatos e circunstâncias, Paulo.
Obrigado pela colaboração.
Abraço

Paulo disse...

E já começou : http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1046355-senado-chama-autoridades-para-explicar-leilao-dos-aeroportos.shtml

Sds Paulo

Paulo disse...

Gestão exemplar ....irk !!
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1046043-graca-foster-mandou-petrobras-enterrar-maquina-de-r-51-milhoes.shtml

E lá vamos nós ...

Jorge Carrano disse...

A sociedade dispõe de ótimo instrumento de pressão. Um não, mais de um, que são as redes sociais.
E um outro, mais valioso, que é o voto, que nunca foi utilizado com consciência e objetivo depurador.
Abraço